segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Estrela de David

Com a morte de Saul, os israelitas proclamaram David seu rei. Este conquistou Jerusalém transformando-a na sua capital. A Arca da Aliança ficou na cidade que se transformou no centro religioso do povo hebreu. Salomão, filho do rei David, com a morte de seu pai, sobe ao trono. Foi no reinado deste rei que se ergueu o grandioso templo onde colocaram a Arca da Aliança.
Durante alguns séculos, o templo foi o local de reuniões e orações, até que o rei Nabucodonosor, rei dos babilónios invadiu a cidade e destruiu o templo. Os israelitas tiveram que fugir. Mais tarde, Ciro, rei dos persas, mandou reconstruir Jerusalém e o seu templo, ficando este a cargo dos judeus.
Era um templo magnífico, mas nada que se comparasse ao que Salomão tinha construído. Herodes, o grande, que era protegido do imperador Augusto, ofereceu-lhe muitas riquezas.
Os romanos comandados por Tito, voltaram a destruí-lo, incendiando-o. O povo judeu, sem Estado, dispersou-se por toda a parte; tolerados, perseguidos, massacrados, expulsos.
Muitos reis proibiram-nos de exercer qualquer profissão nas suas nações, exceptuando a medicina. São Luís, rei de França, obrigava-os a usar um sinal que os distinguia; em Espanha, já ganhavam a vida cultivando as terras, exercendo ofícios diversos e podendo participar também em negócios. Mais tarde tiveram de se converter ao cristianismo; chamavam a esta gente marranos.
A Igreja, os reis católicos, Isabel e Fernando, desconfiavam que continuavam a seguir a lei de Moisés dentro das casas e por isso promulgaram uma lei que decretava a sua expulsão, isto passou-se no ano 1492. Muitos partiram para Portugal. Pouco tempo depois, em 1496, D. Manuel I, para casar com a princesa Isabel, filha dos reis católicos, foi "obrigado" a expulsar os judeus de Portugal.
O nosso rei não queria perder estas pessoas e foi empaleando. Arranjou uma artimanha: os padres reuniam-nos nas praças e atiravam água para cima das suas cabeças tornando-os, desta maneira, aderentes da religião cristã. Uma vez baptizados, passavam a ser cristãos e já ninguém os podia expulsar de Portugal. Eram chamados cristãos-novos.
Apesar de tudo, muitos partiram: norte de África, Bélgica, Holanda…


David, pastor e músico, entrou para a corte do rei Saul como músico. Certo dia corajosamente enfrentou o gigante Golias. Com uma funda que trazia sempre consigo, matou-o. A sua fama cada dia que passava crescia, a inveja aumentava; por essa razão, foi obrigado a deixar a corte, mais tarde foi aclamado rei.
O rei David queria construir um grande e belo templo em Jerusalém, Deus não permitiu, coube a seu filho Salomão tal honra, porque David tinha passado grande parte da sua vida guerreando.
Atribuem-se ao rei David muitos dos salmos bíblicos: 
Feliz do homem que não segue o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem toma assento na reunião dos enganadores; antes na lei do Senhor põe o seu enlevo, e sobre ela medita dia e noite
É como a árvore plantada à beira das correntes, que dá o seu fruto na estação própria, cuja folhagem não murcha; tudo quanto faz redunda em bem”. Salmos 1-1,2,3.
A estrela de David é formada por dois triângulos iguais que se sobrepõem, um com a ponta virada para cima e o outro com a ponta virada para baixo, parecendo uma estrela.
O peso de dois quilos (ver imagem) que guardo religiosamente, possui a estrela de David.
Seria a marca do fabricante ou o símbolo que o encomendador? Neste caso alguém seguidor da Tora quis deixar o seu simbolo impresso no peso!
 Na vila de São Vicente da Beira, moraram muitas famílias judias, como atestam as cruzes cruciformes esculpidas nas ombreiras das portas, então…

Obra de consulta: ABCedário do Judaísmo, Público.

J.M.S 

sábado, 2 de setembro de 2017

O nosso falar: realengo

Os dicionários informam-me que realengo se refere ao que é próprio do rei. Tem o mesmo significado que reguengo, uma propriedade do rei.
Mas não era neste sentido que a minha mãe usada esta expressão, quando algum dos filhos não tinha tento na língua ou nas atitudes (ter tento, outra expressão interessante, que indica a atitude de ter cuidado com o que se diz ou faz).
Ter realengo é isso mesmo: ser cuidadoso no falar, no que se diz e como se diz. Também se aplica às atitudes, mas menos.
Ter realengo talvez tenha origem no imitar as maneiras formais de falar e se comportar da família real, em oposição ao falar e às atitudes rudes do povo. Uma coisa de outros tempos, portanto.

