Fui
aos chocalhos; aproveitei o primeiro dia, andamos mais à vontade, menos pessoas;
gostei.
A
câmara do Fundão e a junta de freguesia de Alpedrinha em boa hora criaram este evento.
Já lá vão quinze anos, único na região, quiçá em Portugal. Atrai milhares de
pessoas de toda a nossa Beira e país.
No
belo solar do Picadeiro “Sarafanas” estava uma representação dos amigos
espanhóis, não sei se foi este ano a primeira vez, já se internacionalizou. Ruas
medievais apinhadas de gente; janelas, portas, lojas escancaradas onde se
expõem os mais diversos produtos:- gastronómicos, artesanais, artísticos… Diversão
a rodos, bombos, pandeiros, gaitas de fole, conjuntos, pífaros… a animação, é
grande.
Dá
gosto passear pelas ruas da bonita Alpedrinha, as casas bem conservadas mantêm
a traça original. Solares, capelas, a bela igreja paroquial, a monumental
fonte, o palácio do picadeiro, a capela do leão que nos recorda o célebre
cardeal. Parece que era aparentado com o nosso D. Álvaro da Costa. Ilustres, os
Costas.
Fui
aos chocalhos; há alguns anos que lá não ia, deixei o carro num parque
improvisado junto ao cruzamento das Atalaias, os autocarros transportam-nos
para o local, tudo muito bem organizado.
A
nossa vila também foi testemunha do fenómeno transumante; era garoto, na
estrada nova passavam enormes rebanhos de ovelhas a caminho do Alentejo. No
outono desciam a Estrela, na primavera regressavam na direcção dos montes
Hermínios. Era um espetáculo bucólico, pessoalmente adorava ver. O chocalhar
misturado com os assobios e as ordens dos pastores, formavam uma campestre
orquestra. Eram às centenas as ovelhas, uma nuvem de pó à medida que passavam, pastores
com seus safões, manta e alforge caminhavam. “Caminho faz-se caminhando, não é
verdade”!
A
vila possuía também grandes rebanhos, na casa conde havia um canzarrão enorme
chamava-se leão; só lhe faltava a juba, o pescoço estava enfeitado com uma
grande coleira de picos de ferro por causa dos lobos. Dizem que quando atacam
atiram-se logo ao pescoço do animal. O Leão estava protegido, um animal
corpulento como ele não precisaria. De vez em quando ia à praça passear, nós os
catraios, fazíamos festas ao Leão. Cabradas, ovelhadas; à noite, quando
regressavam das pastagens, o chocalhar e campainhar alegravam nossos largos e
ruas.
Não
chegou a meio século para a sociedade se transformar radicalmente. O chafariz
já não mata a sede aos animais, é uma peça decorativa, as bicas da fonte velha
já não enchem cântaros, regadores, baldes…
O
mundo pula e avança …
Resta
a recordação.
J.M.S
Já há algum tempo também aqui fiz referência às grandes mudanças ocorridas na nossa vila (e, praticamente, em todo o país) nos útimos 50 anos, num artigo com o título "Sabor Medieval"! Incluindo aquele chocalhar dos grandes rebanhos da Casa Conde (Ti' Antóno Dias) e da Casa Barriga/Visconde de Tinalhas (Ti' Albano Jerónimo) que passavam ao entardecer (ou amanhecer).
ResponderExcluirTudo se foi. Como naquele filme "Gone with the Wind". Tudo acabou. E essas são as nossas lembranças de meninos. De uma época que pouco se distinguia da Idade Média! Um dia, com certeza, voltaremos a este interessante tema.
Abraços.
ZB
Não conheço muito da Câmara do Fundão nem da Junta de Alpedrinha, mas parece que aquilo que fazem, fazem com alma e muito gosto, e não com o ar de enfado que vemos muitas vezes em alguns políticos.
ResponderExcluirTambém já estive no festival dos Chocalhos e é impressionante ver aquelas ruas cheias de gente a participar na festa, principalmente muita gente nova. Não será só por isto, mas é também uma maneira de atrair pessoas a terras onde já há tão pouca gente.
Ainda não foi há muito tempo, ouvi a notícia de uma cerimónia de apresentação de projetos autárquicos que visassem alterar a tendência de desertificação do interior do País. Achei um pouco estranho que referissem vários concelhos aqui à roda, mas não tivessem falado em Castelo Branco. Ainda tenho esperança que não tenha ouvido bem…
M. L. Ferreira
Eu, quase escândalo, nunca fui aos chocalhos.
ResponderExcluirO Fundão sabe promover. Castelo Branco também (Feijão da Lardosa, Feira do Azeite...), mas falta-lhe algum marketing.