terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Enxadão?

Encontrei-o no Ribeiro de D. Bento, no tronco de uma oliveira há muito cortada. Talvez tenham sido os Coelhitos e deixá-lo lá, pois trouxeram o lameiro muitos anos à renda.
A parte da pá foi acrescentada, como mostra a costura.
Meti-lhe um cabo e até já o levei para as aulas, a explicar à malta como se faziam as sorrubas (as arroteias, na linguagem dos livros).
Chamo-lhe enxadão, não sei porquê. Não é bem como o vosso bôchero!


José Teodoro Prata

7 comentários:

Anônimo disse...

Sobre alfaias agrícolas, já nem me pronuncio, com medo de fazer má figura. Acho que conheço e sei usar as mais vulgares, mas deixo a última palavra para o Ernesto ou para quem saiba mesmo do assunto…
Sobre o desafio do Francisco, na publicação anterior, para a leitura do Miguel Torga, apoio-o completamente. Sou fã!
E já agora, para quem ainda não viu, recomendo o vídeo “O meu Portugal - biografia de Miguel Torga”, que está no portal Ensina. São cerca de cinquenta minutos de completo deleite…
M. L. Ferreira

Anônimo disse...


Boucheiro ou 'bôtchêro'?

Já há tempos se me pôs o problema da 'boutcha'. Diz-se, na vila, que 'boutcha' é uma grande fogueira. Na altura, pareceu-me que seria o mesmo que boucha, com a pronúncia semelhante ao castelhano. Pois, como é sabido, o 'ch' soa, em castelhano, como 'tch'. Por exemplo, chico (menino, jovem) soa 'tchico'. Sendo certo que, em português, boucha é o mesmo que bouça ou boiça; ou seja, o lugar em que se cria mato para roçar. Depois, provavelmente, há uma certa confusão (pelo menos outra conclusão não consegui tirar) entre a boucha (local em que se cria o mato) e a queima (ou queimada) desse mato.
Chegados aqui, vem a questão do boucheiro. Se dermos por assente a palavra boucha, com o significado acima referido, é natural que a ferramenta mais apropriada para trabalhar na boucha, seja o boucheiro. As palavras são da mesma família. Parece-me lógico. E daí que o boucheiro seja muito mais robusto que a enxada. Esta tem uma folha mais fina e utiliza-se nos terrenos aráveis de hortícolas. O boucheiro, porque tem uma folha larga um pouco mais forte que a da enxada de um lado (para cavar) e, do lado oposto, uma peta (para rasgar) é óbvio que está muito mais adaptado a terrenos pedregosos. Por isso os nossos pais o utilizavam para cavar alqueve. Mas não encontrei ‘boucheiro’ nos dicionários que consultei.
Este termo, influenciado pelo castelhano tem, na vila, uma pronúncia própria. Que não sei se se consegue escrever, mas que é mais ou menos isto: 'bôtchêro'. Daí aquela observação do EH na postagem anterior.
Já no que toca ao ‘enxadão’ do ZT, acho que é uma ferramenta sobretudo para rasgar. É verdade que tem uma folha (mas, dir-se-á, atrofiada) para um lado, e um picão para o outro. Por isso, parece ser um misto entre o boucheiro e a picareta. Ideal para serrubar. Curiosamente, os verbos serrubar, surrobar ou sorrubar não constam dos dicionários que consultei. Mas é lógico que quererão significar derrubar ou derribar o serro (também tem a grafia cerro), que é um pequeno monte.
Sobre esta ferramenta os dicionários apresentam várias hipóteses (além de ‘enxada grande’ como sugere o termo): alvião, alferça, peta, peto, petal, picareta. E aqui parece que também cabe o nosso ‘bôtchêro’. Porque todas elas têm em comum uma folha (mais larga ou mais atrofiada) para um lado e um picão do lado oposto.

ZT: admiro a tua didáctica.

Um abraço p/ Vcs.

ZB

Anônimo disse...

Admiro os colaboradores deste bogue, que tanto o têm enriquecido, ao retroceder àqueles tempos antigos em que o homem para sobreviver tinha que trabalhar tanto e nos fazem recordar de como aqueles tempos eram difíceis.
E conseguem desenterrar estas pequenas/grandes histórias sobre essas vivências.
Obrigado a todos os que contribuem para esta partilha, que também "partilho" diariamente e que me alivia um pouquinho o meu longo dia de trabalho.

Tina Teodoro

Anônimo disse...

Quem sabe, sabe! E o ZB sabe mesmo!
É uma riqueza, a nossa língua! Ainda por cima com as especificidades e influências de cada região!
Nós, por cá, como se não nos bastassem as influências mais imediatas que nos chegam de Espanha (como parece ser também o caso da palavra Enxidro), ainda acrescentamos ou trocamos letras no início, no meio e no fim das palavras. Depois procuramos e não lhes achamos o significado nos dicionários… Podia vir papel!
Há tempos uma vizinha pedia-me desculpa por entrar, como ela dizia, tão “embouteda” na minha casa. Percebi bem o que ela queria dizer e não preciso revelar a minha resposta, mas depois quis saber o verdadeiro significado e a origem da palavra. Não a vi no dicionário, mas está no Google e, pelos vistos, é de origem galega (emboutar). Tem a ver com a prática de espalhar nas eiras uma mistura de bosta e água para tapar as fendas e facilitar a malha.
Vi, há tempos, no blogue do Albano de Matos a referência a esta prática, mas acho que lhe chamava “embostar”. Não consegui confirmar (não sei o que se passa, mas já há algum tempo que não consigo ter acesso a este blogue)…
Ainda um pouco a propósito de tudo isto: há tempos uma vizinha minha, que é do Violeiro, contava-me que na serra do Ingarnal há um sítio onde não nasce qualquer tipo de vegetação num raio de muitos metros. Diz o povo que é porque é ali que está enterrada a arca do Anoé. Uma delícia!

M. L. Ferreira

Unknown disse...

Peço que publique uma imagem de uma alferçe (ou um alferçe)?.

Unknown disse...

Em Tendais ,Concelho de Cinfães existe um local Enxidrô.Qual sera a origem e significado ou etimologia deste toponímico?

José Teodoro Prata disse...

Manuel Monteiro:
Segundo um familiar meu que investigou o assunto, existe no castelhano um termo idêntico. O nosso enxidro virá desse termo castelhano ou terão a mesma origem. Significa terreno baldio. No passado (até ao século XIX), a maioria dos terrenos ainda comuns, pelo menos em certos concelhos onde rareavam os senhores.
Quanto a alferça, não sei mais do que aquilo que vem no comentário do ZB.