quarta-feira, 15 de junho de 2016

Destino

Perguntei ao Destino
O que nos reserva o futuro
O Destino respondeu-me
Prevejo um tempo muito duro
Ao Destino perguntei
Qual o tipo de dureza
Respondeu-me; muita pobreza
Guerras, injustiças é o que sei
Destino; que desdita, má sorte
Dá-me também boas venturas
Só te posso anunciar as duras
Vão trazer muita tristeza e morte
Voltei a insistir
Destino, quero saber
Quem nos vai poder valer.
Tem fé; nova vida há de vir
Mais justa e fraternal
Humana e solidária
Feliz e igualitária
Em todo o lado e local
As guerras terminarão
Da face da Terra nessa altura
A vida vai ser menos dura
A paz, a harmonia, vencerão
Tens que ter compaixão,
Destino, tanto sofrimento.
Vais ver que a qualquer momento
Encontrarás uma solução
A semente para dar fruto
Tem primeiro que morrer
Para mais tarde renascer
E assim termina o luto
Zé da Villa

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Boletim agrícola - Junho


 Esta cerejeira estaria a vergar de cerejas, não fora o frio de há semanas que a fez perder os frutos e lhe queimou as folhas. Parece outono!


 Dos pessegueiros, ficaram só os paus...


As pereiras gostaram da chuva e do frio! Não são mediterrânicas...

Uma boa notícia: 
Um emigrante comprou o Balcaria e vai fazer plantações de oliveiras (abaixo da estrada) e medronheiros (acima da estrada), usando as mais modernas técnicas. 
Até meteu férias e esteve cá a tirar um curso de fruticultura, na Escola Superior Agrária de Castelo Branco.
Quem foi à Senhora da Orada, já viu os trabalhos que se estão ali a realizar.
Desconheço se o proprietário tem raízes na nossa região.

José Teodoro Prata

sábado, 11 de junho de 2016

Tempos gloriosos


Aproveitando a maré.... queria acrescentar mais uma fotografia desses tempos idos e "gloriosos". 
É mais um boneco que o meu primo João "Brito" tirou. Naquele tempo, ele, juntamente com o Chico do Caldeira, eram os fotógrafos de "serviço". 
Esta fotografia foi tirada num domingo à tarde no então novíssimo café do "João "Cagarola" tempos áureos da construção da barragem, a empresa Terbal "construtora do grande lago" empregava muitos operários, os cafés, os comércios fervilhavam de gente, durante dois anos o marasmo desapareceu. Quem não se lembra "rapazes e raparigas do meu tempo" do gira discos que lá existia. metia-mos uma moeda de dez tostões num orifício, escolhíamos um disco (Roberto Carlos, Roberto Leal, tango dos barbudos...) um braço ia buscá-lo e era uma torrente a deitar música.
Esta barragem foi a primeira grande albufeira do concelho, na freguesia já existia outra: "Sales Viana ou Penedo Redondo" que se situa na ridente povoação do Casal da Serra, custou 472.000$00 e foi construída em 1934.
A cidade com o tempo foi crescendo, a água daquela barragem passou a ser insuficiente daí a necessidade de se construir novo lago: desta feita o local escolhido foi o Casal do Pisco.
Adjudicada à empresa Terbal pela quantia de:-29.971.012$10; tem 16 m de altura, armazena 1.400.000 metros cúbicos de água; e por aí fora...
Do lado de baixo da barragem situa-se este lindo edifício "Lugar do Ainda" que se estava a transformar numa ruína. Aqui está um exemplo que deve ser seguido, a história da casa mantêm-se, o espaço enriquecido e valorizado. (Quem acode à casa Cunha!...).
O padre José Maria Sarafana do Rosário viveu os últimos anos da sua vida neste lugar, Fonte da Pipa. Era um homem alto, seco de carnes, coxeava um pouco, olhar penetrante e grave. Durante muitos anos, paroquiou as paróquias alentejanas de Bencatel, São Romão, o histórico santuário de Nossa Senhora da Conceição e a bela igreja de São Bartolomeu em Vila Viçosa.
Todos os dias o senhor Manuel "criado da casa" se deslocava na sua bicicleta à vila buscar o correio, comprar o pão...
Era um senhor forte, alto. Assim que chegava à fonte encostava o velocípede à parede da casa do senhor João "Coxo" (actual sede da banda), entrava na taberna, emborcava um canjirão e seguia à sua vida.
Com estes entretantos, quase me ia esquecendo da rapaziada da fotografia.
Da esquerda para a direita: Jaime Madeira (Jaime scanta) a fazer o seu cigarrinho; depois sou eu, o Zémanel mosca, enrolando o cigarro; Joaquim Ambrósio (Jaquim parrego) pensativo; José Augusto (Zé do café) empinando um caneco; por fim Madeira (Tó scanta) com o  cigarro pronto para ser fumado. Encenação...
Aqui deixo mais esta: Bebe vinho, mas nunca bebas o siso.

