sábado, 14 de setembro de 2013

Batismos, 1800

Inicio, hoje, uma série de publicações sobre os registos de batismo, na freguesia de S. Vicente da Beira. Todos os batismos foram realizados na Igreja Matriz, embora algumas povoações da freguesia tivessem capela.
As pessoas interessadas podem ir tirando do blogue as listas publicadas e armazenando-as num ficheiro, para análise futura (podem pedir-mas por e-mail). 
Comecei por uma data redonda: 1800. Podia ter sido outra qualquer.
Nasceram 32 crianças ((duas meninas eram gémeas), em 1800, um número impressionante face à realidade demográfica atual: há 32 crianças e adolescentes, na freguesia?
Temos referência ao fundador da família Jerónimo (n.º 3); ao meu provável antepassado dos Costa  (Teodoros) de Vale de Figueiras (n.º 29); ao filho dos fundadores da Casa Cunha em São Vicente (João António Robalo); havia imensos padres na freguesia, a maioria a residir aqui; é extraordinária a mistura de gentes de tantas terras vizinhas e algumas vindas de muito longe, numa época em que os pobres, quase toda a população, se deslocavam sobretudo a pé.
Os nomes das povoações estão escritas com a grafia atual (escrevia-se Mourello, Peradanta, Soveral...), exceto no caso de Vale de Figueiras em que continuo a usar o s final. Os nomes das pessoas mantêm a grafia da época. 
A numeração foi acrescentada, pois não existe nos registos.


Igreja de Nossa Senhora da Assunção
São Vicente da Beira
1.
Nome: Joze
Naturalidade: Mourelo
Pais: Joaõ Antunes e Maria Antonia, do Mourelo
Avós paternos: João Antunes e Maria Mendes, do Mourelo
Avós maternos: Luis Roque, de Almaceda, e Antonia Leitoa, do Mourelo
Data de nascimento: 12-01-1800
Data de batismo: 19-01-1800
Padrinhos: Padre Joze Antonio Fernandes Freire, de São Vicente, e Feliciana, solteira, filha de Luis Roque, do Mourelo
Testemunhas: Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

2.
Nome: Manoel
Naturalidade: Violeiro
Pais: Pero(?) Joze e Izabel Fernandes, do Violeiro
Avós paternos: Joze Mendes, do Souto da Casa, e Joana Martins, do Violeiro
Avós maternos: Manoel Pires e Joanna Fernandes, do Violeiro
Data de nascimento: 29-01-1800
Data de batismo: 06-02-1800
Padrinhos: Manoel Pires, solteiro, filho de Manoel Pires, e Maria Martins, viúva, do Violeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joaõ Antonio, de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ
Observação: Já fora batizado em casa

3.
Nome: Joaõ
Naturalidade: São Vicente da Beira (Casal da Fraga)
Pais: Jeronimo Duarte, do Casal da Fraga, e Maria Antonia, do Sobral do Campo
Avós paternos: Manoel Rodrigues Fraga, do Casal da Fraga, e Luiza Maria, do Casal dos Ramos
Avós maternos: Antonio Mendes dos Reis, do Casal do Pisco, e Custodia Maria da Cruz, do Sobral do Campo
Data de nascimento: 16-02-1800
Data de batismo: 22-02-1800
Padrinhos: Joaõ Joze Dias de Oliveira e sua filha Anna, solteira, de São Vicente
Testemunhas: O Padre Tesoureiro Joze Barata e Joze Gonçalves, de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ

4.
Nome: Maria
Naturalidade: Vale de Figueiras
Pais: Manoel Rodrigues, do Vale de Figueiras, e Maria Nunes, da Paiágua(Pay Agoa)
Avós paternos: Joaõ Rodrigues e Maria Leitoa, do Vale de Figueiras
Avós maternos: Joaõ Nunes e Izabel Pires da Paiágua(Pai d´Agoa)
Data de nascimento: 17-02-1800
Data de batismo: 23-02-1800
Padrinhos: (Não indicados)
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ
Observação: Já fora batizada em casa, por estar em perigo de vida

5.
Nome: Maria
Naturalidade: Tripeiro
Pais: Manoel Ramos, do Tripeiro, e Maria Martins, das Rochas de Sima
Avós paternos: Manoel Rodrigues Diabinho e Izabel Francisca, ambos do Tripeiro
Avós maternos: Domingos Martins, de Ribeira Deiras, e Inocencia Leitoa, do Engarnal
Data de nascimento: 18-02-1800
Data de batismo: 24-02-1800
Padrinhos: Joaquim Rodrigues e sua mulher Brites Leitoa, ambos do monte do Mourelo
Testemunhas: O tesoureiro da Igreja Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ

6.
Nome: Anna
Naturalidade: São Vicente da Beira
Pais: Domingos Vas Rapozo, de São Vicente, e Ignes Maria do Soveral do Campo
Avós paternos: Manoel Vas Rapozo e Maria Vas Rofina, ambos de São Vicente
Avós maternos: Joze de Oliveira, de São Vicente, e Francisca Gonçalves, do Sobral do Campo
Data de nascimento: 23-02-1800
Data de batismo: 01-03-1800
Padrinhos: Joaõ Paulo, solteiro, e sua irmã Anna Doroa, filhos de Maria Antunes Doroa e Manoel Henriques, todos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

