A propósito
da desertificação do País, ouvi a deputada Catarina Martins, num dos últimos
debates na Assembleia da República, dizer o seguinte: «o País está a esvair-se!
Todos os anos saem de Portugal mais pessoas do que as crianças que nascem!...».
Achei dramática
esta imagem, mas penso que é a que melhor define o que está a acontecer a
Portugal e principalmente às regiões do interior.
De acordo
com um estudo publicado recentemente pela Reconquista, a manter-se a tendência
atual, dentro de poucos anos a população da zona do Pinhal Interior não será
suficiente para assegurar os serviços essenciais (não me lembro dos números,
mas são assustadores). E basta olharmos à nossa volta para vermos que é assim;
na nossa freguesia e noutras aqui perto.
Nos últimos
anos tenho viajado bastante aqui pelas Beiras. Tenho descoberto lugares
maravilhosos: paisagens de nos deixarem de boca aberta; aldeias e vilas bem
cuidadas; muitas obras de recuperação em edifícios e praças. Mas vê-se cada vez
menos gente…
Um
exemplo desta situação é Janeiro de Cima que visitei há pouco tempo. As casas
do centro da aldeia foram quase todas recuperadas e estão lindas, mas
aparentemente todas desabitadas. Parecem casas de bonecas e uma pessoa sente-se
como se estivesse a passear numa terra de faz de conta!
Há duas
semanas fui ao Mourelo. Andava ao tempo com vontade de lá ir ver os fornos da
rua, como lá lhe chamam, recuperados recentemente, mas nunca mais me apunha.
Foi uma surpresa! Deve ter sido uma grande terra, a julgar pelas casas lindas
que ainda por lá há.
Que pena
que muitas estejam tão danificadas, algumas completamente esbarrondadas e a
maior parte desabitada!
Cruzei-me
com o Ti Virgílio, um velhote muito simpático e bom conversador (parece que é
uma característica comum à maior parte das pessoas da charneca), a quem
perguntei se tinha ideia de quantas pessoas ainda lá viviam. Ele respondeu-me:
«Ao certo, ao certo, não sei, mas já me lembro do tempo em que só em quinze
casas havia noventa e cinco pessoas. Agora, ao todo, se forem umas trinta e
cinco é muito…».
À volta
da aldeia vêem-se boas terras de cultivo, muitas ainda com ar de sementeira
recente. Deve ser por isso que as ruas se chamam Rua da Vinha Velha; Rua do
Lameirão; Travessa do Vale do Linho; Rua da Barroca. Logo à entrada passamos pelo Largo da Portela.
Parece que era lá que antigamente, nos dias de calmaria, as pessoas se sentavam
a apanhar o ar fresco vindo da serra.
Quando me
preparava para fotografar um dos fornos vi, a espreitar de um quintal no cimo
da rua, uma mulher, também já idosa. Gabei-lhe o forno do povo, que estava
lindo, mas ela respondeu-me: «Pois está lindo, está, mas já ninguém lá coze!».
Que pena!
M. L. Ferreira
Um comentário:
Belo post este, Para além de estar muito bem escrito, infelizmente, descreve uma realizade de assombra as aldeias do interior. A desertificação e exêdo rural.
Em Janeiro de 2012, também publiquei um estudo feito por mim que demonstra a tendência populacional em Louriçal do Campo, até ao ano de 2031. Juro que fiquei assustado. Vejam em http://lourical.blogspot.pt/2012/01/status-lourical-do-campo-em-2021-e-2031.html
Cumprimentos,
Carlos Domingues
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