quarta-feira, 11 de junho de 2014

Primavera

A Primavera "primo vere", primeiro verão, está a chegar ao fim, é a estação do renascimento, das flores, toda a terra se cobre com um manto novo.
Nossos avós e pais não simpatizavam muito com a prima vera, era a estação da fome ,diziam.
Tinham razão, em certa medida, o campo depois do tempo invernal...
"Vejam como a mãe Natureza é"
Assim que chega o tempo outonal, as folhas das árvores caducas amarelecem e caem, mas antes são uma beleza aquela natureza morta.
Tomam um encanto tamanho...
Depois, bem depois vem o "general hibernum"
O Criador concedeu à Natureza plenos poderes para proteger as plantas.
Senão vejamos.
Coitadas das árvores se não despissem a folhagem, vinha o vento, queria passar, encontrava um obstáculo no caminho e derrubava-o.
Vinha a neve, mansamente, sem fazer alarde, as pernadas não aguentavam a carga e  partiam...
A Natureza resolveu a situação.
Liberta-as das folhas, o vento desta maneira passa sem fazer grandes estragos, a neve também.
Os nossos maiores costumavam dizer:
“Ano de nevão, ano de pão"
Mas também tinham um medo da neve que se pelavam!
Quando havia grandes nevões, as oliveiras, os pinheiros e tantas árvores de folha perene partiam com o peso da branquinha.
Uma dor de alma!
Quem não gosta de se aquecer a uma lareira, ouvindo o vento que passa e as beiras.?
Eu gosto!
Um provérbio judaico diz: "Para o ignorante, a velhice é o inverno, mas para o instruído é a estação da colheita."
Pura verdade.
O diabo sabe muito, porquê?
É velho.
Ao longo da minha vida, sempre me pautei por ouvir os velhinhos, analfabetos ou letrados são bibliotecas muito ricas.
Há aqueles que são insensatos, o inverno não os moldou então.
Vale mais um jovem pobre, mas sábio, que um rei velho, mas insensato (Eclesiastes)
Não tenhamos medo do inverno, porque a amendoeira florescerá, os passarinhos regressarão e tudo se renovará.
A primavera é uma estação muito alegre. Logo pela manhã, cantam maviosamente os rouxinóis, os melros, o cuco, a poupa, a rola e as plantas como por magia vestem uma nova roupagem, mas...
Não há nada que se possa comer?
Há laranjas!
É tempo de semear, plantar, para mais tarde recolhermos o fruto do nosso trabalho
Este gajo é um chato dirão vocês, mas...
Antes de terminar, lembrei-me de uma quadra que se encontra junto ao portão que dava acesso à casa da Dona Joaninha, atualmente propriedade do “Capador". Diz o seguinte:
Pedi a Deus um conselho
Para encontrar a alegria
Deus voltou-se para mim e disse
Trabalha, semeia e cria
Passem muito bem.                            


Zé da Villa

segunda-feira, 9 de junho de 2014

domingo, 8 de junho de 2014

Bárbara dos trovões


José Teodoro Prata

Nota: Ver na postagem anterior mais uma oração recolhida pela Libânia.

sábado, 7 de junho de 2014

Hoje talvez troveje!

A Lenda da Santa Bárbara


Diz-se que há muitos anos, numa terra muito longe, havia um homem muito rico com tinha uma filha que era a menina dos seus olhos. Chamava-se Bárbara e era linda como as rosas e dona de um bom coração. O pai sonhava com um futuro bonito para ela, porque, para além da riqueza em terras e palácios, à medida que a rapariga ia crescendo, ia aumentando também a sua formosura e bondade.
Quando chegou à idade de casar, apareceram pretendentes à mão de Bárbara, vindos de todas as bandas, mas ela negava-se a noivar com qualquer deles. O pai andava preocupado e desgostoso, porque estava a ficar velho e não queria morrer sem ver a filha casada. Prometia-lhe jóias, vestidos e toda a sorte de outras prendas, mas nada a fazia mudar de ideias. Até que um dia, ferido com tantas desfeitas da filha, lhe disse que, se ela não se resolvesse a casar, a metia dentro duma torre e a deixava lá até que a morte a levasse. Nem isso valeu de nada. Muito zangado, ordenou que construíssem a torre o mais depressa possível e mandou lá fechar Bárbara, a pão e água.  
Passados uns tempos, mandou trazê-la à sua presença e perguntou-lhe se já estava resolvida a escolher um noivo. Ela respondeu-lhe que não e disse que se tinha convertido à fé cristã, pela graça da Santíssima Trindade.
Furioso, o homem mandou degolar a filha e que a arrastassem pelas ruas da cidade. Quando a multidão, exaltada, apedrejava o corpo despido de Bárbara, veio uma tempestade tão grande, com relâmpagos e trovões tão fortes, que matou o pai da rapariga e fez desabar a torre até à última pedra.
Toda a gente acreditou que tinha sido um milagre e, a partir daí, Bárbara foi considerada santa e ficou a ser a protetora contra as trovoadas.
Ainda hoje se reza:
Santa Bárbara, Bendita
Que no céu está escrita
Com raminhos de água benta,
Livrai-nos desta tormenta.
Espalhai-a lá para bem longe
Onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem raminho de figueira,
Nem mulheres com meninos,
Nem ovelhas com borreguinhos,
Nem pedrinhas de sal,
Nem nada a que faça mal.
Amém!
 M. L. Ferreira