7.
Nome: Maria
Naturalidade: Mourelo
Pais: Manoel Leitaõ e Maria Nunes, ambos do Casal do Mourelo
Avós paternos: Mathias Leitaõ, do Mourelo, e Izabel Jorge, de Martim Branco
Avós maternos: Joaõ Alves, do Mourelo, e Maria Nunes, de Martim Branco Cimeiro
Data de nascimento: 21-02-1800
Data de batismo: 02-02-1800
Padrinhos: Mathias Joze Henriques e Maria, sua filha, solteira, ambos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

8.
Nome: João
Naturalidade: São Vicente da Beira
Pais: Manoel Tavares, de São Romão, bispado de Coimbra, e Maria Leitoa, de São Vicente (segundo matrimónio por parte do pai e primeiro pela mãe)
Avós paternos: Manoel Tavares e Maria Mança, ambos de Sazes, da freguesia de Valezim, bispado de Coimbra
Avós maternos: Julio Mendes e Ignes Leitoa, ambos de São Vicente
Data de nascimento: 04-03-1800
Data de batismo: 10-03-1800
Padrinhos: Manoel Rodrigues da Conceição, solteiro (tocou por ele o Pe. Joaquim Marques), e Izabel Ansonia (tocou por ela João Antonio Roballo)
Testemunhas: Manoel Barata e o Pe. Joze Antonio
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

9.
Nome: Francisco
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Pedro e Joanna Rita do Couto, ambos de São Vicente
Avós paternos: Joze Rodrigues Marques e Izabel Matheus, ambos de São Vicente
Avós maternos: Joaõ do Couto, natural da Roda, freguesia de S. Julião de Mangualde, bispado de Viseu, e Maria Roza, de São Vicente
Data de nascimento: 13-04-1800
Data de batismo: 20-04-1800
Padrinhos: Francisco, solteiro, filho do Joze Rodrigues Marques (o avô paterno)
Testemunhas: Joaõ Antonio Rolaõ e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

10.
Nome: Joaquim
Naturalidade: Mourelo
Pais: Joaõ Rodrigues Frances, do Mourelo, e Izabel rodrigues, dos Pereiros
Avós paternos: Manoel Rodrigues Frances, do Violeiro, e Custodia Gonçalves, do Mourelo
Avós maternos: Antonio Rodrigues, dos Pereiros, e Tereza Rodrigues, do Vale de Figueiras
Data de nascimento: 08-04-1800
Data de batismo: 20-04-1800
Padrinhos: Manoel Alexandre e Maria, solteira, filha do Manoel Alexandre da Partida
Testemunhas: Joaõ Antonio Rolaõ e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

11.
Nome: Joaquim
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Caetano Duarte, de Tinalhas, e Maria da Ressurreição, da Póvoa de Rio de Moinhos
Avós paternos: Antonio Duarte Ramalho e Maria Duarte, de Tinalhas
Avós maternos: Pedro Simoens, da Póvoa, e Domingas Gonçalves, de Tinalhas
Data de nascimento: 23-04-1800
Data de batismo: 02-05-1800
Padrinhos: O Vigário Francisco Marques Goulaõ e Joana Barata (em seu nome tocou o Pe. Domingos Marques, com procuração)
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

      12.
Nome: Manoel
Naturalidade: Violeiro
Pais: Joaõ Lopes, da Enxabarda, e Maria Antunes, do Violeiro
Avós paternos: Joaõ Lopes, do Souto da Ruiva, freguesia de Pomares, bispado de Coimbra, e Izabel Maria, da Enxabarda
Avós maternos: Joze Pires, do Violeiro, e Inocencia Maria, de Almaceda
Data de nascimento: 28-04-1800
Data de batismo: 04-05-1800
Padrinhos: Manoel Martins, do Castelejo, e Inocencia Pires, solteira, filha de Joze Pires (o avô materno)
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

13.
Nome: Joanna
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joam Joze Dias de Oliveira e Maria Joanna Duarte Ratta, ambos de São Vicente
Avós paternos: Domingos Joze Dias e Maria dos Santos, ambos de São Vicente
Avós maternos: António Mendes, do Casal do Pisco, e Domingas Gonçalves Ratta, de Tinalhas
Data de nascimento: 23-04-1800
Data de batismo: 06-05-1800
Padrinhos: Domingos Joze Dias e sua neta Maria Joana, solteira, ambos de São Vicente
Testemunhas: Joam Barata de Gouvea e o Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

14.
Nome: Joaõ
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Antonio Joze da Conceição, de Pedrógão Grande, e Joana Faustina, de São Vicente
Avós paternos: Manoel Fernandes e Maria Tereza, ambos de Pedrógão Grande
Avós maternos: Joze Leitaõ, das Rochas de Baixo, e Ignes Faustina de São Vicente
Data de nascimento: 12-06-1800
Data de batismo: 22-06-1800
Padrinhos: Joaõ Antonio e Maria Rita, ambos de São Vicente
Testemunhas: Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

15.
Nome: Jozefa
Naturalidade: Tripeiro
Pais: Manoel Lourenço, do Tripeiro, e Escolastica Maria, do Sobral do Campo
Avós paternos: Manoel Lourenço e Izabel Francisca, ambos do Tripeiro
Avós maternos: Simaõ Ferandes, do Tripeiro, e Simoa Pires, do Sobral do Campo
Data de nascimento: 12-06-1800
Data de batismo: 22-06-1800
Padrinhos: (não indicados)
Testemunhas: Joze Gonçalves e Joze Barata, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves
Observação: Já batizada em casa, por Faustino Lourenço do Tripeiro, por necessidade

