domingo, 14 de outubro de 2012

Partilhas

Não resisto a partilhar convosco, neste espaço mais à vista, o comentário que um leitor publicou na notícia anterior:


...traigo
ecos
de
la
tarde
callada
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...

desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ

COMPARTIENDO ILUSION
JOSE TEODORO PRATA

CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...

ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE LEYENDAS DE PASIÓN, BAILANDO CON LOBOS, THE ARTIST, TITANIC SIÉNTEME DE CRIADAS Y SEÑORAS, FLOR DE PASCUA ENEMIGOS PUBLICOS HÁLITO DESAYUNO CON DIAMANTES TIFÓN PULP FICTION, ESTALLIDO MAMMA MIA,JEAN EYRE , TOQUE DE CANELA, STAR WARS,

José
Ramón...



Meu Deus, José Ramón, é uma das mais lindas homenagens que me fizeram!
Como costumo dizer aos meus alunos, já não tenho idade nem saúde para viver momentos tão intensos!
Numa segunda leitura, tentando refazer-me, dei por mim a cantarolar esta canção de Vitorino ("queda do império"):


Perguntei ao vento
Onde foi encontrar
Mago sopro encanto
Nau da vela em cruz
Foi nas ondas do mar
Do mundo inteiro
Terras da perdição
Parco império mil almas
Por pau de canela e mazagão

Pata de negreiro
Tira e foge à morte
Que a sorte é de quem
A terra amou
E no peito guardou
Cheiro da mata eterna
Laranja Luanda
Sempre em flor.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA

Um manual tributário

Os forais manuelinos incidem quase exclusivamente sobre os impostos a pagar pelos munícipes e a receber pelo poder real ou pelas entidades a quem este os doara.

O foral de S. Vicente da Beira (1512) estipulava que «Outrossim se pagará na dita vila um jantar e colheita a que chamam soldo d´água. E por ele pagam em cada um ano mil seiscentos reais repartidos por todos os moradores da dita vila e termo segunda tem a fazenda. Sem nenhuma pessoa ser escuso da dita paga por privilégio nem liberdade que tenha.»

Desde o início da nacionalidade que era obrigatório, por parte das populações, o fornecimento de víveres para a mesa das autoridades visitantes. Fosse o rei, o bispo, o senhor da terra ou os oficiais da comarca e da provedoria, todos tinham direito a ser alimentados pelos povos (além das hospedagem, também obrigatória).

A historiadora Iria Gonçalves estudou as colheitas devidas ao rei D. Afonso III, no século XIII, pelos concelhos de Sarzedas e S. Vicente da Beira. Eis a colheita régia de São Vicente, quase igual à de Sarzedas: carnes (1 vaca, 2 porcos, 5 carneiros e 15 galinhas), temperos para as carnes (1 almude de manteiga, alhos, cebolas e 1 almude de vinagre), ovos (100), mel (1 almude), sal (1 almude), pão (300) e vinho (1 moio e 6 almudes - 480 litros).

Os reis deslocavam-se acompanhados por um grande séquito! Se o rei não vinha ao concelho, mandavam-se os animais para o local onde residisse habitualmente. Mais tarde, a colheita régia em géneros foi convertida em dinheiro, devido anualmente ao rei. É a esse imposto que se refere o foral acima citado, que lhe chama soldo d´água. Em 1512, andava pelos 1600 reais e era devido ao rei. Não sabemos quem o recebia, mas, em 1496, era pago a Vasco Gil de Castelo Branco. Segundo o Engenheiro Manuel Castelo Branco, D. João I fez doação desta colheita régia ao vicentino D. Fernando Rodrigues de Sequeira: «...estando em Santarém, a 13-2-1414, fez-lhe mercê da colheita e jantar, chamado do soldo de água, que a vila de S. Vicente da Beira, desde tempos antigos, costumava oferecer aos reis quando percorriam o reino.» D. Fernando Rodrigues de Sequeira teve vários filhos naturais, entre os quais D. Garcia Rodrigues de Sequeira. Ao filho deste, Rui Fernandes de Sequeira, também natural, confirmou D. Afonso V a doação da colheita régia, por alvará de 13-2-1471. Vasco Gil seria, possivelmente, bisneto de D. Fernando Rodrigues de Sequeira.

O poder real tinha ainda direito a um décimo das multas pagas nos processos judiciais: «A dízima da execução das sentenças se arrecadará na dita vila por direito real.» Mas doara à Ordem de Avis o imposto pago pelos tabeliães: «…paga cada um dos três tabeliães que há na dita vila à dita ordem, cento e oitenta reais de pensão.»

