domingo, 3 de janeiro de 2021

Os últimos diospiros


Hoje colhi os últimos diospiros da produção deste outono de 2020. Normalmente, nos sítios frios da Gardunha, ficam por amadurecer cerca de um terço dos frutos. Mas este novembro foi o mais quente desde que há registos e o início de dezembro também foi ameno, Resultado: aproveitou-se tudo, não ficou nenhum fruto por amadurecer na árvore.

Mais uma calamidade ambiental a meu favor, neste caso: como a atividade agrícola é rara no Ribeiro Dom Bento, os pássaros frugívoros são cada vez menos e alguns terão migrado neste outono-inverno. Consequência: pouco tive de partilhar com eles.

Valham-nos os meus vizinhos estrangeiros, que dos dois iniciais já vão em cinco. Com os novos residentes (sudaneses, ingleses, belgas) pode ser que a vida se endireite pelas nossas bandas!

José Teodoro Prata

Nota: fiz esta postagem antes de ver os comentários a aguardar publicação. Dois deles são da postagem anterior. Aqui deixo a informação e as minhas desculpas aos autores.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

12.º Aniversário


Castelo Branco é de saudade

Mais uma noite perdida Mais uma noite de fado É mais um dia de vida A recordar o passado. Saudades são pombas mansas A que nós damos guarida Um paraíso de lembranças Da mocidade perdida Se a neve cai ao de leve Sem mesmo haver tempestade O cabelo cor da neve Às vezes não é da idade. Pior que o tempo em nos pôr A cabeça encanecida São as loucuras de amor São os desgostos da vida. Para o passado não olhes Quando chegares a velhinho Porque é tarde e já não podes Voltar atrás ao caminho.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Rota do Olival

 




Há dias passei pelo Posto de Turismo de Castelo Branco e, além das três rotas de Almaceda, de uma das Sarzedas e da Rota da Gardunha, do Geoparque (já antigas), estava lá publicitada mais esta (nova).
As imagens aqui deixadas são partes dos folheto.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Natal

Estava a pensar no que podia publicar hoje e fiz uma viagem pelas publicações natalícias dos anos anteriores. Há tanta coisa linda que decidi convidar-vos a viajar pelo blogue, escrevendo Natal na janela do canto superior direito. 

Um bom Natal para todos e façam o favor de ser felizes também este ano. Se o Natal é quando o Homem quiser, ser feliz também depende, e muito, de nós.

José Teodoro Prata

domingo, 20 de dezembro de 2020

Fornos de cal

 Em muitas localidades pelo país fora, mas principalmente nas terras da Beira, eram dias de muito trabalho para as mulheres, os que antecediam a Semana Santa. As casas eram reviradas de alto a baixo, e todos os recantos, e todos os objetos, principalmente os de uso na cozinha, eram lavados a preceito, numa prática herdada, provavelmente, dos rituais de purificação dos nossos antepassados judeus.

Tachos, panelas e cafeteiras, enegrecidos pelos dias passados em cima das trempes ou diretamente sobre as brasas, eram esfregados com cinza e palha-de-aço, na rua ou nos quintais, muitas vezes na ribeira onde a água corrente facilitava a limpeza. Ficavam a reluzir como espelhos. Depois eram dependurados na cantareira, toda enfeitada com tiras de jornal, recortadas como se fossem rendas.

Paredes e tetos eram passados minuciosamente com o esfrunhador, de modo a remover teias de aranha e toda a fuligem que se tinha acumulando ao longo do inverno, e o chão era varrido e esfregado ainda com mais esmero que em todas as outras alturas do ano.

Mas os mais trabalhosos eram os dias da caiação. Começava-se cedo, às vezes de véspera, com a preparação da cal. Para as crianças, assistir a esta tarefa, era das primeiras e mais expetaculares experiências de magia a que assistíamos! Magia que fascinava, pela reação da mistura da cal com a água, mas que também alimentava nas nossas cabeças histórias de arrepiar. As paredes, enegrecidas pelo fumo da lareira, quase sempre em cozinhas sem chaminé, precisavam de várias demãos, mas não se desistia enquanto não estivessem brancas que nem neve. Às vezes parece que ainda sinto o cheiro a caiado de fresco que, dentro de casa, substituía o cheiro a fumo entranhado até á medula de tudo, ou que fugia para a rua e se espalhava no ar, purificador.

