quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

As figuras das rochas



A obra “GeoMorfologia da Gardunha” foi apresentada pela (nossa) Prof. Dra. Celeste dos Santos Romualdo Gomes.
No início do livro, faz uma caraterização geológica, explicando o processo da formação das diferentes formas das rochas graníticas da Gardunha, que nos são mostradas, pelo Tó Sabino.
Escreveu: 

Quem percorre a Serra é presenteado por um conjunto de esculturas de pedra de rara beleza (…). As rochas formaram-se em profundidade (…).
Atualmente, as rochas encontram-se à superfície devido a processos de deformação, soerguimento e denudação. (…) Para além de todos estes processos, as rochas são afetadas pelos fatores de meteorização, alteração e erosão. Estes fatores estão relacionados com a composição mineralógica, a textura e a estrutura das rochas. São também aspetos relacionados com o clima, a temperatura, a humidade, a pluviosidade, a quantidade de água infiltrada. Todos estes fatores esculpem belas figuras de pedra, como: castelos, nubins, tors, gnamas, pias, disjunção esferoidal, pseudoestradas, caneluras e caos de blocos. As figuras são grandes e pequenas e muitas vezes fazem lembrar modelos de pessoas, animais, objetos e situações.


E como é que estas figuras são vistas pelo autor do livro?

Na Gardunha um dia nunca é igual ao outro. Permanece a imponência mas, cada vez que visitamos a Gardunha, abre-se uma porta que, até então, nunca se tinha visto. A luz e a sombra são transformantes da grandeza dos seus montes e vales e constroem essas figuras inusitadas de pedra. (…)
Encontrei figuras de manhã, quando o sol mal tinha nascido. Procurei-as de tarde, outras vezes no dia seguinte. Já não as consigo ver. Ou mudavam, metamorfoseavam-se. (…) dependem da hora a que são vistas, da inclinação dos raios solares, de mais ou menos luz e do local onde nos encontramos.


Nota biográfica da vida académica da Prof. Dra. Celeste Gomes:
Licenciada em geologia (1986) pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, obteve o grau de Doutor em Geologia, com a dissertação "Estudos Paleomagnéticos das unidades da bacia Lusitânia" em 1997, pela Universidade de Coimbra. É Professora Auxiliar na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e coordenadora dos cursos de mestrado em "Ciências da Terra" e "Ensino da Biologia e Geologia".  Sendo investigadora do Centro de Geofísica (grupo Terra Sólida), os seus domínios de investigação incidem nos campos do paleomagnetismo, propriedades magnéticas dos materiais, ambiente e ciências da educação.

José Teodoro Prata

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

As rochas da Gardunha



Toda a equipa do Gega está de parabéns pelo livro editado e pela organização do seu lançamento.
Mas um louvor especial para o seu autor.
Colaboraram nesta obra, além do incontornável João Paulino, outros fotógrafos e estudiosos da Gardunha.
Todos vieram a São Vicente da Beira, assim como os representantes autárquicos da freguesia do Louriçal do Campo e dos municípios do Fundão e Castelo Branco.
Este lançamento juntou muita gente deste e do outro lado da Gardunha, parece que finalmente de mãos dadas, na construção de projetos comuns. Pelas palavras dos autarcas, assim parece e nós desejamos ardentemente que finalmente eles se concretizem.

O livro agora editado é uma excelente prenda de Natal para oferecer a familiares e amigos!

José Teodoro Prata

domingo, 7 de dezembro de 2014

Outono

José Teodoro Prata



OUTONO

Folhas caídas
Amarelecidas
Ventania
Chuva miudinha
Geadas
Castanhas assadas
Magustos
Jeropiga
Alqueivar
Semear
Tempo de descansar
Tempo de meditação
Tempo contemplação
Tempo de finados
Onde se recordam antepassados
Decadência
Sonolência
Para na primavera tudo voltar
A renascer, medrar
A vida ressuscitar
Reviver, renovar
Reproduzir, rebentar
Ressurgir e acordar
Outono…
Árvores despidas
Mágoas carpidas
Lágrimas fingidas
Campo silencioso
Caçador orgulhoso
Lareiras, fogueiras
Adegas, bebedeiras
Oliveiras,
Castanhas, romãs, um santorinho…
Ponha aqui no saquinho
Que Deus lhe pague, obrigadinho
Pelo seu pai que foi um santinho
Tiborna, bacalhau, azeite e vinho
Outono, tua ventura
Inspira tanta pintura
No aconchego do lar
Quero contemplar
As noites frias de luar
Preparando-se para nevar
Que pura e fria
É a neve que caiu todo o dia
Aproxima-se o Nascimento
Lá fora o vento
Ruge fortemente
Vejo um velhinho a dar ao dente
E uma criança sorridente
Vejo da minha lareira quente
Um pardal com seu piar dolente
Saltita na neve e desconfiadamente
Pia, pia o pardalito
Deve ter frio o coitadito
E eu na minha lareira
Meto mais lenha na  fogueira
Que vai ardendo lentamente
Enquanto se dá ao dente
Comendo uma castanha quente
Com um cálice de aguardente
Qua aquece o coração da gente
E a fogueira vai ardendo lentamente
Outono…
Tempo de recolhimento
Tempo de contemplação
Tempo de oração
Princípio da velhice
Começo da rabugice
É o outono da vida
Tantas vezes reprimida
Depois de tanto trabalho e lida
Chega o outono da vida…