José Teodoro Prata

domingo, 27 de agosto de 2017

Alunos,1838

ANO LETIVO 1838-39
Escola de Ensino Primário de São Vicente da Beira
Mestre: Francisco Duarte Lobo
Alunos:
1 – António de Brito, filho de Bonifacio de Brito
2 – Antonio Duarte, filho de Joaõ Duarte Nepto
3 – Antonio Fernandes, filho de Antonio Baptista
4 – Antonio Henriques, filho de Joze Henriques
5 – Antonio Rodrigues, filho de Francisco Roiz Lobo
6 – Antonio da Silva, filho de Gonçalo Duarte
7 – Bonifacio Duarte, filho de Francisco Duarte Lobo
8 – Caetano Cardozo, filho de Francisco Cardozo
9 – Caetano Ramalho, filho de Manoel Joaquim
10 – Cypriano da Silva, filho de Francisco Roiz Lobo
11 – Domingos Vaz, filho de Joaõ Duarte Nepto
12 – Francisco da Conceiçam, filho de Joaõ da Conceiçaõ
13 – Francisco Folgozo, filho de Joze Folgozo
14 – Francisco Gomes, filho de Diogo Gomes
15 – Francisco Joaquim, filho de Joze Joaquim
16 – Francisco Roque, filho de Francisco Roque
17 – Joaõ Alvres, filho de Domingos Alvres
18 – Joaõ Agostinho, filho de Joaõ Agostinho
19 – Joaõ Cardozo, filho de Francisco Cardozo
20 – Joaõ do Couto, filho de Joaõ do Couto
21 – Joaõ Duarte Lobo, filho de Francisco Duarte Lobo
22 – Joaõ Ferreira Marques, filho de Joze Duarte Marques
23 – Joaõ Henriques, filho de Joaquim Henriques
24 – Joaõ Paulino, filho de Joaõ Paulino
25 – Joaquim Botelho, filho de Joaquim Botelho
26 – Joaquim de Brito, filho de Bonifacio de Brito
27 – Joaquim Marques, filho de Joze Joaquim
28 – Joaquim Marcelino, filho de …(omisso)
29 – Joaquim Ramalho, filho de Manoel Joaquim
30 – Joaquim Ramos, filho de Joze Ramos
31 – Joze da Conceiçaõ, filho de Joaõ da Conceiçaõ
32 – Joze Duarte Nepto, filho de Joaõ Duarte Nepto
33 – Joze Lalanda, filho de Joaõ Barbalhoz
34 – Lourenço dos Santos, filho de Domingos dos Santos
35 – Manoel de Brito, filho de Bonifacio de Brito
36 – Manoel da Conceiçam, filho de Joaõ da Conceiçaõ
37 – Manoel dos Santos, filho de Mathias dos Santos
38 – Manoel Henriques, filho de João Duarte Marques
39 – Manoel Paulino, filho de Manoel Paulino
40 – Manoel Alexandre, filho de Antonio Alexandre

NOTAS:
- Franciso Duarte Lobo, o mestre-escola, era proprietário, além de professor.

- É possível que alguns destes alunos fossem naturais das povoações anexas à Vila, residindo aqui em tempo de aulas. Isso acontecia no Sobral do Campo, cem anos antes, em que os filhos de alguns dos ilustres da região viviam no Sobral para terem aulas com o cura da terra. O que me leva a esta hipótese é o apelido Alexandre, gente da Partida originária da Póvoa de Rio de Moinhos. Mas faltam os Martins, os Fernandes...

