domingo, 30 de junho de 2013

Almas penadas

A propósito de luzes que aparecem durante a noite, contaram-me a seguinte história:

Ali para os lados da Partida havia uns lameiros que pertenciam a várias famílias. Cada uma delas semeava a sua parcela e, para regar, repartiam a água do ribeiro por horas, de acordo com o tamanho do terreno. A alguns calhava terem que regar durante a noite e lá iam às escuras ou, quando muito, levavam uma lanterna para alumiarem o caminho.
Uma dessas parcelas pertencia a um homem que morreu e quem continuou a cultivar a terra foi a mulher.
Passado algum tempo depois da morte do marido, numa noite de lua nova, apareceu uma luz à viúva que lhe disse o seguinte: 
“Mulher, eu sou o teu homem e ando a penar ao tempo no purgatório. Para de lá sair, tens que mandar fazer duas cruzes, uma entre a Partida e os Pereiros e outra entre a Partida e o Vale da Figueira”. 
A mulher, de poucas posses, demorou algum tempo a cumprir o desejo do marido e, por isso, todos os dias em que ia regar à noite avistava a mesma luz. Quando finalmente pode mandar fazer as cruzes, a luz deixou de aparecer e o homem terá finalmente chegado ao céu.
Diz-se que as cruzes lá estão ainda. Nunca as vi, mas um dia destes já vou confirmar…

 M. L. Ferreira

sábado, 29 de junho de 2013

A super-lua

O nascer da lua, em São Vicente da Beira.
Luzita Candeias

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Na Cruz da Oles

O que mais me agrada, nos passeios pedestres que temos organizado, aquando das feiras de gastronomia e artesanato, é o convívio entre os participantes. Por exemplo, este ano, o António Craveiro, chegado há poucas horas de França, ainda mal dormido, recordava partes da sua vida a cada passo que dávamos. Já palmilhara todo aquele espaço e lembrava histórias que ele ou outros tinham vivido em cada sítio, por onde passávamos.
Também se contaram histórias. O EH contou esta, das muitas que sabe. Não resisto a partilhá-la convosco, temperada numa prosa um pouco mais longa.

Aparecem luzes, à noite, na zona dos Aldeões, na Cruz da Oles e na encosta para o Casal da Serra, desde há muitos anos. Já aqui demos notícia dos aparecimentos mais recentes. Na altura, falava-se em óvnis, faróis de carros de caçadores noturnos, agricultores a cuidar dos seus cultivos e até seres a sair de uma outra dimensão. A Gardunha dá para todos os gostos.

Há uma data de anos, antes de termos eletricidade, houve uma época em que apareciam muitas luzes à noite, nesta encosta da serra. Talvez tenha sido cerca de 1968, pois lembro-me de, por essa altura, as ficarmos a observar dos balcões das casas da Tapada, às vezes horas a fio, a ver quando é que desapareciam. E, enquanto o sono não nos vencia, ouvíamos histórias de almas penadas.
Depois da ceia, iam grupos de pessoas da vila pela estrada da Oles, na tentativa de descortinar o mistério. Um dia, a Menina Belinha, a Menina Russinha e a Maria Barqueira também quiseram tirar a coisa a limpo e meteram-se ao caminho, de braço dado, para melhor se ampararem no breu da noite.
Já iam chegando à Cruz da Oles e nada, só cansaço nas pernas, a arfar de calor. Desacorçoadas, a pensar em dar meia volta, avistaram finalmente uma luz em movimento, em direção a elas, a sair do pinhal. Agarraram-se mais umas às outras e a Maria Barqueira gritou:

“SE ÉS DEUS, APARECE! SE ÉS O DEMÓNIO, ARREBENTA!!!

Apareceu. Era um resineiro, de bicicleta, que regressava a casa, no fim de um longo dia de trabalho.

José Teodoro Prata

terça-feira, 25 de junho de 2013

A boa e a má hora

Quando, da meia-noite à uma hora, as pessoas saíssem à rua, aparecia a Boa Hora vestida de branco ou a Má Hora vestida de preto. 
 Por vezes, afirmam que a Boa Hora era Nossa Senhora. 
 Em geral, a Boa Hora perguntava às pessoas o que queriam, o que precisavam, e prevenia-as para que se escondessem, porque a seguir vinha a Má Hora. Esta, quando deparava com luzes acesas, apagava-as. Se houvesse gente, tinha de estar tudo quieto, calado e escondido para ela não ver ninguém, pois se lobrigasse alguém, «fazia-lhe mal, podendo as pessoas ficar surdas, mudas, gagas ou morrer» (sic) até com o susto, segundo acabam por rematar os narradores. 
 Conta-se, por exemplo, que um pastor se atrasara e trazia, ainda de noite, as ovelhas a pastar. Apareceu-lhe entretanto a Boa Hora a avisá-lo que conduzisse depressa as ovelhas ao bardo, porque vinha lá a Má Hora. Ele não quis saber do aviso e deixou-se ficar, O fantasma chegou e matou-lhe sete ovelhas. O pastor fugiu para a beira do rio e, como julgou que a Má Hora também ia atrás dele, com a precipitação, deitou-se ao rio, morrendo afogado.
 Estando uma mulher à janela, dizem que lhe apareceu a Boa Hora a avisá-la de que se devia meter para dentro porque vinha lá a Má Hora. Ela não se retirou, pra se fazer forte e porque a queria ver, deixando-se ficar por dentro dos vidros. A Má Hora sempre apareceu; bateu na janela e a pessoa morreu (de susto, naturalmente sugestionada...). 
 Apesar de alguns narradores acreditarem piamente nestas superstições, acabam geralmente por dizer que as pessoas morrem ou adoecem devido ao susto... 
 Para provar a veracidade da Boa e Má Hora, contam por exemplo o seguinte caso: 
 Dois caçadores foram à caça e, quando vieram, era já de noite. Apareceu-lhes a Boa Hora a mandá-los voltar para trás e a esconderem-se. Eles não quiseram, por estarem com pressa de chegar a casa, e continuaram. 
 Apareceu-lhes então a Má Hora, que não se fez tardar, e eles começaram a dar-lhe tiros. Como ela não caía ao chão, assustaram-se e fugiram cheios de medo. 
 De manhã, foram lá ver e encontraram apenas bocados de farrapos negros no chão (sic).


