sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Óbitos, 1810

ÓBITOS, 1810
Paróquia de Nossa Senhora da Assunção
São Vicente da Beira

- 1810: batismos, 52; óbitos, 106; saldo fisiológico, -54; mesmo considerando que vários bebés faleceram antes de serem batizados (números 32, 34, 41…) e por isso não foram contabilizados, este saldo fisiológico negativo é esmagador. De lembrar, para quem não nos segue de forma continuada, que antes das Invasões Francesas se iniciarem (final de 1807) a nossa freguesia já registava saldos fisiológicos positivos. Mortalidade nos anos anteriores: 1807, 42; 1808, 45; 1809, 58; 1810, 106.
- Globalmente, faleceram 55 menores, 7 deles crianças expostas, ambos os valores bastante acima do que era costume, nos anos anteriores. A mortalidade infantil iniciou-se no final da primavera, teve o seu pico no verão e depois prolongou-se pelo outono. Mas os jovens e adultos também faleceram em número muito superior ao normal.
- Em termos geográficos, a mortalidade abrangeu toda a freguesia, mas com maior incidência na Vila e Pereiros. Em São Vicente, parecem ter morrido famílias inteiras, mas este comentário não tem base científica. O Tripeiro, o Mourelo e o Violeiro terão tido uma mortalidade normal. Já em 1809, a mortalidade incidira no corredor São Vicente – Partida e nas franjas da Paradanta e Vale de Figueiras.
- Houve enterramentos no adro, certamente por falta de espaço dentro da Igreja. O caso de Dona Ignes Caetana é diferente, pois foi sepultada na Igreja da Misericórdia, com era costume fazerem as senhoras da elite local (já anteriormente tivemos outros casos).
- Para quem se interessa pela escrita dos nomes das pessoas, informo que a maioria dos registos deste ano foram feitos pelo cura Francisco Joze de Mesquita. Além de ter uma letra quase tão má como a minha, escrevia de forma muito mais arcaica que o vigário: voltou o Roiz e vez de Rodrigues, embora tenha sido ele a escrever pela primeira vez Ines em vez de Ignes.
- Temos nestes registos uma novidade absoluta: os franceses assassinaram um homem dos Pereiros, nos últimos dias de novembro.
O general Massena conquistara a fortaleza de Almeida, a 28 de agosto deste ano de 1810, e depois avançoU para Coimbra (batalha do Buçaco) e Lisboa, sendo travado pelas Linhas de Torres Vedras, em outubro. Constatando o inevitável, que as não conseguia transpor, retirou para o Ribatejo, onde podia alimentar o seu exército. A 1 de fevereiro de 1811, passou pela Estrada Nova uma força militar francesa que vinha reforçar o exército de Massena e deu-se então a emboscada da Enxabarda, onde morreram mais de 200 franceses.
Mas a morte do nosso homem dos Pereiros é anterior: foi sepultado a 30 de novembro de 1810. Como nos situamos no corredor entre o Ribatejo e Cidade Rodrigo, é provável que Manoel Leitaõ (n.º 95) tenha sido morto durante a passagem, no concelho, de um corpo do exército francês (tínhamos, a noroeste, a Estrada Nova, nos cumes da Gardunha, e a sul, a estrada mais usada na época: Sobreira Formosa, Monte Gordo, Salgueiro do Campo, Freixial do Campo, Tinalhas, Soalheira…)
No ano de 1810, os habitantes do concelho continuaram a pagar impostos extraordinários para financiar a guerra e os nossos ganhões foram requisitados para fazer serviços de transporte gratuitos, além dos donativos em dinheiro e géneros dos anos anteriores. O reino estava em ruína económica e social e o nosso saldo fisiológico de -55, neste ano de 1810, é um bom retrato dessa realidade.

1
Nome: Izabel Marques, solteira
Família: filha de Felipe Martins Martelo e Maria Marques (de São Vicente da Beira?)
Data: 13/01/1810

2
Nome: Joze de Oliveira, solteiro
Família: filho de Joze de Oliveira e Francisca Gonçalves (de São Vicente da Beira?)
Data: 13/01/1810

3
Nome: João Martins
Família: casado com Barbara Gonçalves, do Tripeiro, São Vicente da Beira
Data: 25/01/1810

4
Nome: Antonio da Silva
Família: casado com Brites Leitoa, de São Vicente da Beira
Data: 26/01/1810

5
Nome: Antonio Rodrigues Penamacor
Família: casado com Jozefa Martins, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 28/01/1810

6
Nome: Anna Joaquina
Família: viúva de Francisco Antonio, de São Vicente da Beira
Data: 30/01/1810

7
Nome: Manoel
Família: menor, filho de Manoel Joze e Anna Luiza, do Casal da Serra, São Vicente da Beira
Data: 05/02/1810

8
Nome: Francisco
Família: menor, filho de Manoel Lourenço e Jozefa Maria, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 08/02/1810

9
Nome: Joze Gonçalves
Família: de São Vicente da Beira
Data: 25/02/1810

10
Nome: Narciza
Família: menor, filha de Joze Caetano e Anna Rita, de São Vicente da Beira
Data: 27/02/1810

11
Nome: Martinha Francisca
Família: casada com Luis Rodrigues, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 27/02/1810

12
Nome: Francisco Rodrigues Castanheira
Família: casado com Margarida Antonia, de São Vicente da Beira
Data: 25/03/1810

13
Nome: Joaõ
Família: menor, filho de Joze Matheus e Maria Francisca, do Tripeiro, São Vicente da Beira
Data: 29/03/1810

14
Nome: Dona Izabel da Graça de Azevedo Lemos e Andrade
Família: solteira, de São Vicente da Beira
Data: 03/04/1810

15
Nome: Antonio
Família: menor, filho de Antonio Joze e Joaquina Leitoa, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 12/04/1810

16
Nome: Manoel Leitaõ
Família: solteiro, filho de Manoel Leitaõ e Maria Mendes, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 22/04/1810

17
Nome: Anna de Saõ Joze
Família: casada com Estevaõ Vas, de São Vicente da Beira
Data: 26/04/1810

18
Nome: Manoel Luis
Família: casado com Maria Roza, de São Vicente da Beira
Data: 26/04/1810

19
Nome: Jozefa Maria
Família: casada com Manoel Lourenço, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 27/04/1810
Observações: «… foi tão somente absolvida pelo pulso e ungida, por um delírio, que lhe veyo antes de chamarem…»

20
Nome: Tereza Maria
Família: casada com Joaõ Lopes, de São Vicente da Beira
Data: 06/05/1810

21
Nome: Izabel
Família: menor, filha de Joze Dias e Jozefa Nunes, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 09/05/1810
Observações: faleceu pouco depois de nascer, batizada particularmente

22
Nome: Caterina Roque
Família: solteira, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 10/05/1810

23
Nome: Joaõ Lopes
Família: viúvo de Tereza Maria, de São Vicente da Beira
Data: 11/05/1810

24
Nome: Joana
Família: menor, filha de Joze Vas e Anna Joaquina, de São Vicente da Beira
Data: 20/05/1810

25
Nome: Maria Joaquina
Família: mulher de Ambrozio Duarte, de São Vicente da Beira
Data: 21/05/1810

26
Nome: Anna Maria
Família: viúva de Joze Vás, de São Vicente da Beira
Data: 22/05/1810

27
Nome: Joze
Família: menor, filho de Jacinto Antunes e Izabel Leitoa, da Senhora da Orada, São Vicente da Beira
Data: 03/06/1810

28
Nome: Maria
Família: menor, exposta e dada a criar a Anna Custodia Maria, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 10/06/1810

29
Nome: Maria Rodrigues
Família: viúva de Manoel Leitaõ, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 12/06/1810

30
Nome: Joze Pedro
Família: casado com Joanna do Couto, de São Vicente da Beira
Data: 17/06/1810

31
Nome: Jozefa Maria
Família: viúva de Joze Gonçalves, de São Vicente da Beira
Data: 25/06/1810

32
Nome: uma menina
Família: menor, filha de Joaquim Leitaõ e Anna da Costa, de São Vicente da Beira
Data: 26/06/1810
Observações: faleceu depois de batizada em necessidade

33
Nome: Bonifacio
Família: menor, filho de Joze Pedro e Joanna do Couto, de São Vicente da Beira
Data: 27/06/1810

34
Nome: um menino
Família: filho de Manoel Bernardo e Anna de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 11/07/1810
Observações: nasceu, foi batizado em perigo e logo faleceu

