sexta-feira, 12 de junho de 2015

Alcunhas de S. Vicente da Beira




Há uns dias, na Vila, o Ernesto Hipólito ofereceu-me um livrinho. Aqui lhe agradeço publicamente. A edição é deste ano de 2015, tem o patrocínio da Câmara Municipal do Fundão e foi organizada por Joaquim E. Oliveira, com a colaboração de muita gente. Trata esse livro dos regionalismos, expressões idiomáticas e alcunhas da Soalheira, uma simpática povoação recentemente elevada a Vila que, pela Oles, dista de S. Vicente da Beira uns escassos 6 ou 7 kms. Algumas vezes ali fui jogar futebol. E, num certo domingo à tarde, eu, o João Ramalho e outro (que não sei quem era), fomos mesmo lá realizar um baile, com a aparelhagem do Zeca Nôco (este por qualquer razão não pôde ir e encarregou-nos dessa tarefa).
Com tão curta distância entre a Soalheira e S. Vivente da Beira, não surpreende que muitos desses termos e expressões sejam idênticos aos nossos, quando não mesmo iguais (por exem., “dabanão”, proveniente de “de abanão”, ou seja, “repentinamente”). Mas há também termos totalmente diferentes para significar a mesma coisa (por exem., o jogo do “rolão” deles, é o nosso “espada-lua” e o “rórrou” deles é, para nós, jogar “à ronda”.     
Como quase todos sabem neste blogue, já várias vezes se discutiu sobre a necessidade de fixar alguns termos mais específicos da nossa região. E por outras tantas vezes alguns de nós têm escrito sobre o assunto, especialmente, na rubrica “O nosso falar”. Pois, por uma qualquer razão sentimos (e, pelos vistos, não somos só nós!) que, em face do passar das gerações, num tempo de globalização, nos está a fugir muito do nosso património linguístico. Que, mesmo para nós (quanto mais para os nossos avós!) foi ainda a base da comunicação oral nas nossas brincadeiras de criança!
Felizmente que vão aparecendo estes autores que levam a sua tarefa mais longe, dando à luz do dia algumas obras escritas que, amanhã, poderão ser os únicos veículos capazes de transmitir à posteridade esse património imaterial. A língua portuguesa corrente vem apagando a forma de comunicar dos nossos antepassados. No futuro, a longo prazo, se calhar, pode mesmo ser o Inglês ou o Esperanto que vêm destronar o Português da atualidade.
Nestas ocasiões, lembro-me sempre do Dr. Jaime Lopes Dias e dos seus 10 volumes sobre a Etnografia da Beira onde não podia deixar de constar muita da lexicologia antiga. Foi publicado agora este livrinho do Joaquim E. Oliveira. Mas há outras obras sobre o assunto a merecer destaque, caso os interessados no assunto assim entendam.
Quem diz termos antigos, diz alcunhas. No que respeita a estas e, tal como fizeram os autores do livrinho da Soalheira, vou tentar deixar aqui, para memória futura, algumas das mais conhecidas de São Vicente da Beira.
Só queria ainda dizer que as alcunhas têm que ser entendidas como um auxiliar de memória e não como algo ofensivo. Por isso, grande parte das pessoas as aceita e despreza a carga depreciativa que, eventualmente, possam encerrar. De todo o modo, nenhum nome vai a elas associado.
Em grande parte dos casos, é conhecida a origem das alcunhas. Por norma, prendem-se com algum episódio da vida, com o nome, com a profissão, com o aspeto, com algum lugar ou com a família de cada pessoa. Justamente, em relação a estas últimas, acontece que, em certos casos, não se trata propriamente de alcunha, mas do nome de família. Quanto a estas, poderia ainda ter acrescentado muitas mais mas desconfio desse critério para definir uma alcunha. Verificam-se ainda muitas corruptelas (em alguns casos optou-se mesmo por escrevê-las), bem como especificidades de pronúncia. E há pessoas com mais que uma alcunha. Mas não se cura, por ora, de explicar pormenores. Aí vai então a listagem. Se alguém se lembrar de mais alguma e quiser, acrescente.

