segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Rota do Olival

 




Há dias passei pelo Posto de Turismo de Castelo Branco e, além das três rotas de Almaceda, de uma das Sarzedas e da Rota da Gardunha, do Geoparque (já antigas), estava lá publicitada mais esta (nova).
As imagens aqui deixadas são partes dos folheto.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Natal

Estava a pensar no que podia publicar hoje e fiz uma viagem pelas publicações natalícias dos anos anteriores. Há tanta coisa linda que decidi convidar-vos a viajar pelo blogue, escrevendo Natal na janela do canto superior direito. 

Um bom Natal para todos e façam o favor de ser felizes também este ano. Se o Natal é quando o Homem quiser, ser feliz também depende, e muito, de nós.

José Teodoro Prata

domingo, 20 de dezembro de 2020

Fornos de cal

 Em muitas localidades pelo país fora, mas principalmente nas terras da Beira, eram dias de muito trabalho para as mulheres, os que antecediam a Semana Santa. As casas eram reviradas de alto a baixo, e todos os recantos, e todos os objetos, principalmente os de uso na cozinha, eram lavados a preceito, numa prática herdada, provavelmente, dos rituais de purificação dos nossos antepassados judeus.

Tachos, panelas e cafeteiras, enegrecidos pelos dias passados em cima das trempes ou diretamente sobre as brasas, eram esfregados com cinza e palha-de-aço, na rua ou nos quintais, muitas vezes na ribeira onde a água corrente facilitava a limpeza. Ficavam a reluzir como espelhos. Depois eram dependurados na cantareira, toda enfeitada com tiras de jornal, recortadas como se fossem rendas.

Paredes e tetos eram passados minuciosamente com o esfrunhador, de modo a remover teias de aranha e toda a fuligem que se tinha acumulando ao longo do inverno, e o chão era varrido e esfregado ainda com mais esmero que em todas as outras alturas do ano.

Mas os mais trabalhosos eram os dias da caiação. Começava-se cedo, às vezes de véspera, com a preparação da cal. Para as crianças, assistir a esta tarefa, era das primeiras e mais expetaculares experiências de magia a que assistíamos! Magia que fascinava, pela reação da mistura da cal com a água, mas que também alimentava nas nossas cabeças histórias de arrepiar. As paredes, enegrecidas pelo fumo da lareira, quase sempre em cozinhas sem chaminé, precisavam de várias demãos, mas não se desistia enquanto não estivessem brancas que nem neve. Às vezes parece que ainda sinto o cheiro a caiado de fresco que, dentro de casa, substituía o cheiro a fumo entranhado até á medula de tudo, ou que fugia para a rua e se espalhava no ar, purificador.

Visitei há tempos os fornos de cal de Escusa (entre Castelo de Vide e Marvão) e compreendi um pouco mais do processo de transformação por que passam as pedras de calcário trazidas das pedreiras, até ao produto pronto a ser utilizado nas nossas casas ou na indústria da construção. Não é muito fácil chegar lá porque não existe nenhuma indicação a sinalizar o local. Mas quem tem boca vai a Roma…


Este painel informativo, à entrada, diz o seguinte:

«Este conjunto monumental de nove fornos de cal e respetivas caleiras (pedreiras de onde se extraia a rocha calcária) é raro em Portugal e constitui um testemunho da importância que teve o fabrico de cal no concelho de Marvão. O seu número e concentração junto à cidade romana de Ammaia, assim como a identificação de materiais de construção do período romano junto aos fornos, leva os investigadores a concluir que estas estruturas poderão remontar à época do império romano.

Os fornos de cal são construções de alvenaria de pedra e tijolo, de planta circular, com uma pequena porta virada a sul, reforçada por duas paredes triangulares. Foram construídas em profundidade, envoltas por uma colina artificial denominada capelo, apresentando no interior a forma de um poço cilíndrico, rematado por uma cúpula imperfeita com abertura central. Na base, uma caldeira ao nível da porta, serve de alicerce às paredes superiores.

A alimentação do forno, o “empedre”, fazia-se primeiro através da abertura que dá acesso á caldeira e começava pela montagem das pedras “armadeiras”, de maiores dimensões, que se destinavam a estruturar a abóbada que servia de câmara de combustão. Sobre esta câmara o caleiro ia depositando as pedras “carregadouras”de menor dimensão e quando estas excediam a altura do portal, passavam a ser carregadas através da abertura superior do forno. 

Em muitos casos estas camadas de pedra eram alternadas com camadas de lenha. No final o topo era fechado com barro, deixando-se alguns orifícios para permitir controlar a combustão. O forno era aceso com a introdução de lenha na caldeira, que se ia abastecendo ao logo do período de combustão. A cozedura demorava geralmente dois dias e duas noites.

O processo envolvido nesta transformação denomina-se de calcinação e consiste numa reação química, com consumo de energia, na qual o principal constituinte das rochas calcárias extraídas das caleiras, o carbonato de cálcio (CaCO3) é aquecido entre os 850º C a 1000ºC. O calcário transforma-se em cal viva por oxidação do cálcio, libertando dióxido de carbono (CO2).