José Teodoro Prata

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Matilha dos Nove

«Minério na Paradanta? Ná… Por modos passou por lá muito, que no tempo da guerra havia muita candonga e contam-se algumas histórias. Esta foi logo no ano a seguir a eu ter saído da escola; vai lá um bom par d’anos. Já andava na resina e um dia cheguei a casa, já noite, e era um reboliço tão grande na terra que só visto: tinha vindo a Guarda e levado nove homens, todos algemados, para Castelo Branco. Só depois é que se soube o que tinha sucedido:
Na véspera, à tardinha, tinham chegado à entrada da Paradanta quatro homens, cada um com sua saca às costas. Chegaram lá a um certo sítio, apousaram as sacas e esconderam-nas debaixo dum aqueduto, tapadas com mato. Lá terão feito as contas e dois dos homens abalaram pelo mesmo caminho d’onde tinham vindo, os outros dois ficaram assentados ali ao pé, a fumar um cigarro. Passado um bocado também se meteram ao caminho, p’ros lados do Vale D’Urso. Por modos foram a comer a uma casa de pasto que por lá havia naquele tempo.    
Tiveram azar porque uma mulher que morava numa casa lá mais adiante tinha visto chegar aqueles estranhos e ficou à espreita, desconfiada, a ver o que é que eles faziam. Quando os viu abalar saiu porta fora e foi ver o que é que as sacas tinham. Assim que viu como é que elas estavam cosidas e o peso que tinham, desconfiou logo do que é que se tratava. Ainda quis pegar numa, mas não foi capaz de poder com ela. Foi então chamar um dos filhos que já tinha vindo da escola, e os dois lá conseguiram carregar uma das sacas até casa.
Puseram-se a fazer contas: não seriam menos de 50 quilos de minério, a um conto de réis cada um, dava cinquenta contos. Estavam ricos!
O cachopito ficou tão contente que, apesar da mãe lhe ter dito que não dissesse nada a ninguém, foi para a rua e contou logo ao primeiro que encontrou, o achado que tinham feito. E que no mesmo lugar ainda lá tinham ficado mais três sacas.
A notícia chegou depressa aos ouvidos do taberneiro que esfregou as mãos de contente e, juntamente com mais oito que àquela hora estavam a fazer sociedade na taberna, foram logo a correr para o sítio onde diziam que estavam as sacas.
Quando lá chegaram já lá estavam os outros dois homens, sentados à entrada do viaduto, ao pé da mercadoria. O taberneiro pegou na arma que trazia à cintura, deu dois tiros para o ar e berrou:
- Mãos ao ar e ala daqui p’ra fora!
Os outros nem se mexeram.
- Mas que mal é que tem estarmos aqui um pouco a descansar? Os caminhos não são públicos?
- Já disse o que tinha a dizer! Os primeiros foram p’ro ar, mas os próximos vão-vos direitos aos cornos!
Ao ouvirem isto, os dois homens levantaram-se e desataram a fugir estrada fora. Só devem ter parado já longe dali.
Por modos eram do Juncal, e eram contrabandistas de minério, mas deviam ter as costas bem quentes que ao outro dia apareceram na Paradanta uns poucos de guardas da GNR e, quem foi, quem não foi, conseguiram levar para Castelo Branco a matilha completa.
Passaram a noite nos calaboiços da prisão à espera de serem levados ao juiz no dia a seguir. Mas o taberneiro que é quem tinha sido o cabecilha daquilo, durante a noite começou com falinhas mansas para os outros: que podiam dizer ao juiz que ele não tinha tido culpa nenhuma; que só tinha ido apartar porque senão armava-se ali uma grande zaragata; que uma pessoa da categoria dele era uma vergonha se fosse presa e ficava com a vida desgraçada para sempre; e mais isto, e mais aquilo…
- Então vossemecê é que nos meteu nesta alhada toda e é que deu os tiros, e agora quer pôr-se de fora?! Não senhora; ou vamos todos p´ra cadeia ou não vai nem um!
- Se me safarem, prometo que dou um conto de réis a cada um de vós.
Olharam uns para os outros e concordaram.
- Assim é que é falar! Esteja descansado que a gente faz como vossemecê diz.
Naquele tempo um conto de reis era muito dinheiro, que um homem por dia não ganhava mais que sete e quinhentos; e não eram todos…
Foi solto o taberneiro e os outros ficaram presos durante um mês. Quando saíram vinham todos contentes e foram logo a ver se recebiam a paga pela mentira que tinham dito ao juiz, mas o outro negou-se. E que remédio tiveram senão calar-se, com medo, que ele era o Cabo d’Ordens e se os tomava de ponta, estavam desgraçados…
Ficaram conhecidos pela “Matilha dos Nove” para o resto da vida. E o Cabo d’Ordens não escapou da fama, mas nunca se provou…».

Nota: Esta história foi-me contada pelo Ti Chico quando, a propósito da história “As Mulheres da Paradanta” do Joaquim Bispo, lhe perguntei se era verdade que havia volfrâmio na terra dele. 