As normas para a cobrança da portagem ocupam grande parte do foral e constituem um bom retrato económico-social do Reino de Portugal, na época dos Descobrimentos.

Quem pagava a portagem eram as pessoas de fora do concelho, pelos produtos que traziam ou levavam, para venda. E especificaram-se os tipos de cargas: «…carga maior se entendam que são de besta muar ou cavalar. E por carga menor se entenda carga de asno. E por costal a metade da dita carga menor que é o quarto da carga de besta maior.» A carga maior correspondia a 10 arrobas, a menor a 5 e o costal a 2,5 arrobas. Por pequenas quantidades, não se pagava nada.

Um exemplo: «De todo o coiro de boi ou vaca ou de cada pele de veado, gamo, corso, bode, cabras, carneiros ou ovelhas curtidas ou por curtir, dois ceitis. E se vierem em bestas pagarão por carga maior nove reais e das outras por este respeito.» A portagem das mós pagava-se por peça. Assim, «E de mós de barbeiro, dois reais. E das de moinho ou atafona, quatro reais. E de casca ou azeite, seis reais. E por mós de mão, para pão ou mostarda, um real.» Igualmente o gado se pagava à cabeça: 1 real por cada boi e dois ceitis por cada ovelha, cabra ou porco.

E que produtos se comercializavam, nestes inícios do século XVI? A lista é extensa e já inclui alguns produtos de além-mar: cerais, vinho, sal e cal; panos de seda, lã, algodão ou linho; «…sapatos burgueses e de toda a calçadura de coiro…»; cera, mel, azeite, manteiga, sabão e alcatrão; grão de anil e brasil para tingir; papel e toucados de seda e algodão; especiarias e açúcar; pescado e marisco; fruta seca ou verde; sumagre e casca para curtir; bestas e escravos; telha, loiça de barro e mós de pedra; tonéis, arcas e tabuado serrado e por serrar…

A portagem era paga do seguinte modo: o vendedor entrava na vila e ia direto à casa do rendeiro ou do oficial da portagem, notificando-o da carga que trazia. Se não o achasse, dava a uma testemunha conhecimento das mercadorias transportadas e do local onde ficaria hospedado.

No antigo concelho de São Vicente da Beira, o produto da portagem era dividido, em partes iguais, pela comenda da Ordem de Avis e pelo mosteiro de São Jorge de Coimbra. Com os rendimentos deste mosteiro, já D. João II fizera, anos antes, nova comenda, dada à Ordem de Cristo. Tal facto é ignorado por este foral de 1512, por razões que desconhecemos.


Janela manuelina no alto da Rua Manuel Lopes.
Esta janela é típica da arte da época dos descobrimentos, sobretudo do reinado de D. Manuel I. Assim, foi esculpida por alturas da publicação do nosso foral manuelino.
Esta terá sido a casa onde morou Manuel Lopes Guerra, o qual deu nome à rua.
Manuel Lopes Guerra estava casado com Marianna Garcia, natural de São Romão, Seia.
Tinha um forno na Rua da Misericórdia e outro nesta rua.
Manuel Lopes Guerra seria irmão do Doutor Manuel Simões, morador na rua Manuel Simões, e avô de Maria Benedita Simões Feio de Carvalho que casou com um Cunha Pignatelli da Guarda, trazendo esta família para S. Vicente da Beira.

domingo, 7 de outubro de 2012

Sede para a Banda

Começaram as obras para a futura sede da Banda, na Fonte Velha. A imagem é de sexta-feira, no início da tarde. Agora, domingo, o espaço já estará todo limpo, pronto a receber os alicerces do novo edifício.
Na foto, vemos o Comissário Barroso a orientar os trabalhos.
Esta obra será a realização do seu sonho, como presidente da Direção, mas também dos músicos da Filarmónica e de todos os vicentinos. Foram mais de cem anos em sedes provisórias!
Para mim, é a obra mais importante de São Vicente, desde a requalificação da Praça e espaço envolvente (2004).
Além de dar uma sede a quem dedica todo o seu tempo livre à comunidade, significa também o início da requalificação do largo da fonte, o espaço público mais nobre da Vila, logo a seguir à Praça.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O nosso falar: um pisco

O pisco (pisco de peito ruivo) «...é uma pequena ave que se conhece bem pela mancha alaranjada que lhe ornamenta o peito.»
A Wikipédia acrescenta ainda que mede «...cerca de 14 cm. Os adultos apresentam o peito e a testa de cor laranja ferrugínea muito caraterística. Os juvenis são castanhos com pintas abundantes castanho amarelado e mudam para a plumagem de adulto ao fim de um ano.»
Alimenta-se à base de insetos, aranhas, minhocas e no tempo frio come bagas e outros frutos moles.