RODRIGUES, Maria da Ascensão Carvalho Ferro, Cova da Beira Covilhã, Edição do Autor, 1982 , p.128-129

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Ele há horas do diacho

Do: Blog do Katano

Sobre a Boa Hora e a Má Hora na tradição oral popular

Na sequência do artigo anterior, sobre a lenda da Boa Hora e da Má Hora, encontrei, quase por acaso, um artigo sobre a persistência dessa bipolaridade de adjectivação das horas na tradição popular, partindo da análise de um adágio popular. Este artigo foi incluído no volume XX da 1ª Série da Revista Lusitana, criada em 1887 pelo incontornável José Leite de Vasconcelos e que até 1943, foi publicada num total de 38 volumes.


A crença popular divide as horas em boas e más.

De entre as primeiras, ocorrem-me as horas felizes, as horas de Deus e as horas bentas.

(…)

Nasceu em boa hora” – diz-se de quem é ditoso e a sorte lhe corre bem.
Veio a boa hora” ou “em boa hora” – a propósito, oportunamente, a tempo, no momento em que pode ser servido.

(…)

Das más horas o povo faz, entre outras, as seguintes distinções:

a) Horas minguadas : “ a desditosa nascera em hora minguada” Camilo, Mistérios de Fafe (…)

b) Horas aziagas

c) Horas do diabo

d) Horas danadas

e) Horas arrenegadas

f) Horas negras: “Uma hora, em certa noite, dezassete anos antes… hora negra essa que lhe innoitou a vida inteira.” (Camilo, Brilhantes do Brasileiro) (…)

g) Horas infelizes ou infortunadas: “Tem outros muitos agouros, em tanto que nas horas que achão serem infortunadas não querem receber dinheiro, ho que abasta quanto a cerimónias” (Damião de Góis, Crónicas de D.Manuel, parte I, cap 42).

Há a locução nascer em boa (ou má) hora e os esconjuros populares má hora vá contigo; em má hora venhas. Em contrário destes esconjuros, diz-se: em boa hora vás; em boa hora venhas.

O povo dos campos, para saudar quem encontra pelos caminhos, tem as expressões: Vá em boa hora vá nas horas de Deus.

De quem morreu, diz-se: chegou a sua hora (isto é, a má hora) ou: tinha as horas contadas.

Às boas e às más horas se refere D. Francisco Manuel de Melo, nos Apólogos dialogais, pag 41: “… não há cousa na boca dos homens tão frequente, como em boa hora, & má hora, hide com as horas más, vinde com as boas horas; huma hora muito fermosa, nas horas de Deus “.

Em vez de boa hora e má hora também se diz: nas boas horas e nas más horas.

Há ainda as horas abertas, que são três momentos da maior atenção popular: as “Avé-Marias” da manhã, as do meio-dia, e as da noite, momentos que, segundo o povo, coincidem com o nascimento, a morte e o enterro do sol.
in RETALHOS DE UM ADAGIÁRIO
(vid. REVISTA LUSITANA, vol XX, pág. 298-315)
Loures, 9 de Fevereiro de 1918
José Maria Adrião

Poderá residir aqui a/uma possível origem para a lenda. A conceptualização de Má Hora como o momento onde ocorre a soma de todos os infortúnios, dos quais o pior é sem dúvida a morte, e a sua persistência na tradição oral e nos aspectos da vida diária das populações, relativamente isoladas, terá levado a que esta tenha ganho uma forma e uma consciência próprias, tornando-se um ser, uma entidade, que traz o infortúnio a quem a encontra.

Em contraponto, surge a Boa Hora, como a manifestação do momento feliz que bafeja as pessoas com sorte, que as livra do infortúnio. Será uma manifestação inevitável decorrente da dualidade da relação entre o Bem e o Mal, onde a existência do Mal pressupõe a existência do Bem e vice-versa? Ou será simplesmente uma manifestação da Senhora da Boa Hora, que é venerada no politeísmo camuflado que é o Cristianismo?

Para consultar os 38 volumes da 1º Série da Revista Camões, podem aceder à Biblioteca Digital Camões.


Read more:
 http://dokatano.blogspot.com/2009/04/sobre-boa-hora-e-ma-hora-na-tradicao.html#ixzz2XAYxoj4L

sábado, 22 de junho de 2013

IV Feira: O olhar da Luzita


Doces e balões


Petiscos e doces regionais


Barraquinhas alinhadas


Vendo o rancho a atuar


Atuação do rancho de Alpedrinha


Grupo de pifaradas de Unhais da Serra


Fim de tarde domingueira

Fotos de Luzita Candeias e Teresa Nicolau

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Qual Monsanto?!


Curral de gado, no Castelo Velho


Moinho de água, no Casal da Serra


Habitação(?), nas Vinhas


Casa do alambique, nas Vinhas

Os nossos antepassados trabalharam como mouros, sofreram como cães e tombaram como tordos. Mas, quando vejo estas obras que nos deixaram, sinto que andamos aos ombros de gigantes!

José Teodoro Prata