domingo, 7 de outubro de 2012

Sede para a Banda

Começaram as obras para a futura sede da Banda, na Fonte Velha. A imagem é de sexta-feira, no início da tarde. Agora, domingo, o espaço já estará todo limpo, pronto a receber os alicerces do novo edifício.
Na foto, vemos o Comissário Barroso a orientar os trabalhos.
Esta obra será a realização do seu sonho, como presidente da Direção, mas também dos músicos da Filarmónica e de todos os vicentinos. Foram mais de cem anos em sedes provisórias!
Para mim, é a obra mais importante de São Vicente, desde a requalificação da Praça e espaço envolvente (2004).
Além de dar uma sede a quem dedica todo o seu tempo livre à comunidade, significa também o início da requalificação do largo da fonte, o espaço público mais nobre da Vila, logo a seguir à Praça.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O nosso falar: um pisco

O pisco (pisco de peito ruivo) «...é uma pequena ave que se conhece bem pela mancha alaranjada que lhe ornamenta o peito.»
A Wikipédia acrescenta ainda que mede «...cerca de 14 cm. Os adultos apresentam o peito e a testa de cor laranja ferrugínea muito caraterística. Os juvenis são castanhos com pintas abundantes castanho amarelado e mudam para a plumagem de adulto ao fim de um ano.»
Alimenta-se à base de insetos, aranhas, minhocas e no tempo frio come bagas e outros frutos moles.

Não se deixem impressionar com esta peitaça! Ele armou as penas para fazer boa figura.

 
Quando ando no Ribeiro de D. Bento, basta mexer nos matos ou fetos e aparece logo um pisco. Pipiripipi, pipiri, pi, pi, é uma conversa pegada, sempre a saltitar a metro e meio de mim. Eu respondo-lhe e ficamos longos bocados a conversar. O meu amigo pisco é muito sociável e anda por todo o lado.
Foi ele que deu nome ao cabeço ali bem perto, o Cabeço do Pisco, e à fazenda nas margens da ribeira, o Casal do Pisco. Isto há centenas de anos. Mais recentemente, também se serviram dele para dar nome à barragem (Barragem do Pisco), mesmo encostada ao referido casal, e também ao jornal que a nossa rapaziada faz na escola (O Pisco).
Contei-lhe e ficou todo vaidoso!

O que ele não sabe é que nós chamamos pisco a uma criança pequena e magrita, reles para comer. Dizemos que é um pisco ou um piscozito, para ainda a rebaixar mais, na esperança de que ganhe juízo e faça pela vida. "Quem não é para comer, não é para trabalhar!"
Disto não vai gostar o meu amigo pisco, ele que se considera um grande comilão, embora com fracos resultados, pelo que se vê. Mas um pisco, tal como um homem, não se mede aos palmos, no caso dele aos milímetros. Lá estão a penugem, o canto e o gosto pelo convívio, para o demonstrar!


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA


As comendas de Avis e de Cristo

O foral manuelino do extinto concelho de S. Vicente da Beira, cujo 5.º centenário estamos a comemorar, informa-nos sobre a Ordem de Avis, neste território.

«Tem a Ordem e Mestrado de Avis na dita vila propriedades de terras e olivais aforadas a pessoas particulares (…).

E tem mais a dita ordem no termo da dita vila um lugar próprio seu e foreiro de que arrecada seus foros antigos sem contradição, como de coisa sua patrimonial que não jaz debaixo do foral da dita vila. No qual se não pagam outros tributos nem foros senão os que adiante vão declarados. (…) Os quais são repartidos igualmente ao meio pela dita ordem e comenda dela e pelo mosteiro de São Jorge de Coimbra.»

Desde os alvores da nacionalidade que o território entre a Ocreza e o Tejo fora entregue aos monges guerreiros Templários, mais tarde Ordem de Cristo, mas o concelho de São Vicente, antes administrado pela Covilhã, permaneceu livre de senhores.

No entanto, outra organização de monges guerreiros, a Ordem de Calatrava, mais tarde de Avis, foi recebendo propriedades e rendas neste antigo concelho.

As terras concentravam-se sobretudo na zona sul do concelho, na margem direita da ribeira da Ocreza, onde se situavam os povoados da Póvoa e de Ceia (no passado existente na área do paredão da albufeira de Santa Águeda). Segundo o Eng.º Manuel Castelo Branco, parte destas propriedades eram a herança pessoal de D. Fernando Rodrigues de Sequeira, filho de pai vicentino e mãe albicastrense. Este D. Fernando doou estas terras à organização de que foi Mestre, a Ordem de Avis.

