segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nossa Senhora da Orada

(Clicar na imagem para ler o cartaz)

Ainda faltam duas semanas para a festa da Senhora da Orada. Este ano é mais tarde, a 27, porque o 1.º de maio foi numa terça-feira.

Quem vier de Lisboa e quiser poupar as portagens de dois pórticos, deve sair na saída de Sarnadas/Retaxo (um pouco à frente está novo pórtico, antes da saída para Benquerenças/Cebolais, o outro situa-se junto ao nó para as Sarzedas)) e depois seguir a estrada nacional, paralela à autoestrada. Na entrada de Castelo Branco, junto à Danone, segue em frente sem virar à direita para a cidade. Vai ter à saída norte de Castelo Branco, entrando na autoestrada, mas sem pagar, pois o pórtico seguinte situa-se após o nó de Alcains. No regresso, é fazer a mesma coisa, mas no sentido inverso (ao sair da autoestrada, segue-se em frente, sem virar para Castelo Branco). Na ida e volta poupam-se cerca de 5 euros.

A Feira de Artesanato e Gastronomia é a por volta do São João: 22, 23 e 24 de Junho.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Nossa Senhora

Eu tive uma cabra mocha, castanha amarelada, mais castanha nas costas e amarelada na barriga. Quando nasci, a minha mãe sofreu de uma infeção nos bicos das mamas e por isso teve de comprar leite de cabra para me criar. Então os meus pais, já com quatro filhos pequenos, decidiram comprar uma cabra. Era uma chibinha quando a trouxeram, mais ou menos da minha idade.

Desde pequeno que eu fiquei o seu pastor. À saída da escola, os outros rapazes iam nadar para o Pelome, na ribeira, mas eu não podia, tinha a cabra, na loja, à minha espera. A missão do meu primo era igual. A cabra dele era cornuda, de pelo escuro e maior do que a minha. Como nas Festas de Verão era costume comer borrego assado e guisado, o meu pai ia ter com o Nonga, o pastor do tio Albano, que mal conseguia falar, mas entendiam-se, porque eram amigos. Ele apalpava a barriga das ovelhas e sabia quantos borregos traziam. Se houvesse uma com três, então um ficava prometido para nós. Comíamos um dos dois cabritos da nossa cabra e metíamos-lhe o borrego, para ela o criar. Por isso, além da cabra, eu tinha de guardar o outro cabrito dela e o borrego.

Ao lado das nossas casas havia uma encosta muito grande, chamada barreira. Descíamos por ela, sem pressas, ao ritmo das cabras que iam comendo mato, sobretudo de giestas brancas, até chegar ao ribeiro das Lajes. Aí regalavam-se com a erva tenrinha e depois começavam a subir pela barreira oposta, ainda mais calmamente.

E demorávamo-nos no ribeiro, sobretudo na presa da regadia, pouco funda, mas o suficiente para pregarmos uma partida ao meu cão. Chamava “Bobi” e ele vinha a correr, a abanar o rabo de contente. Pegava-lhe ao colo e atirava-o à presa. Ficava aflito, mas nascera a saber nadar e por isso saía da água rapidamente. Nessa tarde não voltava a aproximar-se de mim, mas no dia seguinte já não se lembrava.
A água da presa vinha de uma mina, em parte a céu aberto. Se apanhávamos a presa vazia, entrávamos pela mina e víamos peixes cabeçudos e salamandras preguiçosas, às manchas pretas, vermelhas e amarelas. Depois íamos a ver das cabras, que já mal avistávamos.

A meio da barreira havia um poste metálico dos telefones. Então pegávamos numa pedra e batíamos nele, às vezes depressa, outras devagar, com mais ou menos força, a tentar conversar com as pessoas que estavam ao telefone, nós que nem sabíamos o que isso era. Outras vezes subíamos a uma piçarra e fazíamos um relato de futebol:
“O Coluna passa para o Costa Pereira, este chuta para o Jaime Graça que centra para o Torres e é GOOOLLLOOOO!”

