Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para dosenxidrosgardunha@gmail.com
terça-feira, 26 de março de 2024
segunda-feira, 25 de março de 2024
Palestra do Santo Cristo
sexta-feira, 15 de março de 2024
Andam corças...
Eu vinha de carro a sair da lomba e ela teve de apressar a corrida, mas veio logo outro veículo em sentido contrário e a corça teve de se esticar toda para conseguir escapar. Seguiu depois pelo caminho que dá entrada no pinhal do sr. Francisco Ventura.
As corças devem ter aí um corredor de passagem, pois há uns tempos uma corça chocou com um carro que ia a passar, sensivelmente naquele local.
Andam corças pelos bosques e pelas estradas!
José Teodoro Prata
quarta-feira, 13 de março de 2024
sexta-feira, 1 de março de 2024
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
Luís da Costa
Luís da
Costa nasceu em São Vicente da Beira no dia dois de maio de 1895. Era filho de
Maria do Rosário Costa.
Tinha a
profissão de jornaleiro quando assentou praça no dia 14 de Fevereiro de 1916. Foi
incorporado no 2º Batalhão do R. de Infantaria 21 de Castelo Branco nesse mesmo
dia. Licenciado ainda em 14 de Fevereiro, foi domiciliar-se na freguesia de
Santa Maria Maior, na Covilhã.
Apresentou-se
novamente em 3 de maio para fazer a recruta que concluiu no dia 29 de agosto de
1916. Foi mobilizado para a Guerra e, fazendo parte do CEP, embarcou para França
no dia 21 de janeiro de 1917 integrando a 4ª Companhia do Regimento de
Infantaria 21, como soldado com o número 522.
Do seu
boletim individual de militar do C.E.P. e folha de matrícula constam as
seguintes ocorrências:
a)
Ferido
em combate por gases, e baixa ao Hospital de Sangue nº 1 no dia 24 de agosto de
1917; alta em 26 com 6 dias para convalescença;
b)
Baixa
ao Hospital de Sangue nº 1 no dia 21 de dezembro de 1917; evacuado para um H.
Base em 29; alta em 2 de janeiro;
c)
Baixa
ao hospital no dia 30 de janeiro de 1918, alta em 15 de fevereiro;
d)
Punido
algumas vezes com vários dias de detenção por ter faltado ao trabalho sem
motivo justificado;
e)
Punido
com 15 dias de prisão correcional por ter estado em ausência ilegítima durante
38 horas (ordem de serviço de 23/12/1918);
f)
Punido
com 15 dias de prisão correcional por se ter ausentado, sem autorização, desde
as 10 h do dia 28 de fevereiro de 1919 e considerado desertor desde 2 de março,
período a partir do qual a ausência foi considerada deserção.
g) Regressou a Portugal no dia 4 de abril de 1919.
Passou à
reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro
de 1936.
Não foram
encontrados registos nem testemunhos que possam dar alguma informação sobre a
vida de Luís da Costa após o seu regresso a Portugal, nomeadamente o local ou a
data do seu falecimento.
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
O nosso falar: abelhudo e desabelhar
Andámos a fazer o desdobramento de uma colmeia e no final uma abelha não nos largava, por mais fumo que lhe lançássemos em cima.
- Desabelha daqui! – disse-lhe o Chico. E rimo-nos, porque a
expressão vinha mesmo a calhar.
A abelha anda sempre de um lado para o outro, numa constante
azáfama, por isso chamamos abelhudo a alguém com a mesma caraterística,
sobretudo se aparece de forma constante e inoportuna. E desabelhar é mandar o
abelhudo dar uma volta, desaparecer. Neste caso era mesmo uma abelha!
José Teodoro Prata
sábado, 24 de fevereiro de 2024
Conta-me histórias: sessão inaugural
Juntámo-nos à Comissão das Festas de Verão, para dar também o nosso contributo. O primeiro cartaz é o do projeto Conta-me Histórias, que será usasdo para publicitar todas(?) estas tertúlias.
A organização é d´Os Amigos dos Enxidros. Dos Amigos, porque a realização das tertúlias e o êxito que tiverem será sempre mérito de quem as anime e de quem vá assistir. Dos Enxidros, porque lancei o projeto através do blogue Dos Enxidros e porque os enxidros eram, no passado, os baldios da encosta da serra, entre a vila e os altos, da Oles à Senhora da Orada. Tal como os enxidros, este projeto também se quer de todos. A foto que serve de base ao cartaz é da Rua da Misericórdia, antes da demolição da casa do coronel (ela simboliza aqui um pouco do passado que estará presente em cada história que for contada).
