ÓBITOS, 1811
Paróquia
de Nossa Senhora da Assunção
São
Vicente da Beira
- 1811: 57 óbitos. A
morte estava cansada de tantos que ceifou em 1810 (106 óbitos). Saldo fisiológico
de 1811: 51 batismos – 57 óbito = - 6.
- A mortalidade do ano
anterior tornou insuficientes as sepulturas disponíveis dentro da Igreja. Neste
ano, 15 pessoas foram sepultadas no adro (26%). Na sua maioria, eram pessoas de
fora da freguesia ou adultos solteiros, sem família direta. Nos registos, foi
colocada uma cruz junto ao nome de quem foi sepultado no adro, talvez em
substituição da palavra pobre que aparecia em certos registos, nos anos
anteriores.
-Expostos falecidos: 3.
Tinham nascido 4 e morreram 3, não necessariamente os mesmos. Conclusão: poucas
crianças expostas sobreviviam.
- O Pe, Estêvão Cabral
faleceu em Tinalhas, onde ficou sepultado. Não se faziam os registos de óbito
das pessoas falecidas noutra freguesia, ainda por cima ficando lá sepultadas. Mas
trata-se de um clérigo.
O Pe. Estêvão Cabral
era um dos 6 irmãos Cabral de Pina, do Violeiro, filhos do Sargento-Mor
Domingos Nunes Pousão, do Violeiro, e de Brites Maria Cabral de Pina, da Quinta
da Canharda, S. Miguel de Fornos, Algodres. A filha Maria casou com o Alferes,
mais tarde Capitão e depois de enviuvar Padre Teodoro Faustino Dias, lavrador
com posses, de Tinalhas. As outras duas filhas, Joana e Brites, ficaram
solteiras e vieram viver para a Vila, para junto dos irmãos padres: Estêvão e
Manuel. Este foi capelão de São Tiago e provedor da Misericórdia, onde o irmão
Manuel era capelão. Havia ainda um sexto filho, João, que viveu em São Vicente,
mas depois se fixou no Fundão.
Estes irmãos eram os
donos da Azenha Nova, do lagar e de um pomar que ali existia. Moravam na Rua
Nicolau Veloso. O Pe. Estêvão deu aos franceses 5 alqueires de milho e ao exército
de Portugal certa quantia que lhe deviam em Coimbra. Terá sido a sua irmã Joana
(a documentação apenas refere uma Dona Joanna) a dar 40.000 réis para o
exército de Portugal, em 1808.
Mas será que estes
irmãos ainda eram vivos nos inícios do século XIX? É possível que não e que o
Pe. Estêvão Cabral a que se refere a documentação sobre as invasões francesas fosse
o seu sobrinho de Tinalhas, o padre jesuítica Estêvão Dias Cabral, que aqui
viveu nas propriedades que haviam sido de seus tios e que aqui faleceu, em
1811, segundo o historiador José Manuel Landeiro. Mas se é ele, afinal faleceu
em Tinalhas!
O registo de óbito apresenta-o como sendo de São Vicente da Beira. Mas se se trata do velho padre Estêvão Cabral (de Pina), então toda a historiografia que segue Landeiro está errada!
O registo de óbito apresenta-o como sendo de São Vicente da Beira. Mas se se trata do velho padre Estêvão Cabral (de Pina), então toda a historiografia que segue Landeiro está errada!
Curiosidade: o Padre jesuíta Estêvão
Dias Cabral deu nome ao largo da Igreja de Tinalhas.
1
Nome: Joana Luiza
Família: casada com
Andre Magro, de Tinalhas
Data: 01/01/1811
2
Nome: Manoel Martins
Família: solteiro, do
Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 04/01/1811
3
Nome: Anna
Família: menor, filha
de Manoel Duarte e Joana Cazimira, de São Vicente da Beira
Data: 05/01/1811
4
Nome: Antonia
Família: menor, filha
de Joaõ Antunes e Maria Antonia, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 08/01/1811
5
Nome: Paulo
Família: viúvo, natural
dos Vales, Peroviseu
Data: 11/01/1811
6
Nome: Maria Francisca
Família: casada com
Eleuterio Freire, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 18/01/1811
7
Nome: Maria Duarte
Família: casada com
Francisco Fernandes, de São Vicente da Beira
Data: 24/01/1811
8
Nome: Izabel Antunes
Família: solteira, da
Partida, São Vicente da Beira
Data: 26/01/1811
Observações: sepultada
no adro da Igreja
9
Nome: Domingos
Gonçalves
Família: viúvo, da
Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 27/01/1811
10
Nome: Joaquim
Família: menor, filho
de Joze Antunes Amoreira e Maria Mendes, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 27/01/1811
11
Nome: Padre Estevaõ
Cabral
Família: de São Vicente
da Beira
Data: 01/02/1811
Observações: O Pe.
