sábado, 28 de março de 2009

Tradições da Páscoa













Cerimónias de Sexta-Feira Santa, no ano passado, 2008.
Fotos de Filipa Rodrigues Teodoro


A Semana Santa e a Páscoa já se fazem anunciar. Por isso vos deixo um trecho de um trabalho que publiquei, em Castelo Branco, no ano de 2007.
Para os mais velhos, é uma doce recordação e os mais novos vão perceber melhor a nossa nostalgia das próximas semanas.
O texto faz-nos retornar aos anos 60 e qualquer um da minha geração ou das gerações próximas pode lê-lo na primeira pessoa, pois todos vivemos estas tradições de forma semelhante.


A Semana Santa era tempo de tristeza e oração. À noite, depois da ceia, os populares faziam a Ladainha, à luz de tochas, das seiras dos lagares. Era uma espécie de procissão, mas sem sacerdotes. Por volta das onze horas, soavam os Martírios, que terminavam à meia-noite, no Calvário, junto ao cemitério, com as seguintes quadras:

Ó almas que tendes sede,
vinde ao calvário beber.
O Senhor tem cinco fontes,
todas cinco a correr.

Ó almas que estais dormindo,
nesse sono tão profundo.
Rezemos um padre-nosso,
pelas almas do outro mundo.

Na Quinta-Feira Santa, à tarde, havia a Missa do Beija-Pés e, à noite, a Procissão do Ecce Homo. Na Sexta-Feira Santa, depois do jantar, era a Procissão do Encontro, que terminava no Calvário, seguida da Adoração da Cruz, na Igreja. À noite, fazia-se a Procissão do Enterro, o ponto alto da compaixão por Cristo. Nestes dois dias, os sinos não tocavam, em sinal de luto, e só as matracas chamavam os fiéis à devoção.
Não se trabalhava na quinta-feira à tarde e em todo o dia de sexta-feira, era pecado. Esse tempo era do Senhor.
O sábado aproveitava-se para preparar a grande festa da Ressurreição. Semanas antes, tinham-se comprado os tremoços, que se deitavam de molho e depois se coziam. Mas amargavam e deixavam-se a adoçar na água do ribeiro das Lajes. Chegada a véspera da Páscoa, traziam-se para casa e salgavam-se.
O forno ardia toda a tarde. As mulheres andavam em volta da farinha e dos ovos, a amassar e a deitar colheradas de massa para as latas, que iam ao forno pouco aquecido. Depois tiravam-se os doces para as bacias e nós, os mais novos, raspávamos as latas e reacendíamos o forno. E isto ia-se repetindo, até chegar a ordem de aquecer bem o forno, para os bolos. Era nesta altura que, às vezes, a lenha se acabava e tínhamos de correr aos pinheiros a ver de mais. Valia-nos a barriga cheia de esquecidos e bolos de leite.
A minha mãe, que amassara os bolos e depois os deixara a fintar, enquanto fazia os doces, vinha agora a ver o forno, mandando meter mais lenha ou espalhando o brasido, à espreita dos lares, que deviam esbranquiçar, mas não demasiado. Se estava quase bom, corria à cozinha a tender os bolos. Depois chegava com o tabuleiro cheio e poisava-o ao lado da porta do forno. Com o rodo, puxava as brasas para a porta e, com o vassouro, varria o chão de brasas e cinza. Um de nós segurava a pá, com a ponta pousada na soleira da porta do forno, e a minha mãe ia pondo os bolos, que depois arrumava lá dentro. Se o forno estivesse muito quente, tirava algumas brasas para fora e deixava as outras à porta. E ia espreitando, a ver se eles coziam lentamente ou se coravam de repente e era preciso tirar mais brasas. Quando estivessem bem altos e tostadinhos, tirava um, espetava-lhe uma caruma seca de pinheiro e via se vinha húmida. Se não, estavam cozidos e tiravam-se. Agora já não cabiam no tabuleiro, mas era lá que se colocavam, de cobulo, em sinal de festa e abundância.
Às onze da noite, íamos à Missa da Aleluia. O senhor Vigário zangava-se com tanta conversa entre campainhas e chocalhos, antes da Aleluia. Quando finalmente dizia a palavra mais ansiada da semana, troava uma babel de sons, a que dificilmente punha fim, passados minutos. Depois cantava-se a Aleluia. À meia-noite regressávamos a casa, mas alguns rapazes iam a casa do Padre Branco, a desejar-lhe as boas festas:

Rex, Rex, senhor Vigário,
que já dá o sol na cruz.
Venha dar as boas festas,
ao coração de Jesus.

