quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo

A FELICIDADE

O que é afinal a felicidade?
Não é preciso muito para a ter
É o meu pensamento e a meu ver
Basta saber cultivar e criar a amizade

Felicidade, é ter agasalho para o frio
Felicidade, é poder a fome mitigar
Ter tua amizade para me alegrar
Felicidade é ter saúde e brio

Felicidade é não ser iroso
É ter sempre um sorriso leal
É perdoar a quem nos quer mal
É ser forte, sincero e corajoso

Não é preciso muito para se ser feliz
Ver em cada semelhante um irmão
Sempre que for preciso estender-lhe a mão
Como fazia São Francisco de Assis

A felicidade está aqui, ali, em todo o lado
Saibamos encontrá-la corajosamente
Por isso digo a toda a gente
Deus amigo, muito obrigado

Um ano 2015 cheio de paz, alegria, união entre os povos de toda a Terra e, acima de tudo,  FELICIDADE.

Zé da Villa

sábado, 27 de dezembro de 2014

Comunidade viva



CULINÁRIA – Regressámos à terra natal, para as filhós, o bacalhau com couves… Mesmo os que não vieram, também celebraram o Natal, talvez com outros sabores, mas com a mesma magia ou melhor, com as recordações que se impregnaram em nós, como material genético: o frio, a família reunida, o calor da fogueira e dos amigos, o sabor daquelas couves que não encontramos em mais lado nenhum.
Eu tive um momento extra. No domingo, um almoço familiar nos Pereiros. Cabra guisada, com ervas e batatas cozidas, tigelada e arroz doce, familiares que não se encontravam há meses, tanta coisa boa!

PRESÉPIO – O Grupo de Estudos da Gardunha montou o presépio na Igreja da Misericórdia. É, basicamente, aquele a que chamamos o Presépio da Menina Isaura. Também ela terá bebido a ideia de algum lado. Este reconstitui aspetos da nossa ruralidade (a pastorícia, um lagar com roda hidráulica, a casa do campo, a colheita da azeitona…) e mostra-nos, em miniatura, dois dos nossos monumentos: a Igreja Matriz e a fonte de São João de Brito (existente na Praça e já demolida). Este presépio, fruto de um esforço e dedicação extraordinários dos membros do GEGA, deu um valor acrescido ao nosso Natal.
Também, na Partida, os dinamizadores do Pequeno Lugar fizeram um presépio na sua sede, partilhando com os visitantes a magia do Natal.

FOGUEIRA – Estive na fogueira, à meia-noite. Os pinheiros tinham ardido e as labaredas lambiam já os troncos do interior. Não havia muita gente, pois iniciara-se a Missa do Galo, mas imagino o que terá sido à saída: um braseiro enorme e tanta gente em redor!
Mas especial foi o que já não via há muitos anos (em parte, talvez por ausência minha). Um grupo de jovens reunidos, a beber umas cervejas, e, em redor da fogueira, os familiares, tios primos, pais, avós, orgulhosos da obra dos seus rapazes.
É que este ano não foi preciso a Junta de Freguesia tomar conta da fogueira. A Malta de 1995 renovou a tradição e deu outro brilho ao nosso Natal. Eis os seus nomes: Bruno Rodrigues, Guilherme Jorge, José Luís, Marco Pereira, Micael Mateus, Miguel Ângelo, Roberto Santos e Samuel Silva.
Estes já superaram o nosso ritual de transição para a vida adulta. Parabéns!

CONCERTO DE NATAL - Voltei hoje a São Vicente e, ocasionalmente, pude assistir ao concerto de Natal, da nossa Filarmónica, na Igreja Matriz. Lindo!
Uma sinfonia de sons, muitos jovens, um novo maestro, com a cola dos veteranos José Moreira, Luciano e Comissário Barroso). Um bom momento de cultura, num local de condições acústicas excelentes. Uma ótima forma de fechar este ciclo natalício!

Quatro breves apontamentos, quatro provas de que, apesar das vicissitudes demográficas, estamos bem vivos como comunidade. Para um momento como o Natal, é quanto basta. Temos o resto do ano, para tentar minorar os problemas.