Estevão Cabral era do Violeiro e fixou-se em São Vicente da Beira, onde exerceu
o seu sacerdócio. Faleceu repentinamente, pelo que não recebeu sacramentos. Foi
sepultado na Igreja de Tinalhas.
12
Nome: Dorotea
Família: menor, filha
de Caetano Duarte e Maria da Ressurreiçaõ, de São Vicente da Beira
Data: 08/02/1811
13
Nome: Domingos
Rodrigues
Família: solteiro,
filho de Joaõ Rodrigues, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 10/02/1811
Observações: foi
sepultado no adro da Igreja
14
Nome: Silvestre
Rodrigues
Família: casado com
Francisca Vas, de Alcains
Data: 11/02/1811
Observações: foi
sepultado no adro da Igreja
15
Nome: Vicencia Maria
Família: casada com
Joze Antunes, de São Vicente da Beira
Data: 18/02/1811
16
Nome: Manoel Bernardo
Família: casado com Ana
de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 18/02/1811
17
Nome: Joze
Família: exposto, dado
a criar na Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 21/02/1811
18
Nome: Joaquim
Família: exposto, dado
a criar a Joaquina Maria, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 25/02/1811
19
Nome: Aniceto
Família: menor, filho
de Francisco Joze e Jozefa Leitoa, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 02/03/1811
20
Nome: Joaõ
Família: menor, filho
de Manoel Rodrigues e Francisca Alves, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 13/03/1811
21
Nome: Maria Francisca
Família: mulher de
Antonio Fernandes Baranda, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 21/03/1811
22
Nome: Tereza de Jessus
Família: solteira, da
Partida, São Vicente da Beira
Data: 11/04/1811
Observações: foi
sepultada no adro da Igreja
23
Nome: Maria Justa
Família: viúva, da
Soalheira
Data: 12/04/1811
Observações: faleceu
sem sacramentos e foi sepultada no adro da Igreja
24
Nome: Victoria Maria
Família: viúva, de São
Vicente da Beira
Data: 19/04/1811
Observações: foi sepultada
no adro da Igreja
25
Nome: Domingos Simaõ
Família: casado com
Antonia Maria, do Castelejo
Data: 22/04/1811
Observações: não
recebeu o sacramento da santa unção, por não chamarem a tempo; foi sepultado no
adro da Igreja
26
Nome: um rapaz
Família: desconhecido
Data: 22/04/1811
Observações: recebeu os
sacramentos da penitência e santa unção, mas não se soube o seu nome, «…nem a pátria…»(naturalidade); foi
sepultado no adro da Igreja
27
Nome: Maria
Família: menor, filha
de Joze Ramalho e Angelica Maria, de São Vicente da Beira
Data: 30/04/1811
Observações: foi
sepultada no adro da Igreja
28
Nome: Maria
Família: menor, filha
de Antonio Rodrigues Paradanta e Izabel Rita, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 05/05/1811
Observações: foi
sepultada no adro da Igreja
29
Nome: Antonio
Família: menor, filho
de Domingos Mateus e Maria Martins, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 23/05/1811
30
Nome: Francisco
Família: menor, filho
de Bartolomeu Gonçalves e Joana Maria, de São Vicente da Beira
Data: 06/06/1811
31
Nome: Jozefa
Família: exposta, dada
a criar a Inocencia Gama, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 29/06/1811
32
Nome: Domingos Mateus
Família: casado com
Maria Martins, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data:
05/07/1811
Observações: foi
sepultado no adro da Igreja
33
Nome: Luzia Maria
Família: viúva de
Antonio de Couto, de São Vicente da Beira
Data: 17/07/1811
34
Nome: Joze
Família: menor, filho
de Domingos Joze e Leonor da Costa, de São Vicente da Beira
Data: 18/07/1811
35
Nome: Izabel Maria
Família: viúva de
Manoel Fernandes, de São Vicente da Beira
Data: 23/07/1811
36
Nome: Caterina
Família: menor, filha
