sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Boas Festas


Passei a tarde e parte da noite da Consoada, em S. Vicente.
À chegada, ainda não havia filhoses para comer.
De manhã, a minha irmã Tina misturara os ingredientes e coubera ao Pedro da minha irmã São amassar. Depois do almoço, a massa ainda estava arreganhada e por isso foi colocada ao lado da lareira.
Preparava-me para ir visitar alguns familiares, quando a minha mãe deu pela massa já finta.
Já todos tinham saído, excepto a minha irmã Celeste, a minha filha Filipa e eu.
A Celeste continuou os preparativos para a Ceia de Natal e nós agarrámo-nos às filhoses.
A minha filha, que nunca vira fazer filhós, ficou a virá-las e eu e a minha mãe a tendê-las.
Fiz muitas asneiras, pois nunca tendera a massa, ainda por cima nas costas da mão. Dantes, era no redondo do joelho.
Desenrascámo-nos e estavam boas!
Enchi a barriga e visitei pessoas amigas. Depois ceámos e fomos ver a fogueira de Natal.
Se, com estes momentos plenos, eu não tivesse regressado feliz, era porque não estava de bem com a vida. Era exigir mais do que ela nos pode dar.
Boas Festas a todos.

A imagem é da fogueira deste 2009. Quem nos deu esta prenda foi o grupo de Moto 4, que há meses já oferecera um televisor aos nossos bombeiros, como aqui se noticiou.
Foram eles que encontrei, no sábado, ao Alto da Fábrica, a cortar o sobreiro, para a fogueira.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Zé Nicho


O tempo fora de chuva, nos dias antes do Natal. Valeu à malta da inspecção ter começado cedo, em Outubro, a recolher troncos de castanheiro e sobreiro para a noite de Natal.
Era normalmente ao entardecer, depois dos trabalhos. Ouvia-se a corneta e todos sabiam que a rapaziada andava a tratar da fogueira do Menino Jesus. Os madeiros eram trazidos de tractor, já não em carros de bois, como nos anos passados. Arrumavam-se na Praça, a um canto, e monte crescia, até meados de Dezembro.
Mas depois deu em chover. Os chaparros, para atear os madeiros, já foram cortados a pingar.
No dia 24 de Dezembro, a malta das sortes andou todo o dia a montar a fogueira, no centro da Praça. Mas o desânimo lia-se nos rostos. Os madeiros estavam encharcados e de vez em quando caía um chuvisco ou mesmo uma pancada de água.
À noite, por volta das onze e meia, os rapazes convergem para a fogueira, armados de garrafões de vinho oferecidos por lavradores e de braçados de carqueija ou rama de pinheiro que cada um tinha em casa, resguardadas da chuva.
Abrem buracos no cone de lenha e enchem-nos de acendanhas. O fogo pega, mas logo esmorece. Mais rama seca. O fogo alastra, a malta anima-se, mas a chama não vinga.
Começam a chegar famílias, em fato domingueiro, para a Missa do Galo. Entram arreganhados, na Igreja, com a esperança de se aquecerem, à saída.
Homens e rapazes de anos anteriores ficam-se pela Praça, a apreciar como se desenrasca a malta da inspecção. Uns dão-lhes conselhos, outros atiram-lhes provocações. Alguns sentenciam que este ano não vai haver fogueira. Novas tentativas. A ala queima a caruma, mas não pega nos troncos e morre.
Aproxima-se mais um homem, vindo do lado da torre da Igreja. É baixo, sem ser pequeno. A magreza e o curvado do corpo apoucam-lhe a estatura. O rosto e as mãos estão enrugados e enegrecidos pelos rigores dos trabalhos passados e dos anos vividos.
Chega à fogueira e começa a esburacar. Os rapazes das sortes aproximam-se. Ele ranha-lhes de mansinho e eles obedecem-lhe. Algum mais folgazão dá-lhe uma palmada nas costas e elogia-o, em forma de agradecimento. Oferece-lhe um copo, mas ele recusa, concentrado no trabalho de abrir túneis por onde o ar tem de circular. O trabalho demora e o velho carvoeiro parece não ter pressa.
Mas o relógio da torre não se compadece. A uma hora aproxima-se e não tardarão a soar da Igreja os cânticos ao Menino Jesus.
A malta da inspecção afadiga-se, na esperança de ter fogueira à saída da missa. Depois, mesmo que o consiga, já será tarde.
Os túneis estão abertos. Os rapazes colocam lá dentro a rama de pinheiro e a carqueija, trazidas segunda vez por rapazes que tornaram a casa. A matéria seca pega fogo. A chama aguenta-se e vai entrando pela fogueira a dentro. Pouco arde por fora, mas no interior persistem focos de fogo, a adivinhar pela fumarada.
Já se ouve, na Igreja:

Alegrem-se os Céus e a Terra
Cantemos com alegria
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria


E as pessoas começam a sair, a pouco e pouco, conforme beijam o Menino Jesus.
A Praça vai-se enchendo, todos envoltos no fumo que sai da fogueira. Alguns, a viver fora, já desabituados das lareiras, indignam-se por ficar com a roupa a cheirar a fumo e querem ir para casa, mas outros familiares teimam em ficar.
Pouco a pouco, o fumo da fogueira é substituído por alas de fogo que fazem crepitar os madeiros. Mais uns minutos e o cone negro torna-se um foco incandescente de luz e calor.
É tempo de festejar e o Ti Zé Nicho aceita aquele copo e muitos mais, ao longo da noite, que ainda é uma criança.
E canta-se. Primeiro o “Alegrem-se…” e depois:

Estava a cantar o Natal
À porta do capelão
Estava tão descansado
Que a Guarda deitou-me a mão
A Guarda deitou-me a mão
Vamos já daqui p´ra fora
São oitenta mil e quinhentos
Que saem do bolso p´ra fora


Qui tomba qui tomba
Qui dale qui dale
Toca na zamburra
Na noite de Natal


Cada um fica mais um pouco, uns minutos ou umas horas. O tempo preciso para se reabastecer de luz e calor, para mais um ano.



Conheci o Ti Zé Nicho nos anos da minha adolescência, pelos inícios dos anos 70, os desta crónica. Só o via uma vez por ano, precisamente nesta noite de Natal, e desconheço o seu nome completo e a que família pertencia. Morava nas cercanias da fonte de Santo António e chamava-se José, o que adivinho pelo diminutivo com que o identificávamos. Era carvoeiro e foi a sua sabedoria que garantiu o acendimento da fogueira de Natal muitas vezes, algumas presenciadas por mim.
No ano em que fui às sortes, com a malta de 1957, já teria falecido ou estaria doente, pois não me lembro dele, em redor da fogueira de Natal.
Este ano, o tempo anda igualmente invernoso e bem dava jeito à malta da fogueira tê-lo por perto. Mas os tempos também mudaram muito e agora há dinheiro para comprar combustíveis altamente inflamáveis, com que se regam os madeiros, em caso de necessidade.
Modernices, havia de ralhar o Ti Zé Nicho.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Boas Notícias


Afinal, o Padre António Branco nem sequer ficou internado no Hospital.
Estará a ser devidamente cuidado pelo seu lar da Misericórdia.
Nem o frio de rachar o quebrou. Têmpera rija!
Boas melhoras e um Natal cheio de doçura e calor irmão, como no poema de ontem do Torga.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Duas breves e um poema

Acabo de chegar de São Vicente. Para os que estão longe, duas notícias, uma boa e outra má, na esperança de que se torne boa.

Hoje, um feirante que montava a tenda junto à entrada da Casa Paroquial deu com o Padre Branco no chão, semi-nu e inconsciente.
A noite foi gelada.
Eram 7 horas da manhã e, miraculosamente, dia de mercado.
O feirante bateu à porta do senhor José Matias e foram os seus filhos Luís e Céu que recolheram o Padre Branco e o agasalharam, enquanto não chegava a ambulância.
Que não seja ainda desta que o velho leão nos deixe!
Darei notícias.


