Há dez anos, após algum tempo sem gente a viver
aqui, o meu quintal era um paraíso para todo o género de bicharada. Sempre que cá
vinha passar uns dias era frequente cruzar-me com cobras, lagartos, ouriços,
sapos, morcegos, para além de muitas espécie de pássaros e insetos.
Depois que me instalei por cá definitivamente,
a maior parte das espécies foram desaparecendo. Até as andorinhas, que durante
algum tempo ainda fizeram ninhos por baixo da varanda, nos dois últimos anos
deixaram de aparecer.
Mas há sempre quem se aproveite, que a crise da
habitação chega a todos, e um dos ninhos foi aproveitado por um casal de “Okupas”
que choca pelo menos duas ninhadas por época.
Nesta nasceram três crias, mas na anterior
tinha nascido cinco.
Durante o choco o pai pouco apareceu, mas
depois, sempre atento e cauteloso, andou numa fona para alimentar os filhos,
sempre de bico aberto à espera de comida.
Restam ainda muitos pardais e alguns melros,
que partilham comigo as cerejas e os figos e me alegram as manhãs.
Mas uma noite destas, nem queria acreditar: avistei
um sapo a passear-se calmamente sobre a relva.
E uns dias depois avistei outro, bem mais
velho, na horta. Fiquei à espreita e, ao fim dum bocado, já de papo cheio, vi-o
“correr” a esconder-se no buraco de uma oliveira, ali perto.
Estas alterações no meu quintal são uma gota de
água no oceano, mas têm-me feito pensar em como a presença humana, só por si, pode
causar desequilíbrios enormes na natureza e levar ao desaparecimento de muitas
espécies animais. Mas as últimas aparições dão-me a esperança de ainda ver
regressar alguns dos outros bichos que já por aqui andavam antes de mim, mas,
inconscientemente, desalojei.
Pode ser também que ainda vejamos regressar os
coelhos, os esquilos, as raposas e várias outras espécies que ainda há pouco
tempo abundavam por cá, mas que estão em risco de desaparecer por efeito dos
descuidos ou maldade dos humanos.
M. L. Ferreira