domingo, 28 de abril de 2019

Apicultura


Em fevereiro fui à Central Meleira, situada na Zona Industrial de Castelo Branco, e forneci-me dos utensílios necessários para a apicultura, além de ter ouvido bons conselhos da técnica que me atendeu. Depois contactei o Vale do Rosmaninho, uma empresa do Cebolais de Cima que se dedica à apicultura em grande, com  a multiplicação de enxames e a produção de rainhas para venda (ver na internet). Na primeira semana de março fui lá buscar dois enxames. Gastei em tudo perto de 500 euros, que, segundo a técnica referida, são recuperáveis em 3 anos, se eu multiplicar os enxames.
Como os enxames vinham fracos, durante o primeiro mês alimentei-os artificialmente (água, açúcar, sumo de limão e um pouco de sal (ver na internet)), para permitir que as abelhas se dedicassem à criação em vez de terem de andar por fora à procura de comida (conselho de quem mos vendeu). 
Em meados de abril, os enxames já estavam fortes e coloquei agora as primeiras alças (caixas superiores destinadas a armazenar o mel, que eu lhes roubarei lá para julho ou agosto). Uma colmeia enxameada produz entre 20 e 25 quilos de mel, porque nós colocamos a cera, dispensando as abelhas de a produzirem (em cada enxame já usei 20 folhas de cera; se as abelhas tivessem de produzir a cera, teriam de comer 6 quilos de mel para fabricar cada folha).
A natureza está a recuperar do fogo de há dois anos e já abundam os matagais, agora floridos. Daqui a uns anos será pior, pois o incêndio multiplicou por muitos os eucaliptos e sobretudo as mimoseiras, autênticas pragas que vão tapar todo o solo em certas zonas da encosta da Gardunha.
Temos vegetação, calor e água, os três pilares da apicultura. E não temos agricultura intensiva, uma vantagem pela fraca ou nula presença de pesticidas, invisíveis, mas que se colam em tudo e nos dão cabo da saúde.
É assim o mundo fascinante das abelhas!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de abril de 2019

25 de Abril


Nos primeiros tempos, está canção, tão simples, quase demasiado simples, foi para mim sinónimo do 25 de Abril.

José Teodoro Prata

sábado, 20 de abril de 2019

Boas Festas

O Pe. José Cortes é um missionário do Verbo Divino. Nasceu em Janeiro de Cima (foi batizado pelo Pe. Branco) e trabalha há dezenas de anos na Amazónia, Brasil.
O texto que se segue é de sua autoria. Nele descreve as memórias que guarda das Boas Festas na sua terra natal (tão iguais às nossas).


