sexta-feira, 27 de maio de 2022

O jesuíta Leonardo Nunes

Esta semana passou na Rádio Castelo Branco um podcast meu sobre o vicentino Leonardo Nunes. Eis o texto. Podem ouvi-lo em http://www.radiocastelobranco.pt/audioteca/, na rubrica História ao Minuto (é o 1.º da listagem).

O papa Francisco foi o primeiro jesuíta a alcançar o cargo máximo da Igreja Católica. Os jesuítas são assim chamados por pertencerem à Companhia de Jesus, uma organização religiosa criada em 1534, pelo espanhol Inácio de Loyola.

Naquele século XVI, os jesuítas foram uma ajuda preciosa para a Igreja Católica no combate ao protestantismo europeu e na conversão de povos não cristãos das colónias portuguesas e espanholas da América, África e Ásia.

Já aqui referimos os jesuítas António de Andrade, de Oleiros, e Manuel Dias, de Castelo Branco, ambos missionários na Ásia.

Outro beirão famoso foi o padre Leonardo Nunes, natural de São Vicente da Beira, que integrou o grupo de missionários da comitiva do primeiro Governador-Geral do Brasil, Tomé de Sousa, em 1549. Neste grupo de jesuítas chefiado pelo padre Manuel da Nóbrega seguia também o albicastrense António Pires.

Leonardo Nunes fixou-se na Capitania de São Vicente, onde foi pioneiro na missionação, tendo ali fundado uma igreja e um seminário. Mas o seu trabalho incidiu sobretudo na conversão dos índios do interior, em que obteve grande sucesso.

O trabalho do padre Leonardo Nunes na evangelização dos colonos portugueses e dos índios, no sul do Brasil, inspirou o realizador d´A Missão, um filme de 1986.

José Teodoro Prata

4 comentários:

José Barroso disse...

Lá está! Pelo telemóvel não é fácil!
Já vos ouvi falar várias vezes neste nosso conterrâneo, Leonarno Nunes. Creio que foi este que morreu num naufrágio no regresso a Portugal. Com 36 anos? Não sei se estou a ver bem a coisa. Mas, se foi assim, não deve ter tido muito tempo para converter os índios...
Os jesuítas parecem que eram uma malta terrível. Por aquilo que dizia o Marquês de Pombal. Guerra Junqueiro também diz algures num poema (cito de memória):
"Como é que o Filho de Maria pode ainda ser bom, andando há tanto tempo em tão má COMPANHIA."
O que é certo é que eram rijos e sabiam muito! Alguns faziam frentes à própria Inquisição, um Estado, dentro do Estado. E, lá está, havia os tais exemplos inexcedíveis!
Vi o filme "A Missão". Grandes lições de humanismo dos jesuítas e até das crianças índias em relação ao caçador de nativos. Robert de Niro, Jeremy Irons, música espantosa, como sempre, do Enio Morricone (falecido há pouco tempo).
Abraços, hã!
JB

M. L. Ferreira disse...

De facto, o fenómeno da evangelização tem muito que se lhe diga, mas era assim naquele tempo.
Parece que o caso do Padre Leonardo Nunes foi exemplar: segundo o Padre José de Anchieta, também jesuíta, convertia mais pelas obras que pelas palavras, ao contrário do que acontecia na altura (e continua a acontecer) com muitos membros da Igreja, o que não era mau. A prova de que, apesar de ter morrido muito novo, deixou uma obra difícil de esquecer é que em Peruíbe, cidade que terá ajudado a fundar, foi criada uma associação de âmbito social com o seu nome (li isto na Wikipédia…). Passados tantos anos, é notável!
Quem nos podia dizer mais alguma coisa sobre este Aberebebê era o JMT, mas anda por lá ocupado nas vidas dele…

José Teodoro Prata disse...

