sábado, 16 de abril de 2011

O nosso falar: destravado

Há dias, tentava eu explicar aos meus alunos a actual crise que Portugal vive, lamentando a falta de união entre os nossos políticos, a fim de pouparem os portugueses a males maiores, que já se anunciam, quando o melhor aluno da turma disparou:
“O stor é que devia ir para político!”
Tamanho elogio (não era ironia, há alunos que veneram os seus mestres) deixou-me desarmado da carapaça formalista e neutra com que nos equipamos para enfrentar questões delicadas.
Assim desprotegido, caído no poço do subjectivismo, a resposta que me saiu da boca foi: “Não tenho jeito, sou muito destravado.”
Até os distraídos concentraram os olhos em mim. Nem os dois alunos com raízes vicentinas, um na Partida, outra no Casal da Fraga e na Vila, davam mostras de ter entendido.
Lá tive de fazer o costume, sempre que nos surge uma palavra desconhecida: perguntar à palavra o que ela nos pode dizer. E esta aplica-se aos carros sem travões, que descem desgovernados e chocando nos obstáculos que encontram pelo caminho, até serem imobilizados por um suficientemente grande.
E acrescentei, voltando a mim próprio: “A política é uma actividade nobre, a ciência de governar um país. Mas é também um jogo, uma procura de equilíbrios. Ora, eu não tenho jeito para jogos, digo o que tenho a dizer e isso cria problemas com muitas pessoas.”
Quando entramos no nosso subjectivismo, é nas nossas raízes que mergulhamos. Ainda hoje a minha mãe me chama destravado, não no sentido acima usado, mas como sinónimo de apressado.
Não conheço o uso deste adjetivo, com os sentidos atrás referidos, fora de São Vicente da Beira, embora, dificilmente, o seu uso terá uma incidência apenas local.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mais óvnis

Chegou, recentemente, mais um comentário à publicação "Óvnis na Gardunha?", de 23 de Novembro. Como está lá para trás, muitos não o lerão e penso que vale a pena.
Qual a minha opinião sobre o assunto? Penso que, cientificamente, tenho de aceitar que poderemos não estar sozinhos no Universo e que a ciência de amanhã poderá explicar fenómenos para os quais ainda não há explicação (viver noutra dimensão...).
Mas, como sou homem de pouca ciência, não perco tempo com o assunto. Aliás, a minha única preocupação é saber como ir até à Penha (no cume, por cima de Castelo Novo), pois tenho de satisfazer o pedido de um sobrinho meu, para o levar até lá, e não sei como descalçar a bota!

Caro José Prata, restantes conterrâneos e leitores em geral.
Chamem e pensem o que quiserem aos ditos ovnis e acreditem ou não que eles frequentam bastante a serra da Gardunha... Pessoalmente pouco me importa o que se possa dizer ou pensar deste fenómeno (que aliás nem me interessa muito...).

Agora que nas aldeias em redor da serra há muita gente de bem que viu "coisas" bem concretas e que alguns nem às parede confessam para não serem alvo de chacota e desacreditados na terra, isso podem ter a certeza que há.

E o que tem sido visto é bem mais do que luzes na serra.
Conheço gente com os pés bem na terra que andou a dormir mal durante anos por causa daquilo que viram.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Bicharocos



Vacas-louras a pastar. Vacas, talvez porque "pastam" na erva como bovinos. Louras, porque o conteúdo do seu ventre é amarelado. Com essa massa, tiravam os antigos verrugas e sinais. Basta aplicar sobre a verruga ou sinal e desaparece. O seu poder abrasivo é tão forte que queima a pele em volta. Se a pele ficar muito exposta, corremos o risco de ir parar às urgências do hospital, com uma queimadura séria!



Ainda ando indecioso sobre o que fazer com estes bicharocos. Ajudam na polinização, mas comem a totalidade da flor onde ferram o dente. Hei-de ter de os deixar em paz!



Estes abelhões(?) são bonitos e úteis na polinização. Mas cuidado com as ferroadas!