Antes desta doação dos inícios do século XV, já as terras do sul do concelho gozavam de relativa autonomia, dada aos moradores pelos mestres da Ordem de Calatrava/Avis. Assim, quer pelo poder autónomo da Ordem de Avis («…como de coisa sua patrimonial que não jaz debaixo do foral da dita vila.»), quer pelos privilégios dados aos habitantes deste senhorio, as povoações da Póvoa e de Ceia já se governavam a si próprias, como concelho à parte, no início do séc. XVI.

Esta pertença da Póvoa à Ordem de Avis está documentada pelo brasão da ordem de Calatrava, existente no edifício que terá sido, durante séculos, a casa da Câmara da Póvoa de Rio de Moinhos, situado na Praça desta antiga vila.


Símbolo da ordem de Calatrava, na casa onde se situou a Câmara da Póvoa de Rio de Moinhos.

 
Mas o património da Ordem de Avis não se restringia a estas terras da parte sul do concelho de S. Vicente da Beira. O foral de 1195 tem como outorgantes os membros da Casa Real e o mosteiro de São Jorge de Coimbra, mas, no séc. XIV, os rendimentos da Igreja do concelho eram já repartidos pelo mesmo mosteiro e pela Ordem de Avis. Segundo o foral manuelino, tal facto terá ocorrido em 1300 («…era de mil e trezentos, na qual era foi dada a dita vila à ordem de Avis…»). O rei criou uma comenda com parte dos bens/rendimentos que aqui detinha e doou-a à Ordem de Avis, ficando ao longo dos séculos esta comenda de Avis com metade das rendas da Igreja e consequentemente com a obrigação de pagar metade das despesas das igrejas do vigariato. A outra parte cabia ao dito mosteiro de São Jorge de Coimbra.

É esta competência da Ordem de Avis na gestão dos bens religiosos do concelho que explica a existência do brasão da dita ordem na fachada da Igreja do Louriçal, com data de 1559.


Símbolo da ordem de São Bento de Avis, na Igreja do Louriçal do Campo.

 
O mesmo se poderá dizer da presença do símbolo da Ordem de Cristo no cruzeiro e na casa do ermitão da ermida da Senhora da Orada, em São Vicente. É que, nos finais do séc. XV, D. João II criou uma nova comenda com os rendimentos do até então padroado de São Jorge de Coimbra. D. João II doou a nova comenda à Ordem de Cristo, com a obrigação de sustentar o vigário, o chefe do clero do concelho (do vigariato), cuja nomeação continuou prerrogativa do poder real. Embora o foral manuelino ignore a substituição do padroado de São Jorge de Coimbra pela nova comenda dada à Ordem de Cristo, tal facto já ocorrera em 1512.

O vigário nomeava os curas das igrejas criadas após 1539. Nas paróquias fundadas anteriormente, Póvoa e Tinalhas, a nomeação cabia alternadamente à Ordem de Avis e à Ordem de Cristo, o mesmo se passando com a nomeação do tesoureiro da Matriz da Vila. Mas aqui a nomeação de um cura competia exclusivamente à Ordem de Avis. Em termos das despesas, a Ordem de Cristo pagava ao vigário de nomeação real e a Ordem de Avis ao cura da Matriz de São Vicente, que nomeara. As restantes despesas quer as referentes ao sustento dos curas e do dito tesoureiro, quer as despesas correntes das igrejas, eram suportadas em partes iguais pelas duas comendas.

Símbolo da ordem de Cristo, no cruzeiro da ermida da Senhora da Orada.
Na casa do ermitão, existia igualmente a cruz de Cristo.

sábado, 29 de setembro de 2012

Jornadas Europeias do Património

Tiveram início ontem, 28 de setembro, e prolongam-se até 11 de novembro.
Um pouco por todo o país, as localidades e instituições promovem o património de Portugal, à semelhança do que se passa nos restantes países da Europa.
Em S. Vicente da Beira, as Jornadas terão lugar no dia de encerramento, 11 de novembro, dia de São Martinho.
Centrar-nos-emos em três aspetos do nosso património: a música, as personalidades vicentinas que maior marca deixaram em Portugal e no Mundo e a tradição do magusto.
A organização é da Junta de Freguesia e da Escola, novos sócios das Aldeias Históricas de Portugal (AHP), uma das entidades que promove as Jornadas, no nosso país.


Entrada de uma casa em ruínas, no alto da rua Manuel Lopes.
O lintel foi deslocado para a esquerda, a fim de reforçar a quina da casa. Lintel e ombreiras têm a aresta chanfrada, caraterística do século XVI. Esta porta resulta de um reaproveitamento das pedras.
A cerca de 40-50 centímetros da soleira, as ombreiras foram desbastadas, para permitir a entrada de pipos ou dornas mais largos que a porta.
(Clicar na imagem para ver melhor)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Bicharada da Gardunha



 Os javalis são uns brutos. Nem mesmo as amêndoas com casca passaram despercebidas. E não contentes, esgalharam a amendoeira toda.

