Surpreendeu-me o facto de a plantação de pinheiros na maior parte das serras do interior ser relativamente recente. Talvez porque nunca tenha pensado muito no assunto, imaginava que os pinhais onde antigamente íamos à lenha e às pinhas, e onde encontrávamos muitos homens a colher a resina, existiam há muitos séculos; pelo menos tantos como o pinhal de Leiria. Quase fiquei desiludida ...
Surpreendeu-me também o facto de, na altura, a Junta se ter desculpado com a falta de meios para fazer a sementeira do pinhal nos terrenos públicos e nenhum proprietário ter requerido semente para florestar as suas terras.
Depois lembrei-me de um livro que (quase) li há uns anos e cuja história trata precisamente este assunto: uns senhores de Lisboa, com o apoio das autoridades locais, chegam a uma aldeia do interior com o propósito de semear pinheiros em todos os terrenos baldios e alqueives. Alegam que é em nome do progresso e dizem que daí por alguns anos a região se tornará muito mais próspera. Oferecem subsídios e indemnizações, mas a maior parte dos habitantes da aldeia não aceita as propostas. Se cederem as suas terras onde é que vão cultivar o centeio, apascentar as cabras, arranjar chamiços para não morrer entiritados no inverno e cortar o mato para as furdas dos vivos?
Não sei como é que acabou a história. Provavelmente venceram os da cidade; sempre os mais fortes…
Foi pena que, mais recentemente, os nossos agricultores e pescadores (se calhar, os nossos governantes) não tenham resistido à tentação dos subsídios e indemnizações para abandonar a agricultura e a pesca, atividades tão fundamentais para a identidade e sobrevivência das pessoas, e a economia do país!
M. L. Ferreira
Nota: O livro a que me refiro é “Quando os lobos uivam” de Aquilino Ribeiro. Disse que “quase o li” porque um dos meus cães, aproveitando uma pausa na leitura para atender o telefone, literalmente o devorou. Fiquei sem saber como todo aquele drama acabou, mas imagino…
3 comentários:
Quando comecei a namorar e fui a primeira vez aos Pereiros, fiquei maravilhada com a paisagem, pois em toda as zonas da charneca só se viam pinheiros e a vegetação rasteira eram na maioria estevas, todas em flor.
Depois dos fogos, a paisagem mudou radicalmente para eucaliptos, que abrangem também já zonas de terrenos que outrora foram de cultivo.
Nós temos uma propriedade de cultivo que herdámos, que está completamente rodeada por plantação recente de eucaliptos.
Cegas são as autoridades e também quem não quer ver a realidade do que se passa hoje em dia, neste Portugal cada vez mais pobre, em todos os aspectos e com a conivência dos nossos governantes.
Tina Teodoro
Dizia o Rolão Preto, a quem o meu pai resinou os pinheiro durante anos: os pinheiros pingam ouro, Barroso e atraem a chuva, por causa da caruma virada para cima.
Hoje já só resinam um pouco na região de Leiria/Pombal. A resina já não é ouro, mas está provado que o eucalipto em pouco anos "envenena" completamente os terrenos tornando-os estéreis.
Todos nós fomos criados no meio dos pinheiros. Às pinhas, aos tocos e aos míscaros. E se calhar por os ver tão grandes pensei que eram do principio do mundo. O Zé Teodoro é que disse, no seu livro: O Concelho de SVB nos finais do antigo regime (um colosso de informação com um trabalho ciclópico que lhe subjaz) que nessa altura pouca árvores por alí havia e pinheiros ainda menos. Custou a engolir, mas é a verdade.
E as saudades que a Tina mostra do pinhal da tapada!...
Parece que a praça continua quase deserta, a real e a virtual
Saudades aos frequentadores.
francisco barroso
Míscaros!... Melhor que carne! E a acompanhar as batatas feitas numa caçola de barro, em cima das trempes, ao lume?!
Parece que durante uns anos, por efeito dos fogos, estiveram ameaçados; mas nos últimos anos voltaram a aparecer com fartura.
O ano passado, durante o Festival dos espargos, criadilhas e tortulhos de Alcafozes, participei num workshop em que o formador, um engenheiro agrónomo especialista nestas coisas, apresentou os míscaros como um cogumelo tóxico. Senti-me traída nas minhas memórias e quase tive vontade de o desmentir. Fiquei mais sossegada quando ele acrescentou que não havia em Portugal notícia de mortes por ingestão de míscaros porque não tínhamos o hábito de os comer estremes…
M. L. Ferreira
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