16.
Nome: Leonor
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Antonio Ribeiro, de São Vicente, e Anna Maria, de Monsanto
Avós paternos: Joze Mendes da Cunha, de Belmonte, e Maria Nunes, de São Vicente
Avós maternos: Sebastiaõ Lopes Capote, de Idanha-a-Nova, e Maria Joaquina, do Fundão
Data de nascimento: 21-06-1800
Data de batismo: 02-07-1800
Padrinhos: Sebastiaõ Lopes, seu avô materno, e Antonia Maria, casada com Antonio Carlos, moradores no Fundão
Testemunhas: O Capitão Joaõ Barata de Gouvea e o Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

17.
Nome: Maria
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Miguel Leitaõ, de Penamacor, e Izabel Maria, de São Vicente
Avós paternos: Joze Leitaõ, de São Vicente, e Izabel Carrasca, de Penamacor
Avós maternos: Manoel Fernandes, do Castelejo, e Izabel Maria, de São Vicente
Data de nascimento: 30-07-1800
Data de batismo: 06-08-1800
Padrinhos: Joaõ Antonio Roballo, solteiro, e Izabel Antonia Ayres da Visitaçaõ, solteira, ambos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Antonio Joze, sapateiro
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

18.
Nome: Jozefa
Naturalidade: Pereiros
Pais: Manoel de Andrade, do Louriçal, e Maria Jozefa, dos Pereiros
Avós paternos: Domingos de Andrade e Domingas Antunes, ambos do Louriçal
Avós maternos: Joze Alves, do Orvalho, e Jozefa Figueira, dos Pereiros
Data de nascimento: 12-08-1800
Data de batismo: 17-08-1800
Padrinhos: Manoel Alves, solteiro, e Francisca, solteira e sua irmã, ambos dos Pereiros
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

19.
Nome: Joze
Naturalidade: Pereiros
Pais: Manoel Joze, da Partida, e Antonia Maria, da Enxabarda
Avós paternos: Joze Martins, do Castelejo, e Maria Lopes, dos Pereiros
Avós maternos: Manoel Martins, de São João de Reboreda, arcebispado de Braga, e Tereza da Conceiçaõ, da Enxabarda
Data de nascimento: 11-08-1800
Data de batismo: 19-08-1800
Padrinhos: Joze Marins e Maria, solteira e sua filha, ambos dos Pereiros
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

20.
Nome: Roza
Naturalidade: Paradanta
Pais: Domingos Rodrigues, da Paradanta, e Custodia Maria, do Freixial dos Potes, termo do Fundão (pertence atualmente à freguesia do Telhado)
Avós paternos: Pais incógnitos
Avós maternos: Joaõ Alves, do Carrascal, termo de Envendos, e Margarida Marques, das Mouriscas, termo de Abrantes
Data de nascimento: 25-08-1800
Data de batismo: 31-08-1800
Padrinhos: Manoel Leitaõ e Roza Maria, sua mulher, ambos da Paradanta
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

21.
Nome: Maria (filha natural)
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Pai incógnito e mãe Izabel Duarte, solteira, de São Vicente
Avós paternos: Incógnitos
Avós maternos: Remualdo de Proença, de São Vicente, e Maria Duarte, de Tinalhas
Data de nascimento: 06-09-1800
Data de batismo: 14-09-1800
Padrinhos: Pe. Francisco de Mesquita
Testemunhas: Joze Gonçalves e o Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

22.
Nome: Domingos
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Vicente Henriques, de São Vicente, e Antonia Maria, da Partida
Avós paternos: Manoel Henriques e Maria Antunes Doroa, ambos de São Vicente
Avós maternos: Antonio Henriques, do Engarnal, e Ignes Gonçalves, da Partida
Data de nascimento: 14-09-1800
Data de batismo: 21-09-1800
Padrinhos: Domingos Vas Rapozo e sua mulher Ignes Maria de Oliveira (tocou com procuração sua Joaõ de Oliveira, solteiro) todos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

23.
Nome: Rozaura
Naturalidade: Mourelo
Pais: Patrico Joze, natural da Aldeia Fundeira, freguesia de Campelo, termo de Miranda do Corvo, bispado de Coimbra, e Maria Rodrigues, do Mourelo
Avós paternos: Antonio Joze, natural de Coimbra, exposto na roda desta cidade, e Maria Simoens, da dita Aldeia Fundeira
Avós maternos: Manoel Rodrigues Frances, do Violeiro, e Custodia Gonçalves, do Mourelo
Data de nascimento: 20-09-1800
Data de batismo: 28-09-1800
Padrinhos: Eleuterio Freire e sua filha Maria, ambos dos Pereiros
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

24.
Nome: Anna
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Caetano, de São Vicente, e Anna Rita, da Póvoa do Mileu, freguesia da Sé, da cidade da Guarda
Avós paternos: Joaõ Joze, do Fundão, e Maria Lourença, de Castelo Novo
Avós maternos: Andre Francisco e Rita Maria, ambos da dita Póvoa do Mileu
Data de nascimento: 13-10-1800
Data de batismo: 20-10-1800
Padrinhos: Pe. Caetano Joze dos Santos e Benedita Maria (tocou com procuração o seu filho Joaõ Antonio Robalo)
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Manoel Henriques da Conceiçaõ
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

