domingo, 29 de janeiro de 2012

Notícias da frente agrícola

1. Desde inícios de Novembro que não chove. Os terrenos estão secos, embora na serra ainda haja alguma humidade, graças à ribeira e aos seus afluentes. O ribeiro de Dom Bento está quase a secar, novamente.

2. As temperaturas andam baixas, mas mais altas do que habitualmente. Há muitas noites sem geadas ou gelo. De dia, nos sítios mais abrigados, parece primavera. Há anos aconteceu o mesmo. Os pessegueiros ficaram floridos todo o mês de fevereiro, mas pouco produziram, pois a flor estava como que congelada e a polinização foi fraca.

3. A imprensa de Castelo Branco deu notícia de um projeto agrícola que envolve um investimento de sete milhões de euros. Espera-se colher 400 toneladas de azeitona e produzir 500 mil litros de azeite por campanha. Os olivais ocuparão uma área de 300 hectares, em Vale Sarzedo e Esteveiras. Também será construído um lagar. Junto à estrada entre a ponte do Chão-da-Vã e o cruzamento do Padrão são já visíveis enormes olivais, uma barragem e um grande edifício.

4. Uma multinacional, a Unitom, está a plantar, no Ferro (Covilhã), um dos maiores cerejais do país: produzirá, dentro de 3 anos, 500 toneladas de cereja (10% da produção da Cova da Beira).

Nota: Várias publicações deste mês têm sido marcadas pelo pessimismo. Queria dar a volta a isto, mas... "Quem não tem cão caça com gato". Pode ser que as boas notícias alheias nos contagiem um bocadinho!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O nosso falar: esbarrondar

A palavra esbarrondar é relativa a barro. Desabava ou desmoronava-se uma parede em que as pedras eram coladas com barro. O mesmo que esboroar-se, que acontece frequentemente com coisas de barro já muito antigas.
Um dicionário on-line informa-me que também se usa no sentido de parir, na zona do Fundão, que é a nossa. O bebé está na barriga da mãe e, quando chega o tempo, rompe-se o véu e tudo se esbarronda, saindo a criança para o mundo exterior.
E ainda se utiliza com o significado de menstruação. Tem lógica, porque dizemos barronda se uma porca anda saída, isto é, com propensão para acasalar e procriar, pois está no período da ovulação. E a menstruação significa o fim desse ciclo reprodutor, esbarrondou-se tudo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Trabalhos de fim de semana

Em 1974-75, ainda vivíamos na Tapada, a beber água da mina, à luz do petróleo. Por esses tempos, os operários da construção civil travaram grandes lutas e conseguiram melhores salários e a redução da jornada semanal de 48 para 45 horas. Assim, o meu pai trabalhava 9 horas por dia e já podia vir passar o sábado com a família.
Então, os meus pais compraram uma casa velha na Rua da Cruz e iniciámos a sua reconstrução. Como interrompi os estudos no ano letivo 75-76, o meu pai dizia-me o que fazer durante a semana e no sábado tinha tudo pronto para os trabalhos de pedreiro.
“Aqui, no chão, abres uma caixa quadrada de um metro de lado por 80 de fundo.”
No sábado, fizemos o pilar que suporta a escadaria.
“A toda a volta da parede, cava o barro por baixo da parede, da fundura de uma mão travessa.”
No sábado, encostámos uns taipais na prumada da parede e enchemos os buracos de massa.
“Esta semana, tira as telhas e arranca as ripas e os caibros.”
E foi assim, durante três anos. Depois, mudámo-nos para a casa nova da Vila. Há 37 anos, o sábado livre do meu pai fez toda a diferença para a nossa família.
A vida mudou muito, entretanto. Há cerca de 20 anos, quando se começou a falar em abrir os hipermercados aos domingos, duas funcionárias do antigo Jumbo de Castelo Branco vieram pedir-me para assinar pela abertura. Eu respondi-lhes que não assinava, pois, como professor, queria que elas passassem o domingo com os filhos.
Muitos desconhecem que o dia de descanso semanal ao domingo é uma conquista muito recente, de há cem anos, no início da Primeira República. Antes disso, a missa de domingo era um luxo proibido aos operários, numa época de grande religiosidade.
O mundo mudou para melhor, em muitas coisas, no último século, mas agora estamos a andar para trás, em nome de progressos que poucos sentem.

