Mostrando postagens com marcador francisco diogo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador francisco diogo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Francisco Diogo

Francisco Diogo nasceu em São Vicente da Beira, no dia 5 de julho de 1894. Era filho de João Diogo e Anacleta da Conceição, jornaleiros e moradores na rua do Eiró.

Alistou-se em 9 de julho de 1914, como recrutado, e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, contingente de Castelo Branco. Na altura era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro. Foi vacinado.

Embora a família de Francisco Diogo afirme que ele fez parte do CEP, o seu nome não consta da lista dos sanvicentinos que combateram em França, e, de acordo com a sua folha de matrícula, foi mobilizado para fazer parte da 2.ª Expedição enviada para o norte de Moçambique, em 24 de maio de 1915. Embarcou no dia 7 de outubro e chegou a Porto Amélia em 31 do mesmo mês. O efetivo desta Expedição ficou estacionado durante bastante tempo naquela cidade, em muito más condições, e só alguns meses mais tarde foi enviado para a fronteira com o território alemão. Contava que andou perdido e já o davam como morto quando, ao fim de algum tempo, conseguiu juntar-se à sua Companhia. Regressou à metrópole no dia 28 de setembro de 1916, desembarcando em Lisboa a 5 de novembro.

Foi licenciado em julho de 1919 e veio residir para São Vicente da Beira. Passou à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.

Da sua folha de matrícula militar consta o seguinte:

a)   Castigado com duas guardas, por ter sido visto sentado em cima de uma caixa de medicamentos;

b)   Teve 122 dias de licença, por motivos de doença, 30 dos quais em regime de internamento hospitalar, entre os anos de 1915 e 1917.

c)    Beneficiou também de 365 dias de licença, em 1918, e 175 dias, em 1919.

Condecorações:

·        Medalha Comemorativa das Operações Militares em Moçambique;

·        Medalha da Vitória

Família:

Francisco Diogo casou com Maria Madalena Saraiva, natural dos Pereiros, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, no dia 15 de setembro de 1918, e tiveram 6 filhos:

1.    João José Diogo, que foi padre e militar. Viveu em Portalegre onde, entre muitos outros cargos, foi solicitador e notário apostólico da Cúria Diocesana e capelão militar. Faleceu em Lisboa em 1974;

2.    José Diogo, que faleceu em outubro de 1922, com 9 meses de idade;

3.    Maria Luísa Diogo, que casou com Manuel Martins e tiveram um filho;

4.    António Diogo, que casou com Maria Roseiro Xavier e tiveram 2 filhos;

5.    Manuel Diogo, que casou com Antónia Barricho e tiveram 3 filhos;

6.    José Diogo, que casou com Maria da Conceição Xavier e tiveram 1 filho.

É possível que Francisco Diogo ainda tenha voltado a África, não se sabe se antes ou depois do casamento, mas terá regressado passado pouco tempo. Entre outras profissões que teve, foi motorista, provavelmente da família Cunha, conduzindo um dos primeiros automóveis que houve em S. Vicente.

Passados uns anos, já depois do nascimento dos filhos, a família foi residir para Salvaterra do Extremo, onde Francisco trabalhou muitos anos na Casa Veiga, uma grande casa agrícola, atualmente já extinta. Por causa disto, Francisco Diogo ficou conhecido em Salvaterra como Xico da Vêga.

Quem conviveu com ele lembra-o como uma pessoa muito trabalhadora, simpática e inteligente. Todas as pessoas gostavam de trabalhar com ele e respeitavam o que dizia, porque era justo e sabia mandar.

Era muito alegre e “renadio”; ao pé dele não havia tristezas. Tinha um grande sentido de humor e gostava muito de conversar e de contar histórias, a propósito de qualquer coisa: «Era um gosto ouvi-lo falar. Inventava histórias que a gente às vezes até pensava que eram verdadeiras, e o que ele dizia dava para escrever um romance.» (a nora Antónia Barricho).

Em Salvaterra também era conhecido pela sua generosidade. A qualquer pessoa que passasse perto da horta dele, oferecia do que houvesse: melancias, tomates, feijão, etc. E foi sempre muito amigo da família; ajudava os filhos em tudo aquilo que podia.

A sobrinha Maria do Céu Diogo também se lembra dele, e conta que vinha à terra com a mulher e os filhos, pelo menos uma vez por ano, e «…era uma alegria quando se juntavam os primos todos, nas Festas do Verão!».

Já no final da vida, Francisco e Maria Madalena passaram a residir em Castelo Branco, cidade onde vivia a filha Maria Luisa. Foi lá que faleceu Maria Madalena, em maio de 1967. Francisco Diogo faleceu passado pouco tempo, a 12 de setembro desse mesmo ano, dizem que com saudades da esposa. Tinha 73 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração das noras Antónia Barricho e Maria da Conceição Xavier, e da sobrinha Maria do Céu Diogo)


Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"