25.
Nome: Domingos
Naturalidade: Partida
Pais: Manoel Martins, da Partida, e Maria Anna, dos Pereiros
Avós paternos: Simaõ Martins, da Partida, e Maria Leitoa, do Louriçal
Avós maternos: Tadeu Figueira e Anna Maria, dos Pereiros
Data de nascimento: 16-10-1800
Data de batismo: 23-10-1800
Padrinhos: O Vigário Francisco Marques Goulam e sua sobrinha Dona Leonor Angelica de Andrade, solteira, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata, de São Vicente, e Teodoro Dias, da Partida
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

26.
Nome: Joaquim
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Domingos Lourenço, de São Vicente, e Thereza de Oliveira, do Souto da Casa
Avós paternos: Domingos Lourenço, da Soalheira, e Roza Maria, de São Vicente
Avós maternos: Pedro Martins Ferreira, do Alcaide, e Felicia de Oliveira, do Souto da Casa
Data de nascimento: 22-10-1800
Data de batismo: 01-11-1800
Padrinhos: Joaquim Joze de Brito Coelho de Faria, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Francisco Gonçalves, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

27.
Nome: Antonia
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Manoel Marques e Anna dos Santos, de São Vicente
Avós paternos: Joze Rodrigues e Antonia Marques, de São Vicente
Avós maternos: Teodozio Duarte, da Atalaia, termo de Castelo Novo, e Maria das Candeas, de São Vicente
Data de nascimento: 18-11-1800
Data de batismo: 26-11-1800
Padrinhos: Antonio de Oliveira e sua mulher Roza Maria, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata, tesoureiro da Igreja, e Joaõ Vas Ramos, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

28.
Nome: Anna e Joaquina
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Antonio Nunes, de São Vicente, e Maria Joana, dos Pereiros
Avós paternos: Bernardo Nunes, de São Vicente, e Tereza Martins, do Orvalho, termo do Fundão
Avós maternos: Manoel Gonçalves e Joana Leitoa, dos Pereiros
Data de nascimento: 07-12-1800
Data de batismo: 15-12-1800
Padrinhos: Pe. Joaquim Marques e sua irmã Joaquina Marques, solteira (tocou por ela o Pe. Francisco Joze de Mesquita)
Testemunhas: Joaõ Antonio e Joze Gonçalves, ambos d e São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

29.
Nome: Joze
Naturalidade: Vale de Figueiras
Pais: Manoel Lourenço, da Enxabarda, freguesia do Castelejo, e Jozefa Maria, do Vale de Figueiras
Avós paternos: Manoel Lourenço, do Tripeiro, e Maria Gomes, da Enxabarda
Avós maternos: Manoel da Costa, de Alqueve(concelho de Arganil), bispado de Coimbra, e Rita Maria, do Vale de Figueiras
Data de nascimento: 15-12-1800
Data de batismo: 21-12-1800
Padrinhos: Francisco Martins e sua mulher Maria Nunes, do Vale de Figueiras
Testemunhas: Pe. Tesoureiro Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

30.
Nome: Francisco
Naturalidade: Não indicado (talvez Tripeiro)
Pais: Francisco Joze, do Casal do Lopio, (Barbaído), freguesia do Freixial, e Maria Sebastiana, de Almaceda (1.º matrimónio por parte do pai e 2.º por parte da mãe)
Avós paternos: Joze Lourenço, do Casal do Lopio, e Maria Nunes, do Padrão
Avós maternos: João Rodrigues, da Foz Giraldo, freguesia do Orvalho, e Maria Mendes, de Almaceda
Data de nascimento: 22-12-1800
Data de batismo: 28-12-1800
Padrinhos: Paulo Pires, solteiro, do Casal do Lopio, e Maria Freire, solteira, do Tripeiro
Testemunhas: Pe. Tesoureiro Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

31.
Nome: Maria
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Duarte e Ignes Maria, de São Vicente
Avós paternos: Joze Duarte Galecho e Pulqueira Maria, de São Vicente
Avós maternos: Pai incógnito e Ignes Leitoa, de São Vicente
Data de nascimento: 22-12-1800
Data de batismo: 31-12-1800
Padrinhos: João do Couto e sua mulher Maria do Carmo, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves

Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

José Teodoro Prata

Nota: Esta listagem foi completada (os três últimos registos), no dia 19 de setembro

