domingo, 10 de maio de 2009

Os 99 anos da Filarmónica


A Sociedade Filarmónica Vicentina assinala, no dia 17 de Maio, o seu 99.º aniversário. Para comemorar a efeméride, convidou a sua congénere Cidade de Castelo Branco.
A Sociedade Filarmónica Vicentina foi fundada, no decurso do ano de 1910, pelo P.e João Fernandes Santiago, pároco de São Vicente da Beira, com a colaboração do músico e maestro Valério de Paiva Boléo.
A preparação dos músicos foi rápida, o que permitiu, em tempo recorde, apresentar a Banda à população a tocar músicas da época.
Dezassete anos depois, por alvará do Governador Civil de Castelo Branco, Júlio Rodrigues da Silva, Capitão de Caçadores N.º 6,foi aprovada a Sociedade Musical e os estatutos que a regem. Decorria o ano 1927, a 24 de Maio.
Ao longo dos 99 anos de actividade da Sociedade, além do ‘Tio Valério’, como era chamado, houve mais dois músicos-maestros exímios que merecem ser salientados. Na formação e regência da Banda por longos períodos, mais de 40 anos e mais de 30, respectivamente, Joaquim dos Santos Ribeiro e Sebastião Breia fizeram o seu melhor, para manterem a Banda em actividade e produzir boa música, motivo porque foram agraciados pelos órgãos directivos. Outros músicos-maestros deram contributos valiosos, embora por períodos mais curtos.
Os órgãos directivos que, durante 99 anos, estiveram graciosamente ao serviço da Sociedade Filarmónica Vicentina, tudo fizeram para resolver problemas de diversa ordem, principalmente, pessoal e financeiro, para que Banda pudesse caminhar até aos dias de hoje, cumprindo os desígnios estatuários que são: “Cultura e educação musical” e “Realização de concertos e festas”.
Actualmente, a escola aposta em músicos e maestros formados na sua escola, de forma a melhorar a qualidade dos executantes, numa sede própria, com espaço e funcionalidade.

Dário Inês

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sopas e missas

Nutriu-se delas até vingar e dos rendimentos continuou a sustentar-se, já depois de ser gente.
É dessa experiência de vida que nos dá testemunho o blogue: http://sopasemissas.blogspot.com/
Mistura os poetas com sopas e relatos de vida, num regresso constante à nesga de terra que foi o seu torrão natal, ali, a meia encosta do Casal da Fraga.
O autor é José Miguel Teodoro, um dos filhos da tia Jú e do tio João Teodoro.
A prosa é de se lhe tirar o chapéu!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Os coutos das Vinhas

Das terras baldias de S. Vicente da Beira, nos séculos passados, já demos notícia em dois trabalhos anteriores: “Os Enxidros” e “Coutos e mais enxidros”. Como prometido, aqui deixamos as confrontações dos coutos das Vinhas.

«E logo no mesmo dia, mês e ano atrás escrito e declarado (dezasseis dias do mês de Novembro da era de mil setecentos e sessenta e sete anos), pelo dito Doutor Juiz de Fora e deste Tombo, foi mandado aos medidores medissem os coutos das Vinhas e por eles foi dito que, pelos muitos cantos que em si tinham, se não podiam medir à vista, do que o dito ministro lhes mandou dessem as confrontações dos mesmos.
(…)
E costumam-se arrendar, o ano de restolhos, os pastos deles, por doze mil réis, e o segundo ano se fica por oito mil réis e no terceiro ano se semeiam de pão. E o Cabeço da Velha se costuma arrendar por três mil réis e uns anos vão por mais e outros por menos. E todas estas terras dos coutos são de ervas e só o Cabeço da Velha é do concelho. E nestes ditos preços tem o concelho duas partes e a terça de Sua Majestade Fidelíssima.»

Como um dia me ensinou o meu tio João Teodoro, a tendência natural das pessoas é para aldrabar e, por isso, quem manda não pode transigir.
Condescendeu o juiz de fora à preguiça dos medidores e fez-se a confrontação dos coutos, muito por alto, sem rigor. Tiveram de lá voltar, a 3 de Dezembro de 1768,
«...visto a confusão em que se achavam os Coutos das Vinhas e as contendas que havia sobre o dar das coimas nos ditos coutos...»

