quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Censos 2011

Já estão disponíveis, on-line, os resultados do Censos 2011.
A versão definitiva, em papel, será publicada no verão. Na altura, publicarei o número de habitantes, por povoação, da nossa freguesia,
Aqui deixo o número de habitantes de cada freguesia do concelho de Castelo Branco, presentes na altura do censos.
Entre parêntesis, apresento o resultado do censos de 2001. Em negrito, estão as freguesias que ganharam habitantes nesta última década.

Alcains – 4.892 (4.594)
Almaceda – 610 (910)
Benquerenças – 706 (707)
Cafede – 263 (267)
Castelo Branco - 35.006 (31.637)
Cebolais – 1.007 (1.196)
Escalos de Baixo – 648 (946)
Escalos de Cima – 902 (1.057)
Freixial do Campo – 441 (526)
Juncal do Campo – 357 (491)
Lardosa – 990 (1.049)
Louriçal do Campo – 620 (807)
Lousa – 668 (724)
Malpica do Tejo – 532 (763)
Mata – 452 (578)
Monforte – 380 (516)
Ninho do Açor – 408 (450)
Póvoa de Rio de Moinhos – 645 (651)
Retaxo – 824 (989)
Salgueiro do Campo – 880 (936)
Santo André das Tojeiras – 728 (1.045)
São Vicente da Beira – 1.246 (1.536)
Sarzedas – 1.331 (1.707)
Sobral do Campo – 360 (483)
Tinalhas – 591 (665)
Total do concelho de Castelo Branco - 55.587 (55.240)

Conclusão: Os dois núcleos urbanos ganham população e as zonas rurais perdem habitantes; as freguesias mais afastadas do centro (Castelo Branco) e da A23 são as que perdem mais população.
Curiosidade: O número de habitantes destas últimas povoações está-se a aproximar do que era há cerca de 200 anos, quando se iniciou o grande crescimento demográfico. A diferença é que agora o número reduzido de pessoas não se deve a uma mortalidade muito alta, como naquela época, mas sim à diminuição da natalidade e à migração das gentes para os centros urbanos, principalmente do litoral.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

As pedras do convento

Sempre me disseram que as pedras do antigo convento são as do muro da Quinta da Casa Cunha, ao longo da Rua de São Sebastião.
Agora encontrei a ata da sessão da Junta da Paróquia em que as pedras foram vendidas. Foi no dia 24 de Agosto de 1845, sendo presidente o Reverendo Vigário Manuel Marques Leite e vogais José Henriques Sénior e João da Conceição, este também escrivão do regedor, Francisco Rodrigues Lobo.
Antes de dar a notícia, tenho de informar que o convento foi extinto em 1835 e, na altura, já estava parcialmente arruinado, residindo nele apenas a Madre Abadessa. Dez anos depois, 1845, nem todo o convento estava na posse da Junta da Paróquia. Parte dele já fora comprado por um particular, o Pe. Joaquim Castanheira (a ata que o refere não indica qual a parte). Mas a Igreja de São Francisco mantinha-se pública e de pé, havendo até diligências no sentido de ser reconstruída nas partes a necessitarem de obras. Assim, a pedra vendida era a que resultava da demolição da parte do convento administrado pela Junta da Paróquia, com exclusão da igreja.


Nesse 24 de Agosto, às 11 horas da manhã, o presidente da Junta ordenou ao vogal João da Conceição que dissesse ao pregoeiro da Câmara, Manuel Francisco, para pôr a lanço, a quem mais desse, «…a pedra das paredes demolidas do extinto comvento desta Villa pertencente aesta Parochia, a Vinte reis cada carrada…».
O pregoeiro apregoou várias vezes e depois veio informá-lo que «…perante elle tinhaõ comparecido o Ill.mo Joaõ Robalo da Cunha, Joaõ Pereira de Carvalho, e Joaõ da Silva Lobo por si e como arrematante em nome da Ex.ma D. Anna de Brito Coelho de Faria todos desta Vila eque todos unanimamente tinhaõ coberto olanço da Junta com hum real, eque nada houvera quem lhe cobrisse este Lanço de Vinte ehum reis por cada carrada…».
Informado disto e não havendo quem desse mais, o presidente mandou entregar o ramo aos quatro arrematantes, pegando nele João da Silva Lobo a rogo dos outros. Foram depois todos ter com o presidente à sacristia da Igreja Matriz, sede da Junta da Paróquia, onde ele lhes disse que levassem a pedra que precisassem, arrematando-se a restante, novamente, caso não a gastassem toda.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O nosso falar: ...até o Marzelo.

