sábado, 29 de julho de 2017

A nossa Beira

Beira charneca, Beira montanha
Beira campina, Beira em flor
Beira pinhal, Beira azenha
Beira meu bem, meu amor

Beira estevas, giestas
Rosmaninho, carqueja, alecrim
Beira de romarias e festas
Onde tudo é belo, nada é ruim

Beira de águas cristalinas
Refrescantes sem igual
Sejam fontes, presas ou minas
Não há melhor em Portugal

Beira da Senhora da Orada
Romaria sem rival
Fica na encosta da serra
Este santuário medieval

Senhora de São Vicente
Banhada pela ribeira
Grande fé tem nossa gente
Para nós, tu és a primeira

Tua água tem virtude
Para nossos males curar
Todos a bebem sem cessar
Para recuperar a saúde

Beira São Vicente
Do Santo Cristo milagreiro
Que bem a gente se sente
Na praça, no Seu terreiro

Beira São Vicente
Das filhoses e do Natal
Fritas na noite celestial.
Na praça, a fogueira aquece a gente

Beira das janeiras
Pelas ruas cantadas
Todos cantam sem peneiras
Sejam solteiras ou casadas

Beira dos entrudos
Mascarados a preceito
Magros, altos ou barrigudos
Cada um a seu jeito

 Beira da semana santa
A de São Vicente sem igual
Das ladainhas que a gente canta
Tradições sem rival

Cantam-se loas pungentes
Os martírios lembram a paixão
São assim estas gentes
Sejam, Vicentinos ou não

O São João é cantado
À volta da fogueira
Seja solteiro ou casado
É assim na nossa Beira

 Lá vem o Senhor Santo Cristo
Festa grande sem igual
Todo o Vicentino gosta disto
Não há outra em Portugal

Terra de grandes olivais
Vila bela e amorosa
Está cercada de pinhais
Meu lindo botão de rosa

Na torre tocam os sinos
Para o povo rezar
Na igreja cantam-se hinos
Para Cristo se adorar

Lá vem o povo leal
Sempre alegre e contente
Do Cimo, Caldeira, Fundo ou Casal
Bem-disposto e sorridente

Beira dos pífaros e pandeiros
Adufes e tocadores de bombos
Partida, Almaceda, São Vicente ou Pereiros…
Carregam-nos, pum, pum…aos seus ombros

Cedo de manhãzinha
Eis os bombos a chegar
O barulho já se avizinha
Lá vem o povo a cantar

Passa a banda Vicentina
Sempre muito afinadinhos
Ao passarem na esquina
Alegram todos os vizinhos

Zé da Villa

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Adro D. Sancho I



Vai ser à tangente, mas acho que tudo estará pronto para as Festas!

NOTAS:
Chamara-lhe praceta, mas mudei para adro, pois o espaço não pode/não deve ser batizado com um nome se já tem outro.
E D. Sancho I, para homenagearmos o rei que nos concedeu o foral e a quem nós nunca agradecemos.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Transporte de passageiros


Desculpe o torcicolo, mas a imagem não me obedece quando a mando ficar na vertical e, entre ficar assim e não publicar, optei por deixar ficar.
É publicidade ao serviço de "táxi", em 1916, publicada no jornal albicastrense O BEIRÃO, de 2 de dezembro.

José Teodoro Prata

domingo, 23 de julho de 2017

O lobisomem da Partida

Bem a avisaram que não casasse com ele, que havia ali coisa do diabo. Mas, já diziam os antigos, o amor é cego e ela não acreditava numa palavra do que ouvia. Onde lhe punham defeitos, ela só via qualidades: bom rapaz, trabalhador, não faltava ao respeito a ninguém. Ainda por cima bem parecido e com alguma coisa de seu. E casaram.

Apesar de não lhe terem agoirado nada de bom, era feliz e achava-se uma mulher com sorte. Cumpridor de todos os deveres conjugais assumidos no dia do casamento, o homem estimava-a, enchia-lhe a casa de tudo quanto era bom que trazia da horta e depressa a encheu também de filhos. Que mais podia ela querer?

Às vezes ainda se ria das más-línguas que lhe quiseram estragar o namoro e, mesmo já depois de casada, continuavam a encher-lhe a cabeça com patranhas: que era ele, transformado em lobo, que atacava os homens e animais que apareciam mordidos ou mortos em certos dias da semana; ou então, feito cavalo, andava por lá à solta em noites de lua cheia, atormentando quem se demorava nas hortas ou tinha que madrugar. Mas ela não dava ouvidos a ninguém, que havia muita gente assim, sem escrúpulos, capaz de dar cabo duma casa por tudo e por nada. Tudo invejas!

Nem mesmo quando ele se lhe escapava da cama, julgando-a a dormir, e voltava de madrugada, tão cansado que ela lhe ouvia o bater do coração, desconfiava de nada. Ficava numa inquietação, mas encontrava sempre uma explicação para aquelas saídas noturnas: ou era a presa que tinha que ser despejada; alguma vaca que estaria para parir ou uma encomenda de lenha de última hora. Confiava nele e não fazia perguntas. Já lhe bondava a lida da casa e os filhos, sempre tão asseados que era um regalo olhar para eles.