J.M.S

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Vida



Nasceram no sábado passado. 
No início, foi o galo que iniciou os pintainhos na arte de encher a barriga, pois a mãe ficou dividida entre dar calor aos que teimavam em não aparecer e a urgência dos que saíam do ninho. 
Depois, ela assumiu por inteiro a educação dos juvenis. 
Nem me posso aproximar, como se vê pelo seu ar desconfiado!

José Teodoro Prata

terça-feira, 7 de junho de 2016

AINDA boas notícias


Passámos por lá há três anos, durante o passeio pedestre realizado por alturas da Feira do Artesanato. A casa já andava em obras nessa altura, mas não imaginava que ficasse tão linda!


Se o Padre Zé Sarafana cá voltasse nem ia acreditar…
Agora já ninguém tem desculpa para não vir à terra por falta de alojamento. Até eu, que estou aqui tão perto, fiquei com vontade de lá ir passar uns dias para usufruir daquele sossego.


M. L. Ferreira

domingo, 5 de junho de 2016

Juventude que já lá vais...


Quando recebi esta foto do Zé Teodoro que, por sua vez a recebera da Luzita Candeias (essa nossa menina!), para comentar qualquer coisa sobre ela, não sabia, num primeiro momento, o que dizer. Por isso, mal alvitrei o título deste texto que será, decerto, para vós, apenas um vulgaríssimo lugar comum.
Mas, bom, tinha, forçosamente, que pensar em juventude! Quantas alegrias, quantos projetos, quanta inspiração, quantos versos escritos, quantas coisas bonitas se escrevem sobre ela!
Depois, pensei no tempo, esse grande mestre! Aquele, como sabeis, do qual Santo Agostinho dizia não saber o que seria, se lhe perguntassem. Mas que saberia, com certeza, o que era, se não lhe perguntassem!
Ora, se o Santo não pôde defini-lo, como poderei eu, simples mortal, carregar sobre mim tão hercúlea tarefa?! Confessemos a nossa ignorância e não mexamos, pois, no assunto, porque nada sabemos sobre ele!
Só há uma coisa que sabemos: é a ação que ele tem sobre nós! Porque o sentimos! E é também o que experimentamos quando olhamos para uma fotografia da nossa juventude, como foi agora o meu caso, já que sou um dos que nela estão incluídos!
Mas, curiosamente, a surpresa, embora agradável, não foi total. E com isto espero não desiludir a Luzita. As razões são duas.
Em primeiro lugar, não é a primeira vez que, publicamente, faço o exercício de tentar identificar os figurantes de uma fotografia da nossa juventude em S. Vicente da Beira, tirada há décadas. Nesta, estou eu próprio e mais alguns que irei identificar. Já lá vamos! Mas havia outras fotografias em que estavam outros nossos coevos compagnos de route. Tal exercício aconteceu numa das “Noites da Taberna”, na Casa do Hipólito Raposo, organizadas pela Junta de Freguesia. Em que o José Manuel dos Santos apresentou uma fotografia com alguns jovens vicentinos que, a custo, lá consegui decifrar!
Em segundo lugar, porque a fotografia, que agora aqui se junta, já tinha sido exibida pelo Tó Sabino, o ano passado, nos dias das Festas de Verão, na praça, através de slide, num grande ecrã, nos intervalos da publicidade!
Sobre o caso, queria ainda dizer duas coisas. Desde logo, eu, pessoalmente, não fazia a mínima ideia que tinha tirado tal fotografia e muito menos sabia que alguém a tinha em seu poder. E nem sei como foi parar ao Tó Sabino. Ele saberá. Não cheguei a falar-lhe sobre isso. Ele já fez algumas exposições de fotografias antigas de pessoas e coisas ligadas a São Vicente. Mas, certamente, deve ter sido fornecida por algum dos que nela figuram.   

