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terça-feira, 26 de novembro de 2024

O nosso falar: Agarrado/a e Sede d´água

 

Uma das irmãs da minha mãe, ainda viva, sofre de demência já há alguns anos. Como está no Centro de Dia do Sobral, mal a vejo durante a semana, mas aos domingos quase sempre vou estar um bocadinho com ela.

Nessas visitas pouco fala, mas ri-se muito. Quando tento puxar-lhe pela memória, é capaz de me cantar cantigas ou dizer orações que cantava ou rezava antigamente, mas se lhe pergunto, por exemplo, o que é que foi o almoço ou se algum dos filhos lhe telefonou, nunca me sabe responder. Coisas próprias da doença…

Há dias perguntei-lhe se se lembrava da Tia Antónia (a governanta duma casa de gente rica onde esteve a servir): «Então não havia de me lembrar? Era uma agarrada pior que o São Pedro! Com tanta fartura que havia naquela casa, e não dava uma sede d’água a um pobre!»

Quando éramos crianças, lembro-me de chamarmos agarrado ou agarrada a alguém que tivesse alguma coisa (um brinquedo, um lápis ou uma borracha…) e não partilhasse connosco ou nos emprestasse, se lho pedíssemos.

A referência ao São Pedro, só se for pelas chaves que, dizem, a Tia Antónia trazia sempre à cintura para não lhe irem à despensa ou à adega às escondidas.

Para sede d’ água, não encontrei definição, mas, pelo contexto, deve significar uma pequena esmola, ou mesmo esmola nenhuma. Se alguém souber…

ML Ferreira