Para que este material se torne útil na construção, é preciso hidratá-lo, ou seja, juntar-lhe água, obtendo-se a cal hidratada, Ca(OH)2. Esta reação origina uma grande libertação de energia (aquecimento), na ordem dos 580ºC…… Tradicionalmente a cal hidratada é utilizada nas caiações e para execução de argamassas.

O conjunto de fornos de cal e caleiras de Escusa está classificado como monumento nacional»

Logo a seguir começam a avistar-se os fornos. São nove, ao todo, muito próximos uns dos outros. Alguns estão ainda em bom estado e conseguimos perceber o seu funcionamento. Outros estão muito maltratados.  

 




O espaço está rodeado de castanheiros centenários, autênticos monumentos, mas, embora esteja classificado como monumento nacional, o estado de abandono é chocante, com ervas e lixo a engolir o que resta de algumas dos fornos. Mesmo assim vale a pena ir até lá. Há muita coisa para ver (ou rever) ali por perto. E quase tudo a céu aberto, como convém por estes tempos.

M. L. Ferreira

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Francisco Diogo

Francisco Diogo nasceu em São Vicente da Beira, no dia 5 de julho de 1894. Era filho de João Diogo e Anacleta da Conceição, jornaleiros e moradores na rua do Eiró.

Alistou-se em 9 de julho de 1914, como recrutado, e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, contingente de Castelo Branco. Na altura era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro. Foi vacinado.

Embora a família de Francisco Diogo afirme que ele fez parte do CEP, o seu nome não consta da lista dos sanvicentinos que combateram em França, e, de acordo com a sua folha de matrícula, foi mobilizado para fazer parte da 2.ª Expedição enviada para o norte de Moçambique, em 24 de maio de 1915. Embarcou no dia 7 de outubro e chegou a Porto Amélia em 31 do mesmo mês. O efetivo desta Expedição ficou estacionado durante bastante tempo naquela cidade, em muito más condições, e só alguns meses mais tarde foi enviado para a fronteira com o território alemão. Contava que andou perdido e já o davam como morto quando, ao fim de algum tempo, conseguiu juntar-se à sua Companhia. Regressou à metrópole no dia 28 de setembro de 1916, desembarcando em Lisboa a 5 de novembro.

Foi licenciado em julho de 1919 e veio residir para São Vicente da Beira. Passou à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.

Da sua folha de matrícula militar consta o seguinte:

a)   Castigado com duas guardas, por ter sido visto sentado em cima de uma caixa de medicamentos;

b)   Teve 122 dias de licença, por motivos de doença, 30 dos quais em regime de internamento hospitalar, entre os anos de 1915 e 1917.

c)    Beneficiou também de 365 dias de licença, em 1918, e 175 dias, em 1919.

Condecorações:

·        Medalha Comemorativa das Operações Militares em Moçambique;

·        Medalha da Vitória

Família:

Francisco Diogo casou com Maria Madalena Saraiva, natural dos Pereiros, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, no dia 15 de setembro de 1918, e tiveram 6 filhos:

1.    João José Diogo, que foi padre e militar. Viveu em Portalegre onde, entre muitos outros cargos, foi solicitador e notário apostólico da Cúria Diocesana e capelão militar. Faleceu em Lisboa em 1974;

2.    José Diogo, que faleceu em outubro de 1922, com 9 meses de idade;

3.    Maria Luísa Diogo, que casou com Manuel Martins e tiveram um filho;

4.    António Diogo, que casou com Maria Roseiro Xavier e tiveram 2 filhos;

5.    Manuel Diogo, que casou com Antónia Barricho e tiveram 3 filhos;

6.    José Diogo, que casou com Maria da Conceição Xavier e tiveram 1 filho.

É possível que Francisco Diogo ainda tenha voltado a África, não se sabe se antes ou depois do casamento, mas terá regressado passado pouco tempo. Entre outras profissões que teve, foi motorista, provavelmente da família Cunha, conduzindo um dos primeiros automóveis que houve em S. Vicente.

Passados uns anos, já depois do nascimento dos filhos, a família foi residir para Salvaterra do Extremo, onde Francisco trabalhou muitos anos na Casa Veiga, uma grande casa agrícola, atualmente já extinta. Por causa disto, Francisco Diogo ficou conhecido em Salvaterra como Xico da Vêga.

Quem conviveu com ele lembra-o como uma pessoa muito trabalhadora, simpática e inteligente. Todas as pessoas gostavam de trabalhar com ele e respeitavam o que dizia, porque era justo e sabia mandar.

Era muito alegre e “renadio”; ao pé dele não havia tristezas. Tinha um grande sentido de humor e gostava muito de conversar e de contar histórias, a propósito de qualquer coisa: «Era um gosto ouvi-lo falar. Inventava histórias que a gente às vezes até pensava que eram verdadeiras, e o que ele dizia dava para escrever um romance.» (a nora Antónia Barricho).

Em Salvaterra também era conhecido pela sua generosidade. A qualquer pessoa que passasse perto da horta dele, oferecia do que houvesse: melancias, tomates, feijão, etc. E foi sempre muito amigo da família; ajudava os filhos em tudo aquilo que podia.

