TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO
Na minha terra Natal
Antigamente
Havia movimento
Havia mais gente
Antigamente
Na minha terra Natal
Havia muitas crianças
Que cantavam, pulavam alegremente
Na minha terra Natal
Havia muita gente
Antigamente
Na minha terra Natal
As pessoas trabalhavam
No campo, ou eram artesãos
Belos trabalhos saiam de suas mãos
Com suas canções alegravam
Os seus e nossos corações
Na minha terra Natal
Ainda a alva estava dormitando
O resineiro já ia a caminho do pinhal
Para extrair a resina ao pinheiro e cantando
Amava a floresta, não lhe fazia mal
Em todas as ruas havia um sapateiro
Sentado no tropeço a sola batia
Cortava, recortava e assim todo o dia
Fivela na mão transformava o cabedal
Nosso amigo sapateiro
Com as mãos calejadas
Batia, batia...
E eis umas botas cardadas
Em certas ruas um rumor se ouvia
Era a máquina de costura
O alfaiate cosia
Cortava o pano para as calças. para o casaco
Trabalhava noite e dia
De vez em quando fazia um fato macaco
E o alfaiate cortava
As medidas tirava
Suas mãos faziam maravilhas
Blusas, saias e camisas
O alfaiate costurava
Fazia aquilo que gostava
No largo principal
Estavam os latoeiros
Moldavam a folha de Flandres
Regadores, cântaros eram feitos no local
Eram uns tipos porreiros
Um deles era o "matador oficial"
Dos porcos da povoação
No tempo da matação
Era ele que matava o animal
Havia os fornos do povo
Que eram geridos pela forneira
Estavam sempre cheios como um ovo
O marido acendia a fogueira
Os pães eram sinalizados
Para as donas os conhecerem
Com uma caruma eram marcados
Mais uma tabuleirada
Para os familiares comerem
Havia muitos pedreiros
Que a pedra transformavam
Também havia carpinteiros
Que faziam janelas e portas
As suas profissões amavam
Também havia os ferreiros
Que o ferro moldavam
Os ferradores ferravam
Eram fortes e nada "pringueiros"
Havia muitas tabernas
Geridas pelos taberneiros
Serviam vinho ao copo
Às vezes os fregueses já não podiam com as pernas
Também havia muitos barbeiros
Os cabelos cortavam
As barbas escanhoavam
Eram uns tipos porreiros
Subia à torre o sacristão
Para o sino tocar
Punha o povo a rezar
Dlim,dlão; dlim, dlão
Havia muitas adegas com grandes tonéis
Que guardavam bom vinho
O litro era vendido a dez réis
Também havia quem cultivasse o linho
As mulheres iam para a ribeira
Lavar a roupa suja
Era posta a corar
Na erva da lameira
Depois de ensaboada
Com água corrente era lavada
Havia muitos ganhões
Que trabalhavam para os lavradores
Muitos eram patrões
Mas todos pegavam na charrua
Desfaziam os torrões
Lavravam a terra para as plantações
No carro transportavam de tudo os ganhões
Havia grandes cabradas
Por aqueles montes fora
Também havia grandes ovelhadas
Chocalhando a toda a hora
E o pastor
Nas noites frias
Embrulhava-se na sua manta
Era assim todos os dias
Na praça a ganapada
Na hora do recreio corria
Na escola levava-se reguada
Era assim na freguesia
Ao domingo todo o povo ia à igreja
Ouvir a palavra de Jesus
Que morreu por nós na cruz
Assim seja, assim seja...
Hoje os tempos outros são
Muito poucos os moradores
A morar na povoação
As ruas estão desertas
Até dói o coração
Zé da Villa