quinta-feira, 29 de julho de 2021

Testamentos

 Fazer testamento dos bens que se possuíam era uma prática comum já em várias civilizações antigas. Tinham como função principal expressar as últimas vontade do testador e, de certa forma, também a intenção de perpetuar a memória do falecido e a gratidão dos que eram beneficiados. Por vezes revelavam também a intenção de continuar a exercer algum poder e controlo social para além da morte.  

Em Portugal há referência a este documento desde quase a sua origem, nomeadamente nas indicações que os forais já davam sobre a forma como os bens da família podiam passar para o cônjuge ou para os descendentes, a equidade na partilha, a herança de dívidas, a validade do documento, etc. Mas terá sido pelas Ordenações Afonsinas, no século XV, que, de forma mais clara, ficaram estabelecidas as leis que regulamentavam esta matéria.

Pela grande influência da Igreja na vida das pessoas, orientando-as na prática das virtudes terrenas com vista a alcançarem as graças divinas, os testamentos, para além da indicação sobre a partilha dos bens materiais da família, refletiam também o medo e a preocupação com a vida para além da morte. Será devido a estas preocupações que, ao percorrermos os registos de óbito do século XVIII, disponíveis nos Registos Paroquiais, encontramos a transcrição de muitos testamentos, o que parece paradoxal, sabendo que a maior parte da população, por ser pobre, não tinha bens para legar aos descendentes ou outros familiares (em muitas das situações em que o falecido não tinha feito testamento ou codicilo, um espécie de testamento mais simples, o pároco dizia que era “por ser pobre”, o que, naquele tempo, significaria que não tinha quaisquer meios de sobrevivência; nestes casos a missa e o funeral eram feitos gratuitamente, por amor de Deus).

Para assegurar o perdão dos pecados cometidos e, muitas vezes, legitimar a aquisição e usufruto dos bens materiais durante a vida, uma parte muito significativa das disposições dos testamentos era dedicada a enumerar as missas, esmolas e outras obras de caridade a serem feitas após a morte do testador. Começavam quase todos da mesma maneira: a escolha da mortalha, o local da sepultura, quem iria acompanhar o funeral, as missas pela própria alma e pelas dos familiares (em alguns casos chegavam a ser às centenas), as esmolas aos pobres, à Igreja e às ordens religiosas, etc. Só depois de todas estas vontades bem descriminadas, surgiam as disposições relativas aos bens materiais: nomeação dos herdeiros e repartição da herança, e, se fosse o caso, pagamento de dívidas feitas em vida pelo autor do testamento.

No caso de pessoas com poucas posses, o testamento limitava-se quase sempre a referir o local da sepultura, as missas pela alma do próprio e outros familiares mais próximos, e a indicar alguns familiares a quem eram deixadas as roupas de uso pessoal ou de casa (quase sempre já usadas), alguns “trastes” de mobiliário e animais domésticos.   

Este testamento de Maria de Lemos Franca, falecida em 28 de fevereiro de 1766, é um bom exemplo do que eram as últimas vontades e a mentalidade de uma pessoa daquela época:

 



Deixo o essencial, mas ampliando o documento, consegue ler-se quase tudo.

Começa por dizer que quer que o seu corpo seja envolto no hábito de São Francisco e sepultado na igreja matriz, junto do altar de Nossa Senhora do Rosário; pede depois que seja acompanhada pelas Irmandades de que é irmã e que lhe seja feito um Ofício de nove (?) e que a ele assistam os padres que seus herdeiros determinarem (controlo da vida dos filhos depois da sua morte); que se lhe digam uma missas ao Anjo da Guarda, uma a Nossa Senhora da Piedade, uma a Santa Catarina, uma a São Francisco e Santo António, uma a São Vicente e uma a São José; que sejam ditas duas missas pelas penitências mal cumpridas, três pela sua alma, três pela alma de seu marido, três pela de seus pais e uma pela de sua tia; todas as missas seriam mandadas dizer por seus testamenteiros pela esmola de cem reis.