A sobrinha Maria do Céu Diogo também se lembra dele, e conta que vinha à terra com a mulher e os filhos, pelo menos uma vez por ano, e «…era uma alegria quando se juntavam os primos todos, nas Festas do Verão!».

Já no final da vida, Francisco e Maria Madalena passaram a residir em Castelo Branco, cidade onde vivia a filha Maria Luisa. Foi lá que faleceu Maria Madalena, em maio de 1967. Francisco Diogo faleceu passado pouco tempo, a 12 de setembro desse mesmo ano, dizem que com saudades da esposa. Tinha 73 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração das noras Antónia Barricho e Maria da Conceição Xavier, e da sobrinha Maria do Céu Diogo)


Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sábado, 12 de dezembro de 2020

E as serras

 É este o título da crónica do Miguel Esteves Cardoso, de 10 de dezembro, que podem(?) ler aqui: https://www.publico.pt/2020/12/10/opiniao/cronica/serras-1942345

José Teodoro Prata

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Ainda as nossas fontes

 Sei que um dos projetos, a curto prazo (também já não tem muito tempo), do executivo da Junta de Freguesia é melhorar o estado das nossas fontes, nomeadamente as fontes de mergulho e a reabilitação daquelas que já há muito tempo não são utilizadas (Santo André, Fonte Ferreira e outras que existem na freguesia).

O trabalho começou nas duas fontes de mergulho da Partida: 

A fonte de Santiago


 A fonte das Hortas

Não sei avaliar se a intervenção respeitou as regras de preservação do património, mas parece-me que as fontes ficaram mais bonitas. Com os tanques de recolha de água e o espaço à volta limpos, e os poiais recuperados, são recantos onde apetece mesmo parar para matar a sede nos dias quentes de verão, ou ficar sentado a conversar, a ler um livro ou a namorar, como se fazia antigamente.

M. L. Ferreira

sábado, 5 de dezembro de 2020

Salamandra

 Ontem encontrei este bicho, vindo do fundo dos tempos. Depois começou a nevar. Em casa soube que voltou a cair neve depois do almoço, agora mais a sério.
Apesar do frio que rapei, soube bem voltar a sentir a Natureza como ela é.

José Teodoro Prata

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Parque do Barrocal

O parque do Barrocal, em Castelo Branco, abriu recentemente e já foi premiado internacionalmente.

É um parque de natureza em plena cidade. Vale a pena uma visita (agora é grátis). Ainda lá não fui, mas o que me contaram coincide com o que podemos ver aqui: http://barrocal-parque.pt/

Claro que comparado com a nossa rota da Gardunha não passa de um pormenor. Mas vale pela natureza que encerra, por se situar praticamente numa zona urbana e ter sido enriquecido com estruturas metálicas artísticas.

Deixo-vos com algumas fotos, do nosso Pedro Martins (os pais são do Vale de Figueira).




Não reagi ao comentário do José Barroso, na publicação anterior, porque tinha intenção de o fazer agora: isto que foi feito no Barrocal de Castelo Branco tem valor por si e o parque não tem culpa de algum abandono a que temos estado votados (sei que não foi isso que o Zé quis dizer).

Há um funcionário da Câmara que anda para acabar a rota em volta da barragem do Pisco há tantos anos; nunca foi feito um estudo arqueológico do Castelo Velho; temos um altar policromado do antigo convento franciscano a desfazer-se na capela da Senhora da Orada; nunca se quis saber a história que encerram os numerosos achados arqueológicos aparecidos entre a Ribeirinha e a Ocreza...

Em Castelo Branco nunca se quis saber. Mas nós importámo-nos, fizemos diferente?

Nos anos 80, salvo erro, foi remodelada a Igreja da Misericórdia. Na altura foram colocadas umas telhas tão pesadas que uma deslizou e abriu uma fenda no telhado, por onde entrou a água da chuva durante mais de 10 anos. Era visível da Praça, mas ninguém se importou/fez nada. Entretanto, o teto pintado da capela-mor apodreceu e abateu no lado por onde entrava a chuva. Alguém se importa?  Então porque é que, depois de tantas intervenções na Praça e na Misericórdia, continua a infiltrar-se água da Praça para sacristia e a capela-mor da Igreja da Misericórdia?

Ok, interessam-se alguns, mas isso o que muda? Continuamos a não nos interessarmos como comunidade, de forma  a mudar as coisas!

Faltam-nos sobressaltos cívicos, de forma a mudar alguma coisa, sem esperar que sejam as autoridades a fazer tudo.

José Teodoro Prata

sábado, 28 de novembro de 2020

A nossa Ribeira

 Já não é bem a Ribeira da nossa infância, onde as mulheres, de joelhos, ou em pé, enfiadas na água, lavavam a roupa de toda a semana. Chegavam cedo, para apanhar a melhor pedra, a bacia da roupa à cabeça e, muitas vezes, o filho mais novo ao colo ou pela mão. Depois as margens iam-se enchendo de roupa a corar e, pelo meio, ia-se falando das coisas da vida.

Era lá que os rapazes aprendiam a nadar; primeiro nos açudes menos fundos, e depois no Pelome, só para os melhores, mas, mesmo assim, motivo de grandes sobressaltos para as mães. Alguns iam à pesca, um anzol improvisado, preso por uma linha, no fundo duma cana roubada da horta; à falta de cana, era à mão, ou com uma cesta de verga.