No regresso, dei com uma valente brigada a cortar o grande e ancião sobreiro do Alto da Fábrica, no cruzamento para o Casal do Pisco. Não soava a corneta, nem vi garrafões de vinho, mas foi bonito!
No largo, junto à Igreja, a cama de saibro já está pronta e coberta de toros. Mais estes e temos fogueira garantida. Que faça bom tempo, pois já não temos o Ti Zé Nicho!



Um poema de Miguel Torga, também ele das serranias de um interior:

NATAL

Devia ser neve humana
A que caía no mundo
Nessa noite de amargura
Que se foi fazendo doce...
Um frio que nos pedia
Calor irmão, nem que fosse
De bichos de estrebaria.


Diário IV, Natal de 1948

sábado, 12 de dezembro de 2009

Dois Artistas

Muitos nunca ouviram falar deles e quase todos desconhecem a importância que tiveram para S. Vicente, nos meados do século XX.
Eu ainda conheci o Zé Companhia, como era conhecido, por andar sempre acompanhado de um grupo de aprendizes de pedreiro. Um deles foi o meu pai.
Mas nunca ouvira falar do João Engenheiro que, já reformado e doente, morava no n.º 20 da Rua da Costa, cerca de 1950. Com ele e a sua esposa partilharam os meus pais esta habitação: eles viviam na casa das traseiras e os meus pais, recém-casados, na que dá para a rua.

O João Engenheiro, como lhe chamavam, trabalhou em Lisboa, como desenhador, e voltou à sua terra natal, onde era solicitado por muitos a traçar plantas de casas e de outras obras de arte. Por exemplo, a ele se deve a traça da casa n.º 36 da Rua do Convento, propriedade de José Maria dos Santos, recentemente falecido.
Ao Zé Companhia coube o primeiro alargamento da Rua da Igreja, então estreita e em diagonal, da esquina da casa do Visconde da Borralha à esquina do lado oposto, no fundo da rua. Cortaram-se as casas a direito e reconstruíram-se novas fachadas. Da antiga rua, permaneceram a casa em frente à Igreja e a casa no topo da rua, frente à fonte de Santo António, só cortadas na década de 70. E assim se chegou à via que temos hoje.


Mas foi sobretudo juntos que mais se distinguiram. A Junta de Freguesia da época, presidida por Manuel da Silva, pediu ao João Engenheiro que desenhasse uma fonte para a Praça. Ele traçou-a e o Zé Companhia construiu-a. Foi em 1947 e chamaram-lhe Fonte de São João de Brito.
A seguir, a Junta de Freguesia chamou-os para restaurar o brasão que durante séculos encimara a porta de entrada da Câmara Municipal. Perdera-se a coroa por cima do escudo. O João Engenheiro desenhou-a e o Zé Companhia trabalhou a pedra e inseriu o brasão completo na parede da fachada do edifício dos antigos paços do concelho, onde o podemos admirar.


O João Engenheiro, de quem não sei o nome completo, nasceu e foi criado, na casa n.º 26 da Rua do Beco, onde os pais tiveram uma taberna durante muitos anos. A irmã, Maria de Deus, era a esposa do João Jerónimo (dos Arrebotes), donos da taberna na Rua da Igreja, já referida neste blogue.


José Diogo, em fotografia cedida pela neta Cristina Bartolomeu.

O Zé Companhia era o José Diogo, cuja genealogia apresentamos:
1. Agostinho Diogo casou com Maria de São João, ambos de S. Vicente da Beira, onde viveram na passagem do século XIX para o século XX.
2. José Diogo (1902-1977), filho dos anteriores, casou com Maria do Carmo, também natural de S. Vicente da Beira. O casal teve os seguintes filhos:
3. João Diogo Costa, casado com Ilda Caio; Maria das Dores, casada com João Gonçalves; Manuel Diogo, casado com Ana Maria Rodrigues (ambos falecidos); Maria do Patrocínio, casada com José Duarte (falecido); António do Carmo Diogo, casado com Maria da Conceição Nunes Candeias; José Diogo, casado com Chantal Lamblin.


