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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Invasões Francesas 11


A conquista de Ciudad Rodrigo
A 3.ª invasão francesa terminou, após a batalha do Sabugal (03/04/1811). Os franceses retiraram para Espanha, mas dominavam ainda a fortaleza fronteiriça de Ciudad Rodrigo, continuando a ser uma ameaça para Portugal.
No Inverno do ano seguinte, o exército luso-britânico, sob o comando de Wellington, tomou esta fortaleza, após um cerco que se prolongou de 8 a 19 de Janeiro de 1812.
Homens e bestas tinham de comer. E é aqui que entram os nossos antepassados.
No Verão e Outono de 1811, foram muitos os serviços prestados pelos nossos carreiros, todos a transportar mantimentos para as tropas que se começavam a concentrar na Comarca de Castelo Branco, que na época incluía o Sabugal.
Alguns transportes eram de âmbito local, mas a maioria destinava-se a trazer alimentos de Abrantes para a sede desta comarca.
Mas foi sobretudo para abastecer as tropas em Ciudad Rodrigo, após a sua conquista, que estes transportes ganharam uma particularidade que os diferencia dos restantes.
No concelho de S. Vicente da Beira, como aliás terá sucedido nos restantes concelhos da região, fez-se uma recolha de palhas e fenos, que depois se transportaram para um outro centro, este possivelmente regional, a vila de Alpedrinha.
Dali, as palhas e fenos foram levados para Bismula, no concelho do Sabugal, muito próximo de Aldeia da Ponte, povoação fronteiriça, por onde passava a estrada de ligação a Espanha (não assinalada no mapa, em baixo), quase em linha recta para Ciudad Rodrigo.


Mapa de localização da região referida no texto. Destaque para as fortalezas de Almeida e Ciudad Rodrigo. Bismula está apenas assinalada com uma linha fechada, sem nome, pois não consta deste mapa (clicar no mapa, para ver melhor).


Entrada da fortaleza de Ciudad Rodrigo


Ponte romana de acesso a Ciudad Rodrigo, sobre o rio Agueda, afluente do Douro


A catedral de Ciudad Rodrigo

Carreiros que fizeram serviços de transporte de S. Vicente para Alpedrinha:
Pedro, ganhão de Berardo Joze Leal, da Vila, em Fevereiro de 1812
(O ganhão de) Francisco Antonio Simoens, da Vila, Janeiro de 1812
Joam Francisco e Joze Mateos, do Mourelo, Março de 1812
Joam Antunes Piqueno, do Mourelo, Março de 1812
Faustino Roiz e Joze Morozo, do Mourelo, Março de 1812
Manuel Antunes Frade e Joze Alves, do Mourelo, Março de 1812
Manoel Leitam e Joam Antunes, do Mourelo, Março de 1812
Manoel Leitam e Joze Alves, do Mourelo, Março de 1812
Joaquim Roiz Diabinho, do Mourelo, Março de 1812 (de Rochas de Cima para S. Vicente)

De Alpedrinha para Bismula andaram os seguintes carreiros:
Domingos Silva, da Vila, em Janeiro de 1812, 18 dias
(O ganhão de) Ignes, viúva de Domingos Vas Rapozo, da Vila, Janeiro de 1812, 18 dias
Joaõ Leitaõ Canuto, da Vila, em Janeiro de 1812, 18 dias
(O ganhão de) Francisco Ferreira, da Vila, em data não indicada, 18 dias


Bismula: fonte romana


Bismula: procissão

Fora destes dois circuitos, outros carreiros trouxeram farinha e aguardente, de Abrantes para Castelo Branco:
Joam Antunes Piqueno e Joze Antonio, do Mourelo, Janeiro de 1812, 11 dias
Manoel Joaõ, da Partida, Janeiro de 1812, 11 dias