Visitei há tempos os fornos de cal de Escusa (entre Castelo de Vide e Marvão) e compreendi um pouco mais do processo de transformação por que passam as pedras de calcário trazidas das pedreiras, até ao produto pronto a ser utilizado nas nossas casas ou na indústria da construção. Não é muito fácil chegar lá porque não existe nenhuma indicação a sinalizar o local. Mas quem tem boca vai a Roma…


Este painel informativo, à entrada, diz o seguinte:

«Este conjunto monumental de nove fornos de cal e respetivas caleiras (pedreiras de onde se extraia a rocha calcária) é raro em Portugal e constitui um testemunho da importância que teve o fabrico de cal no concelho de Marvão. O seu número e concentração junto à cidade romana de Ammaia, assim como a identificação de materiais de construção do período romano junto aos fornos, leva os investigadores a concluir que estas estruturas poderão remontar à época do império romano.

Os fornos de cal são construções de alvenaria de pedra e tijolo, de planta circular, com uma pequena porta virada a sul, reforçada por duas paredes triangulares. Foram construídas em profundidade, envoltas por uma colina artificial denominada capelo, apresentando no interior a forma de um poço cilíndrico, rematado por uma cúpula imperfeita com abertura central. Na base, uma caldeira ao nível da porta, serve de alicerce às paredes superiores.

A alimentação do forno, o “empedre”, fazia-se primeiro através da abertura que dá acesso á caldeira e começava pela montagem das pedras “armadeiras”, de maiores dimensões, que se destinavam a estruturar a abóbada que servia de câmara de combustão. Sobre esta câmara o caleiro ia depositando as pedras “carregadouras”de menor dimensão e quando estas excediam a altura do portal, passavam a ser carregadas através da abertura superior do forno. 

Em muitos casos estas camadas de pedra eram alternadas com camadas de lenha. No final o topo era fechado com barro, deixando-se alguns orifícios para permitir controlar a combustão. O forno era aceso com a introdução de lenha na caldeira, que se ia abastecendo ao logo do período de combustão. A cozedura demorava geralmente dois dias e duas noites.

O processo envolvido nesta transformação denomina-se de calcinação e consiste numa reação química, com consumo de energia, na qual o principal constituinte das rochas calcárias extraídas das caleiras, o carbonato de cálcio (CaCO3) é aquecido entre os 850º C a 1000ºC. O calcário transforma-se em cal viva por oxidação do cálcio, libertando dióxido de carbono (CO2).

Para que este material se torne útil na construção, é preciso hidratá-lo, ou seja, juntar-lhe água, obtendo-se a cal hidratada, Ca(OH)2. Esta reação origina uma grande libertação de energia (aquecimento), na ordem dos 580ºC…… Tradicionalmente a cal hidratada é utilizada nas caiações e para execução de argamassas.

O conjunto de fornos de cal e caleiras de Escusa está classificado como monumento nacional»

Logo a seguir começam a avistar-se os fornos. São nove, ao todo, muito próximos uns dos outros. Alguns estão ainda em bom estado e conseguimos perceber o seu funcionamento. Outros estão muito maltratados.  

 




O espaço está rodeado de castanheiros centenários, autênticos monumentos, mas, embora esteja classificado como monumento nacional, o estado de abandono é chocante, com ervas e lixo a engolir o que resta de algumas dos fornos. Mesmo assim vale a pena ir até lá. Há muita coisa para ver (ou rever) ali por perto. E quase tudo a céu aberto, como convém por estes tempos.

M. L. Ferreira

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Francisco Diogo

Francisco Diogo nasceu em São Vicente da Beira, no dia 5 de julho de 1894. Era filho de João Diogo e Anacleta da Conceição, jornaleiros e moradores na rua do Eiró.

Alistou-se em 9 de julho de 1914, como recrutado, e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, contingente de Castelo Branco. Na altura era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro. Foi vacinado.

Embora a família de Francisco Diogo afirme que ele fez parte do CEP, o seu nome não consta da lista dos sanvicentinos que combateram em França, e, de acordo com a sua folha de matrícula, foi mobilizado para fazer parte da 2.ª Expedição enviada para o norte de Moçambique, em 24 de maio de 1915. Embarcou no dia 7 de outubro e chegou a Porto Amélia em 31 do mesmo mês. O efetivo desta Expedição ficou estacionado durante bastante tempo naquela cidade, em muito más condições, e só alguns meses mais tarde foi enviado para a fronteira com o território alemão. Contava que andou perdido e já o davam como morto quando, ao fim de algum tempo, conseguiu juntar-se à sua Companhia. Regressou à metrópole no dia 28 de setembro de 1916, desembarcando em Lisboa a 5 de novembro.

