"Memórias da Grande Guerra" que a Libânia explanou de uma forma magistral trouxe-me à memória outras guerras, outros combates nossos contemporâneos.
As guerras que se
desenrolaram nas antigas províncias ultramarinas. Salazar foi um governante
"teimoso", nunca se quis sentar a uma mesa frente a frente com os nacionalistas
africanos, há muito que os locais ambicionavam pela independência, de vez em quando
uma escaramuça, avisos...
No dia 4 de Fevereiro
1961, a "bernarda" deu-se. Militantes do MPLA assaltaram a esquadra
da PSP de Luanda. Dessa refrega morreram 7 polícias. Joaquim Batista era um
jovem polícia, cheio de ambições com certeza; 24 anos, na força da vida... O
seu funeral mobilizou a população dos Pereiros, onde tinha nascido. A vila
parou. A sua campa encontra-se à entrada do cemitério velho. Guarda Nº 9
95/13882 Luanda 4-2-1961
A partir dessa
tragédia, os nacionalistas empreenderam uma guerra sangrenta que dizimou
milhares de jovens:
Joaquim Romuaddo
Mesquita, furriel miliciano. Não morreu em combate. Um trágico acidente de
viação roubou-lhe a vida, naquele fatídico dia 5 de Novembro 1963.
Joaquim Mesquita
era bonacheirão, alegre... Está sepultado em Bissau no ossário da Liga dos
Combatentes.
O João Ambósio,
era nosso vizinho, recordo o dia da sua partida. A mãe, qual Madalena chorava,
os irmãos, os vizinhos choravam também. Foi uma partida dolorosa, o João era um
homem bom. Eu vou, mas não volto. A
premonição cumpriu-se. No dia 5 de Setembro 1964, o soldado João morreu ao
serviço da pátria. Está sepultado em Cabinda, no talhão militar.
José Maria dos
Santos, vivaço, um amigo, tínhamos a mesma idade. Ainda veio à
"metrópole" gozar umas merecidas férias. Quando regressou, algumas
semanas depois, aconteceu o pior. Ele e mais alguns camaradas soldados estavam
a atravessar uma ponte, de repente começaram a "chover" balas,
tombaram 4 soldados. Os camaradas de armas edificaram um memorial no meio da
ponte, onde colocaram os nomes dos que caíram naquele fatídico dia. Morreu na
Guiné, no dia 4 de Junho 1973, e está sepultado numa campa própria, no
cemitério da vila vicentina.
No dia 19 de
Fevereiro 1971, faleceu em combate o soldado Francisco António Pires. (Não sei
qual a aldeia da nossa freguesia onde nasceu)
Tanto sangue se
derramou, tantas tragédias, promessas, lágrimas, pedidos ao Senhor Santo
Cristo...
Bom seria que as
autoridades recordassem todos aqueles que tombaram ao serviço da Pátria,
edificando um memorial...
Tal como um
rastilho, as revoltas sucederam-se em catadupa. No final de 1961, Nehru invadiu
Goa, Damão e Diu, com milhares de soldados e armamento moderno. Os portuguese
eram poucos, cerca de 3000, armas obsoletas. Salazar mandou dois telegramas
para o governador: Lutem, sejam patriotas,
lutem até à morte.
O governador
rendeu-se. Para Salazar, este gesto foi um ultraje. A "coisa" esteve feia,
porque três soldados tentaram escapulir-se do campo de concentração, num camião
do lixo. Valeu a coragem de um jesuíta, o tenente capelão Ferreira da Silva. Os
soldados tremiam, o pelotão de fuzilamento esperou ordens, foram horas
dramáticas, rezavam, pediam clemência...
O paquete Niassa
transportou-os para Portugal. Quando chegaram a Lisboa, foram considerados
traidores, pelas autoridades. Metidos em vagões de animais, foram levados para
o forte de Elvas. Meu Deus, como é possível tal vexame, Salazar preferia que
tivessem morrido!
Estavam dois
soldados vicentinos: o meu tio António e o Albertino A vila soube recebê-los
com dignidade. Quando desmontaram da camioneta da carreira, esperava-os o povo
em peso, a banda abrilhantou aquele momento de alegria.
.
..Os
homens fizeram
Um acordo final
Acabar com a fome
Acabar com a guerra
Viver em amor
Um acordo final
Acabar com a fome
Acabar com a guerra
Viver em amor
Duo Ouro Negro
J.M.S