Mais uma oração, da resposta da Libânia ao comentário do Ernesto:

Uma das pessoas a quem perguntei se sabia a oração, ensinou-me esta que também acho interessante:

Santa Barba, S. Jerolme,
Que lá estais no céu escritos
Com raminhos de água benta,
Livrai-nos de tal tormenta.
Magnífica! Magnífica!
Engrandecido seja o Senhor!
Valha-nos o Bom Jesus
E a Flor donde nasceu.
E a hóstia consagrada
Onde Jesus Cristo morreu.
Amém!

M. L. Ferreira

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ANTIPATIAS

No mês de Abril, fui a Castelo Branco. O normal é dizer: - Esta semana fui cinco vezes a Castelo Branco. Eu ainda sou dos que dizem: - No mês de Abril fui a Castelo Branco. Tem a ver com poluições e outras coisas terminadas em ões,  tais como:  uma mentalidade obsoleta que teima em não me largar.
Entrei na Livraria Bertrand com a ideia conservadora de comprar mais um livro do Miguel Torga. Os funcionários eram dois jovens com idades muito aproximadas às do meu João e do meu Zé e o que me atendeu, muito solicito, revoltou a livraria à procura do que eu pretendia, mas não encontrou.
Sugeriu-me então um livro que ele estava a promover. O título era esquisitíssimo e o autor um ilustre desconhecido para mim: MAZAGRAN, escrito por José Rentes de Carvalho, um nortenho radicado na Holanda.
Qual é o pai que, tendo dois filhos lá fora, a lutar pela vida, diz não a um rapaz que está cá dentro a lutar pela vida? Dos cinco euritos que eu tinha ideia de gastar por um livro de bolso, tive que passar para  dezasseis e sessenta, mas,  lá diz o outro, “Não há dinheiro que pague a paz do meu coração”. Para mais, o livro que tem como subtítulo  Recordações e outras fantasias, revelou-se uma agradável  surpresa. A prová-lo, junto um dos muitos pequenos textos que integram o MAZAGRAN:

ANTIPATIAS

Tal como o mistério de algumas simpatias, o de certas antipatias também se não pode discutir. Muitas surpreendem pela sua insignificância, mas debalde tentaremos escapar à garra com que nos apertam.
Eu, por exemplo, não consigo olhar o retrato de um escritor de pena na mão, ou com os dedos mergulhados no teclado da máquina de escrever sem que a qualidade da sua obra não sofra logo na estima em que eventualmente a tenho. Escritor que se deixa fotografar assim, diz a minha antipatia,  que não pode ser sério nem valer muito.
Porque se uma pose dessas traduz algo, não é por certo o  brio do talento nem a modéstia que pede a condição humana, mas o espírito frívolo que para se afirmar, necessita dos sinais exteriores do seu ofício.
Também me desagradam, mas por outra razão, creio, os retratos de escritores com as suas estantes a servir de pano de fundo. Desde que nos últimos anos a reprodução fotográfica, mesmo a dos jornais, aumentou sensivelmente a qualidade, mal vejo um desses retratos logo de lupa na mão me ponho a esquadrinhar os títulos dos livros que ele ou ela possui, na esperança de descobrir uma sintonia com os meus próprios interesses ou simpatias.
Recentemente publicado numa revista, o retrato de corpo inteiro de  um conhecido escritor, diante de um colossal e impressionante armário a abarrotar de volumosos tomos, veio agudizar outra das minhas irracionais antipatias.
Desconheço se o intento tinha sido fotografar o escritor em questão ou o aparatoso móvel, certo é que ao atentar nas lombadas dos livros no seu armário me correu pelo corpo o arrepio da descoberta: eu tinha ali sob os olhos a mina de citações do homem, o armazém do seu saber.
Por um instante cedi à tentação, peguei na lupa e comecei a ler os títulos. Mas logo me detive, tomado por um incómodo, a vergonha de penetrar impune no segredo da fraqueza e artimanha de outrem. Porque é talvez por isso que o excesso de citações sempre acorda em mim a irritação. É que me dá o sentimento de surpreender alguém que, por si só, não tem força para andar e que, em vez de se servir discretamente das muletas em que se apoia, acena orgulhoso com elas. De facto para se fazer valer, o hábil não necessita de originalidade nem saber verdadeiro: para ele e para o mundo a prótese já serve.