Uma vez, era inverno, e até parece que tinha parido a galega no forno da Barroca. Não que nos outros dias a forneira tivesse uma hora de descanso, que naquele tempo as casas estavam cheias de filhos e às vezes um tabuleiro de pão por semana não chegava para acalmar a fome a tanta boca. Mas naquele dia foi uma coisa por demais. De tal maneira que a vez dela ficou para tão tarde que já era noite alta quando o pão lhe saiu do forno e pôde voltar para casa. O que vale é que a lua estava tão grande que alumiava como se fosse dia.

Começou a subir a rua, com o tabuleiro à cabeça, e nisto ouviu um barulho que até parecia um tremor de terra; primeiro ao longe, depois cada vez mais perto, até que sentiu que estava mesmo encostadinho a ela. Só teve tempo de se atirar para a valeta para não ser levada à frente do que quer que aquilo fosse. Viu então que era um cavalo enorme que abrandou junto a ela, lhe abocanhou um bocado do xaile e continuou a galopar rua fora.

Um pouco mais acima era a casa de um dos cunhados, irmão do homem. Também deve ter ouvido o galope do cavalo e, mais que sabia ele do que se tratava, saiu da cama a correr e galgou as escadas até à loja das vacas que era mesmo por baixo da casa. Pegou no agulhão e espetou com ele no lombo do cavalo que se transformou logo ali no homem que era.

Quando a mulher chegou a casa, toda a tremer, encontrou o homem sentado ao cimo das escadas, a arfar, e ainda a tirar restos das franjas do xaile da boca. Nem quis crer no que os olhos dela estavam a ver, mas foi aí que o homem lhe confessou o mal que o atormentava desde novo e que tinha sido a ferroada do agulhão que o tinha feito perder a perneta.

M. L. Ferreira

sábado, 22 de julho de 2017

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Comunidade

Um dia, o Pe. Jerónimo confidenciou-me que tem uma enorme admiração pelos autarcas, de qualquer partido. Todos se entregam à comunidade que os elegeu, sacrificando as suas vidas a troco de nada, pois o subsídio que recebem muitas vezes nem dá para as despesas.
Estou de acordo com ele e por isso ando há que tempos para tratar o tema de hoje.
A “feira medieval” que marcou o fim do mandato da anterior equipa da Junta de Freguesia foi uma excelente festa (não gosto de feiras medievais, mas adoro as reconstituições históricas, tão ao gosto dos nórdicos), mas teve aspetos deploráveis. Houve momentos em que o jovem casal que dramatizou a animação quase caiu em desespero, tal era o alheamento de tanta gente, para não dizer recusa ostensiva em colaborar. Acho que pouquíssimas pessoas se aperceberam disto, mas vim de lá envergonhado e por isso enviei uma mensagem ao jovem casal a pedir desculpas.
Rei morto, rei posto. Ainda não havia rei posto, mas o antigo rei pouco mais tempo estaria no poder. Depois, não sei como se fez a transição do poder velho para o novo, mas desconfio que sem grandes proximidades.
Já me esquecera daquele episódio, mas infelizmente recordei-o neste janeiro, aquando da passagem do testemunho na Misericórdia, entre a antiga mesa e a eleita. Não estive presente, mas senti que os velhos não apareceram, porque já não era nada com eles, e os novos não terão sentido a sua falta.
Sei que os processos eleitorais têm a sua dinâmica própria, às vezes necessariamente injusta para algumas pessoas. Mas penso que, à parte disso, devemos valorizar tanto os que saem como os que entram e o momento da passagem do testemunho devia ser de grande confraternização e partilhas.
É uma questão de civismo. Vai sendo tempo de sermos uma comunidade madura!

Notas:
- Genericamente, as outras terras não são melhores que nós, temos algumas próximas bem piores, mas com os defeitos dos outros posso eu bem!
- Durante séculos, até há poucas dezenas de anos, os nossos poderes estiveram sempre nas mãos de uma pequena elite, marginalizando completamente a esmagadora maioria da população, que aliás estava demasiado ocupada com a sobrevivência, com o pão de cada dia. Por isso temos andado a aprender, é natural. Mas talvez seja chegado o tempo de dar o passo seguinte!
- Querem um exemplo de são convívio? No início do verão passado, um grupo de vicentinos promoveu uma ação de protesto contra a não limpeza das valetas da nossa estrada. Num domingo de manhã, juntaram-se e foram limpar eles as valetas. Quem me contou, disse-me que era um grupo de pessoas que queria concorrer à Junta de Freguesia contra a atual equipa. Estavam no seu direito e louvo a iniciativa.
Mais tarde, soube que o José Duarte (Zé Pasteleiro) ofereceu o almoço a todos, na Senhora da Orada. Embora possamos considerar este ato como um enorme furo político (ele é membro da atual junta), tenho a certeza de que nele esta fraternidade foi genuína.

José Teodoro Prata

Nada se perde...


José Teodoro Prata