Depois destas disposições de carater mais espiritual, nomeia os seus herdeiros forçados (?), filhos legítimos tidos do casamento com Manuel de Andrade: Vicente José de Azevedo, Maria Joaquina de Andrade e Martinho de Andrade constituindo-os seus herdeiros universais e pedindo que sejam seus testamenteiros. Seguem-se depois as suas vontades quanto à divisão dos bens pelos filhos. É interessante a referência aos Canavéis de Cima e a umas casas que seriam de seus tios Simões e confinavam com as de sua filha Joaquina.

Outra referência interessante neste testamento é a que faz a uma rapariga chamada Manuela Maria, que teria na altura cerca de vinte anos e era pobre. Diz que é filha de Manuel de Andrade (seu marido?), e que vivia em sua casa desde os oito anos de idade, servindo-a a ela e a seus filhos sem nunca lhe ter sido retribuído o trabalho senão com algumas vestiduras. Pede que lhe sejam dados dezanove mil e duzentos reis e alguma roupa de cama e de vestir pelo muito trabalho que tem tido naquela casa e é bem merecida. Tudo isto por descargo de consciência, como diz.

Por último, declara que tem algumas dívidas que os filhos também conhecem e que, por terem sido feitas pelo casal, pede que sejam pagas com o dinheiro da herança.

Por este exemplo, que é relativamente simples comparado com outros que podemos encontrar nos Registos Paroquiais, conseguimos, entre outras coisas, perceber a importância dos testamentos para a compreensão das mentalidades e da vida social e económica de determinada época. Dão-nos também conta da demografia, das relações familiares próximas e de parentesco mais alargado ou de vizinhança. Dão ainda informação sobre as instituições religiosas existentes em cada localidade e do poder que exerciam sobre as pessoas, mesmo as mais ricas e informadas.

M. L. Ferreira

terça-feira, 27 de julho de 2021

Swot - Arte sacra

 Este texto é um dos comentários à publicação anterior, mas é demasiado importante para ficar lá "escondido", sobretudo por conter elementos novos.

Este era o ponto da minha projectada segunda entrega no âmbito desta discussão.

Assino por baixo do nosso património religioso como um dos pontos fortes de SVB.

Começando pelo acervo da arte sacra: recuperá-lo, sim senhor; instalá-lo, sim senhora. Acrescento: estudá-lo, conhecê-lo, passos necessários para o expor e o divulgar. O mais fácil (apesar das dificuldades inerentes) nestas coisas é instalar - o busílis está no que se faz com o acervo, no mínimo manter abertas as ditas instalações e visitável o acervo. Um caminho pode ser contratar alguém - pode ser feito através de uma bolsa, contratualizada e calendarizada - que faça esse trabalho.

Em segundo lugar, o restante património religioso católico - quem me antecedeu neste tema já escreveu o que basta, para já.

Terceiro: o património religioso de SVB não se esgota na dimensão católica. Um projecto deste tipo, a meu ver, deverá integrar o nosso passado judeu e o nosso passado da sua "liquidação". Com linhas diferentes, mas complementares: 1-conhecer esse passado (as pessoas, sua origem e vida em SVB, as práticas religiosas, e o seu devir enquanto comunidade, integrada ou separada, o que tiver sido); 2-integrar esse conhecimento numa geografia exterior a SVB, que abrange designadamente, mas não só, Idanha-a-Nova, de onde vieram para SVB muitos dos "judeus de SVB". 3-integração de SVB na rede nacional das judiarias e tirar partido (cultural, económico, etc.) dessa ligação.

Pontos fracos - se tem de ser: potencial deste projecto para ser identificado e assumido pela comunidade, os seus elementos mais activos e por quem tem (algum) poder como um dos 3 grandes desafios para os próximos, digamos, 5 anos.

José Miguel Teodoro

sábado, 24 de julho de 2021

Mais Swot

 A nossa arte sacra

Este assunto é para mim uma dor d´alma, como se costuma dizer. Neste caso, o positivo e o negativo são tão fortes que se equilibram, desequilibrando-me.

Pontos fortes:

- A nossa arte sacra vai da pintura à escultura (estatuária e relevo em pedra e metal) e da arte fixa à móvel.