de Manoel Bernardo e Anna de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 29/07/1811
37
Nome: Micaella
Família: solteira,
filha de Manoel Leitaõ e Suzana Leitoa, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 08/08/1811
38
Nome: Suzana Leitoa
Família: viúva de
Manoel Leitaõ, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 09/08/1811
39
Nome: Joze
Família: menor, filho
de Miguel do Espirito Santo e Angelica Maria, de São Vicente da Beira
Data: 12/08/1811
40
Nome: Joaõ
Família: menor, filho
de Rodrigo Leitaõ e Maria Leitoa, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 13/08/1811
41
Nome: Tereza Rodrigues
Família: viúva, dos Pereiros,
São Vicente da Beira
Data: 27/08/1811
42
Nome: Francisca
Gonçalves
Família: casada com
Joze de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 03/09/1811
43
Nome: Tereza de Jessus
Família: viúva de
Manoel de Almeida, de São Vicente da Beira
Data: 08/09/1811
44
Nome: Maria
Família: menor, filha
de Joaõ Francisco e Maria Rodrigues, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 11/09/1811
45
Nome: Maria
Família: menor, filha
de Gonçalo Duarte e Jozefa da Silva, de São Vicente da Beira
Data: 14/09/1811
46
Nome: Maria Rodrigues
Família: viúva de
Manoel Francisco, de São Vicente da Beira
Data: 16/09/1811
Observações: foi
sepultada no adro da Igreja
47
Nome: Manoel
Família: menor, filho
de Antonio Barreiros e Maria Vas, de São Vicente da Beira
Data: 16/09/1811
48
Nome: Maria das Neves
Família: solteira, de
São Vicente da Beira
Data: 21/09/1811
Observações: foi
sepultada no adro da Igreja
49
Nome: Francisco
Família: menor, filho
de Francisco Castanheira e Roza Gonçalves, de São Vicente da Beira
Data: 24/09/1811
50
Nome: Maria
Família: menor, filha
de Manoel de Barros e Vicencia Maria, de São Vicente da Beira
Data: 27/10/1811
51
Nome: Leonor
Família: menor, filha
de Pedro Lopes e Joaquina de Amaral, assistentes na Vila (São Vicente da Beira)
Data: 31/10/1811
Observações: foi
sepultada no adro da Igreja
52
Nome: Manoel
Família: menor, filho
de Joze Simoens e Ana Maria, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 12/11/1811
53
Nome: Angelica Maria
Família: casada com
Joze Ramalho, de São Vicente da Beira
Data: 24/11/1811
Observações: faleceu
repentinamente
54
Nome: Maria Gomes
Família: viúva de Joze
Lourenço, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 26/11/1811
55
Nome: Manoel Duarte
Família: casado com
Francisca Maria, de São Vicente da Beira
Data: 09/12/1811
Observações: foi
sepultado no adro da Igreja
56
Nome: Joaquim
Família: menor, filho
de Antonio Barreiros e Mareia Vas, de São Vicente da Beira
Data: 22/12/1811
57
Nome: Maria
Família: menor, filha
de Manoel Venancio e Joana Maria, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 26/12/1811
José Teodoro Prata
6 comentários:
"O Grande Livro dos Portugueses" diz que o cientista padre Estevão Dias Cabral nasceu em Tinalhas no dia 23 Fevereiro de 1734 e faleceu em São Vicente da Beira no dia 1 de Fevereiro de 1811.Aos catorze anos seu pai mandou-o para Coimbra estudar no colégio dos jesuitas onde aprendeu latim, filosofia e ciências.
Nesse tempo reinava em Portugal o rei D.José, Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal,era o ministro todo poderoso. Por motivos políticos o rei assinou um decreto que expulsava os jesuítas de Portugal(3 de Setembro 1759). Os que ainda não tivessem recebido o sacramento da ordem se quisessem podiam ficar.
Seu pai deslocou-se à cidade de Coimbra para tentar convence-lo a regressar à casa paterna para gerir os bens da família. Não aceitou a proposta do pai e seguiu para Roma onde concluiu os estudos e foi ordenado.