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Os Museus de Luci Bento


As bonecas de Luci Bento

Toda a vida de Luci Bento é norteada pela concretização de um objectivo: a realização pessoal, o fazer aquilo de que gosta, que lhe dá prazer. Afinal, que melhor definição para uma artista?
Divide-se entre a Suiça e Portugal, as raízes e o país que lhe deu a oportunidade de descobrir a artista que vivia dentro de si.
Passa agora mais tempo entre nós e já se vêem os frutos dos seus projectos. As casas reconstruídas na Partida e no Vale de Figueiras destinam-se a expôr o produto do seu trabalho: as pinturas, as bonecas e as antiguidades.
Quer deixar aos netos as coisas que os avós usavam, para que eles percebam como foram esses tempos passados. Por isso, defende que nada se deite fora.
Uma mulher com três projectos: um Museu das Antiguidades, um Museu de Bonecas (tem cerca de 3 mil, muitas feitas por si) e um Museu da Pintura (a sua).
O seus quadros e as suas bonecas são os frutos do seu trabalho, já reconhecido internacionalmente. As antiguidades são as suas raízes.
Temos pedalada para esta mulher? Vão as associações, os poderes e a sociedade saber aproveitar aquilo que tão generosamente nos oferece? Oxalá!


Luci Bento e as suas velharias

Notas:
1. Fonte: Jornal Povo da Beira
2. Escrevo Vale de Figueiras, pois era esse o nome da povoação. Só recentemente, por erro de alguém, é que a passaram a denominar Vale de Figueira.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Invasões Francesas 8


Gravura da época das Invasões Francesas, representando um soldado francês a carregar com tudo o que pode levar, roubado aos portugueses.

No mês de Outubro de 1811, vários carreiros da freguesia de S. Vicente da Beira foram requisitados para prestar serviços aos exércitos português e inglês, em lutam contra os franceses.

Quatro carros de bois foram a Abrantes buscar mantimentos para Castelo Branco, conduzidos por:
Pedro,ganhão de Berardo Joze Leal, o feitor de Gonçallo Caldeira, o pai do futuro 1.º visconde da Borralha (trouxe uma pipa de vinho). Regressado a S. Vicente, foi mandado levar uma carga de pão cosido ao Fundão.
Manoel de Oliveira e Francisco Ferreira, de S. Vicente da Beira (transportaram farinha). Francisco Ferreira era uma pessoa importante na Vila, pelo que não teria a junta a meias com Manoel de Oliveira. Terá ido uma vaca de cada um.
Joam Antunes Piqueno e Joze Alves do Mourelo. Neste caso, é provável que tivessem a junta a meias. Aliás, pelo grande número de ganhões deste monte que faziam os transportes aos pares, é provável que essa fosse uma prática muito comum no Mourelo.
Joaõ Figueira dos Pereiros. Este carro e o anterior foram mandados de volta a Abrantes, para trazerem mais uma carga de mantimentos para Castelo Branco.

Cinco carros de bois partiram de S. Vicente, em comboio (todos juntos, uns a seguir aos outros) e chegaram ao Fundão. Aí não tinham nada para transportar e mandaram-nos à Covilhã, onde também não havia nada para levarem. Foram então enviados a buscar farinha a Vila Velha (aqui chegada via fluvial), para o Fundão. Andaram nesse serviço os seguintes ganhões:
Joze Mateos do Mourelo
Manoel Alves do Mourelo
Manoel Mateus da Partida
Joaõ Antunes dos Pereiros
Victorino, filho de Joanna Gonsalves, do Tripeiro

Domingos Silva de S. Vicente da Beira foi levar uma carga de centeio ao Sobral de Casegas, para as guerrilhas (grupos de populares armados, em luta contra os invasores franceses).

Para saber mais, consultar: "O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular", de José Teodoro Prata, publicado pela Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, em 2006.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

As Invasões Francesas 2

Continuamos, hoje, a dar notícia dos carreiros (ganhões que transportavam de mercadorias nos carros de bois) da freguesia de S. Vicente da Beira, que prestaram serviços aos exércitos português e inglês, na Guerra Peninsular (1807-1812), conhecida por Invasões Francesas.
Para conhecer melhor as condições em que se andava nos embargos, deve consultar-se a anterior publicação “As Invasões Francesas”.
Como se pode verificar, faltaram muitos homens à romaria a Nossa Senhora da Orada, em Maio de 1812, e muitas terão sido as preces por eles rezadas!