A fonte de São João de Brito avista-se na esquina da Praça, entre o pelourinho e o coreto. Fonte e coreto foram demolidos cerca de 1970, no âmbito de um plano de remodelação da Praça. A casa com varanda, à esquerda, foi onde nasceu o João Engenheiro. Foto do Pedro Gama Inácio.


A fonte de São João de Brito. Foto do Pedro Gama Inácio. A imagem está invertida.


Pormenor da parte da fonte aproveitada, cerca de 1980, para fazer o fontanário existente junto à capela de São Francisco.


Outra parte da fonte, reaproveitada para fazer este marco de água em tanque, nas obras de requalificação da Praça, em 2003-2004. Ao fundo, a esquina onde se situava a fonte de São João de Brito.


Fachada do edíficio da antiga Câmara Municipal, com o brasão ali colocado cerca de 1950. Durante séculos, o brasão esteve por cima da porta de entrada da Câmara.


O brasão manuelino, com a coroa real recuperada pelo João Engenheiro e pelo Zé Companhia. Mesmo na fotografia conseguem-se notar os diferentes tons das pedras utilizadas nas duas partes.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Perder alguém

Todos nós já perdemos alguém muito querido. Somos natureza e ela impõe a sua lei.
Eu perdi o meu pai por duas vezes, mas, na primeira, tive-o de volta.

Foi em 1967, nos inícios do mês de Dezembro.
Como de costume, o meu pai vinha passar o tempo frio connosco.
Na altura, achava que os patrões franceses nos faziam um grande favor, mandando-nos o meu pai de volta. Hoje percebo que, no final de cada Outono, eles despediam todos os trabalhadores, com a promessa de os readmitir por finais de Março ou princípios de Abril, quando o tempo aquecesse e as obras na construção civil fossem retomadas. Adiante…
O meu pai avisara, por carta, do dia da chegada. Mas, na véspera, houve um grande acidente ferroviário, em Espanha. Dois comboios chocaram de frente, em cima de uma ponte. A televisão mostrou fotografias de carruagens penduradas para o rio. A rádio dizia que havia muitos emigrantes portugueses mortos.
E o meu pai não chegou no dia seguinte!
A minha mãe correu para casa do irmão dela, o meu tio António Prata, uma das poucas pessoas da Vila que tinha telefone.
Mas regressou sem notícias. Era cedo para saber alguma coisa. Vestiu-se de preto e não parava de chorar.
No dia seguinte, voltou para lá e nós, muitas crianças, ficámos sozinhos em casa.
À noite, regressou a casa, ainda de luto e chorosa. O tio António telefonara para o Governo Civil e o meu pai não constava da lista dos mortos. Mas ainda não havia certezas.
O Diário de Notícias trazia uma fotografia de mulheres de preto que tinham perdido os maridos. Não sei se foi a minha mãe que nos contou ou se trouxe mesmo o jornal do tio António.
E o meu pai continuava sem aparecer.
Sentia-me perdido, sem interesse por nada. Estávamos à espera do meu pai para passar o Natal e era com os vales dele que a minha mãe pagava todos os meses a conta na loja do senhor Jaquim Boas Noites. Sem ele, como seria? Éramos tantos e a minha mãe não ganhava dinheiro!
Acho que o terceiro dia foi segunda-feira e eu fui à Escola. Passei o dia mole, apático.
À saída, sem vontade, fui caminhando para casa. Cruzei-me, na Praça, com o Chico Chamiço.
“Já viste o teu pai? Fui agora mesmo ajudá-lo a levar as malas à Tapada. Venho de lá.”
Corri, corri, rua acima, quelha acima. Já tinha outra vez pai!



