Há uns dias, na Vila, o Ernesto Hipólito
ofereceu-me um livrinho. Aqui lhe agradeço publicamente. A edição é deste ano
de 2015, tem o patrocínio da Câmara Municipal do Fundão e foi organizada por
Joaquim E. Oliveira, com a colaboração de muita gente. Trata esse livro dos
regionalismos, expressões idiomáticas e alcunhas da Soalheira, uma simpática
povoação recentemente elevada a Vila que, pela Oles, dista de S. Vicente da
Beira uns escassos 6 ou 7 kms. Algumas vezes ali fui jogar futebol. E, num
certo domingo à tarde, eu, o João Ramalho e outro (que não sei quem era), fomos
mesmo lá realizar um baile, com a aparelhagem do Zeca Nôco (este por qualquer
razão não pôde ir e encarregou-nos dessa tarefa).
Com tão curta distância entre a
Soalheira e S. Vivente da Beira, não surpreende que muitos desses termos e
expressões sejam idênticos aos nossos, quando não mesmo iguais (por exem.,
“dabanão”, proveniente de “de abanão”, ou seja, “repentinamente”). Mas há
também termos totalmente diferentes para significar a mesma coisa (por exem., o
jogo do “rolão” deles, é o nosso “espada-lua” e o “rórrou” deles é, para nós,
jogar “à ronda”.
Como quase todos sabem neste blogue, já
várias vezes se discutiu sobre a necessidade de fixar alguns termos mais
específicos da nossa região. E por outras tantas vezes alguns de nós têm
escrito sobre o assunto, especialmente, na rubrica “O nosso falar”. Pois, por
uma qualquer razão sentimos (e, pelos vistos, não somos só nós!) que, em face
do passar das gerações, num tempo de globalização, nos está a fugir muito do
nosso património linguístico. Que, mesmo para nós (quanto mais para os nossos
avós!) foi ainda a base da comunicação oral nas nossas brincadeiras de criança!
Felizmente que vão aparecendo estes autores
que levam a sua tarefa mais longe, dando à luz do dia algumas obras escritas
que, amanhã, poderão ser os únicos veículos capazes de transmitir à posteridade
esse património imaterial. A língua portuguesa corrente vem apagando a forma de
comunicar dos nossos antepassados. No futuro, a longo prazo, se calhar, pode mesmo
ser o Inglês ou o Esperanto que vêm destronar o Português da atualidade.
Nestas ocasiões, lembro-me sempre do Dr.
Jaime Lopes Dias e dos seus 10 volumes sobre a Etnografia da Beira onde não
podia deixar de constar muita da lexicologia antiga. Foi publicado agora este
livrinho do Joaquim E. Oliveira. Mas há outras obras sobre o assunto a merecer
destaque, caso os interessados no assunto assim entendam.
Quem diz termos antigos, diz alcunhas.
No que respeita a estas e, tal como fizeram os autores do livrinho da
Soalheira, vou tentar deixar aqui, para memória futura, algumas das mais
conhecidas de São Vicente da Beira.
Só queria ainda dizer que as alcunhas
têm que ser entendidas como um auxiliar de memória e não como algo ofensivo.
Por isso, grande parte das pessoas as aceita e despreza a carga depreciativa
que, eventualmente, possam encerrar. De todo o modo, nenhum nome vai a elas
associado.
Em grande parte dos casos, é conhecida a
origem das alcunhas. Por norma, prendem-se com algum episódio da vida, com o
nome, com a profissão, com o aspeto, com algum lugar ou com a família de cada
pessoa. Justamente, em relação a estas últimas, acontece que, em certos casos,
não se trata propriamente de alcunha, mas do nome de família. Quanto a estas,
poderia ainda ter acrescentado muitas mais mas desconfio desse critério para
definir uma alcunha. Verificam-se ainda muitas corruptelas (em alguns casos
optou-se mesmo por escrevê-las), bem como especificidades de pronúncia. E há
pessoas com mais que uma alcunha. Mas não se cura, por ora, de explicar
pormenores. Aí vai então a listagem. Se alguém se lembrar de mais alguma e quiser, acrescente.
