Abertura ao público
Embora a Biblioteca ainda não
esteja organizada de acordo com as regras devidas (é um trabalho que leva muito
tempo), pensamos que já tem condições que permitem a sua reabertura e utilização
por todos os que gostem de livros ou que começam agora a descobri-los.
Esperamos que sejam muitos!
De acordo com as necessidades, esta informação (horário de funcionamento) pode ser reajustada.
Fotografias da Conceição Luzio
Uma mais valia para São Vicente, resultado de muito esforço das nossas vicentinas, é de louvar o trabalho voluntário efetuado, com muita vontade e enfrentando constrangimentos. Esperemos que haja empatia por parte da população, afinal os livros são os nossos melhores amigos.
ResponderExcluirTina Teodoro
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa e pelo trabalho.
Reconheço que, embora fazendo um certo esforço, padeço de iliteracia nas áreas da informática e do digital, uma vez que tudo isso apareceu, por assim dizer, há meia dúzia de dias! E salvo algumas exceções, isso acontece, inevitavelmente, com as gerações mais antigas. Costumo dizer que nasci 50 anos antes do tempo! O que, na verdade, não passa de uma ilusão! Visto que, em face do progresso, todas as pessoas, em todos os tempos e lugares, poderiam dizer o mesmo. No entanto, em determinados momentos, de acordo com o estádio da Ciência, esta parece dar saltos a que, normalmente, se chama mudança de paradigma. É o que eu acho que está a acontecer com a atual transição para o digital. E é por essa razão que é maior a dificuldade de as pessoas, não especializadas, poderem acompanhar o progresso na área.
Mas toda esta conversa para quê? É que eu julgo que nos fins do século XIX se verificou algo de idêntico. Percebeu-se a importância da Escola para a passagem da sociedade rural para a sociedade industrial e dos serviços, que se lhe seguiu. Isso não era possível, sem a população, em geral, saber, cada vez mais, sobre letras e números, o que já tinha sucedido em países mais avançados.
Em Portugal, a passagem da sociedade rural para uma sociedade mais moderna foi muito tardia e só veio a dar-se nos nossos dias, sobretudo com a revolução de 25abril74 e com a entrada do país para a UE.
Recordo-vos um poema de Augusto Gil, creio que de 1873, sobre a importância de saber ler, que é, verdadeiramente, delicioso e, ao mesmo tempo, retrata a sociedade portuguesa, marcadamente rural, daquela época.
« O EDITAL
Manuel era um petiz de palmo e meio
(ou pouco mais teria na verdade),
de rosto moreninho e olhar cheio
de inteligente e enérgica bondade.
Orgulhava-se dele o professor…
No porte e no saber era o primeiro.
Lia nos livros que nem um doutor,
fazia contas que nem um banqueiro…
Ora uma vez ia o Manuel passando
junto ao adro da igreja. Aproximou-se
e viu à porta principal um bando
de homens a olhar o quer que fosse.
Empurravam-se todos em tropel,
ansiosos por saberem, cada qual,
o que vinha a dizer certo papel
pregado com obreias no portal…
“Mais contribuições!” – supunha um.
“É pràs sortes, talvez” – outro volvia.
Quantas suposições! Porém, nenhum
sabia ao certo o que o papel dizia.
Nenhum (e eram vinte os assistentes)
sabia ler aqueles riscos pretos.
Vinte homens e talvez inteligentes,
mas todos – que tristeza analfabetos!…
Furou Manuel por entre aquela gente
ansiosa, comprimida, amalgamada,
como uma formiguinha diligente
por um maciço de erva emaranhada.
Furou, e conseguiu chegar adiante.
Ergueu-se nos pezitos para ver;
mas o edital estava tão distante,
lá tanto em cima, que o não pôde ler.
Um dos do bando agarrou-o então
e levantou-o com as mãos possantes
e calejadas de cavarem pão…
Houve um silêncio entre os circunstantes,
e numa clara voz melodiosa
a alegre e insinuante criancinha
pôs-se a dizer àquela gente ansiosa
correntemente o que o edital continha.
Regressava o abade do passal
a caminho da sua moradia.
Como era já idoso e via mal,
acercou-se para ver o que haveria…
E deparou com esse quadro lindo
duma criança a ler a homens feitos,
dum pequenino cérebro espargindo
luz naqueles cérebros imperfeitos…
Transpareceu no rosto ao bom abade
um doce e espiritual contentamento,
e a sua boca, fonte de verdade,
disse estas frases com um brando acento:
” – Olhai, amigos, quanto pode o ensino…
Alguns de vós são pais, outros avós,
pois só por saber ler, este menino
é já maior do que nenhum de vós!”
AUGUSTO GIL ».
Abraços, hã!
JB
Lindo poema!
ResponderExcluirE parabéns a quem tornou possível a abertura da Biblioteca, há tantos anos fechada. Pelas fotos, tem imensos livros e o espaço é acolhedor.
Que venham os leitores!