35
Nome: Ventura
Família: menor, filha de Joze Leitaõ e Anna do Nascimento, de São Vicente da Beira
Data: 16/07/1810

36
Nome: Joana Couto
Família: viúva de Joze Pedro, de São Vicente da Beira
Data: 21/07/1810

37
Nome: Maria Duarte
Família: viúva de Romoaldo de Proença, de São Vicente da Beira
Data: 23/07/1810

38
Nome: Joze Vas
Família: casado com Anna Joaquina, de São Vicente da Beira
Data: 24/07/1810

39
Nome: Domingos Onofre
Família: casado com Maria Francisca, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 28/07/1810

40
Nome: Dona Ignes Caetana
Família: viúva de Francisco Caldeira, Capitão-Mor da Vila (São Vicente da Beira)
Data: 01/08/1810
Observações: faleceu apenas com o sacramento da santa unção; foi sepultada na Igreja da Santa Casa da Misericórdia

41
Nome: um menino
Família: filho de Manoel Francisco e Maria Leitoa, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 05/08/1810
Observações: faleceu pouco depois de nascido «…batizado em casa por não ser de tempo…»

42
Nome: Antonio
Família: menor, filho de Joze Martins e Anna Martins, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 06/08/1810

43
Nome: Joana
Família: menor, exposta e dada a criar a Maria Lourença, casada com Manoel da Costa, de Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 08/08/1810

44
Nome: Sebastiaõ
Família: menor, filho de Manoel Joze e Jozefa Custodia, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 10/08/1810

45
Nome: Joaõ
Família: menor, filho de Antonio Barreiros e Maria Vas, de São Vicente da Beira
Data: 10/08/1810

46
Nome: um menino
Família: filho de Antonio Mendoça e Joana Monteira, naturais de Idanha-a-Nova
Data: 12/08/1810
Observações: nasceu em perigo, foi batizado e faleceu, no Casal da Serra, São Vicente da Beira

47
Nome: Antonio
Família: menor, filho de Marcos Duarte e Rosaura Freire, moradores em Tinalhas
Data: 17/08/1810

48
Nome: Maria
Família: menor, filha de Manoel Pires e Izabel Fernandes, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 19/08/1810

49
Nome: Anna
Família: menor, filha de Joaõ Nogueira e Joaquina Bexiga, naturais de «Idanha Nova»
Data: 20/08/1810
Observações: batizada particularmente por nascer em perigo e não querer mamar

50
Nome: Antonia
Família: menor, filha de Bernardo Joze e Jozefa Maria, naturais de Idanha-a-Nova
Data: 22/08/1810

51
Nome: Joaõ
Família: menor, filho de Joze da Cruz e Luiza Leitoa, do Casal da Serra, São Vicente da Beira
Data: 22/08/1810

52
Nome: Custodio Joze dos Santos
Família: casado com Rita Maria, de São Vicente da Beira
Data: 23/08/1810

53
Nome: Maria
Família: menor, filha de Manoel de Barros e Vicencia Maria, de São Vicente da Beira
Data: 28/08/1810

54
Nome: Anna
Família: menor, exposta que criava Inocencia Gama, mulher de Manoel Fernandes, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 30/08/1810

55
Nome: Maria
Família: menor, filha de Joze Pires e Maria Fernandes, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 01/09/1810

56
Nome: Joaquim
Família: menor, filho de Antonio da Conceiçaõ e Joana Faustina, de São Vicente da Beira
Data: 04/09/1810

57
Nome: Domingos
Família: menor, filho de Antonio Gonçalves e Maria Joana, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 04/09/1810

58
Nome: Maria Nunes
Família: viúva de Joaõ Duarte, do Casal da Serra, São Vicente da Beira
Data: 11/09/1810

59
Nome: Francisco
Família: menor, filho de Joaõ Duarte e Maria Rofina, de São Vicente da Beira
Data: 13/09/1810

60
Nome: Maria
Família: menor, filha de Manoel Antunes e Maria Vas, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 13/09/1810

61
Nome: Joaõ
Família: menor, filho de Joze Bernardo Carpinteiro e Anna Roza, de São Vicente da Beira
Data: 14/09/1810

62
Nome: Ignes
Família: menor, filha de Joze Leitaõ e Maria Roza, de São Vicente da Beira
Data: 14/09/1810

63
Nome: Manoel Antunes Moreira
Família: casado com Izabel Martins, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 16/09/1810