Além da mãe do meu primo, tínhamos outra tia nossa vizinha ainda mais religiosa que as nossas mães. Ela costumava ranhar-nos quando nos portávamos mal e falava-nos dos pastorinhos de Fátima, querendo que nós fossemos como eles. Um dia emprestou-nos uns livrinhos sobre o Francisco e a Jacinta. A Nossa Senhora tinha-lhes aparecido e pedira-lhes que rezassem muito e jejuassem. Andámos aterrorizados muito tempo, pois éramos pastores e podia-nos acontecer o mesmo. Rezar, ainda vá lá, mas deixar de comer… Não descansámos enquanto não lhe devolvemos os livros!

Mas voltemos à vida de pastor, que o ganal tem de comer todos os dias. Na barreira do lado de lá do ribeiro, o mato era de carquejas e algumas giestas amarelas. As cabras gostavam de comer as flores e os rebentos tenros. Talvez também gostassem, como nós, de ver a encosta matizada com o castanho da terra, o negro das rochas e o colorido verde e alaranjado dos matos. Por isso se demoravam lá tanto, facilitando as nossas brincadeiras no ribeiro.

No alto da barreira, havia um pequeno planalto, com uma pedra enorme a sobressair na encosta, como se fosse uma varanda sobre a presa. Antigamente era lá que se malhava o pão, mas para nós era mais um bom sítio com imensas oportunidades para brincar. Havia vagar, pois as cabras adoravam o mato branco lá do alto.

Um dia, já sol-posto, corremos pelo mato para virar as cabras de volta a casa e demos com um ninho no chão. Tinha quatro passarinhos já vestidinhos, completamente pretos. Pegámos neles, dois para cada um, e regressámos apressados, para mostrar às nossas mães e irmãs.
“São cotovias, os passarinhos de Nossa Senhora. Tendes de ir depressa colocá-los no ninho, pois é pecado tirá-los. E esperemos que a mãe não os enjeite, por terdes mexido neles!”

Corremos no escuro do anoitecer, com eles na concha da mão. Descemos a barreira, subimos a barreira e metemo-los no ninho. Voltámos com o coração apertado, pois já se ouviam uns pios tristes, seriam os pais a chorar pelos filhos.

Nos dias seguintes, não voltámos ao alto da barreira e ao entardecer ficávamos sempre de ouvido à escuta, tentando ouvir os pios dos pais cotovias a quem nós havíamos roubado os filhos. Felizmente, deixámos de os ouvir, embora ainda hoje se ouçam todos os dias ao anoitecer

Sargaço


Giesta amarela


Mato branco

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Invasões Francesas 12

A conquista de Badajoz

Após a queda de Ciudad Rodrigo, em Janeiro de 1812 (abordada na publicação Invasões Francesas 11, de 28 de fevereiro de 2010), chegou a vez de Badajoz, a fortaleza que espreitava a porta sul da entrada em Portugal: Elvas.
A cidade de Badajoz, ocupada pelos franceses, foi tomada de assalto pela infantaria anglo-portuguesa, entre 6 e 9 de Abril de 1812. Uma força militar portuguesa permaneceu na cidade para repor a ordem.
Por todo o Alto Alentejo, houve então grande movimento militar, entre o Quartel-General de Abrantes e a fortaleza de Badajoz, nessa Primavera de há precisamente 200 anos.
Ora as tropas necessitavam de carreiros para lhes darem apoio logístico. Por isso os ganhões do concelho de São Vicente da Beira foram novamente chamados a dar o seu contributo para a libertação da Pátria.

 
Mapa antigo, com as fortalezas de Almeida e Elvas (Portugal) e  Ciudad Rodrigo e Badajoz (Espanha) em forma de estrela.

Vila

- A junta de bois e o carro de Francisco Antonio Simoens andaram, em Maio, durante 10 dias, a acarretar lenha para os fornos, em Abrantes.

- O carro de bois de Francisco Ferreira andou 29 dias, também em Maio, a dar serventia às tropas, entre Abrantes, Nisa e Abrantes.

- Francisco Santo e Joaõ Bernardo, com um carro, sendo uma vaca de cada um, andaram 12 dias, em Abril, a acarretar arroz, entre Abrantes e Nisa.

- Ignes, viúva de Domingos Vas Raposo, mandou o seu ganhão para Abrantes, onde ficou a trabalhar ao serviço das tropas, durante 24 dias, no mês de Maio.