Agradeço que divulguem o cartaz nas redes sociais que frequentam.
José Teodoro Prata
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Homenagem ao ZÉ TALETA
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
O nosso falar: espigos
Levei grelos de couve-naba a uma amiga do Norte e ela gabou-me a excelência do arroz de espigos, em especial de couve galega. Cada vez que eu falava de grelos, ela respondia-me com espigos e a certa altura disparou:
- Porque é que não dizes espigos?
- Na minha terra também se diz espigos, mas aqui só se fala
em grelos… - justifiquei-me.
Quis ser simpático e coloquei-me ao nível dos albicastrenses,
mas lixei-me, pois a minha amiga não transige com as suas raízes.
No resto da conversa já só se falou de espigos.
José Teodoro Prata
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Hipólito Raposo e os Candeias
Acabo de chegar de São Vicente, onde participei na palestra do José Miguel Teodoro sobre o patrono da nossa biblioteca, o Hipólito Raposo.
No final, desejando ligar esta personalidade
histórica com a atualidade vicentina, afirmei estar ele ligado aos Candeias, com
destaque para o João Prata Candeias, que estava presente.
A verdade é que a sua ligação é direta não com este, mas com
os primos dele, filhos de João Candeias e Maria de Jesus, pois esta descende
dos mesmos antepassados do Hipólito Raposo (na próxima terça-feira completam-se
139 anos que nasceu Hipólito Raposo, na casa onde vive atualmente a sua familiar
Amélia Candeias com o marido Carlos Cruz).
De facto, existe uma outra ligação ainda mais antiga aos
Candeias e foi essa que me levou ao equívoco:
Em 1840, casaram José Hipólito de Jesus e Ana Raposa, esta
filha de Maria Candeias e neta de Ana dos Santos Candeias. Desse casamento
nasceu, entre outros, João Hipólito Vaz Raposo, que casou com Maria Adelaide Gama,
em 1872. Tiveram, entre outros, José Hipólito Vaz Raposo, o conhecido patrono
da biblioteca, que nasceu em 1885. Afinal, era a avó paterna do Hipólito Raposo que era dos Candeias.
Obrigado ao José Miguel Teodoro que veio de Lisboa de propósito
para partilhar uns momentos connosco. E às dinamizadoras da biblioteca (Celeste,
Libânia e Conceição), que organizaram o evento e nos ofereceram o lanche que permitiu
prolongar o nosso convívio.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
Festa de São Vicente e São Sebastião
É um santo bem esquecido dentro da Igreja Católica, o nosso
São Vicente (há muitos santos Vicente, o nosso é o de Saragoça). Nas Jornadas
Mundiais da Juventude falou-se nele, pois é o padroeiro de Lisboa, a sede do patriarcado
em que se realizaram as jornadas. Mas a net (não estive cá na altura) dá-me informações
pouco substanciais do que foi dito.
Nós próprios o largámos de mão, logo no século XVII, quando o
trocámos por Nossa Senhora como padroeira da nossa igreja. Ele nem padre era,
apenas um diácono (grau anterior à ordenação sacerdotal), quando foi preso,
torturado e morto pelos romanos, por teimar entusiasticamente em proclamar a
sua fé em Cristo (o bispo da sua diocese foi apenas exilado).
Vicente, tal como muitos outros mártires cristãos da Hispânia,
tornou-se logo um símbolo da resistência dos cristãos às perseguições e um
exemplo de fé para os não cristãos (a maioria da população; na região onde
vivemos ainda quase nem chegara o Cristianismo).
O seu culto foi crescendo, tornando-se um dos santos mais
adorados pelos romanos, depois pelos visigodos e, a partir dos inícios do
século VIII, pelos cristãos que persistiram em manter a sua fé cristã, sob
domínio muçulmano (a maioria converteu-se ao Islamismo), os moçárabes. A zona
da nossa freguesia seria um dos locais onde o seu culto era bem forte no
período da Reconquista, sendo por isso que logo se restaurou a povoação ali
existente e lhe foi dado o nome do santo, São Vicente. E durante a Idade Média
havia feira franca em São Vicente da Beira, no dia 22 de janeiro, o dia da sua
festa.