Depois, numa das noites de arraial das da Festas de Verão, quando a fotografia apareceu no ecrã da praça, sucedeu uma coisa curiosa. É que eu, neste caso, não consegui identificar todos os que lá estão! Apesar de eu próprio lá constar. E foi a Jú Jerónimo, estava ali perto, que me elucidou. Pelo que, se hoje consigo saber quem eles são (embora não saiba o nome de alguns, porque não são da vila), isso só foi possível com a ajuda dela!
O que posso dizer, então, sobre isto? É o seguinte: a fotografia deve ter sido tirada, talvez, em 1969 ou 1970, pelo João Duarte do Casal da Fraga, conhecido por João Brito ou João da Mila. Ele tinha uma máquina fotográfica a preto e branco e andava a tirar-nos fotografias para depois nos vender como recordação. O café onde foi tirada é, de facto, o da Sra. Tomásia, mas acho que, à data, ainda seria da Sra. Eulália. Digo isto porque na fotografia está um filho dela, o Júlio, e ao meio está um rapaz colega dele da tropa com uma bandeja com copos, na mão. Os figurantes são, então, da esquerda para a direita: Miguel Rodrigues (ou Miguel Prata), conhecido por Leca. A seguir está o João Pereira (para nós, João Rolo). Depois vem um indivíduo (filho?) de um feirante que vinha sempre às Festas de Verão (de quem não sei o nome). Ao meio, com a bandeja, está o rapaz que era colega de tropa do Júlio (de quem não sei o nome). Depois, atrás, e sempre no sentido indicado, está o Júlio, estou eu, o José Joaquim Roque Henriques (o Coluna), infelizmente já falecido. A seguir o Francisco Vitório (Chico da Mercês ou Chico Guião). Há ainda um outro personagem que mal se vê e por isso não se sabe quem é.
Antes de terminar deixem-me ainda que vos diga que a surpresa, embora não tendo sido total foi, isso sim, muitíssimo saborosa! Obrigado, Luzita e beijinhos!

Luzita Candeias (foto)

José Barroso (texto)