Casal da Serra
Em Maio e Junho de 1811, Joze Francisco andou com a sua junta de vacas a puxar o trem do exército inglês, entre Abrantes e Nisa, e a prestar serviços aos exércitos, em Abrantes, durante 33 dias.

Mourelo
Em Maio de 1812, a junta de Manoel Leitam transportou mercadorias entre Abrantes e Elvas, durante 31 dias.

No mesmo serviço, período e data, andou também a junta de Jose Antonio e Jose Alves.

Pelo mesmo período e na mesma data, andou a junta de Joam Franses e Joze Mateos, mas a transportar lenha para um forno, em Abrantes, onde se situava o Quartel-general das tropas inglesa e portuguesa.
Este Franses não tem relação com os franceses que invadiram Portugal, em 1807-1812, pois esta família já vivia, no Mourelo, pelo menos 50 anos antes.

Paradanta
Em Maio e Junho de 1812, por 33 dias, andou Manoel Mendes, criado de Manoel Leitam, com a junta de vacas, entre Abrantes e Nisa, levando o trem do Hospital e entre Abrantes e Elvas, carregando pólvora e bala.

Partida
Em Abril de 1812, Manoel Mateus transportou cevada, no carro de bois, entre Abrantes e Nisa, e trouxe arroz e bacalhau, de Vila Velha para Castelo Branco. Gastou 11 dias nestes serviços, entre Abrantes e Castelo Branco.

Em Maio e Junho de 1812, a junta de Manoel Martins e Manoel Alexandre puxou o trem do hospital, entre Abrantes e Nisa e levou pólvora e bala de Abrantes para Elvas. Foram 33 dias.

Os mesmos 33 dias e na mesma data, mas entre Abrantes e o Pego, andou o ganhão de Antonio Fernandes a acarretar rama, vinho, pão e carne.

Pereiros
Em Maio de 1822, por 28 dias, andou a junta de Manoel Andrade, entre Abrantes e Nisa, a puxar o trem do hospital, em Abrantes, a fazer carregos, e de Abrantes a Castelo de vide, a levar o trem do hospital.

Tripeiro
Em Maio e Junho de 1812, foram para Abrantes e lá ficaram a acarretar lenha, durante 32 dias, três juntas de vacas de Manoel Vas, Joaõ Ribeiro e Manoel Antunes Maximo.

Violeiro
Em Maio e Junho de 1812, partiram duas juntas de vacas para Abrantes e trabalharam durante 30 dias. A junta de Joze Pires fez duas viagens a Elvas, para levar bolacha. A junta de Joze Rodrigues mosso puxou o trem do hospital de Abrantes para Nisa e depois fez outro serviço de Nisa para Elvas.

No livro que serve de base a este trabalho, abaixo indicado, defendeu-se que as juntas em que foram indicados dois donos resultavam da junção de duas vacas de proprietários diferentes.
O autor foi vítima do individualismo agrário em que cresceu, em S. Vicente. Mais tarde, aprendeu o que era a torna, na freguesia das Sarzedas, e conheceu a prática comum da pastorícia, nas aldeias da freguesia da Sobreira Formosa, onde, cada dia, uma pessoa apascentava o gado de todos. Há dias, soube, por um aluno, que, numa aldeia da freguesia de Alvito da Beira, só existia uma junta de bois, propriedade de 6 famílias, ficando cada família com a junta de bois, por uma semana.
Era certamente esta a realidade nas povoações do antigo concelho de S. Vicente da Beira, em inícios do século XIX. Nos casos em que se indicam dois proprietários, é porque teriam a junta a meias, um foi com ela, mas os dois apresentaram a conta, para pagamento do serviço.


Para saber mais, consultar: "O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular", de José Teodoro Prata, publicado pela Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, em 2006.