José Barroso  



Abiche
Aguier
Alfaiate
Alice
Anhota
Aquefuma
Ar
Aranha
Arefa
Arranca Badais
Arrebotes
As Três Pernas do Banco
Áugoa
Avozinho
da Azenha
do Aires

Bacolão
Bácoro
Baião
Balaia
Baloia
Barbinha
Barqueira
Barrilo
Batata
Bela
Berra
Bicharada
Bisnaga
Bispo
Boas noites  
Boche
Bode 
Botelho
Braço de Trabalho
Bravo
Brito
Broa
Brocha 
Bujo
Burrecas
da Barroca
da Bolsa
da Burra

Cabeça de Peixe
Cabeças
Cabolino
Caçolada
Cagalão
Cagalume
Cagarola
Cagarrapo
Caldudo
Camadas
Cambão
Camões
Caneco
Canhoto
Canino (Pequenino)
Capador
Capitão
Carcavelos
Carolino
Carrolhas
Caruca
Catrino
Casca
Cesta
Ceveleum
Chá
Chabeta  
Chadão
Chalim-Chalota
Chamiço
Chefe
Cheira Mal
Chico da Áutua
Chilreia
Chiribique
Cifrones
Ciganito
Cireneu
Coelhito
Colhão de Almude
Colmeias
Coluna
Comboio
Companhia
Conde das Dornas
Coné
Cordel
Cornel
Corredoura
Coxo
Crescente
Cuco
da Cadeia
das Cabras
do Cabeço
do Café
do Caldeira
do Cão
do Carvão
do Casal (da Fraga)
do Casal (do Baraçal ou dos Ossos)
do Casalito
do Chofer

Dezoito
Doido

Eletricista
Enxofra
Escanta
Escavaterra
Espanhol
Estrelado
de Évora

Faminto
Fanhosa
Farinheiroa
Farrusco
Febra Russa
Feia
Feijão
Ferreiro
Fiambre
Flota
Formiga
Francesa
do Forno

Gabilês
Gago
Galgo
Garrancho
Gato
Gonzaga
Grancha
Grande
Grilo
Guarda-Rios
Guião

Histérico

Impisca
Inça
Incoreto
Inginho
Insonso
Inverno
Ítalo

Jabena
Jaia
Jareto
Jarmelas
Jeová

Latoeiro
Leca
Leijo
Lêra
Lérias
Litoardo
Lixa
Luís Gonzaga
da Loja
da Lusitana

Machana
Magrinho
Maiaca
Maleca
Malgadas
Manga
Manha
Maria do Cu
Marau
Margarido
Marimilho
Mata Nosso Senhor
Mata-Vida
Matrino
Médico
Mejedo (Mijado)
Menino Jesus
Mestre
Mestrão
Metro e Dez
Mexe
Miguelão
Miguelito
Mitra
Mintroso
Moleira
Moleiro
Monaia
Mouca
Mosca
Mossolini
Mudatorre
Mudo
Mulher-Homem
das Mobílias

Nalguinhas
Negro
Nica
Nico
Nicho
Nita
Nôco
Nonga
da Nossa Senhora
do Ninho
do Posto Médico

Opa
da Oles
da Oriana (ou Oriena)
das Onze Horas

Pachanisca
Pacheco
Padeiro
Padre e Músico
Pai dos Pobres
Palacha
Palhas
Panjá
Papoila
Parrego
Parrita
Passaião
Passaraço
Pássena
Pasteleiro
Pata-Galhana
Patanucho
Pavic
Pêco
Peixe
Pelado
Penetra
Persianas
Pêto
Pica
Pidança
Pigenta
Pinura
Piorrinha
Pique
Piriquito
Pirisca
Pirrala
Pitocas
Polícia
Político
Pontífice
Pôtra
Pulha
Puro
Puto-Homem
do Padre
do Pinheiro

Quinhentos e oitenta
Quinquinhas
das Quintas

Rabo Doce Cu de Mel
Racha
Ratão
Rato
Rebo
Rei Preto
Relojoeiro
Rente
Revelho
Richó
Rinoco
Roga-Pragas
Rolinha
Rolo
Ruço
da Requerda
da Rosa
das Rochas

Sabino
Sacristoa
Safou-se
Sagorro
Saldanha
Saleiro
Sanotes
Sardinheira
Sargento
Sarna
Sebastiena
Sefas
Serralheiro
Sifrones
Sopas de Vinho
Sorna
Sorte
Sovelo
Sou teu tio
Spínola
da Senhora da Orada
do Sacristão

Taladinho
Talanga
Taleta
Tanaz
Tatola
Téa
Técnico
Temó
Tenente
Terere
Terraupum!
Terrorista
Tété
Tintelau
Tira
Tira-Ninhos
Tono
Torto
Torre de Belém
Tota
Trabuca
Trabuco
Travassos
Triste
da Tapada
da Tola
do Telhado

Ubre

Vaca
Valente
Vaqueiro
Varinhas
Vasilhas
Vermelho
Vicente
Vinte e cinco
Vinte e um
Virgem
Viúva
do Vale de Caria

