sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

7.º Aniversário

Foi no dia 1 de janeiro de 2009 que esta aventura começou, já lá vão 7 anos.
Seja qual for o futuro Dos Enxidros, o que se conseguiu ultrapassou tudo o que se podia ambicionar no projeto inicial.
Este ano foi de altos e baixos, como todos os outros. Já fizemos 930 publicações e temos, mensalmente, cerca de 3 000 visualizações. O número de leitores regulares tem vindo a aumentar, mas creio que não ultrapassará muito a centena em que sempre nos situámos.

Deixo aos colaboradores e leitores deste blogue duas prendas.
A primeira é uma mensagem de otimismo, neste mundo que a comunicação social não se cansa de propagar como mau e violento. Uma mensagem de paz e felicidade para todos.
Quanto aos emigrantes, um dos maiores medos do nosso tempo, deixo-vos uma certeza: descendemos de povos que chegaram a esta ponta da Euroásia em sucessivas migrações, ao longo de milénios (Por isso partimos tão facilmente para "a terra dos outros"). E os refugiados só diminuirão quando os europeus, os americanos e os seus amigos sauditas e emirados acabarem com a guerra civil na Síria, que eles próprios fazem. A solução está, pois, nas nossas mãos, não na deles, que fogem da ruína e da morte.
A propósito dos nossos tão propagados medos, deixo-vos um trecho do livro que estou a acabar de ler. Chama-se Sapiens, De Amimais a Deuses. História Breve da Humanidade. O seu autor é Yyval Noah Harari, um académico da Universidade Hebraica de Jerusalém. É uma análise atual, de 2013, com edição portuguesa de 1015.

A segunda prenda é o melhor de nós, da nossa terra e das nossas gentes.

BOM 2016!




Paz no Nosso Tempo
A maior parte das pessoas não se apercebe de quão pacífico é o período em que vivemos. Nenhum de nós estava vivo há mil anos, por isso esquecemo-nos facilmente de como o mundo costumava ser mais violento. Além disso, à medida que as guerras se tornam mais raras atraem mais atenção. Muitas pessoas pensam sobre as guerras travadas no Afeganistão e no Iraque e esquecem-se da paz que em vive a maior parte dos brasileiros e dos indianos.
Ainda mais importante: sentimos mais facilmente o sofrimento dos indivíduos do que o de populações inteiras. No entanto, para examinar os processos macro-históricos precisamos de examinar estatísticas maciças e não histórias individuais. Em 2000, as guerras provocaram a morte de 310 000 indivíduos e o crime violento matou outras 520 000 pessoas. Cada vítima é um mundo destruído, uma família arruinada, familiares e amigos marcados para a vida. No entanto, de uma perspetiva mais alargada, estas 830 000 vítimas representam apenas 1,5 por cento dos 56 milhões de pessoas que morreram em 2000. Nesse ano, 1 260 000 pessoas morreram em acidentes de carro (2,5 porcento da mortalidade total) e 815 000 suicidaram-se (1,45 por cento).
(...) Hoje, a humanidade quebrou a lei da selva. Existe, por fim, uma verdadeira paz e não apenas uma ausência de guerra.




José Teodoro Prata

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Concerto de Natal


No passado sábado, 26 de dezembro, a banda filarmónica vicentina ofereceu à população da freguesia mais um concerto de natal. Foi um êxito, as pessoas aplaudiam de pé cada atuação e não se cansavam de ouvir a nossa banda. Sob a regência do jovem Davide, a banda está cada vez melhor e mais jovem. As crianças da escola de música encantaram com as suas canções alusivas à época natalícia. A direcção presidida pelo comissário João Barroso está de parabéns.

J.M.S

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Fraternidade


Fraternidade vem de frater, irmão, em latim.
Sempre me surpreenderam as lutas fratricidas, nas guerras civis.
Antigos vizinhos e até amigos e familiares matam-se uns aos outros, com uma facilidade espantosa. 
Por isso, as guerras civis são as mais horríveis de todas.