- O Capitão Joaõ Roiz Lourenço Cayo, ou o seu ganhão, andou 30 dias, em Maio, a transportar o trem do hospital real, entre Abrantes e Nisa, a dar serventia em Abrantes e a transportar pólvora e bolacha de Abrantes para Elvas.


Mourelo

- Manoel Leitam fez, durantre todo o mês de maio (31 dias), transportes entre Abrantes e Elvas.

- Teve a companhia de Jose Antonio e Jose Alves, uma vaca de cada um, que fizeram os mesmos transportes, no mesmo tempo.

- E também andaram com eles Joam Franses e Joze Mateos, igualmente uma vaca de cada um, nos mesmos tempos e serviços.


Paradanta

- Manoel Mendes, criado de Manoel Leitam, andou 33 dias, entre maio e junho, a fazer transportes para o exército anglo-português: de Abrantes para Nisa levaram o trem do hospital e de Abrantes para Elvas carregaram pólvora e bala.


Partida

- Manoel Mateus transportou cevada de Abrantes para Nisa; depois voltou para casa e de Vila Velha de Ródão trouxe arroz e bacalhau para Castelo Branco; andou ao serviço 11 dias, no mês de Abril.

- Manoel Martins e Manoel Alexandre, uma vaca cada um, andaram 33 dias, em maio e junho, também a transportar o trem do hospital entre Abrantes e Nisa e a levara pólvora e bala de Abrantes para Elvas.

- O ganhão de Antonio Fernandes andou igualmente 33 dias, também em maio e junho, entre Abrantes e o pego, a acarretar rama, vinho, pão e carne.


Tripeiro

- Manoel Vas, Joaõ Ribeiro e Manoel Antunes Máximo, cada um com o seu carro de bois, andaram 32 dias, em maio e junho, a acarretar lenha para os fornos, em Abrantes.


Violeiro

- Joze Pires andou 30 dias, em maio e junho, a acarretar bolacha entre Abrantes e Elvas.

- Joze Rodrigues Mosso andou também 30 dias, em maio e junho, mas primeiro ajudou a transportar o trem do hospital, entre Abrantes e Nisa e depois é que foi fazer carregamentos entre Abrantes e Elvas.


Gravura com carreiros a fazerem transportes para os exércitos, durante as Invasões Francesas

Foi há precisamente 200 anos e os nossos antepassados foram bem sacrificados, considerando que os serviços não eram pagos e por vezes nem comida lhes davam para eles e para os animais. Aos dias indicados há que acrescer mais os dias de viagem entre a terra natal e Abrantes. Sabe-se, por informação relativa a Francisco Antonio Simoens da Vila, que esta viagem de ida e volta demorava 7 dias (3 dias e meio para cada lado).
Nesse maio de 1812, uns faltaram à festa de São Tiago, outros não foram à romaria da Senhora da Orada e alguns falharam as duas. Foi duro!

(José Teodoro Prata, O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra peninsular, Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, 2006, S. Vicente da Beira)



terça-feira, 1 de maio de 2012

Dia do Trabalhador

O meu pai, tão escaldado com a vida, costumava incentivar os filhos para que trabalhássemos, semeássemos, pois um dia poderia vir uma fome. Eu fazia o que ele sugeria, mas no fundo achava-o um exagerado, pois encarava o futuro com otimismo, na crença ingénua de que o mundo seria cada vez melhor. Para mim, o mundo evoluía em linha, sempre a subir, mas para o meu pai a evolução seria circular, com períodos bons e outros maus.

O analfabeto era ele e eu um letrado. Eu sabia que o capitalismo tem em si caraterísticas de autodestruição que provocam crises cíclicas, gerando milhões de desempregados e muito sofrimento humano. Mas preferia ignorar este fatalismo e centrar-me na crença de um futuro cada vez mais risonho. Infelizmente, os homens ainda não conseguiram fazer com que o meu pai não tenha razão e o sofrimento voltou para milhões.

Deixo-vos com um poema do Fausto. A canção, de 1978, mas tão atual, podem ouvi-la no Youtube, pois as novas regras de utilização da internet não permitem colocá-la aqui.



