sábado, 5 de junho de 2010

Cruciformes


Casa da Rua Manuel Simões, ao cimo, já perto do entroncamento com a Rua da Cruz.

Em trabalho anterior, expliquei a origem, segundo alguns estudiosos, das pedras salientes dos lados das janelas.
Um outro vestígio deixado pelos nossos antepassados cristãos-novos são os cruciformes: cruzes de várias formas, gravadas nos portados das habitações.
Estas cruzes encontram-se por toda a Beira raiana, região onde se fixaram dezenas de milhares de milhares de judeus expulsos de Espanha, após 1492.
Em 1495, é a vez de Portugal ser varrido pela intolerância religiosa que proibiu o culto dos judeus e dos mouros (muçulmanos). Milhares de judeus abandonaram o Reino de Portugal, nos anos seguintes, mas muitos outros aqui permaneceram, tendo-se convertido ao cristianismo.
Estes passaram a ser designados por cristãos-novos, em oposição aos portugueses que praticava o cristianismo desde sempre e por isso conhecidos por cristãos-velhos.
Ora os cristãos-novos eram olhados com desconfiança pelos cristãos-velhos, alguns injustamente, mas outros não, pois continuavam a praticar secretamente ritos religiosos judaicos.
Uns e outros gravavam cruzes nos portados das suas habitações, para mostrarem a todos que eram bons cristãos e assim se livrarem de desconfianças e perseguições, sobretudo da Inquisição, introduzida em Portugal, no ano de 1536.
Vários cristãos-novos de S. Vicente da Beira foram presos e julgados por este tribunal religioso que prolongou a sua acção até à segunda metade do século XVIII.


Janela da casa acima apresentada, com porta de madeira, do tempo em que ainda não se usavam janelas com vidros.


Portado da mesma casa, com o cruciforme na ombreira da direita.


Pormenor do cruciforme do portado anterior.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Judeus e Cristãos-Novos

Participei, neste domingo, num passeio à judiaria de Castelo Branco e numa conferência sobre "Judeus, Cripto-Judeus e Cristãos-Novos: a casa doméstica na Beira Interior quinhentista", ambos dinamizados pelo Arquitecto José Afonso.
Falou-se frequentemente de S. Vicente da Beira, uma das muitas povoações da Beira onde existiu uma comunidade judaica desde finais da Idade Média.
Tenciono apresentar informações sobre esta comunidade, na I Feira de Artesanato e Gastronomia, a realizar nos dias 18, 19 e 20 de Junho (e não nos dias 11, 12 e 13, como inicialmente estava previsto e cheguei a noticiar neste blogue).
Será no dia 20, domingo, entre as 9 e as 12 horas, numa visita guiada pela Vila.


Segundo estudos realizados, a tradição beirã de deixar pedras salientes dos lados da janela, onde se colocam vasos de flores, tem a sua origem na tradição judaica de ali colocar o candelabro aceso, nas noites de festa religiosa.
Casa da Rua Manuel Lopes.



Candelabro judaico (Menorah), um dos símbolos religiosos do judaísmo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Dia de Portugal...


A artista Luci Bento, natural do Vale de Figueiras e a viver, actualmente, na Partida, é um dos 10 finalistas ao concurso “Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa”.
No dia 8 de Junho, estará no Museu do Oriente, em Lisboa, onde participa num encontro entre candidatos finalistas vindos dos vários pontos do globo, entidades oficiais e empresas. As actividades serão encerradas pelo Senhor Presidente da República.
Depois segue para o Algarve, integrada na comitiva das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, este ano realizadas na cidade de Faro. No dia 10 de Junho, pela televisão, saberemos se foi uma das vencedoras.
Boa Sorte!

Nota: A imagem acima apresentada é um pormenor de uma fotografia tirada pelo Pe. José Leitão, numa exposição de pintura da artista, realizada em S. Tiago, Partida. A foto já foi publicada nos Enxidros e nela estão, além de Luci Bento, o Pe. Branco e os presidentes da Câmara e da Junta.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Cristo-Rei de Almada


Há meses, anunciei a publicação do livro "Por alturas do Cristo-Rei de Almada", do nosso conterrâneo José Miguel Teodoro.
A apresentação é já este sábado, 29 de Maio, pelas 16 horas, no auditório do Convento dos Capuchos, na Caparica.
Estarão presentes as autoridades eclesiásticas: o Bispo de Setúbal e o Reitor do Santuário Cristo-Rei.
A edição é da Câmara Municipal de Almada.
O convite abaixo apresentado é para todos os leitores Dos Enxidros.

domingo, 23 de maio de 2010

A Orada



Na Orada, em 2009. Este ano, alguém comeu a merenda por mim.










sexta-feira, 21 de maio de 2010

Senhora da Orada


Estamos a chegar ao quarto domingo de Maio, dia da romaria da Nossa Senhora da Orada.
Faz agora um ano, publicámos aqui, nos Enxidros, a lenda da Senhora da Orada, como me foi contada pelo Ti Jaquim Teodoro. Mas esta não é a única lenda que explica a origem da ermida e a devoção à Senhora.
Frei Agostinho de Santa Maria visitou a capela, em ano anterior a 1711, data em que publicou o Santuário Mariano, onde dedicou algumas páginas à ermida da Senhora da Orada, com base nas informações que aqui recolhera, junto do padre ermitão que então cuidava da capela.
Este ermitão contou-lhe, além da conhecida lenda da donzela, uma outra que a seguir se apresenta:

Na vila de S. Vicente da Beira vivia uma mulher casada com um homem que, além de ser de condição acre e terrível, era muito ciumento e com esta paixão molestava muito a inocente mulher e a maltratava.
E como ela era boa e devota de Nossa Senhora, avivava o demónio (para a pôr em desespero e a apartar das virtudes em que se exercitava) mais a guerra que o marido lhe fazia. E chegou isto a tanto que lhe sugeriu o demónio que a matasse, porque lhe faltava na fidelidade que lhe devia.
Com estas falsas presunções, em que o inimigo o metia, levou enganada a honesta e virtuosa mulher àquele sítio, que por ser deserto naquele tempo e nas faldas de uma serra, lhe pareceu acomodado para lhe tirar a vida e a deixar sepultada nele.
Vendo a aflita mulher o intento do marido e o grande perigo em que se achava, sem ter quem lhe valesse, mais que o Céu, valeu-se daquela misericordiosa Mãe dos aflitos pecadores, para que ela a defendesse no aperto em que se achava, encomendando-se a ela em seu coração. Não se deteve a misericordiosa Senhora. Apareceu-lhe logo, confortando-a e repreendendo ao iludido marido com grande severidade.
Este, livre da tentação, pelo favor da Senhora, e reconhecido da sua culpa e temeridade, em julgar mal da sua inocente esposa, pediu perdão à Senhora e, em acção de graças, pela misericórdia que com ele e com sua honesta esposa usara, prometeu melhorar a vida e lhe edificar, naquele lugar, uma Casa, para perpétua memória do benefício que ambos recebiam.
Dando logo princípio, os venturosos casados, à Casa da Senhora, mandaram fazer aquela Santa Imagem, que nela colocaram, na forma que lhes apareceu.







As fotos documentam a procissão da Senhora da Orada, nos anos 50 ou inícios dos anos 60. O fotógrafo é desconhecido e as fotos são propriedade do Pedro Inácio Gama.