quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Matilha dos Nove

«Minério na Paradanta? Ná… Por modos passou por lá muito, que no tempo da guerra havia muita candonga e contam-se algumas histórias. Esta foi logo no ano a seguir a eu ter saído da escola; vai lá um bom par d’anos. Já andava na resina e um dia cheguei a casa, já noite, e era um reboliço tão grande na terra que só visto: tinha vindo a Guarda e levado nove homens, todos algemados, para Castelo Branco. Só depois é que se soube o que tinha sucedido:
Na véspera, à tardinha, tinham chegado à entrada da Paradanta quatro homens, cada um com sua saca às costas. Chegaram lá a um certo sítio, apousaram as sacas e esconderam-nas debaixo dum aqueduto, tapadas com mato. Lá terão feito as contas e dois dos homens abalaram pelo mesmo caminho d’onde tinham vindo, os outros dois ficaram assentados ali ao pé, a fumar um cigarro. Passado um bocado também se meteram ao caminho, p’ros lados do Vale D’Urso. Por modos foram a comer a uma casa de pasto que por lá havia naquele tempo.    
Tiveram azar porque uma mulher que morava numa casa lá mais adiante tinha visto chegar aqueles estranhos e ficou à espreita, desconfiada, a ver o que é que eles faziam. Quando os viu abalar saiu porta fora e foi ver o que é que as sacas tinham. Assim que viu como é que elas estavam cosidas e o peso que tinham, desconfiou logo do que é que se tratava. Ainda quis pegar numa, mas não foi capaz de poder com ela. Foi então chamar um dos filhos que já tinha vindo da escola, e os dois lá conseguiram carregar uma das sacas até casa.
Puseram-se a fazer contas: não seriam menos de 50 quilos de minério, a um conto de réis cada um, dava cinquenta contos. Estavam ricos!
O cachopito ficou tão contente que, apesar da mãe lhe ter dito que não dissesse nada a ninguém, foi para a rua e contou logo ao primeiro que encontrou, o achado que tinham feito. E que no mesmo lugar ainda lá tinham ficado mais três sacas.
A notícia chegou depressa aos ouvidos do taberneiro que esfregou as mãos de contente e, juntamente com mais oito que àquela hora estavam a fazer sociedade na taberna, foram logo a correr para o sítio onde diziam que estavam as sacas.
Quando lá chegaram já lá estavam os outros dois homens, sentados à entrada do viaduto, ao pé da mercadoria. O taberneiro pegou na arma que trazia à cintura, deu dois tiros para o ar e berrou:
- Mãos ao ar e ala daqui p’ra fora!
Os outros nem se mexeram.
- Mas que mal é que tem estarmos aqui um pouco a descansar? Os caminhos não são públicos?
- Já disse o que tinha a dizer! Os primeiros foram p’ro ar, mas os próximos vão-vos direitos aos cornos!
Ao ouvirem isto, os dois homens levantaram-se e desataram a fugir estrada fora. Só devem ter parado já longe dali.
Por modos eram do Juncal, e eram contrabandistas de minério, mas deviam ter as costas bem quentes que ao outro dia apareceram na Paradanta uns poucos de guardas da GNR e, quem foi, quem não foi, conseguiram levar para Castelo Branco a matilha completa.
Passaram a noite nos calaboiços da prisão à espera de serem levados ao juiz no dia a seguir. Mas o taberneiro que é quem tinha sido o cabecilha daquilo, durante a noite começou com falinhas mansas para os outros: que podiam dizer ao juiz que ele não tinha tido culpa nenhuma; que só tinha ido apartar porque senão armava-se ali uma grande zaragata; que uma pessoa da categoria dele era uma vergonha se fosse presa e ficava com a vida desgraçada para sempre; e mais isto, e mais aquilo…
- Então vossemecê é que nos meteu nesta alhada toda e é que deu os tiros, e agora quer pôr-se de fora?! Não senhora; ou vamos todos p´ra cadeia ou não vai nem um!
- Se me safarem, prometo que dou um conto de réis a cada um de vós.
Olharam uns para os outros e concordaram.
- Assim é que é falar! Esteja descansado que a gente faz como vossemecê diz.
Naquele tempo um conto de reis era muito dinheiro, que um homem por dia não ganhava mais que sete e quinhentos; e não eram todos…
Foi solto o taberneiro e os outros ficaram presos durante um mês. Quando saíram vinham todos contentes e foram logo a ver se recebiam a paga pela mentira que tinham dito ao juiz, mas o outro negou-se. E que remédio tiveram senão calar-se, com medo, que ele era o Cabo d’Ordens e se os tomava de ponta, estavam desgraçados…
Ficaram conhecidos pela “Matilha dos Nove” para o resto da vida. E o Cabo d’Ordens não escapou da fama, mas nunca se provou…».

Nota: Esta história foi-me contada pelo Ti Chico quando, a propósito da história “As Mulheres da Paradanta” do Joaquim Bispo, lhe perguntei se era verdade que havia volfrâmio na terra dele. 