terça-feira, 10 de setembro de 2013

E fez-se noite

Eu era um seminarista adolescente que levava a vida religiosa a sério. Aliás, em pequeno, sonhara que era bispo, vestido com vestes muito coloridas, numa missa no lameiro da Barroca, onde tínhamos a mina de água para beber. O leirão cheio de pessoas vestidas com roupas vistosas e as paredes cobertas de panos coloridos. Predominavam as cores claras: branco, amarelo, rosas, laranjas… O altar era no alto de uma das paredes, como se fosse um palco. Deve ter havido crisma em São Vicente e eu reproduzi no sonho a festa que vira na Igreja.
No secundário, fomos a Fátima e eu achei o santuário desmesuradamente grande e impessoal. E um colega perguntou como seria quando a azinheira secasse. Comecei a questionar-me sobre o meu futuro, se era aquilo que eu queria. A coisa piorou quando tentei racionalizar tudo. Ora a religião pertence ao domínio da fé, da crença, não da razão. Alguém afirmou, anotei-o por aqueles tempos, que submeter Deus à razão é matá-lo dentro de nós próprios.
No 2.º ciclo, tivera um professor da Covilhã com uma empregada vicentina. Brincava com os alunos de São Vicente, éramos vários, dizendo que nunca iria com ela aos figos. Pudera, ela era mais alta que ele! Afirmava que nós estudávamos na melhor escola que havia. Era de facto uma excelente escola. Entre muitas coisas boas, havia a tradição do teatro e no 7.º ano (atual 12.º) corremos as povoações dos arredores do Tortosendo com a peça de teatro “O Lugre”, de Bernardo Santareno. O dinheiro que arranjámos serviu para organizar uma viagem de finalistas.
Éramos doze e fomos num carro e numa carrinha. Em Lisboa, ficámos em Benfica, na residência do Verbo Divino, por cima dos Móveis Baía. Numa noite, fui com dois amigos encontrar-me com as minhas irmãs. No regresso, encontrámos o padre prefeito desanimado, pois os outros colegas tinham ido todos ver “A Grande Farra”, um filme com pessoas nuas a comer até vomitar e morrer, o retrato de uma sociedade decadente. Caramba: os nossos colegas não nos tinham dito nada! Era uma porcaria, mas o grande filme do momento. Como resistir-lhe? Impróprio para seminaristas, pensava o nosso prefeito.
Continuámos a viagem, pelo Alentejo, mas já com o ambiente estragado. De regresso à nossa casa do Tortosendo, adivinhava-se borrasca e ela chegou: três alunos expulsos, dos nove que tinham ido ver o filme. Depois, de três passou a um: o nosso conterrâneo Francisco Barroso.
Passei-me, com a discriminação. Na reunião que tivemos com o prefeito, para justificar a saída do Chico, aquilo já não me dizia nada e só pensava nas videiras que o meu pai tinha para enxofrar. Sim, estávamos em Maio e só faltava um mês para os exames finais no Liceu da Covilhã. Marcaram ao Chico o dia de abalada e eu comecei a avisar os professores para não contarem comigo na preparação para aos exames.
Foi numa sexta-feira e viemos os dois, primeiro de comboio até ao Fundão e depois na camioneta da carreira do Pião. Na Paragem, toca de carregar com as malas, a abarrotar com o enxoval de cada um, as roupas pessoais e da cama, incluindo uma manta de fitas. Ao alto da rua Nicolau Veloso, o Ernesto Hipólito veio à porta da mercearia e pôs-se a rir como que viu: dois ex-colegas do seminário vergados com as malas às costas um mês antes do ano letivo acabar. Continuámos a subida, deixei o Chico no Cimo de Vila e segui quelha acima para a Tapada.
A minha mãe veio à porta do balcão quando eu já o estava a subir e ficou triste, ela que tinha esperança de ver o seu filho padre. Anos depois, explicou-me que naquele momento foi como se tivesse feito de noite. E eram só cinco e meia de uma tarde luminosa de primavera.

José Teodoro Prata

domingo, 8 de setembro de 2013

Boletim agrícola



As chuvas de março e abril arruinaram as produções da Primavera/Verão, mas garantiram boas produções de finais de Verão e de Outono.
Há muitos de figos, uvas, maçãs...
 Após 4 meses totalmente secos, nos últimos dias choveu três vezes na Gardunha, por isso a produção de azeitona está garantida (se não ocorrerem contratempos). Os nabos e as couves para o Natal verdejam de contentes.
José Teodoro Prata

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Os ratinhos na Casa da Malta

Apresento alguns trechos do livro "A Casa da Malta", do médico-escritor Fernando Namora. As partes escolhidas narram a paragem dos ratinhos na Casa da Malta (Tinalhas), a caminho do Alentejo. Podiam ser os nossos pais ou avós, aqueles camponeses...