As raparigas começavam cedo a ajudar as mães na lavagem das peças mais pequenas, mas se havia oportunidade, arregaçavam as saias até aos joelhos e refrescavam-se na água. Também eram elas, quase sempre, que vigiavam o irmão adormecido dentro da bacia ou no cesto da roupa, não fosse alguma cobra ou sardão aproximar-se pelo cheiro a leite .

E, no tempo da azeitona, era um vaivém de carros de bois a caminho ou vindos dos muitos lagares ao longo da Ribeira. Para baixo, carregados de sacas de azeitona; para cima, cheios de potes de azeite a espalharem o cheiro a novo pelas ruas.   

Mas continua bonita, a nossa Ribeira! Este ano limparam-lhe as margens, e a chuva que tem caído nos últimos tempos alimentou-lhe o caudal e as inúmeras pequenas cascatas ao longo de todo o percurso. Que pena que não exista um caminho de onde se possa usufruir toda a sua beleza…


Quase no início, na Senhora da Orada

 

Perto do lagar do Major

 

A seguir às antigas passadouras

 

Um pouco mais abaixo, quase a chegar ao fundo do Casal do Baraçal (Casalito)

 

 

Depois da barragem, já perto do Sobral do Campo

M. L. Ferreira

domingo, 22 de novembro de 2020

Crepúsculos - 2

Desde a Páscoa, na primavera, quando o sol começava a aparecer e as flores a desabrochar, que as populações entravam a tanger música e a rebentar foguetes por todo o lado, em festas e festinhas, em honra de protetores e oragos por terras e terriolas.

E assim continuava por todo o verão.

Por alturas do terceiro sábado do mês de setembro, quando estava à porta o São Miguel, terminava mais um ciclo das colheitas agrícolas.

O tempo, esse insensível — ‘que furtava a vida a todo o vivente’, como asseverava João Jerónimo, por corruptela, João ‘Jerolme’ — fruía, porque a Terra não parava no seu perpétuo movimento.

Estava prestes a entrar o outono.

Maria Santo e Bernardo Garrancho, o casal de velhos de que vimos dando razão, tinham terminado o longo arrendamento no Casal do Ayres Raposo para regressar ao cultivo dos seus haveres que ainda eram coisa que se visse.

Nessa época dava-se a grande feira de ano.

Na Vila, a Praça e o largo da Fonte Velha enchiam-se de tendeiros.

Tudo mexia.

Abundavam as barracas de mercadores de roupa e calçado para o inverno seguinte que se aproximava. Muitos, porém, preferiam mandar fazer as botas, os sapatos e os fatos, por medida, aos artistas da terra!

Todos ganhavam.

Transacionavam-se as loiças onde os noivos compravam o acervo da futura casa e vendia-se tudo o que fosse ferramenta agrícola. O Alma Grande da Póvoa, sorriso apalermado, bonomia de ‘homem grande, corpo de palha’, exibia pequenos utensílios caseiros e apetrechos vários, como costis, ratoeiras, armelas ou joeiras.

O Xis trazia os matraquilhos e via-se em apuros com a juventude de sangue na guelra, que dava azo à sua exaltação por entre o barulho do mecanismo das mesas e a algazarra do jogo!

Vinham os homens dos baloiços.

O Moisés ocupava, havia muitos anos, o seu espaço, a vender ouro!

 Logo pela manhã, uma intensa algazarra na zona destinada aos negociantes de gado, a vozearia dos homens confundia-se com os berros das cabras, o zurrar dos burros e o grunhir dos porcos!

— Quanto quer pelo bacorinho? — perguntou um homem a um feirante que vendia uma ninhada de leitões.  

— Olhe este que belo! São duas notas! — disse, trazendo um dos pequenos animais.

— Huumm … Isso é caro como o lume! E o berrelho parece um pouco ‘incanequedo’!

— Qual o quê?! É mais saudável que um pero! É da raça da mãe! Olhe para aquela estampa! Ver um animal daqueles, é um louvar a Deus! — e apontava para a porca parideira deitada, com os filhos agarrados às tetas. — Só de uma vez, da última barriga, teve doze! Leve o porquinho que vai bem servido. Assim Santo António lho projeta que para tudo é preciso ter sorte — justificava o vendedor.  

 

Os ciganos também marcavam presença com utilidades diversas, mas sobretudo com o seu tradicional negócio dos jericos!

— Quanto dá pelo ‘burranco’, amigo? — perguntou o cigano a um passante que olhava para um jumento que ele tinha à venda. O homem hesitou.

— O burro é muito grande…!

— Ai…! Ora vejam lá, a desfazer na mercadoria…! — volveu o cigano. 

— Não é isso, criatura! É que, não tenho que dar a fazer a um burro desse tamanho! — justificou o cliente meio desapontado.

— Ai…! Então, ‘sinhor’, não se zangue! Se em Portugal nos zangássemos por causa dos asnos, andava metade do país zangada com a outra metade. O que mais para aí há, são burros, ‘sinhor’!