Não se deixem impressionar com esta peitaça! Ele armou as penas para fazer boa figura.

 
Quando ando no Ribeiro de D. Bento, basta mexer nos matos ou fetos e aparece logo um pisco. Pipiripipi, pipiri, pi, pi, é uma conversa pegada, sempre a saltitar a metro e meio de mim. Eu respondo-lhe e ficamos longos bocados a conversar. O meu amigo pisco é muito sociável e anda por todo o lado.
Foi ele que deu nome ao cabeço ali bem perto, o Cabeço do Pisco, e à fazenda nas margens da ribeira, o Casal do Pisco. Isto há centenas de anos. Mais recentemente, também se serviram dele para dar nome à barragem (Barragem do Pisco), mesmo encostada ao referido casal, e também ao jornal que a nossa rapaziada faz na escola (O Pisco).
Contei-lhe e ficou todo vaidoso!

O que ele não sabe é que nós chamamos pisco a uma criança pequena e magrita, reles para comer. Dizemos que é um pisco ou um piscozito, para ainda a rebaixar mais, na esperança de que ganhe juízo e faça pela vida. "Quem não é para comer, não é para trabalhar!"
Disto não vai gostar o meu amigo pisco, ele que se considera um grande comilão, embora com fracos resultados, pelo que se vê. Mas um pisco, tal como um homem, não se mede aos palmos, no caso dele aos milímetros. Lá estão a penugem, o canto e o gosto pelo convívio, para o demonstrar!


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA


As comendas de Avis e de Cristo

O foral manuelino do extinto concelho de S. Vicente da Beira, cujo 5.º centenário estamos a comemorar, informa-nos sobre a Ordem de Avis, neste território.

«Tem a Ordem e Mestrado de Avis na dita vila propriedades de terras e olivais aforadas a pessoas particulares (…).

E tem mais a dita ordem no termo da dita vila um lugar próprio seu e foreiro de que arrecada seus foros antigos sem contradição, como de coisa sua patrimonial que não jaz debaixo do foral da dita vila. No qual se não pagam outros tributos nem foros senão os que adiante vão declarados. (…) Os quais são repartidos igualmente ao meio pela dita ordem e comenda dela e pelo mosteiro de São Jorge de Coimbra.»

Desde os alvores da nacionalidade que o território entre a Ocreza e o Tejo fora entregue aos monges guerreiros Templários, mais tarde Ordem de Cristo, mas o concelho de São Vicente, antes administrado pela Covilhã, permaneceu livre de senhores.

No entanto, outra organização de monges guerreiros, a Ordem de Calatrava, mais tarde de Avis, foi recebendo propriedades e rendas neste antigo concelho.

As terras concentravam-se sobretudo na zona sul do concelho, na margem direita da ribeira da Ocreza, onde se situavam os povoados da Póvoa e de Ceia (no passado existente na área do paredão da albufeira de Santa Águeda). Segundo o Eng.º Manuel Castelo Branco, parte destas propriedades eram a herança pessoal de D. Fernando Rodrigues de Sequeira, filho de pai vicentino e mãe albicastrense. Este D. Fernando doou estas terras à organização de que foi Mestre, a Ordem de Avis.

Antes desta doação dos inícios do século XV, já as terras do sul do concelho gozavam de relativa autonomia, dada aos moradores pelos mestres da Ordem de Calatrava/Avis. Assim, quer pelo poder autónomo da Ordem de Avis («…como de coisa sua patrimonial que não jaz debaixo do foral da dita vila.»), quer pelos privilégios dados aos habitantes deste senhorio, as povoações da Póvoa e de Ceia já se governavam a si próprias, como concelho à parte, no início do séc. XVI.

Esta pertença da Póvoa à Ordem de Avis está documentada pelo brasão da ordem de Calatrava, existente no edifício que terá sido, durante séculos, a casa da Câmara da Póvoa de Rio de Moinhos, situado na Praça desta antiga vila.


Símbolo da ordem de Calatrava, na casa onde se situou a Câmara da Póvoa de Rio de Moinhos.

