-A vila vicentina orgulha-se em manter e
preservar usanças quaresmais, muito embora algumas sejam saudade mas…
-No entrudo o Santíssimo ficava exposto
solenemente no altar para desagravo dos excessos cometidos durante aquele
período. As autoridades fechavam os olhos (caqueira, choradelas de entrudo,
jogos ilícitos...).
Jã não existe o fulgor e a fé de antanho.
-Quarta-feira de cinzas o
celebrante ainda coloca as cinzas na cabeça dos crentes (lembra-te homem que és
pó...) As imagens eram tapadas com panos pretos (só eram retirados sábado de
aleluia), os altares desnudados de todo e qualquer ornamento floral, a música
sacra impunha-se.
-Todos os domingos da quaresma ainda se realiza a ladainha, cantam-se os
martírios e faz-se a encomendação das almas.
Ó almas que estais dormindo
Nesse sono tão profundo
Rezemos um padre-nosso
Pelas almas do outro mundo
-Tempo de jejum, de abstinência (a bula ajudava) de penitência.
-A Ordem terceira no terceiro domingo da
quaresma (quando pode) organiza a procissão penitencial (procissão dos
terceiros) sempre bela e grandiosa, atrai muitos crentes e forasteiros à vila
para participarem ou simplesmente assistirem à sua passagem.
O primeiro andor a sair representa Adão
e Eva a serem expulsos do Paraíso Terreal pelo arcanjo São Miguel (foram os
nossos primeiros pais). Enquanto viveram no Paraíso a felicidade era total,
veio a serpente tentadora(se comerdes sereis iguais a Deus...) O que aconteceu
depois foi a expulsão; apesar disso o Pai nunca os abandonou (comereis o pão
com o suor do vosso rosto), arrependeram-se e foram perdoados.
O perdão transporta consigo a paz, o amor (São Francisco o arauto da
concórdia, do amor fraterno...) Nesta procissão penitencial surge o Senhor do
Sofrimento, o Senhor da Dor, o Senhor dos Passos. O segundo Adão.
Toda a noite andou da casa de Anás para
a casa de Caifás, depois do governador Pilatos ter lavado as mãos (não encontro
nada neste Homem que o possa condenar...) colocaram nos Seus ombros um pesado
madeiro, percorreu as ruas de Jerusalém até ao monte calvário onde O
crucificaram.
São Francisco foi um verdadeiro seguidor
de Cristo, transmissor da Sua Palavra. Reis, príncipes, rainhas, gente letrada,
anónima; seguiram-no.
No nosso tempo continua-se a admirar e a
seguir seus ensinamentos, seu exemplo. Abandonou a riqueza deste mundo para se
tornar no povorello.
(...) São Luís rei de França (primo do nosso rei D. Afonso III) São Ivo,
advogado; rainha Santa Isabel de Portugal; Santa Clara de Assis; Santo António
de Lisboa...
-Domingo de Ramos recorda-nos a entrada
triunfal de Jesus em Jerusalém (dias depois a mesma multidão que o aclamou, que
o aplaudiu, foi a mesma que pediu a sua morte (ontem como hoje vá lá a gente
compreender os homens) Crucifiquem-No, soltem o malfeitor...
Torturado, açoitado, coroado com grossos
espinhos, Jesus expirou.
Homens piedosos colocaram-No num túmulo novo, as autoridades precaveram-se
com receio que os seus seguidores O viessem roubar, puseram soldados a guardar
o túmulo
-A vila vicentina quinta-feira santa à
noite realiza a procissão do Ecce Homo que lembra essa tragédia.
Sexta-feira a paixão continua com a procissão do encontro, a crucificação
no calvário e à noite a comovente procissão do enterro do Senhor.
-A minha mãe contava (eu era muito
pequenina) que eu estive às portas da morte, agarrou em mim meteu-me numa
canastra trouxe-me à cabeça desde o Vale Figueira aqui para o hospital. Naquele
tempo não havia estradas. só veredas cheias de mato. A minha mãe contava que eu
fiquei a chorar quando me deixou no hospital; ela chorava também.
Foi ter à casa da senhora Maria José
Lopes (eram muito amigas) e lá dormiu.
Ao outro dia de manhã estava à porta do
hospital. Eram tempos desgraçados, mas havia mais alegria que agora...
A minha mãe era para vir às cerimónias
da semana santa já não veio, a alegria era pouca.
Olhe, o povo despovoava-se, trazíamos merenda, comíamos na quinta da
senhora Dª Maria, vínhamos todos a pé, não havia automóveis, nem estradas.
Todos os mortos eram enterrados na vila, vinham em carros de bois.
-Ao terceiro dia ressuscitou...
Passach, páscoa em hebraico, recorda a
libertação do povo hebreu da servidão do Egipto
Para os cristãos é a celebração, a festa
da ressurreição de Jesus Cristo.
Festa da alegria, da renovação (as casa
eram caiadas, as cantareiras forradas com papel novo, bolos de páscoa...
O Senhor ressuscitado entrava pelas
casas dentro festivamente engalanadas, toda a família O beijava docemente.
Ovos cheios de guloseimas, significam o
renascimento, a fartura, a explosão das flores na mãe natureza.
Para mim o melhor ovo não tem nada dentro,
está vazio tal qual o túmulo de Cristo ficou vazio porque Jesus venceu a morte,
ressuscitou.
Uma boa Páscoa para todos.
-P.S. O peditório que se realizou no dia
29, para colmatar as despesas da Semana Santa, rendeu para cima de
oitocentos euros, as pessoas são generosas. Em nome da Santa Casa, BEM HAJAM.
J.M.S