Como acima escrevi, trocámo-lo por Nossa Senhora como divindade
protetora e a sua festa realiza-se agora em conjunto com a de São Sebastião, que
tem poderes de proteger contra as pestes (ontem, à porta da capela, alguém
enrolava uma fita vermelha ao pescoço e dizia que o santo o protegia das
bichas) e promove a partilha cristã, pela realização de bodos para os pobres,
ainda ontem simbolizado pela distribuição de papos-secos, tremoços e filhós
(estavam boas).
Terminada a cerimónia religiosa, o simbolismo do bodo de São
Sebastião prolongou-se por um almoço-convívio na Casa do Povo, que encheu o
salão e se prolongou pela tarde. Obrigado ao Hélder Agostinho que penso ser o
mordomo de São Sebastião e coordenou toda a festa religiosa e profana, obrigado
extensivo à sua família e a todos, muitos, que se fartaram de trabalhar para
proporcionar à nossa comunidade este momento de convívio e partilha.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
O nosso falar: lambeteirice
Estava num hipermercado com a minha mulher e, esgotada a lista de compras, perguntei-lhe:
- Não compramos nenhuma lambeteirice?
Que palavra! Na casa dos meus pais usavamo-la como sinónimo de guloseima, no sentido pecaminoso do termo (pretendia-se repreender a ato já praticado ou apenas desejado de gulodice).
Neste palavra, a net fica quase muda quando lhe pergunto. Só me mostra o lambeteiro, o mesmo que lambeta: mexeriqueiro e delator (Brasil), bajulador e adulador.
A lambeteirice lambe-se, se o guloso se controlar, claro. Em sentido figurado, o mesmo faz o bajulador e o adulador.
José Teodoro Prata
segunda-feira, 22 de janeiro de 2024
sexta-feira, 12 de janeiro de 2024
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
Luís Batista
Luís Batista nasceu em
São Vicente da Beira, no dia 26 de julho de 1893. Era filho de João Batista,
ganhão, e de Maria de São João, moradores na rua da Cruz.
Assentou praça no dia 9
de julho de 1913 e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria
21, em 13 de janeiro de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de
jornaleiro. Após ter concluído a instrução recruta, foi licenciado e regressou
a São Vicente.
Voltou a ser mobilizado
em 1916, para fazer parte do CEP, e embarcou para França, no dia 21 de janeiro
de 1817, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de
Infantaria 21, como soldado com o número 21 e a placa de identidade n.º 9123.
No mesmo barco terá seguido também o seu irmão António Batista.
Sobre o tempo em que
permaneceu em França, o seu boletim individual de militar do CEP refere o
seguinte:
a) Punido em 11 de outubro de 1917, com dois dias de detenção, por ter comparecido na formatura com a barba por
fazer, apesar das recomendações que lhe tinham sido feitas;
b) Punido em 14 de outubro, com 10 dias de detenção, porque, fazendo parte da
guarda ao Chateau de St. André, manifestou indícios de embriaguez, pelo que foi
mandado recolher ao acantonamento;
c) Punido no dia 6 de dezembro de 1918, com 5 dias de detenção, por ter saído
do distrito da guarda ao acantonamento sem autorização;
d) Recolheu ao Depósito Disciplinar 1, em 23 de janeiro de 1919;
e) Embarcou para Portugal, no dia 25 de fevereiro de 1919, chegando a Lisboa
no dia 28 do mesmo mês.
Família:
Antes de partir para França, Luís Batista já se tinha casado com Joana Ambrósia, na Conservatória do
Registo Civil de São Vicente da Beira, a 25 de setembro de 1916. Tiveram 3
filhas, uma das quais faleceu com 4 anos de idade. Criaram:
1. Maria da Conceição, que casou com João Maria Madeira e tiveram 9 filhos;
2. Maria Zara, que morreu solteira e sem descendência.
Quando regressou a
Portugal, como grande número dos militares que estiveram em França, Luis Batista
apresentava algumas sequelas do stress e do efeito dos gases a que esteve
sujeito durante a guerra. Não falava muito desses tempos; apenas, de vez em
quando, dos amores que lá teve…
Um dos companheiros de
guerra contava que uma vez, perto do Natal, saiu do acantonamento e andou por
lá algum tempo. Quando regressou trazia alguns ovos e um pouco de farinha.