«Era uma espécie de saguão, colado à forja do ferreiro. Em tempos servira de abrigo às manadas de porcos da Granja; mas o patrão fora-se embora para a cidade, o portão de castanho abrira feridas ao sol e às chuvas das bandas do montado, e agora os que vinham de longe para roubar, pedir, emigrar, sabiam que era ali a sua casa. Um resto de palha da malhada forrava o chão térreo e cada ambulante acamara mais um molho de feno, de urze ou de trapos velhos. Ainda no domínio do saguão, em dois metros quadrados roubados ao adro, os ciganos arrumavam carroças e animais e expunham sedas vermelhas ao pessoal da vila.
Um dia aparecera por ali uma mulher estragada, das da vida, e uma semana depois davam com ela morta e podre num canto do saguão. Foi enterrada quando os bichos comiam a sua carne lívida e desfeita em água ludra; a autoridade foi contar que as palhas tinham sangue seco dos seus pulmões e toda a casa um cheiro empestado. Ficou o saguão com a fama de um lugar de nojo, maldito e sem dono. Agora é dos malteses: vagabundos, ciganos, gente do mundo que não escolhe tecto. É a casa da malta».
(…)
«O velho tinha chegado pela manhã, açaimara as palhas no canto protegido dos ventos, sentara-se a comer um punhado de castanhas que lhe haviam dado na Granja, e foi depois ao outro extremo do barracão olhar as nuvens pardas e a cacimba, enquanto desatava a sacola.
O filho mais velho do cigano enrolara um cigarro de barbas de milho e acendia-o na ponta chamuscada de um graveto. O cigano olhava, quase indiferente e enfadado, a mulher estendida sobre a manta. Ela voltava-se para a parede, gemia e, no intervalo das dores, apoiava-se nas lajes para se erguer e praguejar. O velho despia os farrapos do corpo e ia-os secando ao bafo das chamas».
(...)
«Veio a noite. O lume apagou-se, a vasilha de água quente deixou de desprender vapor e os homens aninharam-se nos cantos. Mas a sonolência foi logo quebrada pelos gritos e injúrias da cigana. O velho sentou-se de novo, sem mostrar desagrado, e perguntou ao cigano:
 - É pra hoje?
O homem tinha as faces transidas; os olhos húmidos, banhados de uma cor ictérica, fixaram-se nas trevas, e respondeu nuns sons incompreensíveis.
Com o amanhecer a chuva parou, a manhã nasceu serena e fria, derramando no céu uma luz álgida, sob a qual as árvores se erguiam soturnas, ensonadas. Aos poucos a névoa engoliu a claridade e dois carros de bois surgiram no adro, saídos, de súbito, de um rasgão de nevoeiro. Do grupo destacou-se um camponês com as abas do capote alentejano a abafarem as orelhas.
 - Vivam.
 Olhou o lume que o homem reacendera e disse:
 - ‘tá frio. – esfregou as mãos duras e depois remexeu-as, enervadas, sem objectivo, pelo capote grosso. Estava a preparar a pergunta: - Haverá lugar prá gente, mestre? Venho aí com uns camaradas pràs ceifas.
 - Casa de ambulante é casa de todos.
 - É. Também me disseram prà gente procurar este sítio. Vamos de passagem.
 - Todo o homem vai de passagem. A gente é como se fosse sempre a viajar neste mundo. É uma coisa sem destino certo. A gente atropela uns e outros sem pensar que a vida é mesmo uma viagem, e mais vale ajudar um camarada que fornicá-lo.
 O camponês ficou entontecido das falas do velho e julgou-o esparvoado. Quis disfarçar a conversa e disse, a fingir intimidades:
 - Deixe-me chegar à quentura. Vossemecê vai cozinhar? – E sem esperar resposta gritou para a névoa: - tragam daí uma saca! – E voltou-se para o velho e para o cigano:
- Vem aí que comer. Estamos a caminho do Alentejo, vamos prevenidos. Somos ratinhos. Vossemecês já ouviram falar em gaibéus e ratinhos?
 O velho acenou que sim. Sabia tudo. Conhecia todas as estradas; sabia que quem não tem pão na sua terra vai procurá-lo longe. E há homens, os ratinhos, que vão moirejá-lo no Alentejo.
 O ciganito tinha ouvido falar em comida a achegou-se, mas no caminho deu uma volta larga para não se aproximar da mãe. O camponês reparou na mulher quando o berro rompeu do escuro. E, alarmado, tirou o chapéu:
 - ‘stá d’ordens?
 Ia para sair, embaraçado, mas o velho pôs-lhe sossegadamente a mão no braço:
 - ‘stá de criança, sim, mas tem demora.
 Entraram outros camponeses, enquanto dois mais novos desatrelavam os bois. Foi preciso que o velho lhes espevitasse a coragem:
 - A casa é de todos.
 A cigana torceu-se no chão, levou os dedos ao ventre e deu outro grito. Os homens dos carros abriram um dos sacos e distribuíram toicinho e chouriço. O cigano estava isolado.
 - Vossemecê quer comer?
 - Nan…
 - Quer: ele tem as tripas vazias – insistiu o velho.
 Depois beberam de uma garrafa, limparam o gargalo à manga e ofereceram. Também a cigana bebeu aguardente. As dores vinham agora menos espaçadas e mais fortes. A mulher não encontrava posição. O útero contraía-se como um fruto espremido e depois ficava inerte, extenuado, mole. A mulher então suspirava, aliviada. O velho ajeitou-lhe a pele de carneiro por debaixo das nádegas e ordenou, imperioso, ao cigano:
 - Isto está por pouco. Vá arranjar uma mulher por aí e um lençol.
 O garoto cigano fora esquecido na roda de aguardente, pediu ao pai o seu quinhão e levou um sopapo rijo. O garoto puxou de um canivete, encarando o pai com desafio e maldade. Um dos homens do campo riu e agarrou-o pelas calças.