A anterior publicação "Mãos mágicas" continha um erro que só detetei há dois dias.
Refleti sobre a demora e conclui que não o identificara porque não era bem um erro, mas uma maneira de falar.
Tenho uma escrita muito oral (tendo a escrever como falo) e falo à São Vicente (muitas vezes sozinho) sempre que penso na nossa terra, como nos momentos em que escrevo para os Enxidros.
Ora nós devíamos dizer "...até ao Marzelo", mas dizemos "...até ó Marzelo" e mesmo "...até o Marzelo", que é uma maneira ainda mais simples (e preguiçosa) de dizer.
O meu pai, nascido em Castelo Branco, por casos do destino, mas preso ao Casal da Fraga, pelas raízes, dizia-nos "Vou o Casal" e muito raramente "Vou ao Casal" ou "Vou ó Casal".

domingo, 1 de janeiro de 2012

3.º Aniversário

Hoje comemora-se o aniversário Dos Enxidros.
O blogue atingiu o máximo de publicações semanais (cerca de três), a meio deste terceiro ano, no final da Primavera. No início deste projeto, pretendia-se uma publicação por semana.
Mas apercebi-me de que estava a fazer um esforço muito acima das minhas disponibilidades de tempo e de materiais informativos. Por isso, abrandei o ritmo.
Existe uma limitação natural deste blogue que é ser feito a partir de Castelo Branco e não de São Vicente. Essa limitação é inultrapassável e as contribuições pontuais de várias pessoas, sobretudo do Dário Inês e do Ernesto Hipólito, apenas possibilitam disfarçar momentaneamente essa realidade.
É um desejo natural dos leitores terem sempre mais informação, mas de facto não há condições para garantir mais do que uma publicação semanal e só excecionalmente duas ou três.
O blogue é visitado entre 1700 e 1900 vezes, mensalmente. Os visitantes vivem na França, Suiça, Alemanha, Inglaterra, Rússia, Brasil, México, Estados Unidos, Canadá e sobretudo em Portugal. O blogue terá perto de 100 leitores fiéis e assíduos.

Bom ano novo para todos. Que não se concretizem as previsões Maias e os dirigentes europeus saibam encontrar soluções políticas e económicas capazes de tirar a Europa da profunda crise em que se encontra.
Quanto a nós, individualmente, a solução é fazermos cada coisa o melhor possível, sem esperar que os outros o façam.
Bom 2012!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Saudade

Dois poemas da escritora Maria de Lurdes Hortas, nascida em São Vicente da Beira, mas radicada no Brasil desde menina.
Lembrança dos que estão longe, divididos entre dois mundos, aquele em que vivem e o que tiveram de deixaram.


DUPLA

Presente aqui.
Ausente além.
E vice-versa, sempre.
Assim, tão dupla
é que sou inteira.


ECO DE GONÇALVES DIAS

Minha terra tem coqueiros
onde pousam rouxinóis.
Minha terra tem pinheiros
onde canta o sabiá.
As aves da minhas terras
cantam cá e cantam lá
sempre ao inverso de onde
as deveria escutar.

Poemas publicados no suplemento IDEIAS, n.º 3, do Jornal do Fundão (04-05-1990)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mãos mágicas

Eu era já grande e por isso recusei-me dar a faca à minha irmã mais velha, quando ela a veio buscar para ir fazer a ceia. Mas como era ainda demasiado pequeno para a vencer, fugi para a minha mãe, porque ela me agarrou a tentar tirar a faca.
Corri da quelha para casa, a chamar “Ó mãe, a Fátima quer bater-me!”, mas tropecei logo no primeiro degrau do balcão. Bati com o queixo no granito e fiquei com um corte a toda a largura. A minha mãe acudiu e atou-me um lenço do queixo ao alto da cabeça, para estancar o sangue.
Depois levou-me ao hospital. Descemos pela tapada dos Candeias, direitos ao Chão dos Negrinhos, e seguimos pelo caminho ao longo do muro da Casa Cunha, até ao Marzelo e daí para São Sebastião.
Era quase sol-posto, mas a enfermeira ainda estava no hospital, parecia que à minha espera. Desinfetou a ferida, fechou a carne cortada com umas latinhas e tapou-a. Sarou sem mais novidades.
Alguns anos depois, um dia à noite, fui com a minha mãe e as minhas irmãs ver o presépio da Menina Isaura, na escola velha, mesmo ao lado do hospital. E um mundo maravilhoso se revelou aos meus olhos: o presépio numa gruta e em volta tudo o que eu conhecia, mas muito pequenino. Além das pessoas a trabalharem e das casas, havia pedras, musgo, erva e até oliveiras com azeitona. Os lavradores lavravam a terra, os pastores guardavam o gado e as mulheres lavavam a roupa no ribeiro, onde corria água de verdade.
Tudo feito pela enfermeira que anos antes me tratara a ferida no queixo. A confirmar a magia das suas mãos.

Nota: Tenho a ideia de luz de lâmpadas penduradas nuns fios a iluminar o presépio. Ora a eletricidade foi inaugurada em Abril de 1969. Deve ter sido nesse Natal que a Menina Isaura repôs o seu presépio, já apresentado em 1959 e neste Natal exposto pelo GEGA, na Igreja da Misericórdia.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Oração

Lá vai lua alta
Mais alta vai a Senhora
Que para o céu subia
Madalena vai detrás
Alcançá-la não podia
Alcançou-a em Belém
Onde Jesus Cristo lhe assistia
Nossa Senhora era tão pobre
Que nem um paninho lá trazia
Lançou as mãos à cabeça
Era um véu que trazia
Partiu em quatro quartos
Jesus Cristo embrulharia
Desceu um anjo do céu à terra
Paninho de ouro lá trazia
São José lhe perguntou
Como ficou lá Maria
Maria ficou bem
Na sua salinha metida
Cantando Avé Maria
As paredes são de ouro
Lavradas de prata fina
Quem também as lavraria
Foi o filho da Virgem Maria

Nota: Oração recolhida e publicada em trabalho escolar, por Maria Isabel dos Santos Teodoro, na década de 1980.