Uns vão bem e outros mal

Senhoras e meus senhores, façam roda por favor
Senhoras e meus senhores, façam roda por favor, cada um com o seu par
Aqui não há desamores, se é tudo trabalhador o baile vai começar
Senhoras e meus senhores, batam certos os pezinhos, como bate este tambor
Não queremos cá opressores, se estivermos bem juntinhos, vai-se embora o mandador
Vai-se embora o mandador

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

De velhas casas vazias, palácios abandonados, os pobres fizeram lares
Mas agora todos os dias, os polícias bem armados desocupam os andares
Para que servem essas casas, a não ser para o senhorio viver da especulação
Quem governa faz tábua rasa, mas lamenta com fastio a crise da habitação
E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

Tanta gente sem trabalho, não tem pão nem tem sardinha e nem tem onde morar
Do frio faz agasalho, que a gente está tão magrinha da fome que anda a rapar
O governo dá solução, manda os pobres emigrar, e os emigrantes que regressaram
Mas com tanto desemprego, os ricos podem voltar porque nunca trabalharam
E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

E como pode outro alguém, tendo interesses tão diferentes, governar trabalhadores
Se aquele que vive bem, vivendo dos seus serventes, tem diferentes valores
Não nos venham com cantigas, não cantamos para esquecer, nós cantamos para lembrar
Que só muda esta vida, quando tiver o poder o que vive a trabalhar
Segura bem o teu par, que o baile vai terminar

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

Fausto, in Madrugada dos Trapeiros, 1978


domingo, 29 de abril de 2012

BORDA D´ÁGUA

Em desespero de causa, comprei o Borda d´Água, mesmo indo o ano já adiantado.

Notícas da meteorologia:
Maio - Tempo instável
Junho - Bom tempo
Julho - Frescote
Agosto - Frescote, exceto os meados do mês, que serão de calmarias
Setembro - Bom tempo no início e no final; instável pelo meio

Conclusão: Ainda haverá alguma chuva em maio, mas depois acabou-se, pois os frescotes de Julho e Agosto são apenas isso, como aliás no ano passado. Mas não levem isto demasiado a sério, pois hoje estava previsto sol intenso!

Vamos ter chuva para criar os legumes e frutos da Primavera, mas não acredito que chegue para recuperar os lençóis de água e fazer correr as nascentes, durante o Verão.
Melhor que nada!


E para festejar, flores da Primavera. As do costume, mas sempre lindas.




sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Zé não era

O meu pai contava aos filhos a mesma lengalenga que o Ernesto Hipólito aqui publicou a 22 de abril, mas numa versão diferente:

Era uma vez,
o Zé não era,
que andava na serra,
com os bois de bogalho
e o arado de palha.
Recebeu a notícia,
que tinha o seu filho morto
e o seu pai p´ra nascer.
Deitou os bois às costas
e o pôs o arado a comer.
Chegou lá à frente,
encontrou uma vinha carregada de melancias,
atirou-se a elas
e comeu-as todas.
Mais adiante,
encontrou um meloal cheio de uvas,
deitou-se a elas
e comeu-as todas.
Veio de lá o dono
«Ai seu patife! Ai seu maroto!»
Atirou-me com uma beringela ao joelho,
Dei-lhe cabo do tornozelo.
Eu atirei-me a ele
e ele a mim
e como eu era mais forte do que ele,
atirei com ele para cima de mim.
E eu fiquei debaixo dele
e ele debaixo de mim.
Debaixo de nós estava um ninho de magafos,
magafos, magafaguinhos,
morreram os magafos
e ficaram os magafaguinhos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Chuva!

Após quase uma semana de ameaças, finalmente começou a chover, hoje, depois do almoço. Confesso que já tinha saudades de ver a chuva cair! Os próximos dias prometem mais.
Bendito 25 de Abril.

Estava para colocar aqui os "Índios da meia praia", do Zeca, canção que vem na linha da publicação de ontem (fazermos as coisas, sem esperarmos que as façam por nós), mas o Google mudou a configuração do blogue e ainda não consegui colocar um vídeo.
Vão vocês ao Youtube e encham a barriga: José Afonso, Fausto, José Mario Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveria...
Há por lá muita coisas velhinha (1974/75) que vos vai surpreender!