 Páscoa
O dia amanhecia com aquele ar de festa: casa lavada e cheirando a lixívia e sala arrumada. Aquela sala da casa que a gente até esquecia que existia, e que sempre estava arrumada. Quando sobrava algum dinheiro se compravam aquelas mobílias de século, cadeirões altos, planta de interior, pratos de faiança e talheres que nunca se usavam.  Ali reinava a ordem e o silêncio.
Mas naquele dia a mesa da sala era coberta pela toalha branca, o Senhor era colocado sobre ela, assim como os copos, as faianças, os doces, as amêndoas, o vinho do Porto... Vestia-se a roupa das festas e se olhava a escada e a porta da casa. Ali estavam os fetos a embelezar a entrada e a escadaria. Tudo pronto.
- Olha já tocou à segunda, depressa. Daqui a pouco toca a última e ainda não estão arrumados? Depressa. O senhor Prior já passou e o Tia Preciosa já deve estar a acabar o terço. Vai começar a missa. É sempre a mesma coisa. Depressa...
E assim começava aquele dia fantástico, o dia das Boas Festas, o dia das amêndoas, o dia de correr a saquita. A alegria da canalha.
E logo depois da missa lá estava a canalha preparada para o longo dia, a longa caminhada pela terra. O senhor Prior levava o SENHOR a beijar de casa em casa. Subia a escada muito afogueado, logo seguido pelo sacristão que levava a cruz com sua opa branca. Chegados na sala, com toda a família perfilada, o Prior proferia em voz alta:
- O Senhor.
E a família perfilada e em uma só voz respondia:
- Aleluia, Aleluia, Aleluia!
Aí vinham os cumprimentos o copito, o doce, a febra... Se a família era daquelas tradicionais o Prior ficava mais um pouco, se não, ala, que a aldeia é grande... Ainda temos muito que percorrer. Mas não se saía sem antes o sacristão, baixinho e ladino, arrebanhar o envelope ou o açafate com a oferta para o Prior.
Na casa os da família: pais, avós, tios, primos, cunhados, irmãos, compadres... Era uma obrigação. Lá fora, a canalha na expectativa. Mal saía o Senhor da casa esperavam-se as amêndoas e os rebuçados de meio tostão serem lançados  e todos ao sarrabulho.
No entanto, a contenda era desigual, porque logo chegava o Zequinha com o seu grande chapéu de chuva, que ele abria ao contrário e aparava a maioria das mãos cheias que voavam pelo ar. A balbúrdia se instalava e às vezes uma pequena bulha, que logo terminava, porque o Senhor já ia longe e outras casas havia para visitar.
O sino continuava a tocar na torre, lembrando que era dia de festa, dia de Beijar o Senhor, dia de visitar as famílias, dia das amêndoas dos afilhados.
Com o passar das horas, os passos estavam cada vez menos firmes e já se vislumbravam indícios de princípio de bêbada em alguns acompanhantes do Senhor. Às vezes até o senhor Prior já estava meio quentote.  Mas tudo era festa e alegria. Afinal o Senhor Ressuscitou Aleluia, Aleluia, Aleluia. O sepulcro está vazio, Aleluia! E essa mensagem a temos que levar a todas as famílias e a todas as casas, porque a VIDA VENCE A MORTE.
Feliz Páscoa a todos.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Procissão dos Passos, cerca de 1970














O Jaime da Gama enviou-me estas fotos há meses e algumas já foram aqui publicadas. Justifica-se, hoje, a publicação do conjunto completo. Esta última intriga-me, pois parece-me mais o momento preparatório do desfile dos alunos da escola primária para a inauguração do nicho, na Estrada Nova. Mantive a foto no conjunto, para a dar a conhecer e assim alguém explicar o que realmente é.
Situo as fotos  por volta de 1970, pois, a julgar pelo entulho junto à Fonte Velha (2.ª foto), as obras do saneamento básico (água e esgotos) já estavam realizadas, mas o calcetamento ainda não. Agradecem-se correções.

José Teodoro Prata

terça-feira, 16 de abril de 2019

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Os sanvicentinos na Grande Guerra

Albano Frade


Albano Frade nasceu na Partida, a 4 de dezembro de 1892. Era filho de António Frade, jornaleiro, e Maria Freire.

Assentou praça no dia 12 de julho de 1912 e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha de Castelo Branco, em 14 de janeiro de 1913. De acordo com a sua folha de matrícula, era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro; não foi vacinado, nem apresentava indícios de ter tido bexigas.
Fez a instrução da recruta em Évora e ficou pronto em 30 de Maio de 1913. Passou ao quadro permanente por sorteio e foi destacado para a província de Moçambique, para onde embarcou no dia 11 de setembro de 1914, a bordo do navio inglês Durban Castle. Fez parte da 1.ª Expedição enviada para aquele território, cujo objectivo principal era reforçar a defesa das fronteiras dos ataques alemães.
Após mais de um mês de viagem, o Durban Castle chegou a Lourenço Marques e daí seguiu viagem para Porto Amélia, a norte de Moçambique. (Albano refere-se a esta cidade nas notas que deixou, dizendo que esteve lá durante um ano).
Regressou à Metrópole em 9 de setembro de 1915 e foi licenciado em 11 de março de 1916. Voltou para a terra, onde continuou a trabalhar como jornaleiro.
A 17 de fevereiro de 1917 voltou a ser mobilizado e seguiu novamente para Moçambique, em 2 de julho de 1917. Integrava, desta vez, um contingente de reforço das tropas da 3.ª Expedição que se encontravam extenuadas e muito diminuídas, em consequência dos ataques alemães e das doenças que vitimaram muitos militares. No dia 4 de abril de 1918, terminado o tempo de mobilização, embarcou em Mocimba da Praia com destino a Lourenço Marques, onde se domiciliou.
Passou voluntariamente ao serviço do Ultramar, na província de Moçambique, nos termos do Decreto nº 2609-J, em 21 setembro de 1918. De acordo com este decreto, as praças do exército da metrópole que tivessem terminado o serviço de destacamento nas províncias ultramarinas podiam, voluntariamente, ser colocados nas guarnições militares coloniais.
Condecorações:
·        Recebeu a medalha de cobre das campanhas do exército português na colónia de Moçambique.