 
Mas o património da Ordem de Avis não se restringia a estas terras da parte sul do concelho de S. Vicente da Beira. O foral de 1195 tem como outorgantes os membros da Casa Real e o mosteiro de São Jorge de Coimbra, mas, no séc. XIV, os rendimentos da Igreja do concelho eram já repartidos pelo mesmo mosteiro e pela Ordem de Avis. Segundo o foral manuelino, tal facto terá ocorrido em 1300 («…era de mil e trezentos, na qual era foi dada a dita vila à ordem de Avis…»). O rei criou uma comenda com parte dos bens/rendimentos que aqui detinha e doou-a à Ordem de Avis, ficando ao longo dos séculos esta comenda de Avis com metade das rendas da Igreja e consequentemente com a obrigação de pagar metade das despesas das igrejas do vigariato. A outra parte cabia ao dito mosteiro de São Jorge de Coimbra.

É esta competência da Ordem de Avis na gestão dos bens religiosos do concelho que explica a existência do brasão da dita ordem na fachada da Igreja do Louriçal, com data de 1559.


Símbolo da ordem de São Bento de Avis, na Igreja do Louriçal do Campo.

 
O mesmo se poderá dizer da presença do símbolo da Ordem de Cristo no cruzeiro e na casa do ermitão da ermida da Senhora da Orada, em São Vicente. É que, nos finais do séc. XV, D. João II criou uma nova comenda com os rendimentos do até então padroado de São Jorge de Coimbra. D. João II doou a nova comenda à Ordem de Cristo, com a obrigação de sustentar o vigário, o chefe do clero do concelho (do vigariato), cuja nomeação continuou prerrogativa do poder real. Embora o foral manuelino ignore a substituição do padroado de São Jorge de Coimbra pela nova comenda dada à Ordem de Cristo, tal facto já ocorrera em 1512.

O vigário nomeava os curas das igrejas criadas após 1539. Nas paróquias fundadas anteriormente, Póvoa e Tinalhas, a nomeação cabia alternadamente à Ordem de Avis e à Ordem de Cristo, o mesmo se passando com a nomeação do tesoureiro da Matriz da Vila. Mas aqui a nomeação de um cura competia exclusivamente à Ordem de Avis. Em termos das despesas, a Ordem de Cristo pagava ao vigário de nomeação real e a Ordem de Avis ao cura da Matriz de São Vicente, que nomeara. As restantes despesas quer as referentes ao sustento dos curas e do dito tesoureiro, quer as despesas correntes das igrejas, eram suportadas em partes iguais pelas duas comendas.

Símbolo da ordem de Cristo, no cruzeiro da ermida da Senhora da Orada.
Na casa do ermitão, existia igualmente a cruz de Cristo.

sábado, 29 de setembro de 2012

Jornadas Europeias do Património

Tiveram início ontem, 28 de setembro, e prolongam-se até 11 de novembro.
Um pouco por todo o país, as localidades e instituições promovem o património de Portugal, à semelhança do que se passa nos restantes países da Europa.
Em S. Vicente da Beira, as Jornadas terão lugar no dia de encerramento, 11 de novembro, dia de São Martinho.
Centrar-nos-emos em três aspetos do nosso património: a música, as personalidades vicentinas que maior marca deixaram em Portugal e no Mundo e a tradição do magusto.
A organização é da Junta de Freguesia e da Escola, novos sócios das Aldeias Históricas de Portugal (AHP), uma das entidades que promove as Jornadas, no nosso país.


Entrada de uma casa em ruínas, no alto da rua Manuel Lopes.
O lintel foi deslocado para a esquerda, a fim de reforçar a quina da casa. Lintel e ombreiras têm a aresta chanfrada, caraterística do século XVI. Esta porta resulta de um reaproveitamento das pedras.
A cerca de 40-50 centímetros da soleira, as ombreiras foram desbastadas, para permitir a entrada de pipos ou dornas mais largos que a porta.
(Clicar na imagem para ver melhor)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Bicharada da Gardunha



 Os javalis são uns brutos. Nem mesmo as amêndoas com casca passaram despercebidas. E não contentes, esgalharam a amendoeira toda.

Os pássaros levam os bagos das uvas, um de cada vez. Mas estes estavam todos babados. Houve aqui um texugo que se lambuzou bem! É preto e branco, segundo uns lisboetas que já o viram.


 Não podemos acusar os esquilos de preguiça e falta de habilidade. Pinhões, nozes, qualquer dia castanhas, nada lhes escapa.

 Esta raposa andou no figuinho. Sacana!

Os bicos da passarada são afiados como facas.