Sim, o JMT é que é o especialista em Leonardo Nunes. Através do blogue, cheguei a comprar e enviar um exemplar do livro dele sobre o Leonardo Nunes (“Abarebebê” Tão rápido como um beija-flor), para um investigador no Brasil. À Câmara de Castelo Branco foi pedido outro exemplar.
Pelo comentário do José Barroso, fiquei com a impressão de que ele não tem conhecimento deste livro. Ainda existem exemplares para venda na Biblioteca Municipal de Castelo Branco.
No tempo de Pombal e depois de Guerra Junqueiro (séculos XVIII e XIX), a Companhia de Jesus já era uma organização muito rica e poderosa, mesmo no seio da Igreja, longe dos ideais dos tempos da sua fundação (século XVI). Por isso foi expulsa de Portugal, por três vezes (século XVIII, com Pombal; século XIX, após a revolução libera; e século XX, com a implantação da República).
A propósito, na quarta-feira, dia 1 de junho, o Dr. Luís Costa, antigo professor da ESE de Castelo Branco e natural do Louriçal do Campo, lança um livro sobre o Colégio de São Fiel. Já vários foram publicados, mas este é especial, pois nele se retrata a forte ligação da instituição com a comunidade local em que estava inserida. E quem melhor que um filho da terra para fazer isso?

Anônimo disse...

Meus caros,
Chego mais uma vez atrasado; paciência. Todavia, não deixo de me manifestar, hoje que cumpro o sexto dia de isolamento.

Sugiro ao J. Barroso que leia o "Abarebebê". O papel dos jesuítas em rasgar o território do Brasil foi extraordinário - guiados por um sentido de missão religiosa, expandem a presença no território, a partir de Salvador da Baía, praticamente até ao rio da Prata, em tempos de colonização praticamente inexistente e fronteiras mais que incertas.

As cartas dos padres jesuítas do Brasil, em que se incluem, escrevo de memória, 3 de Leonardo Nunes estão publicadas (pelo padre Serafim Leite) e serviram de fonte principal àquela obra, e, além disso, documentam, entre muitíssimas outras coisas, o papel dos mesmos na fundação da actual cidade de São Paulo (vide Pauliceae Lusitana Monumenta Historica, org. Jaime Cortesão, 1956).

São fontes interessantíssimas, creiam-me. E saber que essa correspondência era encaminhada internamente, traduzida, copiada e recopiada, e feita circular pelos diversos pontos onde a Cª de Jesus estava presente, pondo em comunicação - com a celeridade possível - toda a "comunidade" parece-me um ponto muito interessante.

Sim, é verdade, Leonardo Nunes faleceu num naufrágio (30 de Junho de 1554), à saída do porto de S. Vicente com destino à Europa, provavelmente até Roma, para dar conta do que por lá se passava (a "missão" e os seus resultados, a relação no terreno dos padres da Companhia com os colonos portugueses, as relações daqueles com o governo geral e com as autoridades locais, os problemas dentro da própria "missão", de má relação, envolvendo padres e irmãos da Companhia. Era natural de "S. Vicente, no bispado da Guarda", tudo indica de ascendência de cristãos-novos.

Foi só isto que estudei. E isto tem um tempo, um contexto; como todos os outros eventos que muitas vezes misturamos, se não tivermos cuidado: uma coisa são os jesuítas do Brasil em 1550, outra as circunstâncias da acção de Pombal contra a Companhia (que não é a mesma Cª de 1550). Século e meio passado sobre as "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", de Antero, hoje podemos perceber que a simplificação e o raciocínio linear, em H., dando muito jeito porque explica as coisas de uma forma simples, é muito propícia a desfigurar realidades passadas, em geral, como sabemos, complexas.

Para concluir, aprecio cada vez mais ler fontes - testemunhos, memórias, correspondência. Uma sugestão, nessa área, o padre António Vieira - que existe, além dos Sermões, tratando de coisas bem temporais (ie, não estritamente religiosas). Ele também um jesuíta, como Leonardo Nunes, Manuel da Nóbrega ou o nosso contemporâneo Jorge Mario Bergoglio.

PS. Permitam-me uma menção, justa, mas que nunca pude fazer em público: considero a edição do "Abarebebê" das mais felizes por que passei e das mais qualitativas. Pela mão do professor Américo André, cuja acção em SVB não tenho a certeza de termos reconhecido devidamente.

José M Teodoro, do Casal