- É rica e diversa, incidindo sobretudo no período manuelino-renascentista.

- A Santa Casa está a trabalhar num projeto de recuperação da Igreja da Misericórdia, nomeadamente da estrutura do teto e da sua pintura.

- Recentemente, parte da nossa arte sacra foi recuperada com vista à organização de um museu de arte sacra.  

- Está projetado um museu de arte sacra em São Vicente da Beira.

- É possível fazer um roteiro turístico com a nossa arte sacra.

- O museu de arte sacra e a nossa rota turística garantiriam pelo menos a contratação de uma pessoa, o que significa a fixação/permanência de uma família em São Vicente; ainda a vinda de forasteiros e o serviço de refeições, já sem falar da hipótese de realização de residências artísticas.

 

Pontos fracos:

- Tal como noutros assuntos, poucos são os vicentinos a valorizar esta nossa riqueza, em parte porque muito poucos a conhecem verdadeiramente e por isso ignoram o seu potencial.

- Continua a desfazer-se em pó o retábulo da Igreja de São Francisco do antigo convento das religiosas franciscanas atualmente na capela da Senhora da Orada (felizmente, a Partida já recuperou o seu retábulo franciscano, originário de um convento do Fundão).

- O projeto de um museu de arte sacra conheceu tantas vicissitudes que já podemos duvidar da sua concretização: escolha de um edifício (casa Hipólito Raposo, à Fonte Velha) sob o qual corre uma nascente de água no inverno; reconstrução do edifício sem a necessária impermeabilização do pátio e das valetas exteriores, assim como a não inclusão das janelas na recuperação, não tendo sido reparadas atempadamente as falhas e por isso estando perdida quase toda a recuperação feita; mudança do responsável do projeto, após um ou dois anos de trabalho; fraquíssimo empenho da Câmara Municipal e das instituições de São Vicente na sua concretização.

 

José Teodoro Prata

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Vamos discutindo o preço insuportável dos combustíveis enquanto podemos

Esta coisa das alterações climáticas tem muito que se lhe diga. Deixo-vos com este artigo, tirado do blog Estátua de Sal, que mostra a complexidade desta problemática.

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 19/07/2021)

O debate estrutural não é como manter preços dos combustíveis baixos. Não acontecerá. As pessoas têm de ser capazes de pagar as suas deslocações, mas as soluções de longo prazo terão de vir de transportes públicos gratuitos e de qualidade; políticas públicas de habitação agressivas; um investimento sem precedentes na ferrovia; e uma revolução económica inevitável que distribua riqueza em vez de a concentrar. Se estes debates forem perdidos, os negacionistas das alterações climáticas terão outros para oferecer.


Um estudo da “Nature” da semana passada concluiu que a região sudeste da Amazónia está, pela primeira vez, a emitir mais dióxido de carbono do que aquele que é capaz de absorver. Esta alteração dramática para o planeta deve-se a uma maior variabilidade do clima e à morte precoce árvores. A deflorestação só abreviou o processo. Entrámos naquela fase em que as alterações climáticas aceleram os próprios fatores de alterações climáticas, numa espiral infernal que rapidamente se tornará imparável.

Já não é preciso fazer um esboço dos efeitos desta espiral. Podemos vê-las na televisão, com temperaturas recorde nos EUA e no Canadá ou enchentes assustadoras na Alemanha. Podemos senti-las nas nossas vidas, ano após ano, cada vez mais assustadoras. A catástrofe climática anunciada já é de tal forma evidente nas nossas vidas que muitos deveriam ir apagar muitas piadinhas que escreveram sempre que fazia mais frio.

Também na semana passada, Bruxelas aprovou a meta de reduzir em 55% as emissões de CO2 até 2030. A meta, que parece quase impossível de atingir, está longe de ser ambiciosa. As associações ambientalistas afirmam que esta meta é ineficaz e não se baseia na ciência. Que seria necessária uma redução de pelo menos 65%. Seja como for, a Comissão também propõe banir a construção de novos carros a gasolina e gasóleo até 2035. Dito assim, muitos acreditarão que basta trocar de carro e tudo pode seguir como antes. Não pode, como percebemos sempre que discutimos as alternativas energéticas para mantermos a vida que temos. Descobrimos sempre que é insustentável se não mudarmos algumas coisas essenciais no nosso modo de vida. E tratam-se de escolhas coletivas e não, como gostam os que preferem abandonar a política para falar de ambiente, opções privadas com efeitos quase irrelevantes e acessíveis a muito poucos.

Enquanto estes debates se fazem, há dia a dia das pessoas. Os preços dos combustíveis atingem níveis insuportáveis. Não apenas em Portugal, mas em Portugal tem outro impacto nas despesas dos cidadãos. É absurdo dar lições ambientalistas a quem não sabe como pagar as suas deslocações diárias. Mas, mesmo que o cartel dos retalhistas seja vencido e que se baixem os impostos sobre os combustíveis, não é provável, com o caminho que o mundo leva, que os preços venham a baixar nos próximos anos. Nem podem. O debate politicamente sério não é esse. Nem seguramente como reduzir as ciclovias para não atrapalhar o trânsito. Dizer isto não é dizer que nos estamos nas tintas para os problemas quotidianos das pessoas. É que as soluções a longo prazo para esse quotidiano terão de vir de outro lado e não podem ser exclusivamente fiscais.

Os ecoliberais, grupo ideológico que crescerá à medida que a catástrofe se torne mais óbvia e o mercado se tenha de adaptar a ela, virão defender a seleção natural nesta nova era. Como em tudo, o mercado resolverá e as vítimas do costume serão danos colaterais. Os que “não se sabem adaptar”. Este discurso apenas levará o povo para as fileiras dos que lhe ofereçam a resposta fácil: não é preciso fazer nada porque o problema não existe. E é por isso que o debate ambiental, que tem sido enganadoramente técnico e por isso enganadoramente consensual, terá de ser apropriado pela política. Terá, horror dos horrores, de se ideologizar. As alterações climáticas não são ideológicas. Reagir a elas é apenas uma questão de sobrevivência. Mas a forma como isso será feito, quem fica pelo caminho e em que sociedade viremos é política.

O debate estrutural não é como manter preços de combustíveis baixos. Não acontecerá. É como ter transportes públicos urbanos e suburbanos gratuitos e de qualidade. Tão essencial para cada um e para todos, se queremos tirar quase todos os carros da rua, como a saúde e a educação. É como ter políticas públicas de habitação agressivas – também viradas para a classe média, mesmo que isso leve a ondas virais populistas de indignação dos que acham que o Estado Social deve ser voltar a ser um Estado assistencialista – que travem o êxodo para as periferias. É sobre um investimento sem precedentes na ferrovia e na alta velocidade, de que estamos deligados e por isso dependentes do avião. É, por fim, como conseguir que a revolução económica que inevitavelmente acontecerá crie mais emprego do que aqueles que destruirá e distribua riqueza em vez de a concentrar.

Se todos estes debates forem perdidos, os negacionistas – os teóricos, que recusam a realidade, e os práticos, que a aceitam, mas comportam-se como se ela não existisse – terão outro discurso para oferecer. Serão eles que levarão a melhor. Os nossos netos, os seus filhos e os netos deles não deixarão de nos tratar como a mais criminosa de todas as gerações. Com toda a razão.

José Teodoro Prata

domingo, 18 de julho de 2021

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Hermenegildo Marques

Hermenegildo Marques nasceu em São Vicente da Beira, no dia 25 de dezembro de 1895. Era filho de Manuel Marques, Guarda-Fiscal, natural do Sobral do Campo, e de Ana Martins.

Hermenegildo e esposa, à esquerda, com o filho ao centro

Assentou praça no dia 9 de julho de 1914, em Castelo Branco, e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, em 13 de janeiro de 1915. De acordo com a sua folha de matrícula, sabia ler e escrever mal e tinha a profissão de sapateiro. Foi vacinado.