Nota: Ao contrário de muitos, com o Presidente da República à cabeça, que só há poucos meses perceberam a grande complexidade da crise económica que vivemos, eu percebi isso logo quando ela começou, embora tenha sido a única coisa que percebi, durante largo tempo. Por isso esta crónica não é uma tomada de posição contra ou a favor de algo ou alguém, embora não abdique da minha oposição ao aumento da riqueza nos ricos e ao consequente aumento da pobreza na classe média e nos pobres. E à desregulação das suas vidas.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

João Pereira de Carvalho

Quem foi João Pereira de Carvalho, uma das quatro pessoas que arrematou a compra das pedras do extinto convento franciscano?
Já encontrara o seu nome, na listagem dos notários de São Vicente da Beira do Arquivo Distrital de Castelo Branco. Há muita documentação por si redigida, relativa a testamentos e contratos de compra e venda dos anos de 1842, 1845, 1848, 1849, 1856, 1858, 1859, 1862, 1864, 1866, 1868, 1869, 1871, 1874 e 1876.
Não existem documentos de muitos anos entre 1842 e 1876, mas isso não significa que tenha interrompido a sua função de notário, pois os documentos podem ter-se perdido ou encontrar-se na posse de particulares.
Este João Pereira de Carvalho era natural das Sarzedas, filho de Luis Marques Pereira e Quitéria Rosa de Carvalho. Casou, em S. Vicente da Beira, no dia 11 de Outubro de 1843, com Ana Augusta Ribeiro Robles, filha de Bernardo António Robles e de Antónia Raimundo Ribeiro.
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Registos paroquiais de S. Vicente da Beira, "Assento dos Casados", maço 96, livro 1803-1859, fólio 122)
O matrimónio ocorreu 1 ano e 10 meses depois de vir trabalhar, como notário, para São Vicente, pelo que talvez tenha conhecido a sua futura esposa já depois de residir nesta vila.
O casal teve José Augusto Pereira de Carvalho, pai de Virgínia Maria da Conceição Pereira. Esta casou com José Maria dos Santos, os pais dos irmãos Pereira dos Santos que todos conhecemos.
Os membros destas três gerações habitaram a casa da família, na Rua do Convento, números 30 a 38. João Pereira de Carvalho terá comprado pedras do extinto convento para construir ou reconstruir essa habitação. Mas a atual fachada do edifício data de meados do século XX, como aqui já foi referido.
No número 30 existiu uma forja de ferreiro, durante muitos anos do século XX.
Maria de Lurdes Hortas viveu, na casa em frente.
Anos mais tarde, registou as lembranças da sua infância, nos versos de um poema.

EM FRENTE À CASA DA INFÂNCIA

Em frente à casa da infância havia um ferreiro.
Além das ferraduras para cavalos, suas mãos grandes e pesadas
fundiam o sol em sua forja. E sucedia que, ao acordar, eu me precipitava
para a janela a tempo de ver
as faíscas da luz escapulindo pelo escuro vão da porta do ferreiro
diluindo-se na neblina da rua.
Da mesma janela via surgir, no postigo do primeiro andar, a velha:
de vestes tão negras como o tempo que atravessara
e de cabelos tão alvos como a farinha que, todos os dias, àquela mesma hora peneirava.
Da casa voejava uma poalha de prata.
Se fosse Inverno, a neve parecia escapar-lhe da peneira
polvilhando a aldeia de silene magia.


(Maria de Lurdes Hortas, "Cantochão de Todavia", edição do GEGA, 2005, São Vicente da Beira)

Pedido: Outra pessoa que comprou pedras do convento foi a Ex.ma D. Anna de Brito Coelho de Faria. Tenho informações escritas sobre esta família, muito importante em São Vicente, no século XIX, mas nada sei sobre onde morava, se ainda lá vivem descendentes...
Agradeço qualquer informação, a quem souber alguma coisa.


Nota: Este texo foi completado a 26/01, na sequência do comentário de Paulo Duarte de Almeida.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O nosso falar: borrega

O veterinário da minha gata, bom conhecedor de São Vicente, onde sempre fez grandes amigos, recentemente veio de lá impressionado com a quantidade de terrenos agrícolas que temos ao abandono.
Consequentemente, algumas paredes mostram sinais de ruína. Os nossos antepassados, durante séculos, compuseram as terras agrícolas, endireitando-as e segurando-as com paredes. Assim nasceram os leirões.
Mas agora faltam cultivadores e tempo aos poucos que há, a ganhar o pão noutras atividades.
Por isso, muitas paredes incham para um dos lados, em forma de barriga dilatada, após refeição farta. Parecem barrigas de borregas, essas adolescentes dos ovinos.
(Cordeiros - acabados de nascer; borregos e borregas – ovinos jovens, ainda em crescimento; carneiros e ovelhas – ovinos adultos)
Mais dia menos dia, sobretudo quando chove muito, as paredes com borregas esbarrondam-se e caem ao chão. Então dizemos que caiu uma borrega na horta de fulano de tal.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Censos 2011

Já estão disponíveis, on-line, os resultados do Censos 2011.
A versão definitiva, em papel, será publicada no verão. Na altura, publicarei o número de habitantes, por povoação, da nossa freguesia,
Aqui deixo o número de habitantes de cada freguesia do concelho de Castelo Branco, presentes na altura do censos.
Entre parêntesis, apresento o resultado do censos de 2001. Em negrito, estão as freguesias que ganharam habitantes nesta última década.