domingo, 10 de abril de 2011

Polémicas


Um amigo enviou-me um comentário para o blogue, não diretamente, mas para o meu e-mail. Copiei-o, coloquei-o no comentário de "Património religioso" e ia dar ordem para publicação, quando me apercebi do que estava a acontecer.
E era, simplesmente, desrespeitar um dos principais objectivos deste blogue: contribuir, pela positiva, para o melhoramento da nossa freguesia.
Se quisesse fazer crítica a tudo o que está mal, não me teria ridicularizado a mim, quando quis recordar e ensinar aos mais novos como era uma Choradela de Entrudo. Numa delas, o assunto foi precisamente um momento em que eu não cumpri a regra que me havia imposto.
Não sou ingénuo, nem deixei de ser um observador de tudo o que se passa na nossa terra. Mas considero que perdemos demasiado tempo com polémicas, necessárias para fazer ainda melhor, mas estéreis se não passarmos a esta segunda etapa.
Os alertas que deixei sobre a Procissão dos Terceiros foram apenas isso mesmo, alertas, para fazermos melhor. Usei o meu conhecimento e a minha experiência, para ajudar a nossa comunidade a tomar consciência de que a sobrevivência do nosso melhor património não depende apenas, nem sobretudo, do nosso voluntarismo em fazer coisas, mas sim da sobrevivência e respeito por aquilo que as nossas tradições religiosas têm de mais genuíno, a religiosidade popular.
Basicamente, o comentário do meu amigo punha em contraste quem trabalha e quem colhe os louros, quem trata da galinha e quem leva os ovos de ouro.
Indiretamente, foi um importante contributo para melhorar este blogue. Graças a ele, brevemente, irei dar-vos a conhecer quem trata da galinha dos ovos de ouro.

sábado, 9 de abril de 2011

Borboleta


Hoje, passei, no Sobral, e fui comprar queijos, ao Veríssimo.
Encontrei esta borboleta pendurada nas fitas da porta da queijeira. No chão, estava outra, do mesmo tamanho. Nunca vira borboletas tão grandes!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Património religioso


Alguns aspetos do texto introdutório às fotos da Procissão dos Terceiros, na última publicação, merecem uma explicação mais desenvolvida.
Há anos que concluí ser o património religioso o nosso bem mais precioso. Destaco a arquitetura (os templos, os Passos e o Calvário), a pintura (nos tetos dos altares-mores da Matriz e da Misericórdia e os quadros da via-sacra), a escultura (estátuas e talhas douradas), os rituais religiosos da Quaresma (Ladaínhas, Martírios, Procissão dos Passos, Procissão do Enterro), as romarias de Santiago e da Senhora da Orada, a festa do Santo Cristo e ainda a Missa do Galo com a fogueira de Natal.
Embora o património religioso da freguesia seja ainda mais amplo, a súmula apresentada já diz bem da riqueza que possuímos. Este património, sempre enquadrado na religiosidade do seu povo e na paisagem natural em que se insere, é de facto a nossa galinha dos ovos de ouro.
No entanto, ele perderá a grandeza do seu valor de for esvaziado da religiosidade das pessoas, a razão da sua existência e do seu significado.
No último Dezembro, desloquei-me a Idanha, para participar no lançamento das actas do colóquio de história local, de Junho de 2009, em que colaborara. Nessa altura, fora lançada a ideia de candidatar as tradições quaresmais de Idanha a património mundial. Agora, foi apresentada a opinião do Doutor Marinho dos Santos, consultado sobre essa questão. E este estudioso, que, nos colóquios de 2009, se emocionara com a representação popular de algumas dessas tradições, apresentou reservas a essa candidatura, pois não tinha a certeza se estava garantida a sua sobrevivência genuína, num futuro próximo.
Por isso, sem querer competir com o Pe. José Manuel na orientação do rebanho de Deus, apenas alerto que a sobrevivência das nossas tradições religiosas só estará garantida se enquadrada na religiosidade do povo que as criou e manteve até hoje.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Procissão dos Terceiros

Foi linda a procissão deste domingo!
As máquinas a registar imagens eram tantas que até me senti inibido de usar a minha.
A devoção lia-se nos rostos concentrados. Afinal, ela atraíra ali a maioria dos participantes.
Fizeram falta dois ou três mestre de cerimónias, como os de antigamente, para coordenar todo o movimento do conjunto. E também explicar aos mais jovens que o momento é solene, mas de devoção, não de festa. Se não, um dia o Pe. José Manuel zanga-se e matamos a nossa galinha dos ovos de ouro.
Além destes dois reparos (mesmo nos grandes êxitos, devemos ter consciência do que devíamos ter feito melhor), a Procissão dos Terceiros foi um enorme sucesso: gente de fora, andores novos, muita juventude (nem sabia que tínhamos tantos jovens) e algumas instituições da comunidade totalmente empenhadas: bombeiros, rancho folclórico, banda filarmónica, catequese...
Como dizia o meu pai, quando acabávamos um trabalho: está bom e fomos nós!


São Francisco de Assis


Rainha Santa Isabel


A Imaculada Conceição


A descer a Rua do Convento


Santa Clara


São Ivo


São rosas, Senhor!


Santa Rosa


A nossa banda. O Mestre não deixou o rebanho entregue ao Senhor. O que ele trabalhou!


O regresso a casa.


Quem transportou os andores na Procissão de 2011, para que conste.