Uma das irmãs da minha mãe, ainda
viva, sofre de demência já há alguns anos. Como está no Centro de Dia do
Sobral, mal a vejo durante a semana, mas aos domingos quase sempre vou estar um
bocadinho com ela.
Nessas visitas pouco fala, mas ri-se
muito. Quando tento puxar-lhe pela memória, é capaz de me cantar cantigas ou
dizer orações que cantava ou rezava antigamente, mas se lhe pergunto, por
exemplo, o que é que foi o almoço ou se algum dos filhos lhe telefonou, nunca
me sabe responder. Coisas próprias da doença…
Há dias perguntei-lhe se se lembrava
da Tia Antónia (a governanta duma casa de gente rica onde esteve a servir):
«Então não havia de me lembrar? Era uma agarrada pior que o São Pedro! Com
tanta fartura que havia naquela casa, e não dava uma sede d’água a um pobre!»
Quando éramos crianças, lembro-me de
chamarmos agarrado ou agarrada a alguém que tivesse alguma
coisa (um brinquedo, um lápis ou uma borracha…) e não partilhasse connosco ou
nos emprestasse, se lho pedíssemos.
A referência ao São Pedro, só se for
pelas chaves que, dizem, a Tia Antónia trazia sempre à cintura para não lhe
irem à despensa ou à adega às escondidas.
Para sede d’ água, não encontrei definição, mas, pelo contexto, deve significar uma pequena esmola, ou mesmo esmola nenhuma. Se alguém souber…
ML Ferreira
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