quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O nosso falar: bátega d´água

Já aqui escrevi sobre a gravanada. Depois pus-me a pensar nas formas de chuva que havia e encontrei: gravanada, bátega d´água, bem chuvidinha, a cântaros e carujar. Já houve de todas, neste Outono, menos a chuva a cântaros ou potes.
Deixo-vos um glossário com os termos vicentinos para os diferentes tipos de chuva.

Bem chuvidinha: Era a chuva preferida dos nossos. Podia estar uma semana a chover, calmamente, nem estiava, nem chovia forte, que as nossas gentes não se aborreciam.
“Deixa estar que ela é cá precisa!”
“Assim é que é bom, entra toda na terra, para os nascentes correrem, quando fizer falta.”
Com a chuva bem chuvidinha, não há erosão dos terrenos, nem enxurradas destruidoras. A chuva cai e só faz bem: a terra mata a longa sede do estio e depois armazena para o resto do ano.

Carujar: Não é, nem deixa de ser. Quase dispensa o guarda-chuva, mas chamam-se parvos aos que andam debaixo deste carujo, sem proteção. Refresca, mas mal assenta o pó, se estivermos no tempo dele. "Está a cair um carujozito.", diziam os nossos mais antigos.

Gravanada: É uma chuva repentina, intensa, mas só dura breves minutos. Vem acompanhada de vento forte.

Bátega d´água: Cai repentina e intensa, também, mas por mais tempo do que a gravanada. Entre os 10 e os 30 minutos é o tempo de uma trovoada d´água ou pancada d´água, como também se diz. Provoca pequenas enxurradas.

Chover a cântaros ou a potes: Este termo é do tempo em que se ia à fonte com o cântaro ou o pote à cabeça. Imaginem que despejavam a água toda de uma só vez! É assim a chuva a cântaros, diluvial, intensa e demorada. Caem grandes quantidades de água durante largos minutos e até horas. Por vezes abranda e volta a cair com a mesma intensidade. "Chovia se Deus a dava!"
É a chuva das enxurradas e inundações.

Nota: Este texto foi reescrito no dia 1 de Dezembro, com base nos comentários do Ernesto Hipólito.

9 comentários:

Anônimo disse...

Sei que não vem a propósito do tema, mas gostaria de saber se há/houve, perto do Casal da Fraga, algum lugar chamado "Casal do Monte Surdo". Com os melhores cumprimentos e a continuação de um excelente blog.

José Teodoro Prata disse...

Há 250 anos, o Casal do Monte do Surdo era uma propriedade do Conde de S. Vicente.
Começava na margem direita da ribeira, na foz de um ribeirito que separa o Casal da Fraga do Casal do Baraçal. Depois subia todo o vale até ao atual cruzamento da estrada para os Pereiros e Partida.
Penso que a residência do rendeiro era a casa ainda existente, já arruinada, que fica junto a esse cruzamento.
Tenho a delimitação da propriedade e muita informação sobre a família dos rendeiros.
Nas Finanças, toda a zona acima da capela de Santa Bárbara se chama Monte do Surdo. É possível que a fábrica das águas Fonte da Fraga ainda pertença ao Monte do Surdo.

Ernesto Hipolito disse...

Está a carujar!!!
Era como se dizia e ainda hoje se diz,( porque eu ainda o digo )da chuva molha parvos.
Chuva molha parvos é uma expressão mais recente.
Está a cair um carujosito!!!
É a tal chuva miudinha.
Já está a pingar!!!
Era quando começava a chuva.
(Trovoada d'água)(Bátega d'água) é a pancada d'água.
(Chover a potes)chover a cântaros.
Somos tão ricos!!!
E.H.

Anônimo disse...

Obrigado pela sua ajuda. A minha pergunta surgiu por ter encontrado um assento de casamento, datado de 1754, onde era referido que a nobente era natural do Casal do Monte Surdo, que eu nunca tinha ouvido falar, e que também os seus pais (Manuel Leitam e Isabel Duarte) eram de lá (não sei se também naturais ou somente moradores). Será este casal a família de rendeiros de quem refere ter informação?
Com os melhores cumprimentos.

José Teodoro Prata disse...

Ernesto:
O nosso obrigado, mais uma vez, pelo teu precioso contributo.
É difícil acreditar, mesmo para mim, mas, apanhado desprevenido, até corei de vergonha por ter esquecido estas nossas tradições.
Ando à demasiado tempo por fora!
Um abraço.

José Teodoro Prata disse...

Anónimo do casal "do Monte do Surdo":
O Manuel Leitão seria da Paradanta, pois o seu nome aparece, quase sempre, como Manuel Leitão Paradanta. O seu filho José Leitão Paradanta continuou como rendeiro do casal e casou com Maria Pires, do Casal da Serra. A filha de ambos, Maria Pires Leitão, casou com João Rodrigues Lourenço Caio, da Torre, que veio a ser capitão das ordenanças da Vila. Também estes moraram sempre no casal. Os seus filhos casaram com membros das famílias mais abastadas do concelho.

Ernesto Hipolito disse...

Ainda faltou:
Chovia se Deus a dava!
E.H.

Anônimo disse...

E depois da chuva, nos caminhos ou sítios de terra húmida e batida, jogava-se ao espeta.
Jogo mais de rapazes, mas algumas raparigas também jogavam.
Ainda se lembram? Também jogaram?
Como era o jogo e as suas regras, sabem?
Será que alguém ainda joga?
Será que existem fotos?
Eram outros os tempos e outros os jogos.

Ficam as perguntas à espera de respostas e a saudades de meninice (minha) e juventude de outros vicentinos.

Bjs :*)

Anônimo disse...

A minha mae falava de jogar a pelota.
pelo que investiguei tem oigem no
norte de Espanha.
Comentarios?
Isabel Caio Dixon