Os pássaros levam os bagos das uvas, um de cada vez. Mas estes estavam todos babados. Houve aqui um texugo que se lambuzou bem! É preto e branco, segundo uns lisboetas que já o viram.


 Não podemos acusar os esquilos de preguiça e falta de habilidade. Pinhões, nozes, qualquer dia castanhas, nada lhes escapa.

 Esta raposa andou no figuinho. Sacana!

Os bicos da passarada são afiados como facas.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA

(Inicio hoje a divulgação dos 4 artigos que publiquei no jornal Reconquista de Castelo Branco, uma vez que a maioria dos leitores Dos Enxidros vivem fora desta região e não tiveram acesso a eles. Algum do seu conteúdo já aqui foi referido, mas outras informações e conclusões são completamente originais)

As gentes do concelho à época do foral

No próximo mês de novembro, completam-se quinhentos anos da publicação do foral manuelino do antigo concelho de São Vicente da Beira.

O extinto concelho nascera em 1195, por concessão da família real, do Convento de São Jorge de Coimbra e da Albergaria de Poiares. Este território e as gentes que nele viviam ganharam então autonomia face à Covilhã que os havia administrado nos primeiros anos da nacionalidade. Os seus limites ficaram definidos pelos cumes da serra da Gardunha e pelos cursos das ribeiras da Ocreza e de Almaceda/Tripeiro.

O “Numeramento de 1496”, uma contagem da população realizada poucos anos antes da publicação do foral manuelino, permite-nos conhecer com algum rigor a população do concelho, nesta época.

O concelho tinha, então, 337 vizinhos (agregados familiares), o que corresponde a uma população de pouco mais de 1000 pessoas, dispersas por aldeias e casais. As principais povoações eram então, além da sede de concelho, a Póvoa de Rio de Moinhos que, desde o século XIII, formava um concelho à parte, em certos domínios, e que, no plano religioso, também se autonomizara da Igreja de São Vicente, formando uma paróquia. Seguiu-se-lhe Tinalhas, já paróquia autónoma, antes de 1539, e Louriçal do Campo, em meados do século. As restantes freguesias foram fundadas durante a União Ibérica.

Viviam, no concelho, um fidalgo chamado Diogo da Cunha e 4 escudeiros: Pedro Vasques, Rui Fernandes, Lopo de Azevedo e Pero Camelo (os dois últimos criados do rei e do infante).

Havia ainda 9 oficiais: 3 tabeliães, sendo um também escrivão das sesmarias (distribuição de terrenos incultos por cultivadores sem terra) e outro coudel (capitão de cavalos); 1 escrivão da coudelaria (criação de cavalos); 1 escrivão da câmara e almotaçaria (abastecimento do concelho, fixação de preços e inspeção de pesos e medidas); 2 juízes dos órfãos; 1 juiz das sisas; 1 escrivão das sisas.

Estas eram as pessoas mais importantes do concelho, constituindo, no conjunto da Beira Interior, uma das maiores percentagens de privilegiados, em relação ao resto da população: 4%. Castelo Branco tinha 1% e a Covilhã 1,6%. Belmonte ultrapassava-nos com 4,1% e Salvaterra do Extremo com 4,4%.

Existia, em São Vicente, uma importante comunidade de judeus que já dispunham de autonomia, pois formavam uma comuna juntamente com os judeus de Castelo Branco. Esta autonomia custava-lhes 23 000 réis, pagos ao rei, anualmente. Alguns judeus já aqui viveriam anteriormente, mas a maioria seria originária de Espanha, de onde haviam sido expulsos em 1492.

A obra “A BEIRA BAIXA NA EXPANSÃO ULTRAMARINA”, de Joaquim Candeias Silva e Manuel da Silva Castelo Branco, dá-nos a conhecer alguns habitantes do concelho que participaram na expansão portuguesa dos séculos XV e XVI.

Lopo Martins lutou em importantes expedições militares, na primeira metade do século XV: Ceuta, 1415; Canárias, 1424…

Duarte de Azevedo era natural da Terra da Feira e passou a viver na vila de São Vicente, onde casou com D. Joana, “senhora de grande qualidade”. Serviu na Índia e no Norte de África, na 1.ª metade do séc. XVI.