Entretanto o papa Clemente XIV nomeou-o mestre do colégio romano onde ensinou matemática
Ao fim de trinta anos voltou a Portugal. A primeira coisa que fez foi regressar a Tinalhas visitar a família, seu pai tinha falecido fazia quatro meses. Nessa altura reinava a rainha Dª. Maria I que o mandou chamar e o visconde de Vila Nova da Cerveira encarrega-o de estudar as margens do rio Tejo e outros. Enquanto permaneceu em Roma tinha estudado afincadamente hidraulica.Inventou um método que determinava a velocidade e a quantidade das águas correntes, um outro que elevava a água nos sifões em grande quantidade
Depois de uma vida cheia fixou residência em São Vicente da Beira. No dia 1 de Fevereiro de 1811 entregava a alma ao criador, seu corpo foi levado para Tinalhas onde foi sepultado.
P.S. Para os lados da Devesa existia um olival (não sei se ainda existe) chamava-se as oliveiras (dos) cabrais. este olival terá alguma coisa a ver com estes cabrais!
Quando se procedeu à abertura das valas para o saneamento básico e águas domiciliárias junto à igreja apareceram esqueletos, assim que se tocavam desfaziam-se, eram pó.
J.M.S
Menos óbitos que no ano anterior, mas ainda assim, bastantes. Quase metade são menores.
Vida desgraçada a daquela gente! Houve um casal que perdeu dois filhos no espaço de poucos meses (o Manuel em setembro e o Joaquim em dezembro).
No dia 8 de setembro, morreu a Micaellla e no dia seguinte morreu a mãe, também já viúva. Poderia ter sido de parto, mas o nome do marido não consta nas listagens de óbitos imediatamente anteriores.
O senhor Jozé Ramalho perdeu a filha, em Abril, e a mulher, em Novembro.
E já agora, como é que conseguiam enterrar tanta gente na igreja? Bem sei que os pobres ocupavam pouco espaço porque eram sepultados sem caixão, mas devia ser quase como se as pessoas fossem enterradas em valas comuns…
M. L. Ferreira
Libânia:
As igrejas eram os cemitérios. Nas cerimónias religiosas, as pessoas ficavam entre sepulturas. Se houvesse um chão de madeira sobre a terra, com uma abertura para cada sepultura, então esse problema já não se punha.
Quem for ao Porto, visite a Igreja de São Francisco, junto ao Palácio da Bolsa, na Ribeira, e vai perceber bem como era.
José Manuel:
AS obras de hidráulica do Pe. Estêvão Dias Cabral, em Roma, num afluente do rio Tibre, foram importantes e deram-lhe fama internacional.
A trasladação do cadáver de São Vicente para Tinalhas era possível, mas não comum. Mas como se tratava de gente importante...
No registo de óbito, o Vigário não escreveu que ele faleceu em São Vicente, apenas que ele faleceu de repente e foi sepultado em Tinalhas.
A ser ele, então também foi ele, e não seu tio, quem fez os donativos para os exércitos francês e português.
Em todo o caso, no ano passado assisti a uma palestra sobre o Pe. Estêvão Dias Cabral, em Tinalhas, e foi dado como adquirido que ele faleceu e ficou em São Vicente. Afinal, foi sepultado na Igreja de Tinalhas!
Que o padre Cabral faleceu em São Vicente penso não haver dúvidas,se não tivesse falecido na vila o vigário não mencionaria o seu óbito. A nossa igreja nos alvores do século XX ainda possuia pequenos alçapões no sobrado cada um conrespondia a uma campa, isto contou-me por exemplo o senhor Joaquim Teodoro e outros. Com a requalificação feita em 1918 a igreja terá levado um sobrado novo!
O que que me faz espécie eram os enterramentos feitos em redor da igreja, não devia haver nada que separasse o espaço!
J.M.S
Zé Manel:
Esta tua informação sobre a existência, na nossa Igreja Matriz, até 1918, de um sobrado, com alçapões, para acesso às sepulturas é muito importante, em termos históricos.
Quando esse sobrado foi substituído, já há dezenas de anos que não se faziam enterramentos na igreja. O início das obras de construção do nosso cemitério data de 1826.
Obrigado pela informação.
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