sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Travessa dos Abraços

 

As ruas das terras grandes têm quase sempre nomes de gente importante. Gente de quem a maior parte dos que por lá passam mal ouviram falar. Não é assim nas aldeias, onde as ruas se chamam Rua da Fonte, Rua do Cemitério, Rua da Igreja, Rua do Lagar, Rua da Escola, Rua da Praça, Rua da Eira, etc… identificando, sobretudo, o lugar onde se situam equipamentos importantes para a terra ou alguma característica invulgar.

Esta Travessa dos Abraços, no Violeiro, são vinte passos mal medidos, em forma de Z mal acabado, onde um homem com um molho de mato às costas teria dificuldade em passar.

Maravilhei-me com o nome e imaginei que, no tempo em que manifestações de amor eram proibidas, se não pecado, muitos casais de apaixonados terão aproveitado o recato e o negrume da rua para poderem abraçar-se de fugida.  

Um dos habitantes mais antigos (já poucos, no Violeiro) disse-me que não era bem assim; mas a imaginação é ainda um dos nossos maiores poderes, e eu fico-me com minha…

ML Ferreira

Nota: A fotografia publicada há dias duma casa na Rua do Forno é, de facto, nos Pereiros. Sinal dos tempos, o forno comunitário que ali existiu faz agora parte de uma casa particular.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Outono

O diospireiro é uma das árvores que melhor anuncia o outono!
José Teodoro Prata

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Ainda as Autárquicas 2025

Chegou-me a informação de que, nas recentes eleições autárquicas, na mesa de voto da Vila, São Vicente da Beira (ignoro se houve mais do que uma), o delegado da coligação PSD-CDS, presente na sala, foi várias vezes à porta buscar pessoas para as acompanhar à mesa de voto.

Sei também que o delegado do Partido Socialista não fez uma participação destas ocorrências, por escrito. Fez mal, pois a democracia defende-se a cada momento, mesmo nas pequenas coisas. E isto não tem nada a ver com as relações entre as pessoas, que se desejam amistosas o mais possível.

Nem queria acreditar quando me contaram! Desde 1974-75 que não ouvia falar destas atitudes. Nesse tempo, os caciques colocavam-se à porta, relembravam às pessoas em que partido deviam votar, acompanhavam-nas às mesas de voto e até se metiam com elas no local onde se marca a cruz no boletim de voto. Mas esses foram tempos de aprendizagem, em que todos, até os caciques, tiveram de aprender as regras democráticas. Mas agora! Estas atitudes envergonham-nos, como comunidade!

Aqui deixo as funções dos delegados às mesas de voto, para que conste:

Quais os poderes e competências dos delegados?

- Ocupar os lugares mais próximos da mesa da assembleia de voto de modo a poderem fiscalizar todas as operações de votação;
- Consultar a todo o momento as cópias dos cadernos de recenseamento eleitoral utilizadas pela mesa da assembleia de voto; 
- Ser ouvidos e esclarecidos acerca de todas as questões suscitadas durante o funcionamento da assembleia de voto, quer na fase da votação quer na fase do apuramento;
- Apresentar oralmente ou por escrito reclamações, protestos ou contraprotestos relativos às operações de voto;
- Assinar a ata e rubricar, selar e lacrar todos os documentos respeitantes às operações de voto;
- Examinar, no apuramento local, os lotes dos boletins separados, bem como os correspondentes registos, sem alterar a sua composição; 
- Obter certidões das operações de votação e apuramento.

Nota: as pessoas que precisam de acompanhamento para ir votar devem levar um atestado médico!

José Teodoro Prata 

sábado, 1 de novembro de 2025

Vespas asiáticas

Na última semana, morreram 3 homens na Galiza, em ataques da vespas asiáticas. E desta vez com uma novidade: todos pisaram ninhos de vespas feitos no chão, o que não era habitual.

Já no ano passado, o meu sobrinho António Craveiro encontrou um ninho no tronco de uma oliveira, pouco antes da colheita da azeitona. Também não era habitual, segundo los técnicos que vieram matar as vespas.

