sexta-feira, 18 de julho de 2014

Trocadilhos



Quando alguém é capaz
Quando alguém é idóneo
É um “capacidóneo”
Será! meu rapaz

Quando uma pessoa para
Que grande nóia
Então é uma paranóia
É isso, minha cara

Quando alguém da um pô
Quando alguém bebe vinho
Chama-se povinho

Gostei do livro que li
Um livro que me foi dado
Quer dizer que foi lidado
No momento em que o abri

É um caso paradoxal
Não há dúvida que mente
Sim, paradoxalmente
Não é dele o animal

No convento mora
O homem que tem a lista
É um moralista

É um inocente, pueril
Não sei, será que mente!
Ou será puerilmente
Uma pessoa asquerosa, vil

A coisa está feia; profunda
Vê-se logo que mente
Afunda-se profundamente

Indignada
Irada, ciumenta, mente
Gesticula indignadamente
É uma pessoa mal criada

A batalha da Oles é um mito
Logicamente
Logo, mitologicamente
É uma lenda, um dito

Atirei uma pedra com uma funda
Àquele atrasado mental
Porque era fundamental
Acertei-lhe na bunda

No alto daquele monte
Mora um ermitão muito pio
Naquele montepio
Mora um ermitão junto a uma fonte

É uma pessoa violenta
Uma pessoa má, que mente
Violentamente
Ninguém a aguenta

Ao contrário, esta é normal
É séria, não mente
Por isso normalmente
Não trata ninguém mal

No alto daquela barreira
Aquela mais sobranceira
Tenho um projeto em mente
Sobranceiramente
Está a li o meu futuro, a minha carreira

Certo, certo
O projeto que tenho em mente
Certamente
Penso, não me sairá mal

Vai ser vital
Mudarmos nossa mente
Para que vitalmente
Se viva melhor em Portugal

Pode ser uma imagem virtual
Que trago na mente
Sonhar virtualmente
Ainda não paga real

Que rico casal
Ele veste uma camisa de linho
Que rico casalinho,
Reparem no avental

Quem casa, quer casa
Pode ser a qualquer momento
Que se vai realizar o casamento
Alegremo-nos, já traz um grão na asa

Temos o dever,
Nós também íamos
Por isso deveríamos
Ir ao local observar e ver

Não é essencial
Fazer o que trazes em mente
Essencialmente
É ser-se feliz em Portugal
Zé da Villa

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Leitores



Um dos períodos mais bonitos da minha vida foi entre os seis e os dez anos de idade. Nessa  altura o meu Pai era o representante do jornal diário “O Século” e era eu quem o distribuía.
Foi um tempo de que eu me orgulho muito porque na nossa terra eram distribuídos diariamente vinte e quatro jornais,  sendo doze do Século e doze do Diário de Notícias, este representado pelo Sr. José Maria dos Santos. O Diário de Notícias foi distribuído durante algum tempo pelo Inácio Pereira dos Santos, pai da nossa Doutora Filipa, que nos acompanha nos nossos passeios pedestres.
A jornada começava às quatro e tal da tarde quando nós íamos para a estrada nova à espera da camioneta da carreira. Durante muitos anos era um autocarro muito velho a que nós chamávamos  “Farrancha Velha”,  que às cinco em ponto chegava à paragem e deixava, além dos passageiros, os dois maços de jornais. Este autocarro foi substituído por um outro muito moderno (para a época), que era conduzido pelo Sr. Lourenço.
Uma vez em que o autocarro novo teve que ir à revisão e nós estávamos à espera dele, vimos com um certo desalento chegar o antigo e o Inácio, aborrecido, exclamou:
- Olha, hoje é a farrencha!
Os leitores de “O Século“ eram o Sr. Doutor Alves, a G.N.R., o Sr. Coronel Barreiros, o Sr. Segurado da farmácia, a Dona Maria da Cunha Pignatelli,  a Dona Hália, o Sr. António Lino que morava na primeira casa do bairro e por último o Sr. Eduardo Cardoso. Havia também alguns ocasionais e outros que já não me lembro.
Para levar tudo de seguida, quando vinha da paragem, ia logo ao Sr. Doutor Alves, onde todos os dias me cruzava com o cão e que, quando eu já pensava que éramos grandes amigos, ele fez o favor de me pregar uma valente mordidela. Depois ia à G.N.R. e por aí adiante até chegar ao Sr. Eduardo Cardoso.
(O Sr. Eduardo era uma pessoa muito afável que por amizade tratava o meu pai por  “parente”. Foi com as filhas dele que eu aprendi a jogar  ping-pong lá em casa.)
Quando eu ia a meio da distribuição  passava por casa e deixava o jornal ao meu pai para ele ler, porque era raro sobrar algum. Esse jornal era o que se destinava ao Sr. Eduardo.
Um dia, quando fui entregar o jornal, e porque já não era muito cedo,  pergunta-me ele:
- Ei minino, você está chegando tarde; que está passando?
- É que o meu pai esteve a ler o jornal, Sr. Eduardo!
O Sr. Eduardo riu. Nunca disse nada ao meu pai. Eu disse e o meu pai não ficou muito satisfeito, mas desde esse dia o jornal passou a chegar a horas às mãos do Sr. Eduardo Cardoso!