Aleluia, Aleluia,
Aleluia, Aleluia. (bis)

E continuavam com outras quadras, até que o padre viesse à porta, com uma garrafa na mão, a festejar com eles a Aleluia.
No domingo, a meio da manhã, fazia-se a Procissão da Aleluia, seguida da Missa da Páscoa. Depois jantávamos e vínhamos logo para a Vila, às Boas-Festas.
O senhor Vigário entrava em cada casa, benzia-a com a água benta e cumprimentava os da casa, trocando umas palavras com eles, que insistiam para que ele comesse ou bebesse alguma coisa. Entretanto, já o sacristão, o senhor António Maria, dera o crucifixo a beijar a toda a gente. Seguia-se outra casa e, se fosse da mesma família, todos saíam a correr, para ultrapassar o padre e chegar a tempo de beijar o Senhor. A cada saída, os mais novos tiravam da mesa repleta um doce ou uma mão cheia de tremoços. Se na rua já tinham acabado as casas dos parentes e amigos, iniciava-se então a volta ao contrário, entrando e ficando em cada casa, a comer e a beber, até que alguém dizia que o senhor Vigário já estava perto da casa de outra família chegada, a morar mais longe. Nesta correria, íamos fazendo a digestão dos tremoços e dos doces. O meu pai é que, sem a nossa ajuda, não conseguia subir a quelha para a Tapada, no escuro da noite, quando a festa chegava ao fim.
As Boas-Festas eram no Caldeira e na Tapada, logo no dia seguinte, segunda-feira. Da barreira víamos o Senhor a passar pelo ribeiro das Lajes e a subir, nas calmas, até lá acima. O senhor Vigário demorava-se em cada casa, pois só havia quatro famílias. Às vezes comia um doce e bebia um copo, de vinho ou de água, da mina da Barroca.
Duas semanas depois era a festa da Santa Bárbara, no Casal da Fraga, onde vivia a grande família do meu pai. Era então que se davam as Boas-Festas e nós, os Teodoros da Tapada, passávamos lá o dia, entre a missa, o beijar da cruz e os tremoços e bolos.
Só no quarto domingo de Maio, na romaria da Senhora da Orada, é que a festa da Páscoa terminava, com as Boas-Festas às casas das Quintas, à tarde, depois das merendas.

(PRATA, José Teodoro - Instantes saborosos, “Estudos de Castelo Branco”, Julho de 2007, Nova Série, N.º 6, Direcção de António Salvado)

sábado, 21 de março de 2009

Coutos e mais enxidros


Cerejeiras em flor, no Ribeiro de D. Bento. Ao fundo, os Enxidros (Cabeço do Pisco).

Este blogue iniciou-se com a apresentação dos Enxidros, nome próprio por que era designada a zona baldia da encosta da Gardunha acima de S. Vicente da Beira.
Por esses dias, encontrei, na Internet, nova referência aos nossos enxidros, mas desta vez a palavra era usada como nome comum.
Foi no sítio Ius Lusitaniae. Fontes Históricas do Direito Português, da Faculdade das Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O endereço é: www.iuslusitaniae.fcsh.unl.pt
O sítio publica legislação antiga e o Alvará de 27 de Janeiro de 1680 refere-se à decisão judicial relativa a um conflito entre a Câmara Municipal de S. Vicente da Beira e o Convento das Religiosas Franciscanas, a propósito do uso das pastagens concelhias por parte do rebanho do convento. O poder real decidiu a favor das Religiosas do Convento Franciscano.
Devem ler a contenda judicial, mas fica aqui um resumo:
O Convento mandava apascentar o seu rebanho nos enxidros e nos coutos baldios, mas os oficiais da Câmara expulsavam de lá as ovelhas e multavam as religiosas.
Estas queixaram-se ao poder central, alegando que a vila não tinha açougue onde se abastecessem de carne e por isso precisavam de um rebanho, de pelo menos 100 cabeças, para sua alimentação.
O Príncipe Regente, futuro rei D. Pedro II, mandou ouvir a Câmara e depois decidiu que o rebanho podia pastar livremente nos coutos e nos enxidros, com a condição de, no tempo da castanha (Outono), pastar só nos coutos e, no tempo em que as vinhas estivessem com a novidade (Primavera e Verão), ir só para os enxidros.