64
Nome: Joaõ
Família: menor, exposto que criava Custodia, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 16/09/1810

65
Nome: Antonio
Família: menor, filho de Miguel dos Santos e Angelica Jacinta, de São Vicente da Beira
Data: 16/09/1810

66
Nome: Antonia
Família: menor, filha de Joaõ Francisco e Jozefa Roiz, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 17/09/1810

67
Nome: Brites
Família: menor, filha de Joaõ Barata e Anna Gonçalves, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 20/09/1810

68
Nome: Domingos Pires
Família: solteiro (sem mais informação)
Data: 20/09/1810

69
Nome: Joze Barrozo
Família: casado com Anna Canuta, de São Vicente da Beira
Data: 20/09/1810

70
Nome: Anna
Família: menor, filha de Joze dos Reis Tourinho e Joanna da Concessam, de Castelo Branco
Data: 28/09/1810

71
Nome: Joaõ Roiz
Família: casado com Maria Antunes, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 04/10/1810

72
Nome: Manoel
Família: menor, filho de Antonio Roiz e Inocencia Maria, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 09/10/1810

73
Nome: Maria
Família: menor, filha de Martinho Roiz, já defunto, e Margarida Antonia, de São Vicente da Beira
Data: 09/10/1810

74
Nome: Izabel
Família: menor, filha de Manoel Pereira, já defunto, e Maria Martins, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 13/10/1810

75
Nome: Izabel
Família: menor, filha de Joze Martins e Maria Roza, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 16/10/1810

76
Nome: Francisca
Família: menor, exposta que criava Custodia Maria, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 16/10/1810

77
Nome: Antonio
Família: solteiro, filho de Joze Barrozo, já defunto, e Anna Barroza, de São Vicente da Beira
Data: 17/10/1810

78
Nome: Bras Antunes
Família: casado com Izabel Figueira, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 19/10/1810

79
Nome: Faustino Lourenço
Família: viúvo de Maria Luzia, do Tripeiro, São Vicente da Beira
Data: 24/10/1810

80
Nome: Helena
Família: menor, filha de Joaõ Francisco e Maria Leitoa, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 27/10/1810

81
Nome: Anna Barroza
Família: viúva de Joze Barrozo, de São Vicente da Beira
Data: 30/10/1810

82
Nome: Jozefa
Família: menor, exposta que criava Antonia Maria, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 30/10/1810

83
Nome: Sezilia
Família: menor, filha de Manoel Joze e Jozefa Custodia, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 31/10/1810

84
Nome: Jozefa
Família: menor, exposta que criava Ines Leitoa, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 31/10/1810

85
Nome: Antonio Rodrigues
Família: casado com Inocencia Martins, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 06/11/1810

86
Nome: Joaquina
Família: menor, filha de Joze Henriques e Anna Maria, de São Vicente da Beira
Data: 06/11/1810

87
Nome: Maria Reloa
Família: viúva, de São Vicente da Beira
Data: 07/11/1810

88
Nome: Izabel Figueira
Família: viúva de Bras Antunes, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 09/11/1810
Observações: deixou testamento

89
Nome: Dona Anna Joaquina de Salvaterra
Família: casada com Bernardo Pinto
Data: 14/11/1810

90
Nome: Antonio
Família: menor, filho de Joaõ de Oliveira e Anna de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 16/11/1810

91
Nome: Caetano
Família: menor, exposto que criava Joana Maria, mulher de Manoel Venancio, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 18/11/1810

92
Nome: Maria Antunes
Família: viúva de Joaõ Rodrigues, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 18/11/1810

93
Nome: Silvestre Francisco
Família: viúvo de Roza Maria, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 29/11/1810
Observações: faleceu sem sacramentos, por não chamarem

94
Nome: Manoel
Família: menor, filho de Marcos Duarte e Rosaura Maria, de Tinalhas
Data: 29/11/1810

95
Nome: Manoel Leitaõ
Família: casado com Maria Jozefa, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 30/11/1810
Observações: faleceu assassinado (asacinado) pelos Franceses e por isso sem sacramentos

96
Nome: Joze Pedro
Família: solteiro, de São Vicente da Beira
Data: 06/12/1810

97
Nome: Roza Maria
Família: mulher de Manoel Leitaõ, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 07/12/1810

98
Nome: Joana Maria
Família: mulher de Manoel Venancio, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 07/12/1810
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

99
Nome: Francisco
Família: menor, filho de Joze de Mesquita e Roza Maria, de São Vicente da Beira
Data: 10/12/1810
Observações: nasceu, foi batizado em necessidade e faleceu

100
Nome: Marcelino
Família: menor, filho de Joze Leitaõ e Maria Martins, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 12/12/1810

101
Nome: Rodrigo Antunes
Família: viúvo, do Souto da Casa
Data: 18/12/1810
Observações: faleceu no Casal da Serra, de repente e por isso sem sacramentos; foi sepultado no adro da Igreja

102
Nome: Joze
Família: menor, filho de Antonio Martins e Joaquina Maria, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 19/12/1810

103
Nome: Anna
Família: menor, exposta que foi batizada em perigo de vida
Data: 25/12/1810

104
Nome: Maria Leitoa
Família: viúva, de São Vicente da Beira
Data: 26/12/1810

105
Nome: João Leitaõ
Família: casado com Izabel Maria, de São Vicente da Beira
Data: 28/12/1810

106
Nome: Maria Magdalena
Família: viúva e pobre, de São Vicente da Beira
Data: 31/12/1810

José Teodoro Prata

7 comentários:

Margarida Gramunha disse...

Bom dia professor,

O que levava as mães a abandonar os filhos em tempos tão religiosos? A fome ou a ilegitimidade dos mesmos? Era facil esconder uma gravidez nestes tempos?
Como se redimiam de tamanho pecado?
O nº 19 desta listagem deixou-me intrigada
19

Nome: Jozefa Maria

Família: casada com Manoel Lourenço, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira

Data: 27/04/1810

Observações: «… foi tão somente absolvida pelo pulso e ungida, por um delírio, que lhe veyo antes de chamarem…»
Que quer dizer esta observação?

Grata
Margarida Gramunha

José Teodoro Prata disse...

Margarida:
Há uns tempos, a Libânia comentou que se admirava como é que as mães aguentavam ver morrer assim os seus filhos, por vezes todos... Tinham de ter pouco ligação a eles, como ela já constatara de histórias que ouvira.
É bom percebermos que, apesar dos nossos pessimismos face ao presente, talvez nunca tenha havido tanta humanidade, pelo menos no dito mundo ocidental (noutras regiões do mundo, os pais ainda vendem os filhos a troco de uma bagatela!). Embora seja custoso admitirmos, o bem-estar material trouxe um acréscimo de afetos. Resolvidos os problemas do estômago, ficamos livres para outras questões.
Com os enjeitados, a questão era semelhante: com muitas carências materiais e pouca cultura, nem a religião se impunha. E o povo é matreiro, calculista, até a Deus ele sabe dar a volta (a confissão não lava tudo?).
Quanto ao caso do registo n.º 19, transcrevi porque também não entendi.
Absolvida pelo pulso?!!! Há rituais que mudaram com o tempo e não sei o que isto quer dizer.
Já o delírio, entende-se: a senhora ficou "louca", descontrolada, talvez até agressiva, sem condições para receber a extrema-unção.

Acho que respondi de forma pouco consistente, mas também tenho muitas interrogações.

Ernesto Hipólito disse...

Hoje em dia, ser mãe solteira, felizmente é uma situação normal.Como diz o Zé Teodoro há muito mais humanidade.
Não é necessário retrocedermos a 1810; basta olhar quarenta ou cinquenta anos atrás para ver que engravidar sem estar casada era para uma mulher uma vergonha e uma mancha na "honra" da família. Daí vinham os casamentos à pressa, os abortos ou até o abandono dos recém-nascidos.
Havia não só grande facilidade em esconder uma gravidez devido às roupagens largas que se usavam mas também situações em que só quando a criança nascia é que se descobria. As mulheres andavam "apertadas" e mesmo as mulheres casadas tinham vergonha do seu estado interessante.
Por vezes a ignorância era tal que eu conheço um caso em que uma senhora não sabia por onde iria sair o seu bébé.
Em relação ao "pecado", as mulheres solteiras que incorriam nele se não casassem ficavam marcadas para sempre.
Não sei se falei demais!.