Ficou pronto da instrução da recruta no dia 24 de maio de 1915 e foi licenciado em 26 do mesmo mês, indo domiciliar-se em Aranhas, Penamacor. Passado pouco tempo, foi novamente mobilizado e fez parte do contingente de reforço às tropas que se encontravam em Moçambique. Embarcou no dia 7 de outubro de 1915, integrando a 2.ª Expedição enviada para o norte daquela província ultramarina.

Tal como os seus companheiros de expedição, também terá ficado retido durante alguns meses em Porto Amélia, em muito más condições de higiene, alimentação e outras, e só em 1916 partiu para a zona de guerra, na fronteira com os territórios alemães.

Regressou à Metrópole a 28 de setembro de 1916, vindo residir para São Vicente da Beira. Passou ao 2.º escalão do Exército e ao 7.º Grupo de Bateria de Reserva, em 31 de dezembro de 1924, e ao Depósito de Licenciados do Regimento de Artilharia n.º 4, em agosto de 1926. Em setembro de 1930, passou à Companhia de Trem Hipomóvel e, em 31 de Dezembro de 1935, passou à reserva, por ter completado 45 anos de idade.

Condecorações:

  • Medalha comemorativa das campanhas em Moçambique;
  • Medalha da Vitória.

Família:

Hermenegildo Marques casou em São Vicente da Beira, com Maria da Ressurreição dos Santos, no dia 9 de abril de 1918, e foi aqui que lhes nasceram os 3 filhos que tiveram:

  1. João dos Santos Marques, que casou com Guilhermina(?) e tiveram 4 filhos;
  2. António Marques (06/10/19120), que casou com Ana de Jesus e tiveram 2 filhas;
  3. Maria da Luz Marques, que casou com Mário Pedro e tiveram 4 filhos. 

Casal Hermenegildo com familiares

Josefa, sogra de Hermenegildo, natural dos Pereiros

Casal Hermenegildo e sogra (à esquerda) com familiares

Casal da Fraga, 1955

Hermenegildo (em pé) com familiares à porta de Sebastião Jerónimo, no Casal da Fraga

Hermenegildo com a esposa junto da casa da sogra, no Casal da Fraga

Em 1927 o casal domiciliou-se em Lisboa, na rua Cidade de Cardiff, mas regressou a São Vicente da Beira, em Outubro de 1934. Foram depois viver para a Covilhã, onde Hermenegildo teve uma oficina de sapateiro. Contam que era um grande artista e tudo o que fazia (sapatos, carteiras e outros objetos) eram autênticas obras de arte. Trabalhou nessa profissão até ao fim da vida.

Dizem também que era uma pessoa muito alegre e um bom tocador de guitarra. Juntamente com o seu amigo José Cipriano (José da Silva Lobo), um grande cantador de fado, e outros rapazes da idade deles, faziam grandes farras percorrendo as ruas da Vila a tocar e a cantar, parando apenas à porta das tabernas para molhar a garganta e afinar a voz.

Hermenegildo faleceu ainda novo, na freguesia de Santa Maria Maior, Covilhã, no dia 20 de maio de 1959. Tinha 63 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração do neto Carlos Marques Pedro)


Maria Libânia Ferreira

Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Por falar em análise Swot...

 Peço desculpa pela sobriedade deste texto, o qual, penso que até toca as raias da aridez. Mas esta coisa das leis é assim mesmo! Achei, todavia, muito interessante trazê-lo aqui pela importância que poderá (ou poderia) ter a sua aplicação, em casos concretos, na Vila e sua freguesia; quer pelos imigrantes estrangeiros que aqui têm chegado, quer mais   pelos nossos jovens que têm que decidir o seu futuro. Mas vamos ao diploma legal que aqui está em causa. No fim, do texto logo vos direi a minha opinião.

Pelo Decreto-Lei n.º 64/2018 de 7 de agosto, foi criado em Portugal o Estatuto da Agricultura Familiar, cujo objeto visa, nos termos do seu artigo 2.º:

"a) Reconhecer e distinguir a especificidade da Agricultura Familiar nas suas diversas dimensões: económica, territorial, social e ambiental;

b) Promover políticas públicas adequadas para este extrato socioprofissional;

c) Promover e valorizar a produção local e melhorar os respetivos circuitos de comercialização;

d) Promover uma agricultura sustentável, incentivando a melhoria dos sistemas e métodos de produção;

e) Contribuir para contrariar a desertificação dos territórios do interior;

f) Conferir à Agricultura Familiar um valor estratégico, a ter em conta, designadamente nas prioridades das políticas agrícolas nacional e europeia;

g) Promover maior equidade na concessão de incentivos e condições de produção às explorações agrícolas familiares."

 

Quer dizer, é a própria lei que consagra aquilo a que, nesta análise, se podem considerar os pontos fortes. Não sou eu que o faço!  Além dos constantes das normas acabadas de referir, há vários outros (ver diploma)!

Muita gente, a começar pelos nossos pais, pensou, ao longo dos tempos, que não valia a pena produzir mais que aquilo de que necessitava para si, para a sua família e para os animais. Era a economia familiar de subsistência. As pessoas viviam daquela maneira, em que quase nada se estragava. Mas essa forma de viver era básica. Dizemos que era feliz! Pois sim! Mas penso que essa felicidade se refere mais aos tempos de criança e aos bons momentos. Isso sim! O resto não deixou saudades.

Para dar um exemplo quase da idade da pedra, posso testemunhar que quando tinha uma dor de dentes, como não havia dentistas, o meu pai dizia-me para pôr uma areia de sal no dente que o bicho assim sossegava! Perante isto, acho que não é preciso dizer mais nada! E eu ainda era daqueles que sempre tive sapatos e roupa e comida. Escuso de dizer algumas coisas que via nas famílias numerosas que, aos olhos da malta de hoje, parecerão barbaridades!  Por isso, fico por aqui.   

Mercê da alteração da legislação a nível sanitário, as pessoas já não podem criar livremente e abater animais de maior porte para alimentação. Embora isso também não seja necessário dado o acesso generalizado à alimentação. Aliás, relativamente às nossas comidas, o que hoje se verifica é uma seleção em que têm que se ter tomados em consideração critérios de escolha para uma boa saúde. Quem diria!

A grande inovação que este decreto-lei parece trazer é, para quem o lê, a possibilidade de o agente investidor poder, não só sobreviver com seu trabalho, mas escoar os seus excedentes para o mercado, através de canais determinados, coisa que antes não acontecia, pelo menos como agora foi legislado. E, com isso, compor os seus rendimentos diretos (em espécie) com outros (em moeda), por forma a viver com maior dignidade que noutros tempos.  Dantes, embora já houvesse essa possibilidade, ela apenas funcionava para certas quantidades e seria só reservada ao azeite e pouco mais.

Na hipótese do regime do presente decreto-lei entram todos os produtos e para qualquer quantidade! É, pelo menos, o que lá diz! 

Mas o texto legal continua com muitas outras coisas; desde benefícios fiscais, até às linhas de crédito, etc, etc.

Só que agora vem o pior. E o pior também está na lei. Senão vejamos e depois façamos algumas interrogações: 

Artigo 6.º

Direitos da Agricultura Familiar

"1 — A atribuição do título de reconhecimento do Estatuto permite o acesso:

...

e) Aos mercados e aos consumidores, concretizado através do apoio à criação e reativação de mercados de proximidade e de circuitos curtos de comercialização;

f) A um regime específico de contratação pública para fornecimento de proximidade de bens agroalimentares (escolas, hospitais, Instituições Particulares de Solidariedade Social e Forças Armadas);

Ora, é exatamente aqui que começam as dificuldades. Alguém me sabe dizer o que já foi feito para a "criação e reativação de mercados de proximidade e de circuitos curtos de comercialização"?

ou,

Se foi criado "um regime específico de contratação pública para fornecimento de proximidade de bens agroalimentares (escolas, hospitais, Instituições Particulares de Solidariedade Social e Forças Armadas"?

No primeiro caso, claro que não! No segundo, pode ter sido criado um regime específico de contratação, mas de nada serve!