Desconheço o significado de enxidros, mas a ideia que me surge, sempre que leio esta palavra, é de uma encosta de onde escorre a água que enche, provoca enchentes, enxurradas. Um dos ribeiros afluentes da margem direita da Ocreza, que desce da serra na zona da Oles, chamava-se ribeiro do Enxidro, no passado.
O termo couto designa, neste caso, uma terra que se fechava por algum tempo à livre circulação dos gados. Os coutos das Vinhas, que brevemente apresentarei, à semelhança do que fiz com os Enxidros, eram terras baldias, situadas desde a Fábrica e do casal do Pisco para sul, até abaixo do Valouro. No meio destes coutos, existiam muitas vinhas, cujos donos apenas detinham a sua posse entre S. Tiago e S. Miguel (de Maio a Setembro). No meio dos coutos, existia um poço concelhio, em vinha particular, para uso livre de pastores e vinhateiros.


O rebanho do Ângelo, o rendeiro do Casal do Aires, a pastar junto à Fábrica, onde começavam os Coutos das Vinhas. Primavera de 2007.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Erro meu

Alguém, à sombra do anonimato, tentou atingir a Maria do Carmo Ramos Prata, pelo facto de ter fotografado as imagens publicadas em “Capela de São Sebastião”.
De facto, as fotos foram-me enviadas pelo meu primo João Benevides Prata, uma colaboração que eu muito agradeço e que gostaria de ver multiplicada muitas vezes, por ele e por qualquer outra pessoa.
Atribuí as fotos à esposa do João, a Maria do Carmo, pois ele não as poderia ter feito, uma vez que participara na cerimónia, como Presidente da Junta de Freguesia. E escrevi o seu nome no blogue, sem lhe perguntar.
Erro crasso. As fotos foram tiradas pelo Pedro Gama Inácio, como sabem todos os que estiveram presentes.
As minhas desculpas ao Pedro Gama, por lhe ter roubado a autoria das fotografias, e à Maria do Carmo, por abusivamente lhe ter atribuído algo a que ela era completamente alheia.
Não percebo em que é que a autoria de umas fotos pode dar azo a críticas destrutivas, mas os que se escondem no anonimato têm razões que a razão desconhece!
Aprendi, no Seminário do Tortosendo, que o lugar do que é anónimo é o caixote do lixo. Mas sei que dói, por isso reitero as minhas desculpas à Maria do Carmo, pelo sofrimento que inadvertidamente e indirectamente lhe fiz passar.
Aprendi a lição e terei no futuro redobrado cuidado.
Não conheço o teor dos versos anónimos, nem estou interessado, porque são anónimos.

sábado, 14 de março de 2009

Polígala em flor



Ainda o mês de Março vai a meio e já floriram as flores azuis!
Eu explico melhor.
Existe, em S. Vicente da Beira, junto ao caminho do Pinheiro para as Quintas, entre o tanque do Pinheiro e o início do Carvalhal Redondo, uma planta pequena, rasteira, quase sem folhas, que dá flores de um azul intenso.
Nunca soubemos o seu nome, mas chamámos-lhes quaresmas, por florirem nesta altura.
Há três anos, colhi alguns caules com flores e levei-os à Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Aqui deixo a resposta da Doutora Maria Leopoldina Rosa:

«Trata-se da espécie Polygala microphylla L., da família das Polygalaceae.
Efectivamente, o aspecto exterior poderá ter semelhanças com uma giesta, nomeadamente no caule e folhas. No entanto, a flor tem uma constituição diferente da corola papilionácea, característica das leguminosas, família à qual pertencem as giestas.
Esta espécie, cujo nome vulgar, referido em publicações, é polígala, não é frequente na nossa flora, sendo endémica na parte oeste da Península Ibérica.
O exemplar que nos deixou foi herborizado para ser incluído no nosso herbário.
Outro exemplar da mesma espécie consta no nosso herbário, recolhido na Serra da Malcata.»



Polígala cor-de-rosa!

sábado, 7 de março de 2009

Alcunhas

O comentário do Miguel Jerónimo, em “Esquilos na Gardunha”, trouxe-me à lembrança as minhas mais antigas recordações como membro da sociedade.

Andava-se pelos inícios dos anos 60 e eu raramente descia do berço da Tapada. Mas, em cada domingo, vestia o melhor fato e era levado pela mão do meu pai à missa do meio-dia. Ficava mergulhado numa floresta de homens de negro, cá no fundo da igreja. Entre o ajoelhar e o levantar, às vezes antecipava-me e conseguia ver o Padre Tomás, vestido com roupas muito bonitas.
Depois saíamos para o adro. Se o meu pai ou algum irmão não visse o meu avô Francisco há alguns dias, chegava junto a ele, flectia o joelho e “A sua bênção, meu pai”. Ele, “Deus te abençoe, meu filho”. O filho beijava a mão do pai e conversavam sobre a vida.
Via partir a minha mãe e as minhas irmãs, rua acima, dividido entre o conforto de ir e o orgulho de ficar. Nós, os homens, íamos beber um copo à taberna do tio João dos Arrebotes, ali a dois passos. Vinha o avô, o meu pai, o tio João e mais algum irmão ou outro amigo deles.
A taberna era pequena, com bancos corridos nas paredes. Grupos de homens juntavam-se ao balcão e bebiam rodadas de vinho, em copos pequenos. Eu, no meio deles, petiscava tremoços ou amendoins, se calhasse a haver.
Costumava também estar o tio Zé da Marta. Ele e o dono da taberna eram nossos tios, do lado dos Jerónimos. O tio Zé da Marta metia-se com o meu pai “Olha o meu afilhado, o Tonho Bravo!”. Reivindicava o direito a ser chamado de padrinho, mas o tio João dos Arrebotes teimava que tinha sido ele a pôr-lhe a alcunha. Não fora da braveza. Ainda bebé, a minha avó Rosário levava-o para as ceifas e deixava-o à sombra de uma árvore. O calor, os bichos e a fome faziam-no berrar todo o dia e os ceifeiros, de tanto o ouvirem, diziam que ele era bravo.
Um dia, o tio Zé da Marta tentou pegar-me ao colo. Eu, miúdo da Vila? Esperneei e arranhei-o todo na cara. Deixei o meu pai embaraçado, mas acharam-me também bravo!
E entre conversas de amigos e ocorrências normalmente mais felizes, passávamos à taberna da Viúva ou ao café da tia Eulália, esta também dos Jerónimos. Regressávamos a casa tarde e comíamos já sem fome.
Há meses passei pela casa do tio João Teodoro, no Casal da Fraga. “Olha o Zé Bravo!”, saudou-me o meu primo Chico. E conversámos sobre o desuso dos apelidos, a pena de só o Luciano nos chamar ainda Chico Pontífice e Zé Bravo.

Casa da Rua da Igreja que foi taberna e residência do tio João dos Arrebotes.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

P. José Hipólito Jerónimo

O José Hipólito Jerónimo nasceu numa família de muitos irmãos, filhos de Laurentina Hipólito e de Miguel Jerónimo, em S. Vicente da Beira, no Casal do Baraçal.
Ingressou no Seminário do Verbo Divino, no Tortosendo, em 1949, precisamente no ano da sua fundação, sendo um dos primeiros alunos e um dos primeiros padres desta congregação missionária, em Portugal.
Actualmente, é o reitor do Seminário do Tortosendo e realiza trabalho pastoral nas paróquias do Tortosendo, Cortes e Unhais da Serra, em partilha com outros missionários.