Zangamulo
Zé Raimundo

Critérios de organização:
1. De um modo geral, segui os critérios usados no livrinho da Soalheira.
2. Retirei da listagem os seguintes:
Aires da Tonha – é o Aires, filho da Antónia (Tonha é apenas um diminutivo, mal pronunciado, de Antónia)
Sebastiena – é Sebastiana, o feminino de Sebastião; no passado, os apelidos familiares das mulheres diziam-se/escreviam-se no feminino; como Leitoa
Dominguinhos – é o diminutivo de alguém chamado Domingos; como Belita…
Toninho Lourenço – é a abreviatura do diminutivo de António, sendo Lourenço o apelido familiar
Marçalino – é Marcelino, mas o povo pronuncia mal o nome…
Ventura – é parte do apelido Boaventura
Sevelo – não é o mesmo que Ceveleum?
Zefa – é a abreviatura do nome Jozefa, um nome próprio muito comum, no passado
Ó filha!; Queres horas?; Queres mato? – são alcunhas de alguém ou apenas expressões que se usam, nas conversas?
Contestem-me, para eu os recolocar na listagem!
José Teodoro, 19/06

quinta-feira, 11 de junho de 2015

10 de junho com sotaque



Ontem, dia 10 de Junho, fui almoçar com as manas mais velhas. Foi um daqueles almoços que nunca mais acabam em que se falou de tudo: Do futuro, do presente e também do passado.
Falando de coisas antigas, a mana mais velha perguntou-me se ainda  me lembrava de um teatro que tinha acontecido em S. Vicente, em que as filhas do Sr. Eduardo Cardoso tinham participado com uma canção. Eu não me lembrava mas quando ela começou a cantar a dita canção acudiu-me à memória toda aquela história:   As filhas do Senhor Eduardo estavam de férias em Portugal e tinham vindo passar uns dias a São Vicente. Na altura estava em cena mais um teatro dos muitos que se fizeram por cá. As meninas, então duas adolescentes, tinham preparado uma canção e no fim do espetáculo subiram ao palco e com o seu carregado sotaque brasileiro brindaram o público com esta preciosa pérola:

Quando Deus fez Portugal
Ajudou São Vicente a nascer
São Vicente é terra bonita
Que a gente gosta de ver

Quanta beleza tem nossa terra
Tudo o que é bom nela se encerra
Suas azenhas e seus olivais
Não esquecerei jamais.

Tenho pena de não poder pôr aqui a melodia que também é lindíssima mas prometo que quando vos encontrar, se quiserdes...

E. H.

terça-feira, 9 de junho de 2015

A língua portuguesa


Os semeadores da língua portuguesa

Bocage, Júlio Dinis, Pessoa, Dantas, Camões
Garrett, Camilo, Sá de Miranda, Torga e Junqueiro
Grandes entre os grandes, qual deles o primeiro
Camões, és o maior poeta de Portugal inteiro
Virgílio e Torga, homens nascidos detrás da serra
Manuel o Alegre, Nemésio e Augustina
Desbravadores da nossa língua divina
Criadores das letras da nossa terra
Raposo, Saramago e Herculano
Eugénio, poeta da nossa terra
Nascido no campo para lá da serra
Natália, Florbela e Pedro Hispano
Mia, mas não é gato é o Couto, Aquilino Ribeiro
Ferreira de Castro, Salvado, Gedeão e Craveirinha
Angolano, moçambicano, todos cultivam a mesma vinha
Português, cabo verdiano, timorense, ou brasileiro...
Jorge o Amado, Ferreira de Castro o seringueiro
Eça de Queirós, Ortigão e Pepetela
Que nasceu na cidade de Benguela
Urbano, Gil o Vicente e Mário de Sá Carneiro
E tantos, tantos outros que são a grande maioria
Grandes cultivadores das maravilhosas letras Lusas
Glória aos mortos, aos vivos que os inspirem as musas
É o que deseja este labrego que vos admira noite e dia
Zé da Villa

domingo, 7 de junho de 2015

A Feira

A 1.ª Feira

Usar apenas este título (A Feira) significa que todos sabemos já do que se trata. A Feira promovida pela autarquia (Câmara e Junta) criou raízes logo na 1.ª edição. E os vicentinos têm um gosto especial nela.
Mas tem mudado de data, demasiado. Começou por volta do 10 de junho, mudou depois para o fim de semana seguinte e este ano muda de novo, desta vez para o final do mês.
O problema é que no final do mês já não há cerejas, está cada vez mais calor e aproximamo-nos excessivamente das férias (não vamos agora, porque daqui a 15 dias estamos de férias) e até das Festas de Verão, que decorrem pouco mais de um mês depois.
Estou certo que nem a anterior Junta nem a atual tiveram qualquer responsabilidade nisto, aliás eles serão os primeiros a lamentar e também as primeiras vítimas, contra quem se vira quem está descontente.
Como diz o povo, o que não tem remédio remediado está, mas é pena!
Posto isto, fica a informação: este ano a feira realiza-se no último fim de semana de junho, dias 26(?), 27 e 28.

José Teodoro Prata