M. L. Ferreira

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Incêndios

Estamos em pleno verão, calores insuportáveis, o mercúrio do termómetro quando colocado em cima do parapeito da janela depressa atinge os quarenta e nove graus, tenho que o tirar, se o deixo ficar
A escala termométrica só chega aos cinquenta, o vidro rebentaria como já me aconteceu, antes que…
Na noite de natal o vento ficou norte; na noite de São João, idem; primavera amena, verão quente; contemos com um outono, frio, soleado, seco.
Tempo a jeito para os “profissionais” dos fogos poderem trabalhar.
Oxalá me engane.
Tem sido um fartar vilanagem.
Para além dos interesses vários, talvez haja por trás outros, ou seja: em tempos idos as terras pertenciam aos senhores; malados, plebeus tratavam-nas, viviam a vida desgraçadamente a troco de coisa nenhuma.
Os poderosos quererão voltar!? ...
Com tudo queimado, destruído, os velhos proprietários sem forças, exaustos, vão abandonando as terras, os filhos partem ou já partiram; acabam por vender as propriedades por dez réis de mel coado. Aos poucos, o capital vai juntando as parcelas, tomando conta.
Premonições!
Não sei quanto custará ao erário a despesa que os incêndios acarretam. Supunhamos que ao fim da época a desgraça que os fogos trouxeram provocou um rombo no orçamento de X.
Experimentem tirar ao valor orçamentado vinte por cento, nem mais um tostão.
Durante os meses frescos, atribuam esse valor aos proprietários das matas para que as limpem. Oitenta por cento seria suportado pelo erário público, os restantes vinte, pelos proprietários.
Desta maneira, dividindo o mal pelas aldeias, em meia dúzia de anos, as nossas florestas ficariam limpas, depois, era manter.
Onde a floresta fosse quase inexistente ou nascediça, as árvores deviam ser relentadas para que o fogo não entrasse com facilidade, procedendo-se à plantação de novas espécies, sempre que possível árvores autóctones. Carvalhos, sobreiras, azinheiras, oliveiras, castanheiros… ou outras, desde que oferecessem maior resistência ao lume.




O ar tornar-se-á cada vez mais irrespirável, as temperaturas aumentam, a chuva não vem no devido tempo, quando aparece cai com tamanha intensidade…onde passa destrói.
Verões cada vez mais quentes e secos…
Fogo controlado é benéfico, descontrolado é demolidor, medonho, horrível, vi-o há minha frente sem nada poder fazer.
Valeu-me a limpeza que tinha feito em volta da casa e do forno, os bombeiros chamados canarinhos fizeram um bom trabalho, o meu bem hajam .
Salvaram o que puderam, o resto ficou reduzido a cinzas e negro.
É medonho, horrível; o povo Vicentino destemido, valente, ajudou enfrentando com denodo, paixão e valentia este pavoroso incêndio que chegou ao cimo da Vila.
Vi baldes e outros utensílios cheios de água que se ia lançando nos restolhos, nas talocas de velhas oliveiras…
Povo que não dormia, só descansou quando o perigo passou.

J.M.S

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Ajuda aos bombeiros

A Junta de Freguesia de São Vicente da Beira agradece a todos os que colaboraram na recolha de bens para os Bombeiros, durante o Arraial Solidário que se realizou na Piscina de São Vicente da Beira, no dia 18 de Agosto.
Após uma semana em que o fogo deflagrou na nossa freguesia, atingindo as localidade de São Vicente da Beira e  Casal da Serra, onde parte da população chegou mesmo que ser evacuada, decidimos alterar o arraial com data de 15 para 18 de Agosto, apenas com o objectivo de o tornar solidário.
Assim, convidámos o Rancho Folclórico Vicentino a manter a sua presença no sentido da recolha ter mais impacto, já que os membros do Rancho, assim como as suas famílias contribuíram também para a recolha de bens.
Decidimos ainda que, como o momento não é propício a Festas, cancelar o 2º SUNSET que se realizava no sábado, dia 19 de Agosto. Elogiamos ainda a Comissão de Festas do Casal da Serra por ter mantido a realização da Festa de Verão, em Honra de Santo António.

Foram entregue na piscina os seguintes bens:

14  embalagens de bolacha Maria
12  embalagens de leite 1litro
29  pacotes de leite individual
38  embalagens de barras de cereais
7  packs de àgua de vários tamanhos
6  embalagens de sumos
4kg de maçã
1kg de bananas
4  bolos
1  lata de ananás
2  latas de atum

Ana Jerónimo Patrício

sábado, 19 de agosto de 2017

O apocalipse


São Vicente da Beira, 13 de agosto, 10 horas da manhã.
A foto, do André Varanda, parece uma das imagens do início do filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, ao som dos The Doors com a canção The End.


José Teodoro Prata
Foto de André Varanda