Família:
Antes de partir para Moçambique, Albano Frade já namorava com Maria de Jesus, uma linda rapariga, como deixou escrito, sua prima que vivia em Lisboa. O namoro não era do agrado dos pais da noiva, mas o amor foi mais forte e, quando Albano decidiu ficar em Moçambique, após ter cumprido o serviço militar, Maria de Jesus foi ao seu encontro. Chegou a Lourenço Marques em fevereiro de 1923 e casaram em 5 de junho de 1924. Tiveram 3 filhos:
1.     Adélia Frade, que casou com Joaquim Damas (Adélia faleceu de parto assim como a criança recém-nascida);
2.    António Albano Frade, que casou com Prazeres Varanda (não deixaram descendência);
3.    Alice Frade, que casou com Joaquim Damas, viúvo de Adélia, e tiveram 4 filhos.
Os filhos
Albano Frade trabalhou na Direcção do porto e dos caminhos-de-ferro de Lourenço Marques, como capataz de 1.ª classe. Embora a folha militar refira que Albano Frade era analfabeto na altura da incorporação, terá estudado durante o serviço militar, uma vez que o cargo de capataz que desempenhou lhe exigiria ter habilitações académicas.
Este cargo permitiu-lhe ter uma vida de algum conforto económico e facilitou contactos sociais importantes. Uma das pessoas com quem privou e a quem se refere várias vezes nas suas notas biográficas foi Joaquim Ramalho, natural de São Vicente. Seriam amigos desde há muito tempo, pois tinham feito a recruta juntos e embarcaram na mesma altura para Moçambique. Para além de amigos, tornaram-se depois compadres, já que Albano Frade foi padrinho de um dos filhos mais novos de Joaquim Ramalho (Mário) e Joaquim foi padrinho de uma das filhas de Albano (Alice).  
A felicidade do casal não terá durado muitos anos, pois Maria de Jesus adoeceu gravemente e, contra a sua vontade, mas por insistência do marido, teve que regressar à metrópole em Maio de 1930. Ficou a residir com os filhos na Partida. Faleceu passado pouco tempo, em 16 de outubro de 1931.
Albano Frade continuou em Moçambique, dividido, como escreveu, entre a dor da perda da mulher e as saudades e preocupação pelo futuro dos filhos. Entretanto também ele adoeceu e, em 1933, por conselho da Junta Nacional de Saúde, regressou à terra. Faleceu pouco tempo depois, a 28 de fevereiro de 1934. Tinha 41 anos de idade.
Interessante é também o facto de Albano, nas suas notas, referir o seguinte: «...quando eu cheguei à terra, como tudo julgava que eu ia rico, mas eu não levava vintém, então mais se arregou na ideia daquela gente que eu era um grande gastador. Eu podia ter arranjado duas ou três dúzias de escudos, mas não podia ter arranjado tanto como aquela gente julgava». De facto tinha razão. Segundo o livro de registos dos militares que participaram nas várias expedições a África, consultado no Arquivo Histórico Ultramarino, o pré de um soldado era de 6$00 mensais, nalguns casos ainda menos, cerca de metade daquilo que ganhava um homem a cortar lenha em 1918.
(Pesquisa feita com a colaboração do neto Luís Damas)



Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.