Houve um certo gargalhar na roda dos ouvintes. Mas, o zíngaro voltou à liça, apaziguando os ânimos, pois não queria perder o potencial comprador:

— Leve lá o animal, ‘sinhor’, que está aqui uma linda besta para todo o serviço! Nesta feira não encontra segundo. Veja bem que tanto os joelhos dianteiros com os traseiros não se tocam; olhe para o peito largo e forçudo; aprecie os possantes quartos traseiros; deite bem os olhos por estes costados vigorosos; um animal sempre de olho vivo e orelhas em pé; dentição ainda nova…   

O homem interrompeu-o para reincidir:

— O burro é muito grande...! Come muito…! — defendia-se.

— Ai…! Essa gora…! Ai…! Não come não ‘sinhor’! Só come o ‘qui li’ dão…!  

O homem desinteressara-se do negócio e afastava-se do local.

— Ai… Venha cá, ‘sinhor’…! — insistia de longe o cigano. — Ai…! Dê lá uma palavra; quanto vale para si a cavalgadura?

E mais assim e mais assado.

Não obteve resposta. Ainda não fora desta que o freguês se decidira a comprar a alimária.   

As famílias desta etnia, não eram apenas negociantes. Saltimbancos das estradas, deambulavam pela Vila por períodos mais ou menos longos, ficando quase sempre aboletados no barracão do ti’ António Dias. Alguns traziam mesmo a comédia com atores, palhaços e equilibristas. Vinham com usos e costumes diferentes. Se um animal, porco ou galinha, morria sem se saber porquê, apressavam-se a perguntar:

— Ai…! Onde enterrou vossemecê o porquinho?

— Na horta — respondiam. — Mas olhe que o animal morreu de doença desconhecida… talvez uma febre. Não se deve comer!

— Ai… ‘sinhor’, não se incomode que nenhum de nós morre por causa disso!

Nada os demovia. Averiguavam do local onde tinha sido inumado o animal, desenterravam-no e comiam-no assado no acampamento, em festa! 

 

À enorme feira que nesse tempo tinha lugar, seguiam-se as Festas de Verão, que se alargavam por três ou quatro dias! Tão rijas, que competiam com as maiores das redondezas! Um colossal poderio de fogo que chegava, por vezes, às cento e vinte dúzias de foguetes lançados só na alvorada do dia principal da festa.

— Este ano vai haver uma alvorada que alto lá com ela! — gabavam-se os festeiros da comissão daquele ano, com o juiz à cabeça. — Havemos de fazer ver aos da festa passada e aos do Sobral!

Vinham dois fogueteiros de Oleiros que se propunham fazer detonar continuadamente todos os foguetes, a dar-lhes mecha e a atirá-los para a atmosfera, sem descanso!

Com os primeiros estouros viam-se passar, pelo ar, revoadas de pássaros, espavoridos, a procurar outras paragens; os cães ladravam àquela inusitada manhã barulhenta; as galinhas esparvadiças cacarejavam nos galinheiros inquietas, à toa. Alvoroçavam-se as gentes que acorriam ao Quintalinho para ver lançar e estalar o fogo!

Por duas horas, pum! pum! pum! pum! Uma singular forma de homenagear o Senhor Santo Cristo, a quem a Vila e arredores prestavam uma devoção em peso! 

Aquilo já se metia pelos ouvidos dentro. Os engenhos explosivos pirotécnicos eram para todos os gostos: de estralejar, de repetição, de parada e resposta e de tiro. A descarga encerrava, como era costume, com o lançamento de vinte e um morteiros, à guisa das celebrações militares! 

Por terem lugar pouco antes do início do outono, às vezes, os festejos, eram já molhados pelo tempo…! Por esses caminhos estuporados, com as primeiras chuvadas ou, todavia, repletos de poalha, com o sol ainda a pino, as gentes das vizinhanças, vinham descalças ou com sapatos velhos para poupar os novos, que só enfiavam nos pés à entrada da Vila! A fé inquebrantável fazia-as convergir para a Praça, onde se erigia a Igreja e tinham lugar os atos mais solenes. Aí se situava também o centro nevrálgico das Festas e se organizavam os bailes, regando-se o terreiro para não levantar pó! Entre música e venda de ofertas, apregoava-se, a espaços, pelos potentes altifalantes:

— Aparelhagem sonora, Silva Tinalhas…! Prefira sempre o nosso serviço! É mais caro, mas é melhor…!    

 

Verão após verão, festas após festas, assim se foram passando anos e mais anos; e sobre estes anos, ainda outros. A grande maioria das gentes vivia das terras, da lavoura. Foi por mor desse tempo e à custa de muito mourejar que, tisnadas pelo sol ou encarquilhadas pelo frio, as pessoas foram ganhando grossas rugas, como as que se viam nas faces da ti’ Maria Santo e do ti’ Bernardo Garrancho que durante todo o estio habitavam a sua Casa da Serra, como noutro passo já se deu nota.

Por todo esse período, como era habitual, os dois iam assistir à eucaristia dominical ao Casal da Serra, que ficava mais perto da sua fazenda e onde o padre Tomás se deslocava na sua égua, a celebrar, logo pela manhã.

No estio, os dias eram enormes!