E.H.

Anônimo disse...

Só uma achega ao comentário do José Teodoro:
A perplexidade da Margarida é natural porque cresceu e, apesar das dificuldades atuais, vive num tempo de algum conforto económico. Para além disso, e talvez sobretudo por isso, vive num tempo em que os casais podem decidir ter os filhos que quiserem ou puderem ter. E isto faz toda a diferença no modo como as crianças são aceites na família e na sociedade: uma criança desejada é necessariamente uma criança mais amada. Para além disto, o facto de até há relativamente pouco temo, como verificamos nos registos aqui publicados, a mortalidade infantil ser muito elevada, fazia com que os pais investissem pouco na relação afetiva com os filhos. Seria uma forma, quase irracional, de se defenderem do sofrimento que a morte lhes traria.
Mas isto é o que dizem os livros! Se calhar, a realidade é bem diferente… Nunca me esquecerei da minha avó que viveu a maior parte da vida dela vestida de luto pesado e lágrima no olho por uma das filhas que morreu na flor da idade, como ela dizia.
Os casos de crianças expostas que aqui aparecem frequentemente nos registos de batismo poderão ter a ver com situações de pobreza, mas acho que na maior parte dos casos se deverá a abusos sexuais por parte de homens que estavam em situação de superioridade sobre as mulheres (patrões, padres, militares, etc.). Em caso de gravidez fora do casamento, as dificuldades económicas e a censura social deviam ser tão grandes que as mulheres se viam obrigadas a abandonar os filhos na roda ou à porta de pessoas que pudessem criá-los.
Felizmente que agora tudo é diferente! Para os pais e para os filhos…

M. L. Ferreira

Ernesto Hipólito disse...

Libânia:

O "chato como a sarna" gostou desta achega que deste para as perguntas da Margarida. Há também uma situação que sempre me revoltou. Todos sabemos que o sexo é bom é irresistível e tanto os homens como as mulheres o praticam.A minha revolta é que enquanto o homem seguia a sua vida normalmente e até se gabava do que tinha feito, contribuindo para a humilhação da mulher,esta,solteira,caso engravidava e não casava,acabava ali a sua vida sexual e começava uma vida inteira de humilhação pelo "pecado" que um dia cometeu.
Qual pecado?.

E.H.

Anônimo disse...

Vamos lá ver se este comentário fica, se cumpro os passos todos para que passe para o lado de lá.
Com os parabéns atrasados ao ZTP pelo sexto aniversário (o comentário perdeu-se na linha - por incompetência minha, que fique claro), sobre os expostos acrescentaria o seguinte: ainda que custe, o sentimento maternal, como o conhecemos, é coisa recente (os mais heterodoxos, ou provocadores, diriam que é uma construção recente). O interesse da mãe pela criança e o cuidado a esta dispensado variou ao longo do tempo; o que hoje nos choca, como o que nos inebria, já teve outras "leituras". Ainda no século XVIII e XIX, as mães de mais posses e de maior proeminência social davam os filhos a criar a mulheres plebeias, em certo tempo reavendo-os, já criadinhos, quando tinham 4-5 anos; foi a mesma ordem de razões que levou responsáveis de Misericórdias portuguesas, a meterem num cesto 2 ou 3 dos "seus" expostos, para os exporem nas rodas de concelhos mais afastados; e na mesma linha encontramos o negócio montado, ainda no século XIX, em muitos locais do país, ao tempo com foros de escândalo para certas consciências, de amas açambarcadoras de expostos dados a criar, subestabelecendo esse serviço, a troco de uma pequena parte da subvenção que lhes era paga. Enfim, outro tempo. Quanto ao amor paternal (concordando com E. Badinter), se o amor maternal é recente, aquele foi uma conquista aind mais tardia.
Fica em aberto a questão do amor filial.
Um bom ano sétimo ano para todos.
JoséMiguelTeodoro

Margarida Gramunha disse...

Bem haja a todos pelas achegas , foram de grande ajuda. Já ando por aqui a mastigar um outro texto sobre o amor paternal e filial nos dias de hoje , segundo o que tenho observado à minha volta, aqui nesta cidade (Aveiro).