José Teodoro Prata
As fotos do presépio são da Libânia
Nota: Publicação acrescentada, a 28 de dezembro, domingo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O companheiro de Natal

Só com uma porta e sem janelas, descia-se um degrau e pisava-se o chão de mato traçado que tapava o frio e o sujo da terra. No canto da direita, atrás da porta, uma prateleira dentro da parede, com a bilha da água e o coucho, a candeia do azeite e o caçolo de barro, com um garfo e uma colher dentro. A navalha não, acompanhava-o sempre, para as precisões de um homem. Mesmo ao canto, o lume, aceso de manhazinha e à noite, nos dias bons, porque nos de inverno toda a lenha era pouca.
A seguir, para o fundo, arrumava os molhos de feno e as faixas de canas. Era lá que dormia, em cima de uma manta de trapos, tapado com o capote, quando fazia frio.
A parte da esquerda estava separada do resto por um bardo de varas, onde metia as duas cabras e os chibos, quando os havia. Não se podiam deixar à mercê dos lobos da serra, sempre esfomeados, e faziam estrume para estercar o milho e os feijões que enchiam o lameiro, no tempo bom.
O pai fizera a casa depois de comprar aquele bocado do Ribeiro Dom Bento ao Conde. E levantaram paredes naquela barreira que descia para o ribeiro. Foram anos de muitos trabalhos. Arrancavam a pedra no alto, à picareta. Não era muito difícil, pois as pedras estavam em camadas e bastava meter-lhes o bico. Depois, ele e o irmão punham-nas em cima da padiola e levavam-nas até ao pai, onde ele erguia as paredes. E fizeram a serruba das terras, sempre a tentar endireitá-las, para segurarem as águas da rega.
Nos tempos desses trabalhos, nem iam dormir à casa da Vila. Acomodavam-se pelo chão, cada um para o seu lado, quando, já noite cerrada, acabavam de cear os feijões refogados com cebola. De manhã, à primeira luz do dia, a mãe acordava-os para as sopas de broa com leite.
Num ano, andaram todo o verão a abrir a mina ao fundo da presa do ribeiro. Havia lá um gemedouro de água, mesmo nos setembros mais secos, quando o ribeiro já parara de correr há muito tempo, e o pai achou boa ideia explorar o nascente, na esperança de ter mais água para o renovo. Era lá que ia buscar a água para beber, muito fresca nos dias em que o calor abrasava. Entrava pela mina a dentro com a bilha na mão e ao fundo enchia-a, numa poça que ali tinham feito.
Quando casou, o pai deixou-o ficar naquela casa. Sempre tinha um telhado onde se abrigar e uma horta para ajudar no sustento. Ganhava o pão onde calhava, pois era homem para pegar em qualquer coisa. Os filhos foram nascendo e morrendo. Só vingou uma menina, no lugar da mãe, que morreu do parto. Criou-a e depois também ela se foi embora, para casa do homem dela.
Desde então vivia sozinho. Acabara por ficar sempre naquele palheiro, sem possibilidade de ter uma casa melhor e mais perto da Vila. E agora também já não valia a pena. Havia dias melhores e outros piores, mas não tinha posses, nem vontade de se mudar. Casar também não, já ninguém o queria e bastavam-lhe as recordações dos seus filhos desaparecidos e da companheira de tantas canseiras. A filha bem o chamava para o Sobral, mas mais valia ser-se desejado que desejar.
Falava com os seus botões, enquanto as cabras roçavam as ervitas ribeiro abaixo. Primeiro subira com elas pelos matos mais soalheiros, à espera que a geada derretesse nos sítios sombrios. Nestes dias tão pequenos, em que o caramelo nunca chegava a descongelar nalguns lados do vale, ficava-se por perto, sem se aventurar para os altos das Lameiras, onde havia sempre boa erva, mesmo no tempo seco. Mas esses pastos andavam bem guardados pelo feitor da Borralha, sempre faminto de agradar ao patrão.
Agora eram só ele e as suas cabritas. O cão morrera-lhe na primavera. Ficou-se em pouco tempo, a espumar pela boca. Um sofrimento horrível e ele sem poder fazer nada. Comera de certeza carne envenenada que os lavradores colocavam perto das covas dos lobos e das raposas.
Era véspera de Natal e mais uma vez ia passá-lo sozinho e sem filhós. A mulher nunca faltava com elas, mesmo logo depois de casar, ainda sem experiência nenhuma. Nos últimos anos, tinha sido a filha, mulher desembaraçada como a mãe. Num ano foi ajudar a tia e no seguinte já as fez sozinha. Por esse lado, o marido nunca teria uma pontinha de unha a apontar-lhe. E por outras razões também não, que mulher desenxovalhada como ela havia poucas.
Já anoitecia e o vento que soprava da Senhora da Orada deixava-o gelado. Encaminhou-se para casa, seguido das cabritas. Elas já sabiam o cantinho delas e o dono só teve de encostar a grade de paus. Antes, tirou-lhes um pouco de leite, que ia ferver no asado, ao lume. Seria o seu jantar de Natal. O resto ficava para os cabritos, a quem tirou os barbilhos, para se consolarem.
Acendeu o lume e sentou-se num banco, a aquecer-se. Pouco depois, o aroma do leite aquecido encheu a casita. Ouviu ranger a porta, só encostada. Foi fechá-la, julgando ser o vento. Mas um cãozito castanho recuou ao vê-lo, receoso da reação do dono da casa. E fitou-o com um olhar meigo e ansioso, abanando levemente o rabo.
O homem voltou para dentro, mas deixou a porta entreaberta. Fez umas sopas de leite e deitou um pouco numa tigela que levou à porta. Depois voltou para dentro, a cear.
Acabou de comer e veio à porta a recolher a malga. O cão ficou-lhe à mão e ele chamou-o para dentro. Não se mexeu e voltou para o lume. O animal espreitou várias vezes e o homem voltou a chamá-lo para dentro, uma vez com uma côdea de pão. O cão acabou por entrar e aproximar-se do calor. Passado um bom bocado, deitou-se junto ao fogo. O homem levantou-se, foi fechar a porta e estendeu-se sobre a palha. Antes de adormecer, sentiu o cãozito aninhar-se a ele. Sorriu consigo e afagou-lhe a cabeça. O cão respondeu com uma lambidela. Depois sentiu o calor do animal e adormeceram…