Para ilustrar, dou apenas um exemplo:

Alguém acredita, por exemplo, que a Santa Casa da Misericórdia da Vila vai contratar o fornecimento da fruta, aproveitando os excedentes dos agricultores de São Vicente da Beira? Com certeza que não! E não há aqui nada mal! Apenas, não existe obrigatoriedade legal de contratação, nem de um lado nem do outro. Por isso, se houver alguns agricultores que têm excedentes vendem-nos, por norma, aos intermediários que têm os seus armazéns na A23 e estes é que os comercializam com os seus lucros! São estes que dispõem de quantidades suficientes para fornecer as instituições. Esses agricultores são, normalmente, os que já têm certas quantidades, porque têm pomares com essa finalidade. E os armazenistas não querem os pequenos excedentes. Por isso, tudo fica na mesma!

Estes são os pontos fracos desta análise. Não é preciso eu invocá-los porque eles também estão todos na lei ou, melhor, na impossibilidade de esta ser concretizada.

É mais um daqueles normativos legais que parece muito bom, mas que, salvo raras exceções, vem apenas carregado de boas intenções. No entanto, se, na verdade, fosse aplicável à generalidade das famílias que pudessem fazer da agricultura a sua vida, então era mesmo capaz de ser revolucionário para a nossa região! Mas, infelizmente, parece que não!

José Barroso    

terça-feira, 13 de julho de 2021

Análise Swot

Diz-me a Wikipédia que Análise SWOT ou Análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças, em português) é uma técnica de planeamento estratégico utilizada para auxiliar pessoas ou organizações a identificar forças, fraquezas, oportunidades, e ameaças relacionadas à competição em negócios ou planejamento de projetos. Destina-se a especificar os objetivos de riscos do negócio ou projeto e identificar os fatores internos e externos que são favoráveis e desfavoráveis para alcançar esses objetivos.

 

O José Miguel Teodoro já deu o pontapé de saída neste debate e hoje secundo-o (mas não sei se conseguirei swotar corretamente).

 

A barragem do Pisco

Pontos fortes:

Biodiversidade da fauna e da flora;

Beleza paisagística;

Clima amenizado pela massa de água;

Facilidade de criar um circuito pedestre de média distância (cerca de 6 km?), de grau de dificuldade fácil, de forma circular (com partida e chegada à nossa praça;

Possibilidade futura da existência uma praia fluvial e da prática de desportos aquáticos na albufeira (se continuar desativada para abastecimento de água ao domicílio);

Existência, a jusante, de uma casa de turismo rural (Lugar do Ainda) e de uma quinta de agricultura biológica (Fonte da Pipa – família inglesa), a integrar no circuito pedestre;

Encontra-se à venda a quinta do Casal do Pisco.

Pontos fracos:

O circuito pedestre teria de ter um troço na estrada, entre o fundo da Barreira do Hospital e o Alto da Fábrica; o ideal seria passar do fundo da Oriana para o Casal do Pisco, mas o espaço necessário (algumas dezenas de metros) é propriedade privada e ainda teria de se romper o muro do Casal do Pisco, também privado. É possível aglutinar vontades?

O percurso pedestre já foi marcado há alguns anos, mas nunca foi divulgado (não existe folheto no Turismo de Castelo Branco), nem se fez a sua manutenção, pelo que troços do percurso desapareceram na vegetação, assim como a respetiva sinalética. Penso que não existe oficialmente e a junta de freguesia que o criou deixou-o também morrer. Vários mandatos de junta se seguiram, sem que o projeto tenha sido retomado e concluído. Desconheço os motivos.

Há gente e vontade para fazer a manutenção do percurso, em regime de voluntariado, se acaso a sua manutenção falhou por falta de meios da junta? (à semelhança do que se faz/fazia na Senhora da Orada). Noticiou-se há dias que os reclusos do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco vão ser envolvidos nos arranjos dos espaços verdes do concelho…

Quererá a nova junta, a eleger em breve, abraçar este projeto, dando-lhe existência legal e efetiva?

 

José Teodoro Prata