Nota:
Afinal, o comboio do meu pai vinha atrás daquele que teve o acidente. Foi desviado para sul e andaram às voltas por Espanha, até pararem numa estação. Foram todos ao restaurante, a matar a fome de dias. Tentaram explicar-se em espanhol, mas os empregados viram que eram portugueses.
“Falem português, que estamos em Portugal!”
Gritos e abraços, caldo verde e vinho com fartura. Estavam na fronteira do Alentejo.
Há anos, fui buscar o meu filho a Vilar Formoso. Ainda mal o comboio parara e já dezenas de homens saíam, aos gritos e em corrida, para os bares. Só percebi a expressão “cerveja portuguesa”.
Eram trabalhadores sazonais, de volta a Portugal.
Então compreendi melhor a festa do caldo verde que o meu pai me contara, em criança.
E também o significado da expressão matar saudades.

sábado, 28 de novembro de 2009

1 de Dezembro de 1640


Em 2004, aquando das Comemorações dos 450 Anos da Morte do Padre Leonardo Nunes, o Tenente Coronel Pires Nunes mostrou o seu espanto por haver, em S. Vicente da Beira, tantos homens que se foram da lei da morte libertando, como escreveu Luís de Camões, referindo-se aos que, por acções gloriosas, não caíram no esquecimento dos homens.
Isto a propósito do P.e Leonardo Nunes, de D. Fernando Rodrigues de Sequeira e de António de Azevedo Pimentel. Seria da água!

António de Azevedo Pimentel ficou na história desta região como o 1.º a aclamar D. João IV como rei de Portugal, em S. Vicente da Beira e em Castelo Branco.
Na vila de S. Vicente, onde era capitão-mor, o mais importante cargo militar do concelho, levantou bandeira por Portugal e D. João IV. O mesmo fez depois em Castelo Branco, levando esta vila acastelada a romper com o domínio espanhol e a aclamar D. João IV.


E tinha muito a perder.
A fronteira espanhola fica perto e os espanhóis não tardariam a invadir Portugal.
Por outro lado, possuía uma grande propriedade, na vila de São Felices dos Galegos, Espanha, administrada pelo seu cunhado, o qual acabou por ter de a abandonar, não sem antes distribuir, pelas populações da fronteira portuguesa de Almeida, os géneros alimentícios que lá tinha armazenados.
Esta propriedade era um morgado de bens de raiz, no valor de mais de 20 mil cruzados.
Temos notícia destas ocorrências por um processo da Mesa do Desembargo do Paço, de 24 de Julho de 1641.
Nele, António de Azevedo Pimentel suplicava que lhe fosse dado um morgado na cidade da Guarda, propriedade de um castelhano de Cidade Rodrigo. A posse desta propriedade compensaria a perda do morgado de São Felices, permitindo-lhe levar uma vida digna e cumprir as suas obrigações.
Também se oferecia, com dois sobrinhos e cunhados, um letrado e outro mudo, de idade entre 25 e 30 anos, para com eles servir na guerra contra Espanha.
Desconhecemos a decisão final de Sua Majestade, mas é de supor que tenha sido favorável, pois a opinião da Mesa do Desembargo do Paço foi nesse sentido.
Há que recordar que António de Azevedo Pimental era fidalgo da Casa Real e como tal estava proibido de trabalhar, mesmo de exercer o cargo de tabelião, em Castelo Branco, ofício herdado por sua esposa, de seu pai.
E que, na época, os cargos políticos e militares que os nobres exerciam, como o de capitão-mor de São Vicente da Beira, raramente eram pagos em dinheiro, mas em doações, como esta que António de Azevedo Pimentel requeria ao rei.


Foi Hipólito Raposo quem nos deu a conhecer este naco da nossa história, no artigo “Um Beirão Restaurador” da sua “Oferenda”. E terminou, orgulhoso:
«Por agora, resta-me saudar e louvar a memória de António de Azevedo Pimentel, bom português e vassalo fiel, capitão-mór da minha vila natal, muito provàvelmente comandante militar de avoengos meus, soldados nas primeiras refregas com tropas castelhanas na fronteira beiroa, a lutar pela restauração de Portugal.»