José Teodoro Prata

Notas:
- Em 1972-73, não consigo precisar o ano, houve um concurso de contos de Natal, no seminário do Tortosendo, onde eu estudava. Não ganhei e ainda fui gozado pelo meu prefeito, o Pe. Jerónimo, por ter comparado um cão ao Menino Jesus (Nesse tempo, ainda não havia Pai Natal). Criado entre cabras e cães, ele terá sido dos poucos a perceber-me. Por isso, o privilégio da chalaça. Este ano, impus-me o desafio de o reconstituir. O cenário é o mesmo (o Ribeiro de Dom Bento) e o tema também (a solidão e a necessidade dos afetos), o do Garrinchas de Miguel Torga, que eu certamente li nesses tempos.
- O cão é o nosso Rabomole, agora Saltitão, como a Libânia já deve ter desconfiado. No conto original, era um cão pastor alentejano, um dos que o Tio Albano tinha para guardar os rebanhos. O outro morrera envenenado, facto que me aconteceu na infância, a uma cadela nova, chamada Preta, que a tia Laura e o primo Zé me tinham dado.
- Todas aquelas terras do Ribeiro de Dom Bento e do Carvalhal Redondo eram do Conde de São Vicente, que também tinha o Pinheiro, a Oriana e muitas mais. Em meados do século XIX, tê-las-á vendido e um meu antepassado comprou o Ribeiro de Dom Bento, pelo menos uma parte. Esta história procura recriar o mundo dos últimos anos desse século XIX.
- O coucho tem forma de malga, formado pela cortiça que envolve um nó do sobreiro. O asado é um recipiente de barro, pequeno e com uma asa, que as pessoas antigamente tinham sempre ao lume, com água. O barbilho é um objeto feito pelos pastores, com um pau que se mete na boca do cabritinho, impedindo-o de mamar, preso à cabeça com tirinhas de cabedal. Comia-se num prato fundo de barro, tipo alguidar pequeno, chamado caçolo. A colher e o garfo seriam de ferro ou mais provavelmente de madeira.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