«Acharam que principiavam os mesmos no sítio do Penedo Sombreireiro e deste correm direito toda a estrada abaixo, até chegar aonde chamam a Tapada de Simam Dias do Louriçal, e daí vai todo o ribeiro abaixo, até chegar aonde chamam o Porto.
Do dito sítio do Porto vai toda a estrada adiante, que vem do dito lugar do Louriçal para o do Sobral, até chegar à de João Gago, aonde se ferrou um marco defronte da quina da vinha que é de Francisco Joze do Casal da Serra, junto à dita estrada pela parte de baixo.
E deste dito marco pela dita estrada adiante, direito aonde chamam o Vale de Topadela e daí vai toda a estrada velha, que vai do Louriçal para o Sobral, direito à laje do Ribeiro da Ordem e daí vai a dita estrada velha adiante até chegar a um penedo redondo, que está no sítio do fundo da terra, que é do Excelentíssimo Conde desta vila de São Vicente, no qual penedo se fez uma cruz.
E daí vai direito o vale acima, partindo com o limite do lugar do Sobral, até chegar à ribeira, e daí vai toda a dita ribeira acima até chegar ao Casal do Pisco, que também é do mesmo Excelentíssimo Conde.
E daí corre pegando com o dito casal até chegar à Fonte da Portela, vai toda a estrada adiante até chegar ao casal de Antonio de Azevedo, que administra e traz de foro Manoel Vas Rapozo, ao ribeiro que chamam dos Aldeões, e daí vai todo ao longo acima da parede da tapada, que chamam dos Aldeões, que é do Capitão-Mor Manoel Caetano de Morais Sarmento, até chegar ao carril de carro ao cimo do Vale de Miguel Vicente e daí vai direito ao dito Penedo Sombreireiro, aonde se deu princípio a esta demarcação e confrontação.
Os quais coutos se costumam coutar somente de dia de São Tiago por diante, até que se vindimem as uvas das vinhas. E costumam-se vender, como se disse no primeiro termo.»


Parte da Carta Militar n.º 268. À direita da Fonte da Portela, está escrito Curral do Pisco. É erro, devia estar Casal do Pisco. A parte norte dos Coutos das Vinhas, onde se situava o casal que trazia aforado Manoel Vas Rapozo (o Casal do Aires) e os Aldeões, pertence a outra carta militar. Clicar, para ver em pormenor.

Num futuro próximo, apresentaremos a demarcação do Cabeço da Velha, da Fonte da Portela e da fonte concelhia das Vinhas, todos situados dentro destes coutos das Vinhas.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Memórias de Abril e Maio


Em 1974, eu frequentava o 6.º ano (actual 10.º ano), no Seminário do Tortosendo.
No dia 25 de Abril, logo cedo, o P.e Guerra, pároco diocesano de Peraboa, chegou de carro e saiu a correr para a sala de professores. A seguir tivemos aula com ele. Com um rádio junto à secretária e outro no fundo da sala, em emissoras diferentes, tentávamos saber mais qualquer coisa do que se estava a passar em Lisboa.
Contagiou-nos com o seu entusiasmo, mas cumpriu o dever de educador: atenção, pois liberdade rimava com responsabilidade! Uma chatice, para quem tinha 16 anos.
No dia seguinte, fomos ao Tortosendo. Pessoas ligadas ao Unidos disseram-nos que queriam o nosso P.e Jerónimo no comício de 28 de Abril!
O Unidos era o grande clube desta vila operária, um centro da oposição ao regime, com o qual o Seminário tinha uma boa colaboração cultural e desportiva.
E depois veio Maio.
Já conhecia as tradições das lutas dos operários do Tortosendo no 1.º de Maio. Anualmente, vários trabalhadores teimavam que era feriado e faltavam ao trabalho. Os patrões avisavam a GNR e, pela tarde, os guardas e a Pide iam buscá-los, eles que apenas estavam a comer umas chouriças assadas e a beber uns copos com outros amigos, à sombra de uma latada.
Mas o 1.º de Maio de 1974 foi diferente. A Vila preparou os farnéis e mudou-se para a ponte Pedrinha, no rio Zêzere. O meu pai andava a fazer a instalação da rede de esgotos no Cabeço e também foi à festa. Encontrámo-nos na estrada, mas eu fui com os outros seminaristas e ele com a família de um companheiro.
Meses depois, veio a greve dos operários dos Lanifícios. Nas últimas semanas, já havia fome. Os operários das aldeias em redor tiveram de trazer comida para os camaradas do Tortosendo. E venceram.
A Construção Civil foi igualmente beneficiada. Melhoraram os salários e reduziu-se a semana de trabalho. Com mais dinheiro e tempo livre, o meu pai já passava o sábado connosco e pode comprar e recuperar a casa da Vila, que se tornou a nossa morada. Ele costumava dizer que a nossa casa fora construída graças ao 25 de Abril.
Em 1975, criaram-se as camionetas dos estudantes e os adolescentes, bloqueados após a conclusão da Telescola, puderam prosseguir os estudos em C. Branco. Também eu, sem emprego, nem possibilidades de ir para a universidade, beneficiei delas um ano depois e tornei-me professor do Ensino Primário.
Durante muitos anos, em cada 25 de Abril, emocionava-me aos primeiros acordes da Grândola Vila Morena. Agora, felizmente, já não. A liberdade e os direitos dos trabalhadores tornaram-se tão naturais como o ar que respiramos. E se, infelizmente, as coisas não mudaram o suficiente para o bem de todos, temos a liberdade de contribuir para que tudo melhore.