M. L. Ferreira

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Incêndios

Estamos em pleno verão, calores insuportáveis, o mercúrio do termómetro quando colocado em cima do parapeito da janela depressa atinge os quarenta e nove graus, tenho que o tirar, se o deixo ficar
A escala termométrica só chega aos cinquenta, o vidro rebentaria como já me aconteceu, antes que…
Na noite de natal o vento ficou norte; na noite de São João, idem; primavera amena, verão quente; contemos com um outono, frio, soleado, seco.
Tempo a jeito para os “profissionais” dos fogos poderem trabalhar.
Oxalá me engane.
Tem sido um fartar vilanagem.
Para além dos interesses vários, talvez haja por trás outros, ou seja: em tempos idos as terras pertenciam aos senhores; malados, plebeus tratavam-nas, viviam a vida desgraçadamente a troco de coisa nenhuma.
Os poderosos quererão voltar!? ...
Com tudo queimado, destruído, os velhos proprietários sem forças, exaustos, vão abandonando as terras, os filhos partem ou já partiram; acabam por vender as propriedades por dez réis de mel coado. Aos poucos, o capital vai juntando as parcelas, tomando conta.
Premonições!
Não sei quanto custará ao erário a despesa que os incêndios acarretam. Supunhamos que ao fim da época a desgraça que os fogos trouxeram provocou um rombo no orçamento de X.
Experimentem tirar ao valor orçamentado vinte por cento, nem mais um tostão.
Durante os meses frescos, atribuam esse valor aos proprietários das matas para que as limpem. Oitenta por cento seria suportado pelo erário público, os restantes vinte, pelos proprietários.
Desta maneira, dividindo o mal pelas aldeias, em meia dúzia de anos, as nossas florestas ficariam limpas, depois, era manter.
Onde a floresta fosse quase inexistente ou nascediça, as árvores deviam ser relentadas para que o fogo não entrasse com facilidade, procedendo-se à plantação de novas espécies, sempre que possível árvores autóctones. Carvalhos, sobreiras, azinheiras, oliveiras, castanheiros… ou outras, desde que oferecessem maior resistência ao lume.




O ar tornar-se-á cada vez mais irrespirável, as temperaturas aumentam, a chuva não vem no devido tempo, quando aparece cai com tamanha intensidade…onde passa destrói.
Verões cada vez mais quentes e secos…
Fogo controlado é benéfico, descontrolado é demolidor, medonho, horrível, vi-o há minha frente sem nada poder fazer.
Valeu-me a limpeza que tinha feito em volta da casa e do forno, os bombeiros chamados canarinhos fizeram um bom trabalho, o meu bem hajam .
Salvaram o que puderam, o resto ficou reduzido a cinzas e negro.
É medonho, horrível; o povo Vicentino destemido, valente, ajudou enfrentando com denodo, paixão e valentia este pavoroso incêndio que chegou ao cimo da Vila.
Vi baldes e outros utensílios cheios de água que se ia lançando nos restolhos, nas talocas de velhas oliveiras…
Povo que não dormia, só descansou quando o perigo passou.

J.M.S

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Ajuda aos bombeiros

A Junta de Freguesia de São Vicente da Beira agradece a todos os que colaboraram na recolha de bens para os Bombeiros, durante o Arraial Solidário que se realizou na Piscina de São Vicente da Beira, no dia 18 de Agosto.
Após uma semana em que o fogo deflagrou na nossa freguesia, atingindo as localidade de São Vicente da Beira e  Casal da Serra, onde parte da população chegou mesmo que ser evacuada, decidimos alterar o arraial com data de 15 para 18 de Agosto, apenas com o objectivo de o tornar solidário.
Assim, convidámos o Rancho Folclórico Vicentino a manter a sua presença no sentido da recolha ter mais impacto, já que os membros do Rancho, assim como as suas famílias contribuíram também para a recolha de bens.
Decidimos ainda que, como o momento não é propício a Festas, cancelar o 2º SUNSET que se realizava no sábado, dia 19 de Agosto. Elogiamos ainda a Comissão de Festas do Casal da Serra por ter mantido a realização da Festa de Verão, em Honra de Santo António.

Foram entregue na piscina os seguintes bens:

14  embalagens de bolacha Maria
12  embalagens de leite 1litro
29  pacotes de leite individual
38  embalagens de barras de cereais
7  packs de àgua de vários tamanhos
6  embalagens de sumos
4kg de maçã
1kg de bananas
4  bolos
1  lata de ananás
2  latas de atum

Ana Jerónimo Patrício

sábado, 19 de agosto de 2017

O apocalipse


São Vicente da Beira, 13 de agosto, 10 horas da manhã.
A foto, do André Varanda, parece uma das imagens do início do filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, ao som dos The Doors com a canção The End.


José Teodoro Prata
Foto de André Varanda

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Fogo da Gardunha


Casa sem porta, nem telhado.


Maçãs verdes assadas...


Mas as formigas já reconstruíram a casa!
José Teodoro Prata

domingo, 13 de agosto de 2017

Figos, 2017


Estava para vos anunciar, com pompa e circunstância, a abertura da temporada do figuinho.
Mas não o fiz a tempo. Hoje, o fogo reduziu tudo a cinzas.
Na Serra do Chico, nos Aldeões do Ernesto, na Barroca do João, no Ribeiro de Dom Bento do Zé, na Orada da Senhora (a capela salvou-se)...
Ao fim da tarde, já passara a ribeira e avançava na direção da Charneca, por cima do Balcaria.
Possivelmente, também já passou para a vertente norte da Gardunha, mas o fumo é tanto que não se vê.
O que fazer?
RECOMEÇAR!
José Teodoro Prata