NATAL

No céu uma estrela cintilava, com um fulgor mais intenso que nas outras noites. Junto a Belém, um estábulo humilde iluminava-se esplendorosamente. Lá dentro, envolto em palhinhas, repousava um Menino. Maria e seu esposo José olhavam embebecidos o Menino. A noite estava fria,  aquecia o espaço uma vaquinha e um burrinho, uma música celestial ouvia-se pelas quebradas dos montes: “Glória a Deus nas alturas…”. Tinha nascido o Salvador do mundo, Deus criador de todas as coisas que se quis tornar igual a nós.
A todos um santo e fraterno natal, com paz, amor e união em toda a humanidade.
J.M.S

O Presépio do "Pequeno Lugar" 
Partida, São Vicente da Beira






M. L. Ferreira

domingo, 21 de dezembro de 2014

O menino Jesus

Já durante a  tarde, ela mostrara sinais de inquietação. O tempo estava completo e a qualquer momento a coisa ia acontecer.Ia nascer o primeiro filho. Durante a noite, as coisas desenvolveram-se e ele levou-a ao hospital. Aí separaram-se com um beijo e uma lágrima, era a primeira vez que se separavam. Ele regressou a casa, só e apreensivo. Mal conseguiu dormir.
De manhã, recebeu um telefonema; tinha acabado de ser pai de um menino e tudo correra bem.
Preparou-se então para o primeiro encontro com o seu filho. Vestiu o fato de inverno (era dia 31 de Julho) que era o único que tinha, pôs uma gravata e lá foi.
Chorou de alegria ao ver o menino e durante toda a visita as lágrimas não deixavam de cair. A felicidade era imensa.
No dia seguinte, foi ter com o Sr.  Professor Couto para registar a criança. O Professor perguntou-lhe onde tinha nascido o menino e ele na sua inocência respondeu-lhe que no hospital de Castelo Branco. Que não, que não podia ser registado em S. Vicente, porque não tinha cá nascido!
Então ele abriu os olhos. Dirigiu-se a Castelo Branco e pediu para registar o filho.
 -Onde é que nasceu a criança?.
 -Em S. Vicente da Beira, minha senhora!
 -Então tem que ser o Professor Couto a regista-la lá!
 -Mas, minha senhora, o Senhor Professor está de férias e eu não consigo registar o meu filho!
 -Onde é que ele nasceu?
 -Em casa, minha senhora!
 -Sendo assim, vamos lá registar o seu filho. Que nome é que lhe vai por?
 -João.
E foi assim que ele conseguiu que o seu filho fosse natural de S. Vicente da Beira.
Em Dezembro desse ano, a Menina Isaura fez um presépio ao vivo, no barracão.
Já bem rechonchudinho, calhou aquele menino ser o Menino Jesus.

E. H.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Natal

Com o Natal à porta, sabe bem recordar os versos que Pedro Homem de Mello escreveu em "Nós, Portugueses Somos Castos" e que eu sempre considerei uma delícia:

PRESÉPIO

Duas tábuas...
E era um berço!

Tudo escuro
E alumiava!

Estaria Deus lá dentro?

Fomos a ver...

E lá estava!

E. H.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Meu Sant´Antoninho


  
Santo António, em painel de azulejos, na fonte de Santo António, São Vicente da Beira 
José Manuel dos Santos

Santo António, advogado das trovoadas
(oração para pedir proteção contra as trovoadas)
Santo António se levantou
Seus pés e suas mãos lavou,
Chegou adiante e com Jesus Cristo se encontrou.
Jesus lhe perguntou:
 - Onde vais tu, divino António?
 - Vou derramar as trovoadas que sobre nós andam armadas.
 - Derrama-as bem derramadas. Manda-as para aquele lameirinho, onde não há pão nem vinho, nem galinha a cantar, nem menino a chorar, nem boi na arada, nem gente na estrada, nem pé de figueira, nem coisa que Deus queira.
(Pai Nosso e Avé Maria)
Contada pela Ti Antónia, do Casal da Serra

M. L. Ferreira


Do album "Margem de certa maneira", 1973
 José Teodoro Prata