 - Olha o ganapo!
 Mas teve de safar o braço da ameaça da navalha.
 O camponês, ao lado do velho, tornou a baralhar as mãos e deu voz ás suas cogitações:
 - ‘stá-se-me a afigurar que vossemecê é daqui. Vive cá na casa.
 O velho abriu a boca e as gengivas inchada realçaram na buraca negra.
 - Sou um homem que vive da esmola. Já disse a vossemecê que ando em viagem. Ando assim a rodar, como uma bola, e o mundo também roda. – Fez um gesto circular, repetindo-o uma e outra vez, soltando uma gargalhada. – Venho a esta casa quando calha passar por aqui.
O camponês apoiou com a cabeça, receando desmentir o velho e excitá-lo. Não havia dúvidas de que o velho tinha falhas de juízo».
(…)
«O cão lambia as migalhas caídas e o ciganito pôs-se também à procura dos restos, afastando o animal. Este voltava sempre, lambuzando-lhe as faces e as mãos; depois ganiu quando o jovem dono lhe assentou o punho fechado entre os olhos. O velho pegou num braço do garoto e disse.
 - Põe-te lá fora, sobejo! Se ainda não encheste a tripa, logo a compões. Agora não é hora de estarem aqui fedelhos.
 O cigano acudiu a empurrar o ganapo para a rua.
 - Vai à praça pedir fruta.
«Pedir ou roubar», pensou o velho.
O garoto, amuado, rosnou vingança, repuxou as calças e saiu quando a mãe gritava como se tivesse o diabo no corpo:
 - Ai, que eu estoiro!
Ele sabia que as mulheres berravam para ter a canalha. Vira uma, certa vez, num pinhal, a rebolar-se no chão, mas essa lembrança esfumava-se no tempo. Agora era um homem e precisava saber ao certo como um ganapo saía de uma barriga inchada. O velho espantara-o, mas ele iria espreitar pelas frinchas do portão. Cruzou as pernas escamadas de poeira e apoiou-se às tábuas, um olho ajustado a uma fenda. Lá dentro era tudo escuro: tinha de abrir, com jeito, uma fenda maior, e depois, desfeito o segredo, largaria para a praça a negociar com um amigo cigano a sua descoberta. Talvez lhe dessem uma navalha das grandes, semelhante à do pai, se ele contasse tudo bem como era. E então viria coma navalha rasgar a barriga do velho, como se faz aos borregos.»
(...)
«Os homens tinham saído para junto dos bois. Amparados ao muro de pedra que separava o adro, cismavam. Amparados nos muros, a afeiçoar pedacinhos de sobro com a navalha, como nos dias longos da aldeia, quando não havia trabalho para ocupar os braços, depois de baterem à porta dos feitores, que os despediam com:
 - Pró que há, bonda a criadagem.
 Lá dentro ficaram a cigana, a rapariga a o velho mendigo. O ciganito agachara-se por detrás do muro, à espera que os camponeses se arredassem.
 A parturiente deu um grito maior que todos os gritos, um camponês disse a exclamação do seu povo: «Fora cão!», e fez-se de novo um silêncio grande».
(…)
« - Nasceu um menino! Que pretinho que ele é!
 Os homens descolaram do muro, esquecendo o cigarro apagado, emocionados.
A cigana estava pálida, quieta, meio adormecida; tinha os braços caídos e gastos ao longo do corpo. Os homens não sabiam palavras para dizer. A criança pertencia um pouco a todos eles.
 - Agora a gente vai preparar um jantar – anunciou, num timbre de festa, um dos camponeses.
 - As brasas inda estão quentes.
 - A gente vai assar chouriço e um naco bom de carne.
 -Há tempos que não punha o dente em carne fresca, mas vossemecês hão-de assim desfazer-se da comida para todos nós?
O velho mastigou saliva para dizer:
 - Quando um homem encontra outro com fome, reparte. Divide o que tem para comer. Pois tu querias fazer como a gente graúda: dar um pedaço de pão seco e comer os guisados?...
Troupas riu das próprias palavras e o camponês, aprovando sentenciosamente com a cabeça, tirou um navalhão do bolso para cortar uma grossa fatia de presunto. Cheirou várias vezes a carne.
 - Isto está que nem um regalo, homem! – exclamou o velho.
 - Eu queria morrer aqui hoje mesmo – disse o velho. Todos se voltaram para aquela face ressequida, onde o brilho súbito dos olhos punha qualquer coisa de anormal, de transfigurado. – Queria morrer mesmo. Hoje morria de barriga cheia e sem odiar ninguém. Tenho medo de morrer com o fel no coração, sinto que ele me entrou nas veias e que, certas vezes, me chega aqui ao peito. Se aqui chegar, morrerei como Satanás. Hoje estou contente com o mundo e não tenho nada na cabeça que seja das coisas feias que eu vivi. Vocês julgam que estou doido, mas quero falar assim mesmo. Nasceu uma criança e eu posso morrer. Ela virá fazer a viagem por mim. Se estou louco, pronto, estou louco, acabou-se. À vezes tenho vontade de ir por aí matar gente. Mas hoje não».
(…)
«Ninguém respondia ao velho, rostos atordoados de emoção. Sempre era certo o Troupas mendigo ser virado do juízo, mas sentiam que nessas palavras desvairadas havia uma coerência, uma revelação, que iam direitas ao íntimo de todos eles; elas traziam consigo lágrimas, mas também afecto e um certo conforto».
(...)
 «- Vamos comer, gente! Cheirem só este pedacinho.
O velho estendeu os dedos para o seu quinhão, arrancando um grande pedaço com as gengivas duras, e, de riso nas palavras, enquanto os músculos do pescoço ondulavam com a mastigação e os lábios escorriam gordura, comentou.
 - Isto está bom como o diabo!».