Foi licenciado em julho de 1919 e veio residir para São Vicente da Beira. Passou à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.

Da sua folha de matrícula militar consta o seguinte:

a)   Castigado com duas guardas, por ter sido visto sentado em cima de uma caixa de medicamentos;

b)   Teve 122 dias de licença, por motivos de doença, 30 dos quais em regime de internamento hospitalar, entre os anos de 1915 e 1917.

c)    Beneficiou também de 365 dias de licença, em 1918, e 175 dias, em 1919.

Condecorações:

·        Medalha Comemorativa das Operações Militares em Moçambique;

·        Medalha da Vitória

Família:

Francisco Diogo casou com Maria Madalena Saraiva, natural dos Pereiros, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, no dia 15 de setembro de 1918, e tiveram 6 filhos:

1.    João José Diogo, que foi padre e militar. Viveu em Portalegre onde, entre muitos outros cargos, foi solicitador e notário apostólico da Cúria Diocesana e capelão militar. Faleceu em Lisboa em 1974;

2.    José Diogo, que faleceu em outubro de 1922, com 9 meses de idade;

3.    Maria Luísa Diogo, que casou com Manuel Martins e tiveram um filho;

4.    António Diogo, que casou com Maria Roseiro Xavier e tiveram 2 filhos;

5.    Manuel Diogo, que casou com Antónia Barricho e tiveram 3 filhos;

6.    José Diogo, que casou com Maria da Conceição Xavier e tiveram 1 filho.

É possível que Francisco Diogo ainda tenha voltado a África, não se sabe se antes ou depois do casamento, mas terá regressado passado pouco tempo. Entre outras profissões que teve, foi motorista, provavelmente da família Cunha, conduzindo um dos primeiros automóveis que houve em S. Vicente.

Passados uns anos, já depois do nascimento dos filhos, a família foi residir para Salvaterra do Extremo, onde Francisco trabalhou muitos anos na Casa Veiga, uma grande casa agrícola, atualmente já extinta. Por causa disto, Francisco Diogo ficou conhecido em Salvaterra como Xico da Vêga.

Quem conviveu com ele lembra-o como uma pessoa muito trabalhadora, simpática e inteligente. Todas as pessoas gostavam de trabalhar com ele e respeitavam o que dizia, porque era justo e sabia mandar.

Era muito alegre e “renadio”; ao pé dele não havia tristezas. Tinha um grande sentido de humor e gostava muito de conversar e de contar histórias, a propósito de qualquer coisa: «Era um gosto ouvi-lo falar. Inventava histórias que a gente às vezes até pensava que eram verdadeiras, e o que ele dizia dava para escrever um romance.» (a nora Antónia Barricho).

Em Salvaterra também era conhecido pela sua generosidade. A qualquer pessoa que passasse perto da horta dele, oferecia do que houvesse: melancias, tomates, feijão, etc. E foi sempre muito amigo da família; ajudava os filhos em tudo aquilo que podia.

A sobrinha Maria do Céu Diogo também se lembra dele, e conta que vinha à terra com a mulher e os filhos, pelo menos uma vez por ano, e «…era uma alegria quando se juntavam os primos todos, nas Festas do Verão!».

Já no final da vida, Francisco e Maria Madalena passaram a residir em Castelo Branco, cidade onde vivia a filha Maria Luisa. Foi lá que faleceu Maria Madalena, em maio de 1967. Francisco Diogo faleceu passado pouco tempo, a 12 de setembro desse mesmo ano, dizem que com saudades da esposa. Tinha 73 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração das noras Antónia Barricho e Maria da Conceição Xavier, e da sobrinha Maria do Céu Diogo)


Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sábado, 12 de dezembro de 2020

E as serras

 É este o título da crónica do Miguel Esteves Cardoso, de 10 de dezembro, que podem(?) ler aqui: https://www.publico.pt/2020/12/10/opiniao/cronica/serras-1942345

José Teodoro Prata