Em São Vicente, zangamo-nos por coisas simples, por divergências sobre assuntos da nossa vida comunitária.
Face ao desacordo, radicalizamos posições, em vez de procurar consensos e soluções.
Zangamo-nos muito, como uma vez me disse o Pe. José Augusto.
É verdade que, por vezes, fazemo-lo por divergências político-partidárias, não percebendo que perdemos nós e ganha Castelo Branco (os políticos que estão ou querem estar sentados no poder concelhio).
Hipólito Raposo escreveu, a propósito do fim do nosso concelho, que isso aconteceu por interesse dos comerciantes de Castelo Branco. Mesmo não estando totalmente certo (a realidade é sempre complexa), era bom que refletíssemos nas suas palavras, à luz da realidade atual.

Neste Natal, deparei-me com um boicote à fogueira de Natal. 
Não esmiucei o caso, porque o não merecia.
Se há local onde a nossa fraternidade como comunidade mais se vive é em redor da fogueira.
Espero que tenha sido confusão minha e ninguém tenha promovido um boicote à fogueira (não indo lá), porque tiveram de se cortar umas árvores na Estrada Nova.
Não considero os serviços de jardinagem da Câmara especialmente competentes. Também não acho que os poderes locais estejam livres de decisões unilaterais, sem consultar ninguém, apenas porque são eles que estão no poder.
Mas havia árvores podres, ramos a esmagar carros, pessoas a pedir medidas à Junta. 
Não sei se se justificava cortar todas as árvores que foram cortadas, mas foram-no por decisão técnica da Câmara e contra ela dificilmente a Junta se poderia impor.
Mas é caso para se ir tão longe?
E o NATAL?!

Nota: Hesitei em escrever este texto (nem tenho ainda as ideias claras) e não sou diferente de todos nós. Mas tenho a certeza de duas coisas: vale a pena sermos fraternos e suspeito que, num futuro próximo, teremos de nos unir em defesa de São Vicente!

José Teodoro Prata

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Noite de Natal


A casa do Eusébio, na Rua das Laranjeiras.


O presépio, na Igreja.


A fogueira, na Praça.

Mais os beijos e abraços, as filhós, a ceia de Natal, os copos com os amigos e familiares...
Viva o Menino Jesus!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

BOM NATAL

Cliquem nesta hiperligação e terão a vossa penda de Natal.
É muito naif, tal como o Natal.


 http://www.jacquielawson.com/preview.asp?cont=1&hdn=0&pv=3169996

José Teodoro Prata

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pachouchadas

Pachouchadas é o que eu escrevo aqui, nos Enxidros, segundo a minha mãe.
A cada história que publico, à primeira ida a São Vicente lá vem o mimo de pachouchada. Porque acha que o que escrevi é mentira, sobretudo por termos recordações diferentes dos mesmos acontecimentos ou porque acha um monte de disparates inúteis muitas das coisas que eu aqui recordo.
Assim, pachouchadas serão mentiras ou coisas que se dizem sem qualquer valor, baboseiras, disparates.
Embora eu considere que quase tudo o que escrevi nas histórias se baseava em factos verídicos e por isso normalmente não concorde com a minha mãe, neste ponto, casos houve em que tive de dar o braço a torcer.
A primeira vez foi na história O lobo branco, em que inclui algumas das mais fortes recordações da minha infância. Na altura, foi a Luzita Candeias que me meteu na linha e tinha razão. Falei com a minha mãe e com a tia Eulália e afinal o tio Joaquim Nicolau não fora ao mercado do Fundão, estava era de regresso da Covilhã, onde na altura trabalhava. E aquela do lobo branco lhe ter aparecido era mesmo treta minha!
Mais recentemente, depois do texto Misericórdia, o Zé Manel escreveu sobre o Zé Raimundo que foi despejado de casa, passou a viver na praça e acabou a dormir no cabanão, onde morreu, abandonado. Para o Zé Raimundo, não teria feito muita diferença ficar metido numa gaiola na praça, mas com direito a comida, ou totalmente abandonado, sem um teto, nem comida. Eu recordava-me da história que o João Paulino me contara e parti do princípio que ela se passara ainda no século XIX, nos últimos anos do nosso concelho.
Agora foi a história Um herdeiro. Parti da história que o tio Joaquim Teodoro me contou, na altura já com mais de 100 anos, e o resto inventei. Mas a Libânia pôs-se a vasculhar e num instante descobriu uma catervada de filhos ao visconde.
Vou tentar descalçar esta bota, a ver se arrumamos isto antes do Natal.

