Estes versos foram publicados no jornal
“Pelourinho” de maio de 1961. Passados poucos meses, no dia 19 de dezembro,
pela recusa teimosa de Portugal em negociar as condições de transição pacífica propostas
por Nehru, a União Indiana invadia o território português na Índia.
Mesmo sendo evidente a desproporção de meios,
em homens e armamento, Salazar, na desumanidade própria dos ditadores que lhe
era tão comum em muitas decisões, deu ordens para que as nossas tropas resistissem
até à morte do último soldado. Mas o general Vassalo e Silva, governador do
território na altura, teve a coragem de desobedecer, e rendeu-se ao fim de
algumas horas de combate, já com várias dezenas de militares caídos de ambos os
lados.
Dos portugueses que escaparam à morte, algumas
centenas foram feitos prisioneiros e sujeitos a trabalhos forçados durante
meses. Entre eles estava o António Duarte Pedro que, sobre esse tempo, pouco
consegue dizer; mas a pergunta «Viste A
Ponte do Rio Kwai? Então podes avaliar o que nós lá passámos. Dizem que foi
tal e qual.» é bem clara sobre os tormentos por que passou.
Para além de muitas memórias sombrias, talvez lhe venha também desse tempo de guerra aquele assobio melodioso que nos abranda o passo quando lhe passamos à porta. Quem sabe se é o seu jeito de espantar os fantasmas quando teimam em assombrar-lhe a alma…
M. L. Ferreira
Nota: O
Albertino (Albertino Justino) referido nos versos do António Pedro já faleceu.
O Alfredo (Alfredo da Silva Lobo) vive em Lisboa, mas ainda volta ao Casal da
Fraga de vez em quando.
Não
consegui confirmar se também foram feitos prisioneiros, mas penso que sim.