D. Álvaro da Costa era filho de Martim Rodrigues de Lemos e Isabel Gonçalves da Costa, herdeira da fazenda vinculada do Ninho do Açor. Tornou-se escudeiro-fidalgo da Casa Real. Depois foi guarda-roupa e camareiro-mor de D. Manuel e armeiro-mor do Reino. Foi embaixador do rei a Espanha e a Roma. Teve a comenda de S. Vicente da Beira da Ordem de Cristo, foi vedor da Casa da rainha D. Leonor e primeiro provedor da Misericórdia de Lisboa.

O Pe. Leonardo Nunes nasceu em S. Vicente da Beira, possivelmente em 1518. Entrou no colégio da Companhia de Jesus, em Coimbra, no ano de 1548, e depois partiu para o Brasil, na armada de Tomé de Sousa, integrado num pequeno grupo de missionários chefiados pelo Pe. Manuel da Nóbrega. Criou uma escola para crianças índias e portuguesas, o chamado Colégio dos Meninos de Jesus, inaugurado em 1553, sendo, por isso, considerado fundador da instrução no Estado de S. Paulo.

Sebastião Falcão partiu para a Índia, em 1533, incorporado na armada capitaneada por D. Pedro de Castelo Branco.

O Irmão Domingos Vaz entrou para a Companhia de Jesus, em 1588, com 29 anos. Nos finais de 1594, achava-se no Colégio de Cochim (Índia), sendo então coadjutor.

Simão de Sousa de Refóios foi o primogénito de Jácome de Sousa de Refóios, 9.º senhor do morgado de Santa Eulália, que viveu nas suas casas nobres de S. Vicente da Beira, com a mulher e prima Maria de Refóios. Ele era descendente de Rui Vasques de Castelo Branco que no séc. XIV herdara do tio Martim Esteves o dito morgado e ela, além de pertencer à mesma linhagem, descendia dos Costa de Alpedrinha, com solar no Ninho do Açor, desde o século XV. Simão de Sousa de Refóios acompanhou D. Sebastião a África e partilhou a sua sorte, na batalha de Alcácer-Quibir (1578). Morreu sem geração, pelo que o morgado passou à irmã D. Leonor de Sousa. Esta casou com Nuno da Cunha e deles foi 2.º neto João Nunes da Cunha que chegou a vice-rei da Índia e a quem D. Afonso VI concedeu o título de 1.º conde de São Vicente.

Púlpito manuelino na Igreja Matriz de Tinalhas.
(Foto de Carlos Matos)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O nosso falar: esgaseado

Andar esgaseado é ter atitudes que revelam perturbações mentais, loucura.
O termo correto é gaseado, mas já se sabe como é o nosso povo, aldraba tudo.
A palavra terá chegado a Portugal após a Grande Guerra (1.ª Guerra Mundial). Nesta foi usada uma nova arma química, o gás mostarda, que matou milhares de soldados nas trincheiras da fronteira franco-belga, por não existirem máscaras adequadas à sua proteção.
Além de profundas queimaduras na pele e nas mucosas (boca e nariz), o gás destruía tanbém os pulmões, onde chegava pela respiração. Morria-se em pouco minutos.
Os que sobreviveram, regressaram aparentemente saudáveis às suas terras, mas desenvolveram efeitos secundários: doenças cancerígenas e neurológicas.
Os cancros chegaram silenciosos e levaram os antigos combatentes, sem que alguém percebesse a causa.
Já as perturbações mentais de alguns deles davam mais nas vistas, andavam esgaseados. Terá sido o caso do senhor referido na publicação anterior, segundo o comentário aí publicado.
E quem não se lembra do Ti Luís Bonzaga (Eu sou o 21 do 21...). Há muitos anos, alguém me contou que foi o único vicentino a não receber qualquer subsídio da sua participação na guerra, embora fosse dos mais pobres e o que veio mais doente. Não teve quem pedisse por ele.
São Vicente da Beira teve muito soldados na Grande Guerra, quer na Flandres (regiões fronteiriças entre a França e a Bélgica), que em Angola e Moçambique. O mesmo terá acontecido com as restantes povoações da freguesia. Felizmente, não estavam no vale da ribeira de La Lys (Bélgica), onde os batalhões portugueses foram dizimados, qual segundo Alcácer Quibir. Os nossos regressaram todos (ou quase, não investiguei o assunto).
Uma antiga aluna trouxe-me esta foto, de um batalhão de Castelo Branco de partida para a Flandres. Ia lá o seu avô (de C. Branco) e talvez também alguns vicentinos (falta identificá-los).


Batalhão de Castelo Branco,
em deslocação da estação ferroviária de Santa Apolónia para o cais marítimo de Alcântara, local de embarque para a França.
(clicar na imagem para ver melhor)