Depois da missa, jantavam por volta do meio-dia velho. Da parte da tarde, depois de deixar o gado acomodado, Garrancho costumava descer à Vila para se abastecer dos produtos que as suas terras não produziam — arroz, massa, açúcar ou café — previamente comprados nos lojistas da Baixa e armazenados na Casa da Vila.

— Daqui até à noite é ainda um dia de inverno! Ó Maria, vou-me até lá abaixo buscar a mercearia — dizia para a mulher. Ela já sabia do que se tratava.

E punha-se a andar, a pé, até à Vila, como era costume, pelo caminho mais curto, deixando a ti’ Maria Santo sozinha na serra. Uma vereda que só admitia a passagem de pessoas ou animais, em fila indiana. Apenas transitava pela estrada da Cascalheira com a burra carregada. Esta via era mais larga mas, viajar por lá, era muito mais longe! Tirante, pois, essas situações especiais, vinha pela abrupta vereda abaixo, pela encosta, seguindo o trilho habitual. Passava pelas leiras do tio Augusto, ao lado da casa do Santinho e do Vermelho, fazendas e pinhais, bairro do Caldeira, ribeiro do Marzelo, Corredoura e chegava ao Cimo de Vila! Uma estirada! E de piso ruim! Quando acabava aquela via-sacra, desafrontava-se, sozinho, em voz alta:

— Raios parta o caminho! Coisa mais endemoninhada que isto é raro encontrar-se! Um homem escorrega, apanha umas esfoladelas nas pernas e levanta-se! Que remédio! Que havemos de fazer? — dizia a si próprio, com entono de lamentação.  

Em chegando ao cimo do povo, dirigia-se logo à sua Casa da Vila.

A habitação era grande, de acordo com os cabedais da família. O prédio fora construído em duas diferentes épocas, uma parte antiga outra mais recente. Estava cheia do que a terra dava. Na sala velha havia três grandes arcazes de semente de trigo, centeio e milho. Tirante a ração para o gado e a seleção da semente para o ano seguinte, o grão destinava-se à azenha para fazer a farinha que governava de pão a família no correr do ano. Na frescura do piso térreo, na adega, o grande pipo do vinho que chegava para dar e vender; na loja, as talhas de azeite, o bom porco na salgadeira, a rica azeitona nos escoureiros e os queijos nas tábuas a curar. No forro, as leguminosas secas, as castanhas, as batatas e as maçãs que duravam até março. Tudo devidamente acondicionado para evitar a bicharada.

Era uma edificação tradicional, robusta. As paredes tinham sido feitas em pedra predominantemente de granito de cantaria. A armação do telhado, o soalho e a varanda que dava para o casarão, espaço interior a céu aberto, era tudo em madeira de castanheiro, cortado em vigorosas sonaves, caibros e tábuas robustas, bem aparelhadas por considerados artistas! Parecia desafiar o tempo!  

— Ó cachopos — dizia Bernardo que, pela sua experiência, bem conhecia os materiais usados na construção — se quereis fazer uma casa, ponde-lhe castanho que, ao seco, é como o ferro! Dura várias vidas!

E, com efeito, assim era.  

 

Após meter num saco de serapilheira os produtos de que necessitava, punha-o às costas. Dava depois uma volta em redondo pela Baixa da Vila, na zona das vendas. Aí encontrava, inevitavelmente, alguns dos habituais conversadores de domingo e ainda havia tempo para confraternizar um pouco e beber alguns meios quartilhos. Falavam de negócios, das colheitas e do tempo. Como é que ia a vida, como é não ia. Com o copito a acompanhar, esses eram momentos propícios para afirmar as palavras de ordem com os velhos amigos. Numa sociedade esotérica, como são todas as tertúlias, os vocábulos solenemente pronunciados têm o seu significado próprio que revela saber, humor e pode ser verrinoso quanto baste.    

— Garrancho…! — pronunciava Bernardo, em voz alta, assim que assomava à porta da taberna! ‘Garrancho’ era o nome por que o conheciam na companha por ter o indicador direito, torto, como noutra ocasião já se referiu. — … É para arrebanhar! — concluía, em jeito irónico.

Com isto queria apenas dizer que não deixava por mãos alheias o dever de tratar do seu arranjinho, da sua vida, procurando angariar o melhor que ela lhe oferecesse.   

Alvoroçava-se a turba no interior.  

— O tempo! — respondia, de entre a malta, o João Jerónimo, por corruptela, João ‘Jerolme’, outro que pertencia ao habitual ajuntamento dos domingos.

Era a sua palavra.

O tempo — entendia ele — era o grande mestre que tudo dá e tudo tira e que, por fim, arrancará, inexoravelmente, a todos, a própria vida; e contra o qual não se podia lutar, restando, perante ele, apenas a resignação.

Por sua vez, o ti’ Francisco do Casal, clamava do outro lado com voz forte:

— Ou me eu engano!  

Nenhum homem pode ter em si toda a sabedoria! Humilde é aquele que aceita os seus limites.

— Ou me eu engano! — repetia sempre que iniciava uma conversa.

Reconhecer os seus erros e admitir enganar-se diz muito do caráter de um homem experimentado e sério.

Assim era ele.