Este senhor visconde da minha história foi o Excelentíssimo Senhor Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara, vereador e depois presidente da Câmara Municipal de São Vicente da Beira, nos anos 70/80 do século XIX. Herdou o título de 2.º visconde de Tinalhas, sucedendo a seu pai José e transmitindo-o ao seu filho José. Este não teve descendência, tendo falecido em 1972. E com ele o título.

Então,  quem terá sido a criança que, na calada da noite, foi levada para a residência do senhor visconde, segundo o tio Joaquim Teodoro?
A única hipótese que me permitiria sair desta pachouchada, com alguma dignidade, é a seguinte:
O senhor visconde teve uma data de filhas e no meio um filho, o Teodoro, que morreu logo, como está escrito no registo. Vendo-se sem descendência masculina para continuar a linhagem, "obrigou" a esposa a simular uma gravidez (esta não é minha, é do ti Jaquim), a fim de legitimar um menino que nascera de uma das várias moças com quem se encontrava, secretamente.

Deixo-vos os registos que a Libânia tirou na net, a fim de poderem testar esta minha tese.
Mas não faço juras de vos livrar de novas pachouchas!

Bom Natal para todos!

José Teodoro Prata







M. L. Ferreira

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Os velhos

O diabo sabe muito porquê? Porque é velho.
A manhã daquele domingo estava amena, na praça ardia o que restava da fogueira, à sua volta pessoas amornavam as mãos, sentados num banco alguns idosos cavaqueavam…
Aproximei-me e saudei-os.
- Está fresco.
- Não está mau, respondeu-me o senhor José Madeira.
- O tempo anda áspero acrescentou o senhor Aurélio Moreira.
- Ó cachopos, desde que nos roubaram o concelho, a nossa terra nunca mais voltou a ser a mesma. A escola foi a melhor coisa…- atalhou o senhor Sebastião Jerónimo.
- Quem é que construiu o primeiro campo da bola, ripostei?
- Foi o Manuel da Silva e outros.
Resposta pronta do senhor Aurélio:
- O João de Sousa, o Barata “pai do sorna”, o Manuel da Silva…foram dos primeiros jogadores; quem benzeu o campo da bola foi o padre Santiago. Morava na casa do padre e músico (foi um bom padre), era do Louriçal.
O José Duarte tomando a palavra disse:
- O padre Zé Antunes era como um advogado, foi meu professor, do João Madeira…
- Falem-me da nossa banda.
José Madeira responde:
- O teu avô Manuel da cadeia tocava os pratos; o ti Lúcio, bombo; o Joaquim Ribeiro tocava barítono; o Joaquim dos Santos tocava requinta; o António Ferreiro tocava trompete; o Jaime Dias tocava contrabaixo; o José Maria Lino tocava flauta e clarinete; “o caralheto” senhor Elias tocava trombone; o Joaquim rato, fautim; o João Madeira, trombone; o João Faustino, o João Craveiro…nessa altura havia muitos músicos e eram quase todos sapateiros.
- O Joaquim Ribeiro, o ti Roldão, o António da Silva, o Manuel da cadeia…foram os primeiros músicos, o Valério foi o primeiro mestre.
- Na vila havia um alfaiate, Joaquim Gabriel, morreu cedo, morava onde moram “as meninas”; fazia-se um bom mestre da música…
- A ti Metilde (Matilde) era filha do senhor Roldão que tocava caixa.
- O senhor Aristides foi um bom mestre da música, era cantoneiro na estrada da Oles, o teu pai é que o substituiu.
- Antigamente havia nas ruas candeeiros a petróleo, o presidente da Junta era o Manuel da Silva. O Tonho do ti Felipe, assim que começava a anoitecer, andava com uma escada na mão e uma vasilha com petróleo, para encher os candeeiros e depois acendia-os.
- E alumiavam alguma coisa!
- Ora se alumiavam, já era bem bom… - respondeu o senhor Zé Madeira.
- Falem-me dos sapateiros.
