Foi em Abril de 1836, numa sessão da Junta da Paróquia, antiga designação da Junta de Freguesia. A reunião decorria na sacristia da Igreja Matriz, ainda fechada ao culto, devido a obras que se arrastavam desde, pelo menos, 1918. Nessa época, existia estreita inter-relação entre o Estado e a Igreja, pelo que a Junta da Paróquia também tratava dos assuntos da Igreja.
Um dos membros da Junta considerou que, sendo «…das suas atribuições o requerer tudo o que for abeneficio dos Vizinhos da Parrochia…», era público e constante que Antónia Baptista «…que tem o Varrasco do Concelho neste Anno que finda em Junho próximo o fechava e o dificultava de perposito as pessoas que o requerião…».
Isto é, a mencionada senhora recebera da Câmara a incumbência de ter um porco reprodutor à disposição, para os vizinhos lhe chegarem as porcas. Mas fazia-se de novas e não o disponibilizava.
Lamentava-se o zeloso membro da Junta do prejuízo que tinham os habitantes da Vila, na criação que podia haver.
O protesto foi considerado pertinente pelos restantes membros da Junta da Paróquia e oficiou-se a Câmara para que se tomassem providências, notificando a «…dita Antonia Baptista não só para não capar o dito varrasco antes do anno findo más igualmente para o não dificultar, e fechar como se diz costuma…».
Já conhecia o boi do povo, na região de Montalegre, e aqui tínhamos o cavalo obrigado e as éguas obrigadas. Por este documento, ficámos a saber que, em cada ano, a nossa Câmara indicava um criador obrigado a ter um porco reprodutor que cobrisse as porcas da vizinhança.
O incumprimento desta norma revela o crescente individualismo que então se fazia sentir na vida das comunidades, de que resultou o desaparecimento da sociedade antiga, assente na vida comunitária, e o nascimento da sociedade actual.
Em 18136, os membros da Junta da Paróquia eram:
Francisco Lobo, Presidente
Francisco António Leitão
Francisco Henriques
José Henriques
João Duarte Marques
António Rodrigues Castanheira
Caetano José dos Santos.
Fonte: Actas das sessões da Junta da Paróquia, 1836-49, fotocópias.
(Infelizmente, muitos dos documentos antigos da nossa comunidade ficaram na posse de particulares. Este é um deles e foi o actual proprietário, não vicentino, que me facultou uma cópia. Deste documento darei conhecimento regular, nos próximos tempos.)