O período revolucionário 74/76, que afinal
foi o tempo em que eu estive na tropa, não ficou a dever nada à disciplina.
Como exemplo, posso dizer que cheguei a entrar à Porta de Armas da Escola
Prática de Artilharia, com sapatos, meias amarelas, calças de trabalho, camisa
de saída, cabelo pelos ombros e barba.
Com vinte anos, se não há disciplina, a coisa
descamba e eu não fui exceção. Deixei crescer a barba, não uma barba como se
usa agora, curtinha, mas uma barba grande, à Fidel Castro, que me ficava
ridiculamente ridícula. Era a idade do quanto mais estranho melhor.
Numa das minhas vindas à terra, encontrei a Céu
Parrita acompanhada da comadre Aurélia. Quando me viu com aquelas barbas,
começou a fingir que chorava. Eu, farto de conhecer a Céu Parrita,
perguntei-lhe o que é que ela tinha e ela, sempre a choramingar, dá-me a
seguinte resposta:
- Sabe meu senhor?, É que eu tinha um chibo que me
morreu que tinha umas barbas iguais às do senhor e eu, quando o vi com essas
barbas, lembrei-me do meu chibo. Eu
gostava muito do meu chibo, porque ele cobria muito bem as cabras!!!
Se pensam que eu cortei logo as barbas, enganam-se. Daí para cá, sempre que encontrava a Céu Parrita, o cumprimento que ela me fazia era:
- Sabe? Eu tinha um chibo!
Se pensam que eu cortei logo as barbas, enganam-se. Daí para cá, sempre que encontrava a Céu Parrita, o cumprimento que ela me fazia era:
- Sabe? Eu tinha um chibo!
No ano passado deixou de me fazer este cumprimento.
Paz à sua alma.
E H
4 comentários:
É curioso que não me lembro desta parte da vida do Ernesto.
Fora-me próximo, no Seminário, mas, nesta época, eu ainda vivia no Tortosendo e nas férias ficava-me lá pelos altos, enquanto ele andava na tropa e pouco vinha a São Vicente.
Por exemplo, não me recordo dele com barbas!
Mas, por nestas histórias, percebo melhor algumas coisas...
Como certamente diria o Eça: “O menino tem pilhéria!"
Não há dúvida, és filho do teu pai: são curtas, sarcásticas e incisivas!
Sobre aquela parte do gado caprino: no mundo antigo, ao nascer-se rapariga tinha que se ter muita sorte para não se ser sacrificada no Olimpo.
Com o macho, no mundo das cabras, é idêntico. Ao contrário delas, a maioria deles é que está feita ao…bife. É preciso uma sorte danada para um chibo ter a vida do chibo da Céu Parrita!
A vida é assim. Feita de sortes e azares!
Soube pelo teu artigo que a Céu Parrita tinha falecido.
Que encontre a Luz!
Abraço.
ZB
Ernesto:
Tive hoje, na sala de aulas, um "Militar de Abril" que entrou na tropa no mesmo dia que tu, em Mafra. A esse, puseram-no logo a treinar fogo toda a tarde de 25, pois o quartel teria de proteger a retirada, caso a coisa desse para o torto.
Ainda nem sabia como era a G3 e já fazia fogo!!!
Também não me lembro do Ernesto na fase das barbas de chibo. Já por cá não andaria… Mas foram impressionantes as transformações que se verificaram naquela altura!
A esse propósito, aquilo que mais vezes me ocorre foi uma cena passada no liceu de Castelo Branco, em 1973. Estava no corredor à espera que tocasse para entrar na sala e tinha o casaco atado à cintura. Quando a professora chega volta-se para mim e diz assim: «A menina é alguma mula?» Devo ter olhado para ela sem perceber muito bem. «Tire a albarda, porque assim não entra na aula.»
Passados dois anos, já no liceu Camões, até dentro da sala se fumava!...
M. L. Ferreira
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