A inocência é tão linda.

E.H

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Pe. Jerónimo


Vamos fazer uma grande festa com o nosso Pe. Jerónimo.
Não esquecer a inscrição até dia 31 de julho!

Nota: O meu endereço de e-mail é: teodoroprata@gmail.com

José Teodoro Prata

domingo, 13 de julho de 2014

Festival de ranchos










As fotos não mostram quase nada. Foi muito bonito!
Bons artistas, organização esforçada e boa disposição.
Mas a grande novidade foi outra. Há sombra de uma árvore, colocaram-se umas cadeiras. Para as individualidades, pensaram todos. 
Qual quê? Encheram-se de idosos do lar da Misericórdia. As individualidades ficaram ao lado, de pé, e não se importaram nada!
Por isso a Libânia foi a grande heroína daquela tarde, a pessoa de quem toda a gente falava.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Horta-jardim

Encontramo-la aquando do passeio da Feira, mesmo junto ao lagar arruinado da Natividade Lino.




A jardineira é a Madalena, mulher do Tonho da Sara.
José Teodoro Prata



A horta da Ti Madalena faz ver a muita gente! Como se vê, tem de tudo com fartura; para a família e para os vizinhos. E eu que o diga!
E quando lhe dizem que já é trabalho a mais para ela, responde logo que se querem tirar-lhe a vida, é tirarem-lhe aquela horta.

M. L. Ferreira

domingo, 6 de julho de 2014

Obedecer

Certo dia, alguns animais da comunidade juntaram-se na taberna do galo pedrês. A rua ia de mar a monte, o inverno bastante rigoroso não deixava fazer nada.
- Isto não pode continuar, indagou o galo de crista vermelha, o homem quer tudo para ele, tem a mania que é o nosso rei, faz de nós gato-sapato, muitos de nós acabamos numa travessa: guisados, assados... Queremos ser tratados como gente e não como animais que só servimos para trabalhar,  guardar, alimentar... Proponho que nos desloquemos à assembleia.
- Concordo, - respondeu o saltitão que já estava com um grão na asa - mandemos um representante de cada raça exigir uma vida mais digna para todos.
Enviaram um ofício a pedir uma reunião, alugaram autocarros e ei-los a caminho da capital.
- Senhor presidente, nós...
O gato miava, o cão ladrava, o burro zurrava, a galinha cacarejava, pintainho piava, o galo cocorocava; presidente dormitava, não escutava…
- Senhor presidente, senhor presidente! - miavam, ladravam, zurravam, cacarejavam, piavam, cocorocavam os presentes nas galerias.
- Silêncio! - grita o presidente - afinal o que é que vocês querem?
- Nós queremos, nós exigimos...
- Vão-se lá embora, cumpra cada um a sua missão, o poder vai continuar a ser para os poderosos e o servir para os servos. Não há outra solução.
- Mas nós queremos...
- Era só o que faltava! - murmurou o presidente para os secretários.
- Cada macaco no seu galho. - acrescentou o primeiro secretário, sussurrando ao ouvido do presidente.
- Vão em paz e que o Senhor vos acompanhe.
Regressaram, com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, fazendo cada um aquilo que sempre fez. Obedecer.