quinta-feira, 2 de junho de 2016

1895


1895, setembro; as parreiras deixavam ver entre a folhagem belos “gachos” de uvas prontos para serem colhidos, “algumas com muita parra e pouca uva”, as festas de verão estavam à porta; quarta-feira; lavradores e camponeses, começavam a faina, “embora alguns já andassem vindimando”.
Na Fonte Velha junto ao chafariz dornas, pipos, tonéis eram tratados com água para as aduelas incharem e o vinho novo não vazar por alguma frincha.
A praça municipal fervilhava de munícipes que vinham dos mais recônditos lugares para tratarem de assuntos inerentes às suas vidas, pagar a décima ou fazer compras no comércio que a circundava.
Ao fundo da praça ouvia-se o barulho cadenciado do martelo batendo na bigorna, ferrador não tinha mãos a medir ferrando as alimárias. O céu azul começou a toldar-se de nuvens escuras, grossas pingas começaram a cair, a poeira da praça num ápice se transformou em lama, a cachopada corria descalça lapacheirando-se uns aos outros.
Um cidadão com um saco na mão subiu o balcão da cadeia como habitualmente, entrou na câmara, entregou-o e saiu. Todos os dias fazia o trajecto S. Vicente, Castelo Novo à tarde; no outro dia de manhã regressava. Comboio levava e trazia as cartas, encomendas e todo o género de valores.
Uma carta chama a atenção ao presidente da câmara, “vinha do governo” ao lê-la, seu rosto ficou branco como a cal. Estava sonhando, só podia; dentro vinha uma cópia do diário do governo que suprimia o concelho, a chuva continuava a cair, o céu tristonho parecia querer comungar da mesma desgraça, o martelo continuava a bater na bigorna, as festas estavam à porta, o povo não queria acreditar, os principais monumentos da vila cobriram-se de faixas negras. “ o escudo que encima a velha fonte ainda se podem ver os pregos que serviram para o tapar com um pano preto, em sinal de luto”.
Ganhões atravessavam a praça transportando dornas cheias de uvas para serem desfeitas nas adegas. Os sinos dobravam, as pessoas choravam, a autonomia municipal deixou de existir.
A partir daquele momento a vila passou a ser uma simples freguesia sem qualquer poder administrativo. Depois; bem, depois, começou a debandada dos funcionários, a partida de muita gente para outras paragens, a vila a começou a fazer uma longa travessia no deserto. Durante muitas décadas o marasmo, o esquecimento, a apatia foram os “donos e senhores do burgo” sessenta e três anos depois a casa da câmara foi restaurada. As sonaves, os caibros e as telhas viam-se, não havia forro, os pardais e as andorinhas na primavera esvoaçavam fazendo seus ninhos nos caibros, de vez em quando uma chinca obrigava os alunos e terem que mudar as carteiras para que a água não caísse em cima das cabeças, os espaços onde outrora existiram repartições passou a haver jovens estudantes. Cada sala possuía duas classes; primeira com a terceira e a segunda com a quarta classe. Para além do quadro negro de ardósia na minha sala existia junto à janela um ábaco, as andorinhas e os pardais sobrevoavam o espaço chilreando e nós aprendíamos o bê á bá através de uma grande senhora, a professora dª Susana. Ao cimo do balcão da cadeia existiam duas portas, uma dava acesso directo à sala do antigo tribunal.
Com a remodelação do edifício essa porta desapareceu, a Domus foi restaurada, levou sobrado novo, forro, retretes,” um luxo”, salamandras que nos aqueciam durante os dias frios e chuvosos invernais.
Por essa altura a vila possuía muitos habitantes, as crianças de ambos os sexos em idade escolar andariam à volta de 120 alunos. A praça fervilhava de catraios correndo e brincando.
(…) Mais uns anos de pasmaceira, em 1961 rebenta a “bernarda” em Goa, Damão e Diu. Nehru invade com cerca de cinquenta mil soldados aquelas parcelas de território “Luso”.
Angola, Moçambique… seguem as pisadas, a partida dos mancebos para as ex colónias, emigração para os países devastados pela grande guerra, a sangria humana; a desertificação começa, a vila continua “pasmada”, nada de novo, até que 70 anos depois novo surto de desenvolvimento. Barragem, saneamento básico, água ao domicílio, luz eléctrica, “à meia-noite mais ou menos os candeeiros eram desligados ficando as ruas às escuras” A velhinha calçado basáltica foi substituída por paralelos graníticos; a estrada que liga Alcains ao Castelejo aos poucos foi sendo alcatroada 78 anos depois da queda do concelho, a Pequena Lisboa recebeu uma embaixada da Grande Lisboa, chefiava-a o presidente da câmara. Um “obelisco” é levantado na Fonte Velha para comemorar os oitocentos anos da deslocação de alguns homens bons à capital do reino para oferecerem o povoado ao rei D. Afonso Henriques.
A vila sempre a aumentar; novas artérias, casas, serviços, indústrias. A baixa densidade humana… a partida dos naturais procurando novos rumos transformaram-na. Na zona medieval vivem cada vez menos cidadãos, a maioria idosos, não há sangue novo.
No dia de Corpo de Deus, fizeram a primeira comunhão quatro crianças.
Com tantos melhoramentos que existem:- ”piscina, escola, banco, estradas (quase todas asfaltadas) falta a velhinha Cascalheira, santuário da Senhora da Orada primorosamente alindado, templos recuperados,… filarmónica, rancho, bombos, bombeiros, escoteiros… há cada vez menos pessoas a habitar a donairosa vila de São Vicente da Beira
Quo vadis interior!

J.M.S