M. L. Ferreira

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Casa da Malta em Tinalhas

Ao acabar de ler um livro, ver um filme ou visitar um lugar de que gostei muito, dei comigo muitas vezes a prometer a mim própria que um dia havia de voltar a ler esse livro, ver esse filme ou visitar esse lugar (acho que isto acontece a muita gente). Mas existem tantos livros para ler, tantos filmes para ver e o mundo é tão grande que dificilmente conseguimos cumprir essa promessa.
Mas há exceções que valem a pena… Reli há pouco tempo «A Casa da Malta» e é notável a descrição que, ainda no prefácio, o Fernando Namora faz daquele lugar e das pessoas que por lá procuravam abrigo. Um retrato sociológico impressionante de uma época tão próxima de nós, mas que parece passar-se na Idade Média.
Aqui fica um bocadinho…

«Havia em frente ao meu consultório um pequeno adro e nele um casebre meio derruído, sem dono, ou assim poderia imaginá-lo pois quem o habitava era gente erradia, que vinha e partia sem se saber quando. Vagabundos, quase sempre, malteses a cumprir um fado de nómadas que a desconfiança dos outros atiçava, que a miséria deles e dos outros parecia legitimar, ambulantes que mercadejavam adornos ingénuos, campónios de passagem para ilusórios eldorados. A malta. Ali se abrigavam, para ali dirigiam sem hesitações, os passos, fosse qual fosse o seu destino, pois, reparem, quanto os simples têm o pressentimento de onde existe um tecto familiar. O instinto aponta-lhes os companheiros, avisa-os do perigo, tanto como dos apoios sem traição. Um atavismo que resulta de séculos de emboscadas, de ofensas, de sentidos apurados na espessura das noites, durante as quais foi preciso, simultaneamente, duvidar e confiar.
Esse casebre de malteses era uma nódoa no povoado. Cercavam-no, por contraste, as moradas de gente grada: o visconde perdido num casarão, os que tinham ido amealhar fortunas aos Brasis fabulosos e me davam às vezes o ar de negreiros reformados, os lavradores de largos teres que disputavam ao visconde o mando dos que obedeciam para sobreviver e ainda velhas famílias cuja última cepa seriam aquelas senhoras piedosas, magras, que nenhum forasteiro viera desencaminhar. No entanto, ninguém pensava em cauterizar essa pústula, tanto mais que só de raro em raro as pessoas que subiam a vereda reparavam que o casebre estava habitado. No intervalo de tais migrações, o tegúrio e o seu pátio serviam, uma vez por outra, para ferrar juntas de bois. No resto do tempo era uma paisagem morta. Só eu ia sondando alvoroçadamente, tecendo-lhe o enredo para as vidas insólitas com quem viera fundir-me.»

Enquanto transcrevia este texto, não pude deixar de me lembrar do Pistotira da história do Zé Barroso e de tantos outros que por aí andariam nessa época.

Quanto ao “Endireita da Paradanta”, é impressionante a crença que, ainda hoje, as pessoas têm nos curandeiros. A propósito das queixas mais ligeiras ou outras mais complicadas, o primeiro pensamento do doente ou da família é, muitas vezes, para o endireita. Actualmente os mais famosos são o do Ninho e o das Rochas. Parece que continuam a fazer milagres…

M. L. Ferreira

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Endireita da Paradanta

            “Na primeira região da Beira Baixa que conheci não havia ali à roda curandeiros: apenas um antigo servente prestava serviços de enfermagem, sem consequências, aos seus clientes da barbearia. Falava-se muito, porém, no «Endireita da Paradanta». Era um ferreiro de dedos sensíveis e ágeis, que ajeitava com perícia ossos deslocados: os doentes chegavam em carroças, tolhidos, e o homem despedia-os pelo seu pé. Nenhum dos médicos da área conseguiu jamais gabar-se de ter observado uma fractura. Acontecia chegarem doentes ao hospital de Castelo Branco, resolvidos a correr o risco de uma assistência encartada, e aparecer um desconhecido amável, aconselhando uma retirada pela estrada da Paradanta. Às vezes eram agentes de motoristas, a quem convinha o frete rendoso.”

Fernando Namora, Retalhos da vida de um médico, Primeira Série, Publicações Europa-América, 26.ª edição, Lisboa, 2000, pp. 126 e 127 (subcapítulo VI – Mais Curandeiros).

Nota: O médico Fernando Namora trabalhou na região de Castelo Branco (Tinalhas e C. Branco) e em Monsanto, na década de 1950. Da sua passagem por Tinalhas escreveu “A Casa da Malta”, uma casa em que se abrigavam os viajantes e que se situava onde atualmente existe o Café Ginja, junto à Igreja. Neste texto, Fernando Namora parece referir-se ao período em que trabalhou em Tinalhas.

domingo, 1 de setembro de 2013

Inauguração da sede da banda


Descerrar da placa que assinala a Avenida Comendador Joaquim Morão 
(a parte da Estrada Nova desde o fundo da barreira do Hospital até São Francisco). 
Homenagem ao presidente Câmara, pelos melhoramentos realizados em São Vicente, nestes 3 mandatos autárquicos.


A nova sede da banda.
Tudo a postos para a inauguração


A banda em função, em frente à nova sede.


O presidente da Direção da Filarmónica, João Barroso, a agradecer ao presidente da Câmara Municipal, 
pela concretização deste sonho tão antigo.


O presidente da Câmara, em grande forma, como de costume.


Interior da sala de ensaios, no 1.º andar.


Finalmente, o petisco!
José Teodoro Prata e Luzita Candeias