Mas, encostado ao balcão da taberna, estava ainda, entre muitos, António Racha — outro dos habituais convivas, que lançou o seu grito:  

— Se for preciso racha-se já um diabo! — bradava, desafiador; razão por que era conhecido no grupo por aquele nome.

Mas, lá rachar, não rachava nada! Emborcava era vários copos de bagaceira, a sua bebida de eleição, logo de manhã cedo. Se a pomada fosse macia e forte — dizia quem o conhecia — ingeria-a como à água na Fonte Velha! Era preado por aguardente! Ah! homem excomungado! Não há caruncho que lhe entre!

Assim passeava ele, com altivez, os seus 90, rijos e feros!

 

E a estroinice na taberna do grupo dos afeiçoados conterrâneos, continuava assim, ainda por um bom naco de tempo, à boca da noite.  

Mas, bom, mais uns dichotes e virotes, mais uma rodada e estava feita a sossega; e Garrancho lá retornava serra acima, com o saco da mercearia ao ombro.

Era já noitinha, ao crepúsculo, quando deixou a assembleia da baiuca. Tinha muito que andar até ao alto da serra da Gardunha, onde ele e a mulher residiam regularmente até ao começo do tempo das chuvas; e onde ela o esperava naquela noite, desde que estivera sentada à porta, como noutra circunstância já foi relatado.

Passaram-se anos e anos a fazer este trajeto, serra abaixo, serra acima. Fizera estas voltas durante décadas! Este era apenas mais um desses domingos de calor em que Garrancho tinha ido à Vila fazer o habitual recado. Porém, a idade agora já não era a mesma. Enquanto se é novo é outra coisa.  

Principiava a cair sobre a povoação a penumbra do lusco-fusco e sentia-se algum frescor agradável àquela hora.

Mas passar dos oitenta pesava muito!

O tempo não perdoava.  

Os vultos das gentes começavam a andar penosamente, acometendo devagar contra o escuro; devagar, mas com a mesma obstinação com que Cristo caminhou para o Gólgota, para nos remir das enfermidades! Os transeuntes já não se divisavam uns aos outros, por mor da proximidade do fim do dia.

— Boa noite! — saudavam, surdamente os passantes. Os poucos candeeiros de querosene da iluminação pública, colocados estrategicamente às esquinas, que deveriam ser acesos todos os dias ao escurecer, há muito que não funcionavam!  

— Deus o guarde! — respondia Garrancho sem abrandar o passo. — Que caminhos do diacho temos nós que palmilhar neste mundo para ganhar a côdea! — remoía com os seus botões.

Mas lembrou-se da perseverança da mulher perante as contrariedades: ‘Deus não deixa nada ao acaso’!

Para a frente é que era o caminho!

 A ti’ Maria Santo, com o cair da noite, tinha deixado o poial da porta e recolhera-se ao interior da casa, encontrando-se a preparar a ceia, à espera que o homem chegasse. Eram horas do demo pelas quais ela já tinha passado muitas vezes, inquietada. Sabia lá o que podia acontecer ao homem pelos caminhos! Muito embora ele os conhecesse como a palma da mão, pois que os calcorreava desde criança! Mas, para um homem, a morte é certa e a hora incerta!

Como era costume no verão, continuavam as festas por muitas terras ali à volta. E calhou a ser, nesse domingo, a festa de ano do Casal da Serra. Alguns cachopos — seriam talvez uns seis ou sete — iam subindo àquele lugar, à procura de divertimento e — quem podia saber? — talvez de algum amor para a vida. Seguiam pelo mesmo trilho palmilhado pelo intrépido velho, montanha arriba.   

Mais ou menos a meio do caminho deram, justamente, com ele, por cima do Caldeira, mas já em plena serra. A ti’ Maria devia estar aflita. E não era a primeira vez.

A noite era jovem, mas a lua-cheia de agosto levantara-se, redonda, grandiosa, às primeiras horas da obscuridade, a lançar a sua claridade branca e fria sobre a terra, na noite límpida. Mas, como numa ilusão de amantes, a sua bela luz, não deixa ver com nitidez a realidade! Embora, como bem se compreende, para aqueles rapazes novos tal luminosidade bastasse!

O octogenário tinha perdido muita da sua visão. Para mais, bebera o seu copito na reunião da taberna.

Quando o interrogaram sobre a razão por que se encontrava ali, ele, que mal já caminhava, apenas respondeu:

— Eu não vejo! 

É certo que tinha permanecido na taberna da Vila com a noite já a avançar! Mas a carência de sua visão, não podia ser apenas a falta de claridade. Não havia dúvida: o problema estava na incapacidade dos seus olhos. Era esta que mais o afetava. Tinham os jovens que pensar na forma de o levar até ao alto, à Casa da Serra.  

Sendo ele um homem encorpado, dois rapazes cruzaram as mãos a fazer de cadeirinha e sentaram-no; lá o levaram por 20 metros através daquele caminho de Cristo. Depois, revezavam-se e outros dois cruzavam as mãos para o levar mais 20 metros.

Por fim e, a muito custo, alcançaram o seu destino e deixaram-no entregue à ti’ Maria Santo, devidamente acomodado e sentado num banco junto à lareira, parecendo ter recobrado algum conforto. Ela se encarregou de lhe pôr a ceia sobre a pequena mesa e de o encaminhar depois para o quarto improvisado, onde ficou deitado.