José Barroso
Abiche
Aguier
Alfaiate
Alice
Anhota
Aquefuma
Ar
Aranha
Arefa
Arranca Badais
Arrebotes
As Três Pernas do Banco
Áugoa
Áugoa
Avozinho
da Azenha
do Aires
Bacolão
Bácoro
Baião
Balaia
Baloia
Barbinha
Barqueira
Barrilo
Batata
Bela
Berra
Bicharada
Bisnaga
Bispo
Boas noites
Boche
Bode
Botelho
Braço de Trabalho
Bravo
Brito
Broa
Brocha
Bujo
Burrecas
da Barroca
da Bolsa
da Burra
Cabeça de Peixe
Cabeças
Cabolino
Caçolada
Cagalão
Cagalume
Cagarola
Cagarrapo
Caldudo
Camadas
Cambão
Camões
Caneco
Canhoto
Canino (Pequenino)
Capador
Capitão
Carcavelos
Carolino
Carrolhas
Caruca
Catrino
Casca
Cesta
Cesta
Ceveleum
Chá
Chabeta
Chadão
Chalim-Chalota
Chamiço
Chefe
Cheira Mal
Chico da Áutua
Chilreia
Chiribique
Cifrones
Ciganito
Cireneu
Coelhito
Colhão de Almude
Colmeias
Coluna
Comboio
Companhia
Companhia
Conde das Dornas
Coné
Cordel
Cornel
Corredoura
Coxo
Crescente
Cuco
da Cadeia
das Cabras
do Cabeço
do Café
do Caldeira
do Cão
do Carvão
do Casal (da Fraga)
do Casal (do Baraçal ou dos Ossos)
do Casalito
do Chofer
Dezoito
Doido
Eletricista
Enxofra
Escanta
Escavaterra
Espanhol
Estrelado
de Évora
Faminto
Fanhosa
Fanhosa
Farinheiroa
Farrusco
Farrusco
Febra Russa
Feia
Feia
Feijão
Ferreiro
Fiambre
Flota
Formiga
Francesa
do Forno
Gã
Gabilês
Gago
Galgo
Garrancho
Gato
Gonzaga
Grancha
Grande
Grande
Grilo
Guarda-Rios
Guião
Histérico
Impisca
Inça
Impisca
Inça
Incoreto
Inginho
Insonso
Inverno
Ítalo
Jabena
Jaia
Jareto
Jareto
Jarmelas
Jeová
Latoeiro
Leca
Leijo
Lêra
Lérias
Litoardo
Lixa
Luís Gonzaga
da Loja
da Loja
da Lusitana
Machana
Magrinho
Maiaca
Maleca
Malgadas
Manga
Manha
Maria do Cu
Marau
Marau
Margarido
Marimilho
Mata Nosso Senhor
Mata-Vida
Matrino
Médico
Mejedo (Mijado)
Menino Jesus
Mestre
Mestrão
Metro e Dez
Mexe
Miguelão
Miguelito
Mitra
Miguelito
Mitra
Mintroso
Moleira
Moleira
Moleiro
Monaia
Mouca
Mosca
Mossolini
Mudatorre
Mudo
Mulher-Homem
das Mobílias
Nalguinhas
Negro
Nica
Nico
Nicho
Nita
Nó
Nôco
Nonga
da Nossa Senhora
do Ninho
do Posto Médico
Opa
da Oles
da Oriana (ou Oriena)
das Onze Horas
Pachanisca
Pacheco
Padeiro
Padre e Músico
Pai dos Pobres
Palacha
Palacha
Palhas
Panjá
Papoila
Parrego
Parrego
Parrita
Passaião
Passaraço
Pássena
Pasteleiro
Pata-Galhana
Patanucho
Pavic
Pêco
Peixe
Pelado
Penetra
Persianas
Pêto
Pêto
Pica
Pidança
Pigenta
Pinura
Piorrinha
Pique
Piriquito
Pirisca
Pirrala
Pitocas
Polícia
Pitocas
Polícia
Político
Pontífice
Pôtra
Pulha
Puro
Puro
Puto-Homem
do Padre
do Pinheiro
Quinhentos e oitenta
Quinquinhas
das Quintas
Rã
Rabo Doce Cu de Mel
Racha
Ratão
Rato
Rebo
Rei Preto
Relojoeiro
Rente
Revelho
Richó
Rinoco
Roga-Pragas
Rolinha
Rolo
Ruço
da Requerda
da Rosa
das Rochas
das Rochas
Sabino
Sacristoa
Safou-se
Sagorro
Sagorro
Saldanha
Saleiro
Sanotes
Sanotes
Sardinheira
Sargento
Sarna
Sebastiena
Sefas
Serralheiro
Sefas
Serralheiro
Sifrones
Sopas de Vinho
Sorna
Sorna
Sorte
Sovelo
Sou teu tio
Sou teu tio
Spínola
da Senhora da Orada
do Sacristão
Taladinho
Talanga
Taleta
Taleta
Tanaz
Tatola
Téa
Téa
Técnico
Temó
Tenente
Terere
Terraupum!
Terraupum!
Terrorista
Tété
Tintelau
Tira
Tira
Tira-Ninhos
Tono
Torto
Torre de Belém
Tota
Trabuca
Trabuco
Travassos
Triste
da Tapada
da Tola
do Telhado
Ubre
Vaca
Valente
Vaqueiro
Varinhas
Vasilhas
Vermelho
Vicente
Vinte e cinco
Vinte e um
Virgem
Viúva
do Vale de Caria
Zangamulo
Zé Raimundo
Critérios de organização:
1. De um modo geral, segui
os critérios usados no livrinho da Soalheira.
2. Retirei da listagem os
seguintes:
Aires da Tonha – é o Aires, filho da Antónia (Tonha é apenas um
diminutivo, mal pronunciado, de Antónia)
Sebastiena – é Sebastiana, o feminino de Sebastião; no passado, os apelidos
familiares das mulheres diziam-se/escreviam-se no feminino; como Leitoa
Dominguinhos – é o diminutivo de alguém chamado Domingos; como Belita…
Toninho Lourenço – é a abreviatura do diminutivo de António, sendo
Lourenço o apelido familiar
Marçalino – é Marcelino, mas o povo pronuncia mal o nome…
Ventura – é parte do apelido Boaventura
Sevelo – não é o mesmo que Ceveleum?
Zefa – é a abreviatura do nome Jozefa, um nome próprio muito comum,
no passado
Ó filha!; Queres horas?; Queres mato? – são alcunhas de alguém
ou apenas expressões que se usam, nas conversas?
Contestem-me, para eu os recolocar na listagem!
José Teodoro, 19/06