- A maior sapataria era a dos Barrosos. O mestre Eusébio, “um homem muito forte”, era a melhor faca para cortar, não havia na Beira Baixa, irmão do senhor Emílio, este era mais para fazer carteiras; era o pai do Zé Bito, do Toneca…
- Eu aprendi com o meu irmão João.
- Para os Barrosos trabalhavam muitos sapateiros: o Tonho Maria, o António Ferreiro, o Ermegildo (era do Casal dos Paiáguas), o Barata, pai do sorna, o Chalim, o João Ribeiro, o João Hipólito, o João Lopes, “homem da ti Maria Joaquina”, o João de Matos, o senhor Roldão… eram todos bons.
Terra de sapateiros e alfaiates.
O senhor Aurélio há muito que estava com vontade de falar e a certa altura diz:
- A casa que stá veréda para a praça, já não sou capaz de encarrelhér, era do senhor Aurélio, o Cofáia era o cocheiro dos machos; o senhor Aurélio era o meu padrinho; tinha um cofre muito grande, um dia os ciganos roubaram-lho e abriram-no na fábrica.
- Ainda se lembram do trem?
- Servia para levar o senhor Aurélio e a dona Bárbara para o Valouro. O primeiro carro que cá apareceu pertenceu ao senhor Aurélio, tinha as rodas de pau, era ele que o conduzia, levava-o para o Valouro; hoje valia uma fortuna. - atalhou o Zé Madeira.
Os Fredericos eram sapateiros também. Já sabemos coisas do catano!
- Quem foi o Zé Raimundo?
- Era latoeiro, o senhor Fernando latoeiro aprendeu com ele. Tiraram-no de casa porque não pagava a contribuição. Dormia na praça, depois levaram-no para o cabanão e lá morreu…
- A taberna do Arrebotes antes era da ti Maria Sarafana. Um ano houve muita fome, o César Vaz de Carvalho emprestava milho, feijão…matou a fome a muita gente.
- No nosso tempo era uma desgraça; colhia-se a azeitona ao oitavo e ao nono.
- No Vale Morena, para o Zé Lourenço, colhíamos ao nono, diz o senhor Aurélio.
- No tempo das ceifas, alguns iam ao campo ajustar as searas, combinavam com os donos a quantidade de semente que deviam receber. Para além da semente, davam azeite, pão, queijo…
Perguntei ao senhor José Madeira se gostou de estar na França.
- Era boa para se ganhar dinheiro. - respondeu.
- Ainda se lembram da fábrica?
- O meu irmão Adelino trabalhou lá, era o maquinista. Era enorme, chegava ao cimo da barreira. Trabalhavam pelo menos umas quinze pessoas ou mais. O senhor Fernando “pai do Manuel Diogo” é que conduzia o camião. O senhor Manuel Bernardo tomava conta do pessoal. Faziam portas, coisas de ferro… o Parrego aguçava as “sarras”. Eu era garoto, levava o almoço ao meu irmão Adelino.
- O sargento Calmão era o encarregado. Os donos eram os senhores Manuel Gonçalves e Joaquim Gonçalves. Por serem boas pessoas é aquilo se foi abaixo. Também tinha uma moagem. Já lá vão setenta anos ou mais.
- Olha, o Truta veio numa comédia, ficou cá e trabalhou na fábrica!
- O carro que trazia o petróleo era puxado por mulas, chegou a pontos de vir uma camioneta.
- O Pião e o irmão trabalharam no comércio do senhor Adelino Patrício. O Pião subiu, ele desceu. As mulheres é que deram cabo dele, iam à gaveta e tiravam o dinheiro que queriam, a loja era ali. - Apontaram para a casa da Emília mouca.
O sino tocava a última, dei por terminada esta conversa que foi feita na praça, no dia 27 de dezembro de 1998. Aos senhores Aurélio Moreira, José Duarte, Jaime Martins, Sebastião Jerónimo, Carlota Candeias e ao meu amigo José Madeira o meu bem-haja.

Antes de terminar, deixo dois pensamentos de Santo Agostinho:
“A soberba não é grandeza, mas sim inchaço, e o que está inchado parece grande, mas não está são. Necessitamos uns dos outros para sermos nós mesmos.”

Um santo Natal e um ano 2016 cheio de paz, tolerância e fraternidade.


J.M.S