José Ambrósio
José Ambrósio nasceu em São Vicente da Beira, no
dia 26 de julho de 1891. Era filho de Manuel Ambrósio, jornaleiro, natural da
Aldeia do Cabo, e de Catarina Narcisa, moradores na rua Manuel Lopes.
Assentou praça em Castelo Branco, onde fez a
instrução da recruta. Alguns anos após ter sido licenciado, foi novamente mobilizado
para fazer parte do CEP. Embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917,
integrado na 1.ª Bateria do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como
soldado com o n.º 156 e placa de identidade n.º 8798.
Do seu boletim individual constam as seguintes
ocorrências:
a)
Baixa
ao hospital, no dia 1 de outubro de 1917; alta a 6 do mesmo mês;
b)
Baixa
à Ambulância n.º 3, no dia 27 de dezembro; evacuado para o Hospital Sangue n.º 1,
no dia 31;
c)
Evacuado
para o Hospital Canadiano n.º 3, em 2 de janeiro de 1918; alta no dia 15; baixa
à Ambulância n.º 3, no dia 26, e evacuado para o H. de Sangue 1 no dia 27; alta
a 28; baixou de novo à ambulância em 2 de fevereiro; julgado incapaz para todo
o serviço no dia 11;
d)
Embarcou
para Portugal, no dia sete de Abril de 1918, a bordo do Cruzador Auxiliar Pedro
Nunes.
Família:
José Ambrósio casou com Maria Inês Martins, no
dia 2 de Abril de 1921. Maria Inês era natural dos Pereiros e foi aí que
ficaram a viver e criaram os quatro filhos que tiveram:
1.
Justina
Inês, que casou com João Lourenço e tiveram 6 filhos;
2.
Maria
do Carmo, que não se casou nem deixou descendência;
3.
Maria
Natividade, que casou com Joaquim Louro, mas não teve filhos;
4.
António
Joaquim, que casou com Maria Angelina Varanda e tiveram 1 filho.
José Ambrósio trabalhou a vida inteira na
agricultura, nas terras que herdou e noutras que foi comprando. Tinha uma casa
farta de tudo o que a terra dava, o que, juntamente com a pensão que lhe foi
atribuída por ferimentos na guerra, lhe permitiu ter sempre uma vida
desafogada.
«Eu era o
neto mais velho do meu avô e, se calhar por causa disso, gostava muito de mim e
dava-me muitos mimos. Eu também gostava muito dele e, se me queriam encontrar, era
atrás dele.
Às vezes chegava da
escola e ia destapar a panela para ver o que era o comer; se não me agradava,
saía porta fora e ia direitinho à casa dos meus avós, porque sabia que lá se
comia melhor. Já havia arroz, açúcar e tudo, coisa que na casa dos pobres era
rara, naquele tempo.
Lembro-me dele lá ter
um copo de esmalte, com uma asa, que disse que tinha trazido da França, e era
por ali que eu gostava de beber sempre. Ele ficava todo orgulhoso e comovido
por eu estimar assim tanto aquela recordação que tinha trazido da Guerra com
tanto empenho.
Como naquele tempo a
casa do meu avô era das mais fartas da terra, era lá que o padre Tomás ia comer
muitas vezes, nos domingos em que ia dizer a missa aos Pereiros. Faziam-lhe
sempre uma galinha para o almoço e ele, enquanto a não comia toda, não se
levantava da mesa. Eu bem andava ali à roda a ver se me dava alguma coisa, mas
ele até fazia que não me via.
Nos dias da feira, o
meu avô trazia-me à Vila e comprava-me roupa e calçado novo. Era uma alegria!
E o tempo foi passando.
Quando chegou a altura, fui para a tropa, para Moçambique, e andei por lá três
anos; depois casei e fui viver para Lisboa. Mas sempre que podia vinha à terra,
e ia sempre visitá-lo aos Pereiros.
Morreu já lá vão uns
bons anos, e continuo a ter muitas saudades dele.» (testemunho do neto Domingos
Lourenço).
José Ambrósio faleceu no dia 10 de Abril de
1981. Tinha quase noventa anos.
(Pesquisa feita com a colaboração do neto Domingos Lourenço)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra