Há algumas semanas, um anónimo publicou um comentário em Invasões Francesas 3 (26 de julho de 2009), pedindo informações sobre os viscondes e condes da Borralha. Eis o que já consegui reunir.
Francisco
Caldeira Leitaõ de Britto foi o capitão-mor da Ordenança do concelho, no
último quartel do século XVIII. Morava na Rua do Convento, que na época talvez
incluísse a rua ao lado da Igreja Matriz, a atual Rua da Igreja, que ainda não
aparece referida na documentação da época. Em 1775, já era dono da tapada
pegada às suas casas e de outra detrás das Religiosas. As casas e estas duas
tapadas vieram a formar a Quinta Nova, casa dos viscondes da Borralha, seus
descendentes. O edifício principal, mesmo ao lado do adro da Igreja, ainda
ostenta os seus traços barrocos e o brasão da família, pelo que terá sido
edificado nestes finais do século XVIII. Também era dono do chão chamado
Quintalinho. Tinha uma azenha e um lagar de azeite na ribeira da Vila. Era um
dos maiores lavradores e criadores de gado do concelho.
As casas de Francisco Caldeira (final do séc. XVIII) e herdeiros,
na Rua da Igreja, em S. Vicente da Beira.
Em baixo, portão de entrada para a Quinta Nova ou Quinta da Casa Conde.
Francisco
Caldeira Leytam de Brito Monis Albuquerque, natural da Sertã, era filho de Gonçalo
Caldeira Leytam de Brito Monis da Sertã, e de Dona Maria Thereza de
Albuquerque de Alcongosta. Casou, em S. Vicente da Beira, no dia 5 de
Dezembro de 1768, com Ignes Caetana de Morais Sarmento e Andrade de S.
Vicente da Beira, filha de Manoel Caetano de Morais Sarmento e de Dona Maria
Thereza da Trindade e Morais, já falecidos à data do casamento.
Manoel
Caetano de Morais Sarmento foi o capitão-mor do concelho, além de procurador do
povo, em 1764, e testamenteiro do Vigário Joze Pegado de Siqueira, em
1767: «E pede a Manoel Caetano de Morais Sarmento, capitão-mor desta vila,
que pelo amor de Deus e pela boa amizade, que sempre conservaram, queira ser
seu testamenteiro, porque só dele esperava a boa satisfação desta
disposição...». No ano de 1762, tinha 50 anos e uma fortuna avaliada em
20.000 cruzados.
Ignes
Caetana era
neta paterna do Capitão-Mor João de Andrade Morais e Pina, natural de S.
Vicente da Beira, e de Inês Pereira Cardoso Frazão, de Castelo Branco, casados
em 1705. E bisneta paterna do Sargento Manuel Travassos de Morais Sarmento, de
S. Vicente da Beira, e Maria de Azevedo Cabral, casados em 1672.
O casamento de Francisco Caldeira e de Ignes Caetana ter-se-á revestido de grande solenidade, pois estiveram presentes o prior de Monsanto, Christovam de Andrade; o reverendo arcipreste de Castelo Branco, Doutor Manoel Cardozo Frazam; o reverendo prior do Telhado, Francisco de Albuquerque Cabral Maldonado; o Doutor Manoel Viegas de Castro, como vigário encomendado, em representação do bispo da Guarda; o cura Domingos Gaspar, que lavrou o assento de casamento. O pai do noivo foi representado pelo irmão, Paulo Caldeira de Brito Monis, como procurador.
O casamento de Francisco Caldeira e de Ignes Caetana ter-se-á revestido de grande solenidade, pois estiveram presentes o prior de Monsanto, Christovam de Andrade; o reverendo arcipreste de Castelo Branco, Doutor Manoel Cardozo Frazam; o reverendo prior do Telhado, Francisco de Albuquerque Cabral Maldonado; o Doutor Manoel Viegas de Castro, como vigário encomendado, em representação do bispo da Guarda; o cura Domingos Gaspar, que lavrou o assento de casamento. O pai do noivo foi representado pelo irmão, Paulo Caldeira de Brito Monis, como procurador.
Gonsalo
Caldeira da
Sertã, pai de Francisco Caldeira Leytam de Brito Monis Albuquerque,
era proprietário no concelho antes de casar o filho com a herdeira da família Caetano
de Morais Sarmento, pois a documentação relativa ao pagamento da décima dos
bens rústicos da Partida refere terras aforadas aos herdeiros de Gonsalo
Caldeira, em 1775.
Francisco
Caldeira e
Ignes Caetana tinham 3 filhos, em 1779. Francisco Caldeira faleceu
em 1803. Durante as Invasões Francesas (1807-12) foi Ignes Caetana, já viúva, que fez os
donativos: 1 junta de bois machos, 1 cavalo e 41 alqueires de farinha
para os franceses; 100 alqueires de centeio para o Exército de Portugal.
Nesta
altura, a viúva dispunha apenas da terça dos bens do casal. Os outros
seriam propriedade dos seus filhos. Um deles, talvez o primogénito, era Gonçallo
Caldeira de Albuquerque Cardoso Brito Moniz, que não vivia em S. Vicente da
Beira. O seu feitor, Berardo Joze Leal, entregou 10 alqueires de centeio
ao exército francês, contribuiu com 240 réis para o Exército de
Portugal, em 1808, e o seu ganhão realizou 7 serviços de transporte para
o mesmo exército, entre1810 e 1812.
Segue-se
a genealogia desta família.