Ficaram todos contentes porque, assim, puderam fazer uma espécie de filhós para
lembrar o Natal da terra e matar algumas saudades.
Apesar das dificuldades,
teve sempre um trabalho regular que lhe garantiu o sustento da família. Foi
ganhão, como o pai, e fez todo o tipo de trabalhos agrícolas, como jornaleiro,
durante muito tempo ao serviço da família Remualdo, nas Quintas.
Na terra, todos lhe
chamavam Luís Gonzaga e ainda hoje é lembrado por esse nome. Nem a família mais
próxima sabe porquê, mas é provável que fosse porque era esse o nome do
padrinho de batismo (Luís Gonzaga de Jesus Pereira, que na altura era solteiro
e estudante). Pode ser também porque era assim que se chamava o capitão da sua
Companhia (Luís de Sousa Gonzaga).
Luís Batista faleceu no
dia 20 de Março de 1979; tinha 85 anos.
(Pesquisa feita com a colaboração dos netos António Madeira e Isilda Madeira)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
domingo, 7 de janeiro de 2024
De volta ao Pelourinho
Aquele nº 2 do Pelourinho, de que falei há tempos, não trazia grandes notícias sobre o Casal da Fraga. Dizia apenas que estavam por cá os Excelentíssimos Zola Júlio Trindade e Cunha e família (?) e Manuel Nicolau Craveiro e esposa.
Mas em agosto de 1966, na comemoração do sexto aniversário, trazia esta bela fotografia:
Possivelmente era esta a equipa dos Novatos que, em setembro de 1960, ganharam aos da Partida pela primeira vez. Valentes!
Não os reconheço todos, mas parece-me que a maioria era do Casal.
O Chico da Azenha, não sendo dos mais altos, diz que era um grande guarda-redes. Morreu há dias, em França, onde, provavelmente, ainda terá feito parte de alguma equipa de futebol.
M.L. Ferreira
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
O nosso falar: pechorro
Ando a ler o livro Os sertões, do brasileiro Euclides da Cunha (1866-1909), que fez a reportagem jornalística da Guerra dos Canudos (1896-1897) e posteriormente realizou um estudo sobre os sertões do Brasil (este livro), nas vertentes geográfica, humana e político-militar (neste caso, sobre a guerra acima referida).
O arraial dos Canudos
situava-se no interior do estado da Baía e aí se concentraram milhares de
sertanejos em torno de um louco (António Conselheiro, 1830-1897), a viver à
margem da lei e da Administração Central. Esta guerra foi uma catástrofe
humana, pois morreram cerca de 20 mil membros daquela comunidade sócio
religiosa e 5 mil militares.
Sobre o assunto, foi realizado
um filme (A Guerra dos Canudos) e Mário Vargas Llosa escreveu o romance A
Guerra do Fim do Mundo.
Ora, à página 119, o autor
escreveu que as pétalas das flores recém-abertas «…caem, mortas, sobre a terra
imóvel sob o espasmo enervante de um bochorno de 35º, à sombra.»
As campainhas tocaram na minha
cabeça quando li a palavra bochorno. Lembrei-me da expressão dos meus
pais, quando estava um daqueles calores em que até o ar treme: Hoje está um
pechorro! Ou seria pochorro ou bochorro? Ou mais certamente p´chorro
ou b´chorro? Eu(tu), os meus(vossos) pais e as gerações anteriores fomos alterando oralmente
a palavra bochorno, que existe de facto e significa muito quente.
José Teodoro Prata
sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
O nosso falar: Resto de Boas Festas
Uma das minhas vizinhas desejou-me, a meio desta semana, entre Natal e Ano Novo, Um resto de Boas Festas. Há que tempos não ouvi nem usava esta expressão, tão nossa (desconheço se de outras regiões).
Ela é do Ingarnal, que fica na nossa zona geográfica e cultural.
Lembro-me bem de usar e ouvir: Resto de um bom dia; Resto de bom domingo; Resto de boas férias; Resto de bom aniversário; Resto de Bom Natal....
Atualmente já se usa pouco, em parte porque a urbanização levou ao abandono de muitas expressões antigas, o que, consequentemente, provocou um empobrecimento vocabular. Por outro lado, há muitos preconceitos sobre certas palavras/expressões. Hoje não fica bem falar em resto, parece que o que falta é a parte má do todo.
José Teodoro Prata