Temos de redobrar de cuidados, começando por analisar cada árvore antes de aceder a ela, para colher frutos (colher azeitona), fazer podas, etc. No ano passado, foi notícia a morte de um homem, no nosso país, que subiu a um diospieiro para colher os primeiros diospiros e foi atacado por dezenas de vespas asiáticvas que tinham o ninho no meio da rama.
Nos Cebolais, tenho tido problemas, nos últimos dois anos, com ninhos no chão, mas de vespas mais pequenas, as estorninhas, também diferentes das que todos estavamos habituados a ver.

Neste outubro, apanhei dezenas de vespas asiáticas nas armadilhas que coloquei no Ribeiro Dom Bento. Eliminar estas vespas no outono é muito importante, pois cada uma que sobreviver vai criar um novo ninho na primavera.

Comentários a este texto, no facebook:

José Manuel dos Santos
Um ano destes encostei a escada a uma oliveira, saiu um pelotão de uma "taloca"
Fugi dali para fora
Já quase à noite deitei gasolina para o pulverizador coloquei o tubo no buraco pulverizei...
No outro dia encontrei-as todas mortas
Com a machada rasguei o buraco, os favos eram grandes...

Paula Candeias
Também tenho experiência neste assunto. Um ninho subterrâneo, creio que de vespas comuns, e um dia ao chegarmos à quinta deparamo-nos com um ninho gigante de vespas asiáticas no alprendre. No primeiro caso afastamo-nos e evitavámos esse local, no segundo contactámos a entidade competente para as eliminar que foi muito eficiente. Foi curioso que estas últimas já tinham anteriormente feito uma tentativa mas abandonaram o ninho, ficou em meio fazer e nem ligámos, mas regressaram e construíram um novo ao lado e habitaram-no. Que bichos agressivos que haviam de aparecer e que, que eu saiba, não têm predador.

sábado, 25 de outubro de 2025

Quando o mar bate na rocha...

 A propósito da perda de eleitores na nossa freguesia (mais de cem) entre as Autárquicas de 2021 e as de 2025. Embora a “fome” não seja exatamente a mesma, este texto é extraordinário, até pela crueza, na justificação da perda de população no interior do País no tempo da ditadura:

«O reino naquela época tremia de frio e desconfiança.

Tinha-se deslocado mais para a beira-mar, não se sabe bem porquê, mas calcula-se: fome.

A fome vinha do interior e varria tudo para o oceano. Nesta leva desgarrada, escapavam os camponeses, que tinha a barriga curtida, em cardos, e que se cravavam na terra à dentada, como uns danados.

Espalmavam-se nas tocas e nas dobras das montanhas para deixar passar a ventania, pareciam calhaus, seres empedernidos; depois voltavam ao trabalho; à semente que se enterra e ao fruto que se arranca.

Tinham-se habituado de tal maneira à má sina que fome para eles era o pão de cada dia.

Os restantes, os que não conseguiam enganar os vendavais, fugiam de roldão pelo país, atravessando aldeias e planícies, vinhas e repartições, hoje fazendo família neste ponto, amanhã mais naquele, até se verem diante do mar, acossados.

Uma vez ali, ou entregavam o corpo aos caranguejos ou faziam como o mexilhão: Pé na rocha e força contra a maré.

Daí o nome de Reino do Mexilhão, que lhe pôs a geografia, em homenagem a esse marisco mais que humilde, só tripa e casca.»

Do livro Dinossauro Excelentíssimo de José Cardoso Pires

ML Ferreira

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

A azeitona já está preta

 

Acabei ontem a azeitona. Foram dias de tal suadouro, que só apetecia cantar Ó que calma vai caindo / sobre as gentes do campo… Mas, como continuar Por cima ceifa-se o trigo / por baixo fica o restolho…, se eu andava empoleirado nas oliveiras a ripar azeitona?!

A canção certa seria A azeitona já está preta / já se pode armar aos tordos..., mas cantá-la naquele ritmo apressado e folgazão debaixo de tal calmaria?! Nem poderia gritar Ó João, dá cá o podão! Para quê? Pra malhar aqueles que além vão! Pois se não se avistava vivalma!