Alcains – 4.892 (4.594)
Almaceda – 610 (910)
Benquerenças – 706 (707)
Cafede – 263 (267)
Castelo Branco - 35.006 (31.637)
Cebolais – 1.007 (1.196)
Escalos de Baixo – 648 (946)
Escalos de Cima – 902 (1.057)
Freixial do Campo – 441 (526)
Juncal do Campo – 357 (491)
Lardosa – 990 (1.049)
Louriçal do Campo – 620 (807)
Lousa – 668 (724)
Malpica do Tejo – 532 (763)
Mata – 452 (578)
Monforte – 380 (516)
Ninho do Açor – 408 (450)
Póvoa de Rio de Moinhos – 645 (651)
Retaxo – 824 (989)
Salgueiro do Campo – 880 (936)
Santo André das Tojeiras – 728 (1.045)
São Vicente da Beira – 1.246 (1.536)
Sarzedas – 1.331 (1.707)
Sobral do Campo – 360 (483)
Tinalhas – 591 (665)
Total do concelho de Castelo Branco - 55.587 (55.240)

Conclusão: Os dois núcleos urbanos ganham população e as zonas rurais perdem habitantes; as freguesias mais afastadas do centro (Castelo Branco) e da A23 são as que perdem mais população.
Curiosidade: O número de habitantes destas últimas povoações está-se a aproximar do que era há cerca de 200 anos, quando se iniciou o grande crescimento demográfico. A diferença é que agora o número reduzido de pessoas não se deve a uma mortalidade muito alta, como naquela época, mas sim à diminuição da natalidade e à migração das gentes para os centros urbanos, principalmente do litoral.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

As pedras do convento

Sempre me disseram que as pedras do antigo convento são as do muro da Quinta da Casa Cunha, ao longo da Rua de São Sebastião.
Agora encontrei a ata da sessão da Junta da Paróquia em que as pedras foram vendidas. Foi no dia 24 de Agosto de 1845, sendo presidente o Reverendo Vigário Manuel Marques Leite e vogais José Henriques Sénior e João da Conceição, este também escrivão do regedor, Francisco Rodrigues Lobo.
Antes de dar a notícia, tenho de informar que o convento foi extinto em 1835 e, na altura, já estava parcialmente arruinado, residindo nele apenas a Madre Abadessa. Dez anos depois, 1845, nem todo o convento estava na posse da Junta da Paróquia. Parte dele já fora comprado por um particular, o Pe. Joaquim Castanheira (a ata que o refere não indica qual a parte). Mas a Igreja de São Francisco mantinha-se pública e de pé, havendo até diligências no sentido de ser reconstruída nas partes a necessitarem de obras. Assim, a pedra vendida era a que resultava da demolição da parte do convento administrado pela Junta da Paróquia, com exclusão da igreja.


Nesse 24 de Agosto, às 11 horas da manhã, o presidente da Junta ordenou ao vogal João da Conceição que dissesse ao pregoeiro da Câmara, Manuel Francisco, para pôr a lanço, a quem mais desse, «…a pedra das paredes demolidas do extinto comvento desta Villa pertencente aesta Parochia, a Vinte reis cada carrada…».
O pregoeiro apregoou várias vezes e depois veio informá-lo que «…perante elle tinhaõ comparecido o Ill.mo Joaõ Robalo da Cunha, Joaõ Pereira de Carvalho, e Joaõ da Silva Lobo por si e como arrematante em nome da Ex.ma D. Anna de Brito Coelho de Faria todos desta Vila eque todos unanimamente tinhaõ coberto olanço da Junta com hum real, eque nada houvera quem lhe cobrisse este Lanço de Vinte ehum reis por cada carrada…».
Informado disto e não havendo quem desse mais, o presidente mandou entregar o ramo aos quatro arrematantes, pegando nele João da Silva Lobo a rogo dos outros. Foram depois todos ter com o presidente à sacristia da Igreja Matriz, sede da Junta da Paróquia, onde ele lhes disse que levassem a pedra que precisassem, arrematando-se a restante, novamente, caso não a gastassem toda.