J.M.S

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Bem aventurados os humildes

Um dos sentimentos que calam fundo na alma de um Verbita é a humildade. Este sentimento é incutido desde o primeiro dia em que se ingressa naquela instituição, através do exemplo dado por aqueles que a ela dedicaram as suas vidas.
Faz agora meio século, para Agosto, que o Padre Jerónimo disse a sua primeira missa, em S. Vicente da Beira. Coincidiu esta festa com os meus exames para admissão no Seminário do Tortosendo e, por ser familiar do novo padre, tive o privilégio de vir à celebração.
Vim no  “carocha” velhinho com o Padre Lúcio a conduzir, o Padre Zé Vaz e o pequeno gigante: o Reitor Jorge Poljak (corrijam-me).
Correu tudo à maneira Verbita : Bem.
À hora de regressar ao Tortosendo, eu entrei no carro e sentei-me atrás, mais o Padre Zé Vaz.  O Padre Jorge, o Senhor Reitor do Seminário, entrou para a frente e, ao levantar um pouco a velha batina, para subir, mostrou sem querer as calças todas remendadas nos joelhos.
Eu tinha dez anos.
A simplicidade daquele homem tão humilde, mas que no  fundo foi das pessoas mais ricas que eu já conheci, deixou marca e uma certa inveja, por não ser capaz de alguma vez lhe chegar aos calcanhares.

Para alegrar um pouco o texto, vou contar duas coisinhas que li há muito tempo. Da primeira não me lembro o nome do autor  e a segunda é do Camilo Castelo Branco e é só para recordar, porque todos conhecem. Ambas têm a ver com a humildade:

Um pintor pintou uma pintura (rir s.f.f.) de uma jovem,  em tamanho natural,  e decidiu mostra-la  numa rua movimentada, escondendo-se por detrás do quadro, a fim de recolher opiniões das pessoas que passavam e eventualmente corrigir qualquer pormenor que lhe tivesse escapado.
Passa um sapateiro e, olhando para o quadro, reparou que numa das chinelas da jovem faltava a fivela e falou no facto. O pintor vai para casa e pinta a fivela na chinela. No dia seguinte, voltou para o mesmo sítio com a mesma intenção. Passa o sapateiro e fica todo contente por ver que o erro tinha sido emendado, mas, em vez de seguir caminho, faz uma segunda observação sobre um defeito qualquer no vestido. No dia seguinte, quando o sapateiro volta a passar para ver se havia sido feita a alteração que ele tinha apontado, vê por baixo do quadro o seguinte dístico: “NÃO SUBA O SAPATEIRO ACIMA DA SUA CHINELA” 

O  Camilo escreveu no  “Narcóticos“ uma historiazinha a que deu o nome  “O SENHOR MINISTRO“ que eu humildemente e com a devida vénia vou tentar resumir porque isto já vai longo.

É a história do Senhor Tibúrcio Pimenta, advogado no Porto, que alimentava o desejo de ser ministro do reino. Achava-se inclusive superior aos  ministros porque a sua coluna vertebral não se vergava a nada nem a ninguém.
Um dia de manhã cedo, ainda ele estava na cama,  batem à porta de sua casa. Era um senhor muito bem vestido que vinha entregar uma carta e dar os parabéns porque o Sr. Tibúrcio tinha sido nomeado ministro.
A  esposa, Dona Amália vai a correr ao quarto, acorda o marido e abre a carta sem a ler, para a dar ao doutor que se sentara estrovinhado na cama, a esfregar os olhos.
O doutor leu:
“Ex.mo Sr. Doutor Tibúrcio Pimenta - A Mesa da Venerável Ordem Terceira de  São Francisco desta cidade tem a satisfação de lhe participar que ontem, em reunião geral, foi Vossa Senhoria unanimemente eleito ministro da mesma Venerável Ordem Terceira de São Francisco.”
Tibúrcio machucou o papel, atirou-o ao tapete e disse:
- Não valia a pena acordares-me para isto, Amália.
E ela, com os olhos espantadamente espasmódicos na cara esquisita do marido, disse com um grande desalento:
- Ministro da Ordem Terceira de São Francisco! ORA BOLAS!!!

E.H.