Levantou-se pela manhã. Com o novo dia de sol e com o cérebro porventura limpo de alguma gota de álcool proveniente de um ou outro copito do dia anterior, pareceu ter recuperado alguma visão. Não voltou, porém, a trabalhar como dantes; aquele episódio tinha sido o sinal iniludível da velhice!

— Já não me sinto capaz de fazer nada! — lamentava-se com a voz fraca e entrecortada.

Notório era que não tinha a energia de outrora; foi esmorecendo. O casal, ele mais, ela menos, achava-se bastante acabado! Alguns dias depois, os dois velhos resolveram descer, a custo, o trilho da serra e vieram instalar-se definitivamente na Casa da Vila, apesar de ainda não ter acabado o estio, estação até ao fim da qual eles, habitualmente, se mantinham no seu retiro da casa da fazenda, lá em riba.

Os filhos e netos tomaram conta de animais e terras que constituíram durante décadas o seu modo de vida.

Garrancho pela sua própria condição de homem cansado e, apesar de tratado com desvelo pela mulher, não mais largou a cama. Sentia-se cada vez mais fraco.

Não demorou muito tempo, entregou a alma ao Criador, na paz do seu lar, deixando um vazio terrível na alma da mulher.

E ela, depois de alguns anos, sem a presença daquele homem que desde sempre constituíra o alento e o sentido da sua vida, foi-se-lhe juntar nas mesmas condições de sossego, no seio da vasta família. 

O tempo, esse artista indolente, tinha conseguido os seus intentos como pressagiara João ‘Jerolme’! Acabaram a vida, neste mundo, para sempre! Mas não sem antes terem combinado, aquando da morte dele — por uma força inabalável em que ambos acreditavam — que um dia se voltariam a encontrar!

Mais um crepúsculo teve lugar na longa vida do casal. Este, porém, ao contrário de todos outros, tinha sido o último.   

  

Nota: neste texto podem ter sido usadas palavras ou expressões do léxico local ou regional que não constam dos dicionários oficiais.

       

JOSÉ BARROSO 

sábado, 21 de novembro de 2020

Gente nossa: Robles Monteiro

Dias após a publicação, em "Vicentinos ilustres", da parte referente a Robles Monteiro, a Libânia enviou-me esta foto, com Robles Monteiro e a sua esposa Amélia Rey Colaço a contracenarem na peça Zilda, de 1921.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Baságueda

 O blogue Baságueda está de luto. Faleceu o xendro Vítor Toscano, que com o irmão Anselmo Cunha mantinham uma das melhores pérolas da nossa cultura regional.

Em 2018, publicaram algumas das crónicas em livro, intitulado precisamente Baságueda. Na altura, o apresentador Afonso Camões considerou a obra de arqueologia fonética.

De certa forma, este nosso blogue Dos Enxidros é um filho do Baságueda, pois nos inspirou a fazer algo parecido, embora necessariamente diferente, na nossa freguesia.

Vítor Toscano era formado em Histórico-Filosóficas e lecionou no Liceu/Escola Secundária Nuno Álvares, em Castelo Branco. Era também um  bom latinista, daí a facilidade com que manuseava o linguarejar dos xendros, os habitantes da sua terra natal, Aldeia do Bispo, Penamacor.

Consultar o seu blogue aqui: https://basagueda.blogspot.com/

Vitor Toscano (à esquerda) com o seu irmão, em 2018, aquando da apresentação do livro de crónicas publicadas no blogue Baságueda.

Honra ao xendro Vítor Toscano!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Vicentinos ilustres

 Simão de Sousa de Refoios

VIDA E OBRA

- Nasceu em São Vicente da Beira, em meados do século XVI.

- Foi o filho primogénito de Jácome de Sousa de Refoios e de sua esposa e prima Maria de Refoios. Viveram nas suas casas nobres, em S. Vicente da Beira. Em 1567, Jácome de Sousa foi testemunha no 1.º casamento do pai de António de Azevedo Pimentel.

- Simão de Sousa de Refoios sucedeu na casa de seu pai e foi 9.º Senhor do morgado de Santa Eulália.

- Acompanhou D. Sebastião a África e com ele morreu na batalha de Alcácer-Quibir (1578).

- Não deixou descendência, pelo que o morgado passou a sua irmã D. Leonor de Sousa. Esta casou com Nuno da Cunha e foram os bisavós de João Nunes da Cunha que foi vice-rei da Índia e a quem D. Afonso VI concedeu o título de 1.º conde de São Vicente. 

Em cima: representação da batalha de Alcácer Quibir.

Em baixo: Menino Jesus de Malines, da Misericórdia, e janela manuelina, na rua Manuel Lopes, ambos do século XVI, o século em que viveu e morreu Simão de Sousa de Refoios.


Simão de Sousa de Refoios terá assistido à construção da fonte velha, pois a inscrição mais antiga da atual fonte refere-se ao rei D. Sebastião e tem a data de 1578. Neste ano, travou-se a batalha de Alcácer Quibir, onde pereceram o rei e o vicentino Simão de Sousa de Refoios

José Teodoro Prata