Quadros de Helena Vieira da Silva

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Mãe-Natureza


Botões de flor de macieira

Os Antigos, de há mais de 3 mil anos, inventavam histórias, para explicar os fenómenos da vida.
Um desses mitos mais interessantes é o de Deméter, a deusa que, segundo a crença dos gregos, velava pela germinação das plantas, pela alimentação do gado, pela produção dos frutos.

Deméter, a Deusa-Mãe, tinha uma filha chamada Perséfona.
Um dia, em que a bela jovem colhia flores, a terra abriu-se de repente e surgiu Hades, que a levou consigo para o mundo subterrâneo.
O deus Hades presidia ao mundo dos mortos e desejava Perséfona para sua rainha.
Entretanto, no mundo dos vivos, a mãe Deméter procurava desesperada a sua querida filha. Noite e dia, percorreu vales e montanhas, mares e ilhas…
Alheada das suas obrigações, as plantas secaram, os gados morreram, a terra tornou-se estéril e fria.
Do alto do Monte Olimpo, Zeus, o pai e chefe de todos os deuses, preocupava-se com a morte da vida na Terra. E sabedor do destino de Perséfona, ordenou a Hades que devolvesse a filha a Deméter. Mas Perséfona só poderia regressar se nada tivesse comido no mundo inferior.
Ora Hades já urdira a teia para prender Perséfona. Dera-lhe a comer grãos de romã e assim ela ficaria consigo para sempre.
Zeus ficou com um dilema: Perséfona não podia voltar ao mundo dos vivos, mas, sem ela, Deméter não conseguiria cuidar da natureza.
A solução foi Perséfona passar metade do ano com o esposo e outra metade com a mãe.
Durante os meses que está sem a filha, Deméter fica triste, chora, desinteressa-se do seu trabalho e as plantas perdem as folhas, a terra arrefece, a vida pára.
Mas alegra-se quando recebe a sua filha de volta. As plantas rebentam em folhas e flores, as sementes germinam, o gado multiplica-se, a terra aquece.
Assim explicavam os Antigos as estações do ano.

Os romanos, nossos antepassados, mudaram o nome à deusa da natureza, de Deméter para Ceres, palavra que deu origem ao nome cereais.

Há poucas semanas, Perséfona regressou ao regaço materno. Notei-o nas encostas da nossa Gardunha. Vejam:

Giesta amarela


Macieira florida

Flor de macieira

Violeta silvestre

Malmequer silvestre


Ervilha silvestre

Carqueija



Carvalho





Nota: Desconheço os nomes das plantas não identificadas, apesar de as conhecer desde sempre. São todas muito pequeninas e abundantes nas encostas da serra da Gardunha.

Fotografias de Filipa Rodrigues Teodoro

sábado, 18 de abril de 2009

Rancho Folclórico Vicentino


O Rancho Folclórico Vicentino comemorou, no passado dia 31 de Março, o seu primeiro aniversário.
Houve uma pequena festa do grupo, para juntos festejarem o seu primeiro ano de actividades.
O balanço é bastante positivo. Já fez actuações em São Vicente, nas festas do Senhor Santo Cristo; no Salgueiro do Campo, nas festas das vindimas; no Sobral do Campo; e também no Casal da Serra, na Associação de Caça e Pesca.
O grupo tem vindo a elaborar aos poucos um plano de actividades, de entre as quais o cantar das Janeiras e a contra-dança, apresentada no Carnaval, em São Vicente. Brevemente, no dia 10 de Maio, o Rancho Folclórico Vicentino irá realizar o seu primeiro festival de folclore, que contará com a presença de vários grupos da região.
A direcção do rancho é formada por: Paula Mateus, Dário Inês, Daniela Bartolomeu, Clara Rodrigues, Cristina Macedo, José Fernandes, Adriana Jerónimo e Paulo Mateus.

Nota: Clicar na fotografia, para a apreciar em pormenor.

Dário Inês

domingo, 12 de abril de 2009

A Ladainha.





A procissão não leva padre e antigamente era feita só por homens.
Os populares percorrem as ruas da Vila, com paragem em cada passo, onde se cantam versos que retratam a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo até chegar ao Calvário. Também se fazem evocações aos santos.

As fotografias são da ladainha realizada no último Domingo de Ramos, em S. Vicente da Beira.

Dário Inês