Zé da Villa

A pedido da Libânia... (ver comentário)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Zé Bito



Quando eu era pequenito, a população da nossa Vila era muito numerosa. Sem consultar o especialista nesta área e autor deste blogue, atrevia-me a dizer que haveria na nossa terra para cima de duas mil almas.
Tal quantidade de gente, (e a falta de hipermercados) fazia que houvesse também grande quantidade de sapateiros e alfaiates.
Dos alfaiates lembro o Tio João da Silva, pai das manas Silva, o João Coxo, que por fim só tinha a taberna, o Tio Francisco Eurico (avô do Zé Barroso), o Zé  Alfaiate, genro do Francisco Eurico, e o meu pai que julgo ter sido o último a exercer a profissão, na nossa terra.
Quero fazer aqui um aparte para dizer que o Sr. Francisco Eurico era para o meu pai o “Mestre Eurico”. Foi ele que lhe  ensinou a arte e o meu pai tinha por ele um grande respeito, uma grande amizade e muito carinho. Digo isto,  porque fui testemunha e por isso aqui faço esta homenagem a um grande profissional e um homem bom da nossa terra. Nunca me vou esquecer que, quando uma vez foi necessário fazer novo fardamento para a nossa banda filarmónica, o trabalho foi feito numa sala dos Paços do Concelho, por estes três últimos alfaiates, e foi uma festa para os filhos.
Sapateiros havia mais. Entre os mais antigos, lembro-me do meu bisavô João Hipólito, sapateiro de calçado grosso e remendão, que,  além de trabalhar em casa, deslocava-se também aonde o chamassem, a  fazer arranjos, tendo para isso uma caixa onde transportava todas as ferramentas para o efeito. Essa caixa e todas as ferramentas são agora minhas e estão guardadas.
Continuando a enumerar os sapateiros, tínhamos o “ Boche “, que morava onde agora mora a Bina, o “Chalim” e o seu irmão António Oliveira, o João Ribeiro e o seu irmão Joaquim Ribeiro e mais tarde o Sr. António Maria, de quem já falei há tempos, o Manuel Candeias (o “Mudo “) e o Sr. Fausto. Penso que não me esqueci de ninguém.
Havia cá um sapateiro de seu nome Eusébio Gomes Barroso,  que mais tarde foi para Lisboa  onde montou uma oficina de marroquinaria. Era conhecido por “Zé Bito“  e era um grande amigo do meu pai. Tenho nas mãos as carteiras em couro que ele fez e ofereceu ao meu pai e à minha mãe. São delicadas obras de marroquinaria que eu guardo com muito carinho. O Zé Bito não fazia sapatos, fazia obras de arte. Amigos inseparáveis, tinham também grande sentido de humor, mas aí o Zé Bito sobrelevava o meu pai. Contava-me este que, numa das semanas santas que por cá se fizeram, o pregador convidado calhou de ser um Franciscano muito bem-humorado que, em pouco tempo, conquistou toda a gente. Um dos que simpatizou mais com ele foi o Zé Bito e gerou-se uma confiança tal entre eles que, na  Quinta-Feira Santa, ao começar o sermão, o padre duma maneira original exclama: Eu sou…, e ia a continuar quando o Zé Bito, que estava mesmo por debaixo do púlpito, lhe diz:  O pirata da perna de pau!!!
Claro que daí para a frente o sermão já não teve quaisquer trambelhos, porque o pobre padre a todo o momento se lembrava do começo e desatava a rir.
No dia seguinte, Sexta-Feira Santa,  depois da procissão do Enterro do Senhor, houve novamente sermão e chegou aquela altura em que o pregador deposita o Santo Sudário nos braços da imagem da Senhora das Dores. Quem tinha levado este andor tinham sido, além dos dois detrás, o Zé Bito e o meu pai, à frente. Como a imagem estava bastante afastada do púlpito e o padre não conseguia depositar o sudário, diz para o Zé Bito:
- Trazei-ma cá, trazei-ma cá…
Resposta do Zé Bito, olhando para a imagem:
- E vós quereis lá ir, minha Mãe Santíssima?

E.H.