1. Paulo
Caldeira de Brito, baptizado a 2 de Julho de 1630 e casado com Maria de
Andrade.
2. Pedro
Caldeira Leitão de Brito, filho do n.º 1, viveu em Pedrógão Grande e casou com
Joana Maria da Costa Manso, em 18 de Setembro de 1688.
3. Gonçalo
Rodrigues Caldeira Leitão de Brito Moniz, filho do n.º 2, casou com Maria
Teresa Freire de Albuquerque Maldonado e vivia na Sertã. Tiveram Paulo Caldeira
de Brito Moniz e…
4. Francisco
Caldeira Leitão de Brito Moniz Albuquerque, filho do n.º 3, nasceu na Sertã, em
1749, e casou, em S. Vicente da Beira, com Inês Caetana de Morais Sarmento e
Andrade, em 1768. Além do filho que se segue e de um terceiro que
desconhecemos, tiveram Ana Caldeira, casada com Manuel do Rego de Albuquerque,
da vila de Alpedrinha.
5. Gonçalo
Caldeira Leitão de Albuquerque Cardoso Brito Moniz, filho do n. 4, já não vivia
em S. Vicente da Beira, em 1807-12, mas tinha lá um feitor, para lhe
administrar as propriedades. Casou com Josefa Margarida Pinto de Macedo
Mascarenhas, herdeira de uma família comcasa senhorial na Borralha, em Águeda.
Gonçalo Caldeira pertenceu ao Conselho do Rei e faleceu em 1840.
Casa e jardim dos viscondes e condes da Borralha, Águeda.
O palacete está atualmente adaptado a hotel.
6. Francisco
Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque de Brito Moniz (1803-1873), filho do n.º
5, foi moço-fidalgo com exercício na Casa Real, bacharel em Direito, par do
Reino e do Conselho do Rei. Casou, em 1836, com Inês de Vera Geraldes de Melo
Sampaio e Bourbon. O título de visconde da Borralha foi-lhe concedido por duas
vidas, pela rainha D. Maria II, por Carta de 1852.
7. Gonçalo
Caldeira Cid Leitão Pinto de Albuquerque (1839-1906), filho do n.º 6, foi o 2.º
visconde da Borralha. Era também moço-fidalgo com exercício na Casa Real,
bacharel em Direito e par do Reino, por sucessão. Casou, em segundas núpcias,
no ano de 1877, em Paris, com Carolina Hildegarda Orne. Por Decreto de 1864,
foi-lhe concedida a verificação da segunda vida do título paterno de visconde e
foi elevado a conde, pelo rei D. Luís, por Decreto de 1883.
8. Francisco
Caldeira Cid Leitão Pinto de Albuquerque (1878-1946), filho do segundo
casamento do n.º 7, foi o 2.º conde da Borralha. Era investigador de História e
Arqueologia. Casou, em 1910, com Maria da Conceição do Casal Ribeiro de
Carvalho. Tiveram um filho, Gonçalo Caldeira Cid Leitão Pinto de Albuquerque da
Borralha (1911-?) e uma filha, Inês de Vera de Carvalho Caldeira da Borralha
(1912-?), casada com Venâncio Augusto Deslandes, general de Aeronáutica,
governador de Angola e embaixador de Portugal em Madrid.
Em S. Vicente da
Beira, a Quinta Nova ou Quinta do Visconde da Borralha ou Quinta da Casa Conde foi herdada por Aldina
de Vires Caldeira, filha natural do 2.º conde, em meados do século XX. No ano
de 1984, a quinta foi vendida ao sr. João Delgado, emigrante em França, mas natural
dos Cunqueiros, freguesia da Sobreira Formosa, concelho de Proença-a-Nova.
Gonçalo Caldeira Cid Leitão Pinto Albuquerque, 1.º conde da Borralha, e a sua 2.ª mulher, Carolina Hildegarda Horne.
Carolina Hildegarda Horne e o seu filho Francisco Caldeira Cid Leitão Pinto de Albuquerque, futuro 2.º conde da Borralha.
José Teodoro Prata
2 comentários:
Da Quinta do Conde recordo a figura enorme da Dona Aldina, casaco de peles e chapéu de plumas, a distribuir rebuçados à cachopada que se juntava à volta do seu automóvel, como se fosse uma deusa.
Lembro também o enorme pinheiro manso onde íamos apanhar pinhos (com sorte pinhas) com que fazíamos cordões que púnhamos ao pescoço e íamos saboreando lentamente.
Lembro ainda as desfolhadas, no final do verão, num tempo em que as atividades agrícolas constituíam o principal meio de sobrevivência do povo, mas eram também pretexto para a festa e algumas intimidades inocentes entre rapazes e raparigas.
E o cabanão (cabanal, nos livros de Aquilino), que mais parecia a “casa da malta” de Fernando Namora…
Hoje, retalhada entre cemitério, piscina, GNR e partes da casa esbarrondadas, a quinta é um pouco o exemplo do que se passa no resto do país. É pena, mas é um sinal dos tempos e, se calhar, era impossível fazer melhor… Confiemos no bom senso do atual proprietário!
M. L. Ferreira
1. A Dona Aldina era filha do janota da última foto.
2. Uma curiosidade: o Francisco Caldeira da Sertã veio casar com a morgada rica de São Vicente e o seu filho Gonçalo Caldeira foi casar com a morgada rica da Casa da Borralha. Assim se formavam as grandes casas!
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