Verdade, verdadinha, a canção que andei sempre a cantar foi mesmo Ó que calma vai caindo, mentalmente claro, não queria que me chamassem maluco! Como escreveu Aquilino Ribeiro, na primeira página do Malhadinhas, «…os dias de hoje não os conheço.»

Porque comecei tão cedo? Medo da gafa que aí vem e indisponibilidade na próxima semana.

Nota: a gafa é uma doença que provoca o apodrecimento da azeitona, devido a um fungo que se desenvolve em ambientes quentes e húmidos.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Autárquicas 2025

 Resultados oficiais, por esta ordem: Câmara, freguesia SVB/concelho; Assembleia Municipal, freguesia SVB/concelho; freguesia SVB

PS - 40,45/36,21 (3 vereadores); 37,89/33,26; 43,46 (3 mandatos)

PSD+CDS - 46,77/32,63 (3 vereadores); 45,86/31,65; 53,98 (4 mandatos - presidente da Junta)

CH - 6,17/10,72; 8,42/12,99

IL - 2,56/13,98; 2,56/13,66 (1 vereador)

PCP+PEV - 1,05/1,55; 0,75/2,18

L+BE - 0,75/2,12; 2,11/2,63

Nas Autárquicas 2021, SVB tinha 1032 eleitores e votaram 685; nestas Autárquicas 2025, temos 927 eleitores e votaram 648.

Como em 2021, a nossa freguesia votou em dissonância com o concelho (nas legislativas e presidenciais tem havido concordância desde 2009). A dissonância de agora é diferente da de 2021: então, SVB desconhecia o candidato do PS e conhecia o candidato do Sempre. Nestas eleições, a nossa freguesia conhecia bem o Leopoldo Rodrigues e a sua obra no concelho: cumprimento das promessas à Misericórdia - Lar e telhado da Igreja desta irmandade - feitas por José Augusto Alves, no anterior mandato (em substituição de Luís Correia); arranjo dos retábulos franciscados da Orada; paragem do fogo que lavrara desde Arganil, sem que ninguém o detivesse até entrar na nossa freguesia; criação de condomínios de aldeia na Paradanta e Violeiro, para evitar os incêndios; presença assídua em muitos momentos da nossa vida comunitária; apoio à edição de 2 livros; reparações várias na escola; obras no largo da Partida e apoio às Jornadas do Património; etc (no total, a Câmara terá gasto na nossa freguesia mais de 500 000 euros!) É verdade que quem anda à chuva molha-se, mas cheira um pouco a ingratidão. Po outro lado, prefiro pensar que o João Filipe Goulão fez um trabalho tão bem feito que levou as pessoas a pensar que íamos ter finalmente uma câmara e uma junta da mesma cor política. Ora isso nunca esteve nas previsões realistas, antes era do domínio dos sonhos e dos desejos, legítimos, claro (era mais que previsível uma subida da IL e do CH, que se verificou, tendo a coligação de direita perdido um vereador - antes, o Sempre tinha 3 e o PSD tinha 1; agora têm 3). Para entenderem melhor o que quero dizer, observem os resultados das freguesias onde as juntas foram ganhas pelo PSD+CDS (tp.pt/eleicoes/autarquicas-resultados/2025/eleicao-AF/990000): quase todas deram a vitória para a Câmara ao Leopoldo Rodrigues.

Como sempre, os meus parabéns à Junta de Freguesia eleita. Pode contar com a minha colaboração, em tudo o que precisar e estiver ao meu alcance.

Na Câmara, haverá 3 vereadores do PS, 3 do PSD+CDS e 1 da IL. Não sei como se vão entender, mas faço votos para que acabe o ambiente de crispação introduzido pelo Sempre no anterior mandato (em contraste com a atitude responsável do vereador do PSD) e que Câmara e Junta se esforcem por trabalharem em conjunto, para bem da nossa freguesia. Afinal, foi  para isso que foram eleitas!

José Teodoro Prata