JOSÉ RENTES DE CARVALHO


E.H.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Já tem um lar!


Na altura em que o Ernesto deu conta do avistamento do Rabomole na Praça, eu não estava por cá. Quando regressei, não o vi e disseram-me que um homem do Violeiro o tinha levado.
Ontem resolvemos ir visitá-lo, para ver se estava a dar-se bem com o novo dono e dar notícias aos amigos, mas não conseguimos avistá-lo e ninguém nos soube dizer nada dele. Fomos depois até à Partida e lá, logo à entrada, disseram-nos que andava por lá um cão com as características do Rabomole. Andámos rua acima, rua abaixo, mas de Rabomole nem sombras… Quando já estávamos quase a desistir, mesmo à saída, lá estava ele, triste, com o rabo entre as pernas. Quando me viu, correu logo para mim. Não tivemos coragem de abalar e deixá-lo lá…
Hoje foi um dia cheio de emoções, para nós e para ele! Ainda não está muito à vontade, mas já brinca com a nova amiga e salta para o sofá como se sempre tivesse sido o lugar dele!


M. L. Ferreira

domingo, 1 de junho de 2014

Na minha terra...

TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO

Na minha terra Natal
Antigamente
Havia movimento
Havia mais gente
Antigamente
Na minha terra Natal
Havia muitas crianças
Que cantavam, pulavam alegremente
Na minha terra Natal
Havia muita gente
Antigamente
Na minha terra Natal
As pessoas trabalhavam
No campo, ou eram artesãos
Belos trabalhos saiam de suas mãos
Com suas canções alegravam
Os seus e nossos corações
Na minha terra Natal
Ainda a alva estava dormitando
O resineiro já ia a caminho do pinhal
Para extrair a resina ao pinheiro e cantando
Amava a floresta, não lhe fazia mal
Em todas as ruas havia um sapateiro
Sentado no tropeço a sola batia
Cortava, recortava e assim todo o dia
Fivela na mão transformava o cabedal
Nosso amigo sapateiro
Com as mãos calejadas
Batia, batia...
E eis umas botas cardadas
Em certas ruas um rumor se ouvia
Era a máquina de costura
O alfaiate cosia
Cortava o pano para as calças. para o casaco
Trabalhava noite e dia
De vez em quando fazia um fato macaco
E o alfaiate cortava
As medidas tirava
Suas mãos faziam maravilhas
Blusas, saias e camisas
O alfaiate costurava
Fazia aquilo que gostava
No largo principal
Estavam os latoeiros
Moldavam a folha de Flandres
Regadores, cântaros eram feitos no local
Eram uns tipos porreiros
Um deles era o "matador oficial"
Dos porcos da povoação
No tempo da matação
Era ele que matava o animal
Havia os fornos do povo
Que eram geridos pela forneira
Estavam sempre cheios como um ovo
O marido acendia a fogueira
Os pães eram sinalizados
Para as donas os conhecerem
Com uma caruma eram marcados
Mais uma tabuleirada
Para os familiares comerem
Havia muitos pedreiros
Que a pedra transformavam
Também havia carpinteiros
Que faziam janelas e portas
As suas profissões amavam
Também havia os ferreiros
Que o ferro moldavam
Os ferradores ferravam
Eram fortes e nada "pringueiros"
Havia muitas tabernas
Geridas pelos taberneiros
Serviam vinho ao copo
Às vezes os fregueses já não podiam com as pernas
Também havia muitos barbeiros
Os cabelos cortavam
As barbas escanhoavam
Eram uns tipos porreiros
Subia à torre o sacristão
Para o sino tocar
Punha o povo a rezar
Dlim,dlão; dlim, dlão
Havia muitas adegas com grandes tonéis
Que guardavam bom vinho
O litro era vendido a dez réis
Também havia quem cultivasse o linho
As mulheres iam para a ribeira
Lavar a roupa suja
Era posta a corar 
Na erva da lameira
Depois de ensaboada
Com água corrente era lavada
Havia muitos ganhões
Que trabalhavam para os lavradores
Muitos eram patrões
Mas todos pegavam na charrua
Desfaziam os torrões
Lavravam a terra para as plantações
No carro transportavam de tudo os ganhões
Havia grandes cabradas
Por aqueles montes fora
Também havia grandes ovelhadas
Chocalhando a toda a hora
E o pastor
Nas noites frias
Embrulhava-se na sua manta
Era assim todos os dias
Na praça a ganapada
Na hora do recreio corria
Na escola levava-se reguada
Era assim na freguesia
Ao domingo todo o povo ia à igreja
Ouvir a palavra de Jesus
Que morreu por nós na cruz
Assim seja, assim seja...
Hoje os tempos outros são
Muito poucos os moradores
A morar na povoação
As ruas estão desertas
Até dói o coração

Zé da Villa