Casa do Seminário do Tortosendo, nos anos 50.

Um grande homem é sempre notícia, mas o pretexto foi o lançamento do seu livro sobre S. José Freinademetz, um missionário do Verbo Divino, de origem italiana, que partiu para a China e se entregou totalmente aos outros, de uma forma tão entusiasmante que os chineses o apelidaram “Padre Feliz”.
O livro chama-se “Orar 15 dias com São José Freinademetz” e foi editado pelas edições Paulus. O lançamento ocorreu, em Fátima, a 18 de Janeiro, Domingo, no âmbito das celebrações do centenário da morte de S. José Freinademetz e de S. Arnaldo Janssen, o fundador da Congregação do Verbo Divino.


Fonte: "Contacto SVD"

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Choradela de Entrudo

Encosta da Gardunha, noite fria, negrume total. Três homens aproximam-se de uma casa, de onde se esgueira uma réstia de luz pela fisga da janela da cozinha.
A uns 30 metros, param. Um deles grita, em tom de choro:

“Ai o Zé Bravo, que ficou tão mansinho, coitadinho!”
Os outros rompem em gritaria de choros e lamentos…
O segundo homem grita, em tom de choro:

“Era dos piores, contra o senhor vigário: que não dava contas, que só ele mandava e a ninguém ouvia!”
Os outros rompem em gritaria de choros e lamentos…
O terceiro homem grita, em tom de choro:

“E agora, no livro, são só coisas boas: tão democrata que ele era!”
Os outros rompem em gritaria de choros e lamentos…
O primeiro conclui, em grito de choro:

“O vigário? Um santinho!”
Gritos de choro e lamento, corre baba e ranho…
Abre-se a porta.

“Seus…” Ofendem-se pais, mães e esposas.
Os três homens repetem, em coro chorado:
“Ai o Zé Bravo, que ficou tão mansinho, coitadinho!”
Rompem em gritaria de choros e lamentos. E voltam à carga:
“Tão democrata que ele era!"
O homem vem para fora e tacteia o chão. Agarra uma pedra e atira uma calhoada para o lado de onde vêm as vozes. Mas a choradeira continua. Procura mais pedras, mas não encontra. Desorienta-se, fica colérico. Volta para a luz da casa e grita uma ameaça:
“Já ides ver, seus…” Novas ofensas, agora só por via das esposas.
Os foliões insistem, gritam e choram ainda mais forte:

“Coitadinho, de Bravo ficou bravinho.”
Mais gritos e lamentos.
O vulto ressurge da luz e atira para a noite:

“Tomai!” Um tiro rasga o breu. Os homens correm, tropeçam, levantam-se, só param bem longe e riem a bandeiras despregadas.
Uma boa choradela de entrudo! Para o ano, há mais.


Era mais ou menos assim uma choradela de entrudo. Uma vez por ano, a comunidade zombava dos seus, dos apanhados pelos azares da vida e daqueles que voluntariamente tinham arranjado lenha para se queimar, como foi o caso do acima visado.
Um noivo a quem a moça trocara por outro, o derrotado numas eleições que tinha como garantidas, o dono de uns sapatos novos borrados numa bosta de vaca, um campónio que comprara um burro velho pintado de novo: azares e vãs vaidades eram o prato forte deste carnaval vicentino (de Gil Vicente).
Só sei da sua existência na região da serra da Gardunha. Em S. Vicente da Beira, desapareceu na primeira metade do século XX. Na zona do Fundão, tem-se tentado reviver esta tradição carnavalesca, nos últimos anos.
A nós, não nos faltam casos para uma boa choradela de entrudo! Mas comprometera-me a trabalhar neste blogue sempre pela positiva e por isso tive de recorrer à prata da casa, num caso que, segundo alguns, dava mesmo uma choradela de entrudo das boas.
Mas, para o ano…